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História para o Concurso de Admissão ao Curso de Formação de Sargentos do Exército (EsSa)

Movimentos Emancipacionistas

1.1 Inconfidência (Conjuração) Mineira (1789)


A Inconfidência mineira tinha um claro objetivo: a separação de Portugal. Em seu programa constavam os seguintes itens:
-Separar o Brasil de Portugal criando uma república com capital em São João Del Rei.
-Criação de uma casa da moeda.
-Abolição das restrições legislativas que pesavam sobre o Distrito Diamantino.
-Estabelecimento da fábrica de pólvora
-Liberação das manufaturas
-Libertação de escravos nascidos no Brasil
-Fundação da Universidade de Vila Rica
-Substituição do Exército permanente por uma milícia nacional de cidadãos.
-Criação de parlamentos locais e central.
-Tomás Antônio Gonzaga governaria os três primeiros anos, ao fim dos quais haveria eleições.
-Perdão das dívidas extensivo a todos.
-Adotar uma nova bandeira, que teria um triângulo no centro com a frase latina: libertas quae será tamen (Liberdade ainda que tardia).
-Desenvolver indústrias no país.
-Criar o serviço militar obrigatório.
-Incentivar a natalidade (para favorecer o povoamento), oferecendo pensões para as mães com muitos filhos.

Para realizar esses planos, havia pouca organização estratégica. Os inconfidentes não tinham tropas nem armas para chegar ao poder.
Também não contavam efetivamente com a participação popular, pois o movimento não tinha propostas para melhorar as condições de vida
da população em geral. A inconfidência Mineira não foi, portanto, uma revolta de caráter popular. Visava basicamente ao fim da opressão
portuguesa, que prejudicava a elite mineira. Não tinha como finalidade acabar com a exploração social interna e a escravidão que atingia a
maioria da população.
Havia dois pontos aos quais não existia pleno acordo entre os conspiradores: o assassinato do governador de Minas, Visconde de
Barbacena, e a abolição da escravatura.
Para a elaboração desse programa reuniu-se um grupo bastante heterogêneo, em sua maioria membros da elite mineira. Participavam da
conspiração João Rodrigues de Macedo (um dos homens mais ricos de Minas), Cláudio Manuel da Costa (minerador e poeta árcade, formado
em Portugal, na Universidade de Coimbra), Tomás Antônio Gonzaga (ouvidor e poeta), Inácio de Alvarenga Peixoto (advogado, minerador e
latifundiário), Abreu Vieira e Oliveira Lopes (Coronéis), Toledo e Melo (padre e minerador). Além dos religiosos como o Padre Oliveira
Rolim, o Cônego Luís Vieira e membros da tropa paga de Minas, como o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, e o coronel chefe
Francisco de Paula Andrade. Um dos poucos participantes da Inconfidência que não fazia parte da elite econômica era Joaquim José da Silva
Xavier, apelidado de Tiradentes porque exercia, entre outros, o ofício de dentista.
Boa parte dos líderes intelectuais desse movimento conhecia aspectos do pensamento de filósofos iluministas europeus (como Rosseau,
Montesquieu, Voltaire e Diderot) e inspirava-se em alguns ideais que impulsionaram a independência dos Estados Unidos (1776) e a Revolução
Francesa (1789).
A conspiração teve início em fins de dezembro de 1788, mas derivava de insatisfações de longa data. Em 1776, quando os EUA proclamaram
sua independência, Minas Gerais contava com uma população de cerca de 300 mil habitantes, excluídos os indígenas. Esse contingente representava
20% da população do Brasil e era a maior aglomeração da colônia. Por essa época, a mineração já se encontrava em declínio e a agricultura
havia se convertido na atividade predominante em Minas, de modo que a decadência da mineração significou, em absoluto, a decadência
econômica da região.
Apesar da ruralização, Minas contrastava com regiões de antiga colonização, como o Nordeste. Por causa da mineração, a economia desde
o princípio era altamente mercantilizada. Desde 1760, quando já havia se esgotado o ouro de aluvião, a economia de Minas, agora de base rural,
manteve o dinamismo da região, comandada por homens empreendedores que contrariavam o espírito patriarcal dominante no Nordeste.
Além do mais, eram homens mais cultos e bem informados, como atesta a qualidade da poesia que se produzia ali.
Além desses, outros fatores contribuíram para o amadurecimento da consciência emancipacionista em Minas. O primeiro foi, sem dúvida,
a opressão política fiscal da Coroa, agravada principalmente com a instituição da Derrama pelo Marquês de Pombal e, mais tarde, já no
reinado de D. Maria I, com o Alvará de 1785, que proibia o funcionamento de manufaturas em todo o Brasil, mas que, de fato, tinha em vista
Minas Gerais.
Em segundo lugar, exerceram papel de relativa importância às arbitrariedades do governador D. Luís da Cunha Meneses, que foi
imortalizado na sátira Cartas Chilenas, de autoria duvidosa (Cláudio Manuel da Costa ou Tomás Antônio Gonzaga). Nessa sátira, D. Luís é o
personagem principal com o nome de Fanfarrão Minésio.
Em terceiro lugar, é preciso ressaltar a importância do pensamento ilustrado europeu, que tinha como centro a França. Daí a referência
constante das autoridades coloniais aos “abomináveis princípios franceses”. De origem burguesa, o Iluminismo contestava o Antigo Regime e, nas
áreas coloniais americanas, inspirou os movimentos anticolonialistas. Essa doutrina fascinava os colonos, principalmente porque seus princípios
haviam sido aplicados com êxito na independência dos EUA, seu exemplo vivo.
Ao lado dos autores iluministas, ecoavam como apelo à ação os nomes de George Washington, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson e
Tom Paine. A constituição norte-americana de 1787 era lida com avidez e, no Brasil, chegou-se a ter esperança de obter apoio dos EUA á causa de
independência brasileira. É o que demonstram os pedidos nesse sentido feitos pelo estudante brasileiro em Coimbra José Joaquim da Maia, que se
correspondeu com Thomas Jefferson, então embaixador na França. Outro estudante, José Álvares Maciel, também fazia tentativa de
aproximação com os norte-americanos.
Quanto à ação revolucionária propriamente dita, os inconfidentes tinham arquitetado um plano militar que deveria ser acionado no dia da
Derrama. O visconde de Barbacena, que assumiria o governo de Minas em 1768, em substituição ao impopular Cunha Meneses, vinha com a
missão de cobrar da capitania a dívida atrasada de 538 arrobas de ouro. Para as autoridades portuguesas, essa dívida decorria de fraudes e
não do esgotamento das minas. Por isso, julgavam justificado o lançamento da Derrama.
Segundo se supunha, a Derrama seria lançada em meados de fevereiro de 1789. No fim de dezembro de 1788, teve início a conspiração,
com a participação de seis pessoas, entre as quais Tiradentes. Todavia, o governador Barbacena hesitava: Minas era pobre, a mineração
encontrava-se em declínio e a Derrama poderia desencadear revoltas incontroláveis. No dia 14 de março de 1789, ele finalmente tomou a
decisão: comunicou oficialmente a suspensão da Derrama a Câmara Municipal de Vila Rica. No dia seguinte, o inconfidente e tenente-coronel
Joaquim Silvério dos Reis denunciou a conspiração. A traição tinha uma forte razão financeira: Silvério dos Reis corria o risco de perder seus
bens por dever enormes somas de impostos.
Tomando conhecimento da conspiração, Barbacena começou a agir com cautela na desmontagem do movimento, e no mês de maio
foram efetuadas as prisões, iniciando-se a devassa. Em 18 de abril de 1792, foi lida a sentença que condenava onze inconfidentes à morte,
enquanto para os demais a pena variava de prisão perpétua a degredo, açoite e confisco dos bens. A pena de morte de dez condenados foi
comutada para degredo perpétuo na África, com exceção de Tiradentes, o mais humilde em sua condição social, que foi executado e esquartejado.
Terminava assim, a primeira conspiração emancipacionista do Brasil.

2. A Conjuração Carioca (1794)


Esse acontecimento originou-se de reuniões e debates na Sociedade Literária do Rio de Janeiro. Sob a inspiração dos ideais iluministas,
as discussões passaram dos limites permitidos, o que resultou no fechamento da Sociedade e na prisão de seus membros. Contudo nada foi
apurado contra “os conjurados cariocas” e, as autoridades coloniais terminaram por libertá-los.

3. A Conjuração Baiana ou dos Alfaiates (1798)


No dia 12 de agosto de 1798, em Salvador, estavam afixados em lugares públicos panfletos com as seguintes palavras: “Animai-vos
povo baianense, que está por chegar o tempo feliz da nossa liberdade: o tempo em que seremos todos irmãos, tempo em que seremos todos
iguais”.
Ouve-se, nessas poucas linhas, o eco da Revolução Francesa: Liberdade (tempo feliz da nossa liberdade), Fraternidade (seremos todos
irmãos), Igualdade (seremos todos iguais).
O manifesto continuava com estas palavras:

[...] considerando os muitos e repetidos latrocínios feitos com os títulos de imposturas, tributos e direitos que são cobrados por ordem da Rainha de
Lisboa e no que respeita a inutilidade da escravidão do mesmo povo tão sagrado e digno de ser livre, com respeito à liberdade e qualidade ordena,
manda e quer que para o futuro seja feita nesta cidade e seu termo a sua revolução para que seja exterminado para sempre o péssimo jugo reinável
da Europa [...]

Note-se, nesse trecho, as palavras empregadas: opressão fiscal é aí referida como “repetidos latrocínios”; a escravidão é declarada uma
“inutilidade” porque o povo é “digno de ser livre” e anuncia “para o futuro” a necessidade de uma revolução.
Em nenhum momento da luta pela emancipação será utilizada uma linguagem tão claramente revolucionária e radical. Os conspiradores
haviam acompanhado atentamente a tormenta revolucionária francesa e assimilado sua linguagem. Se a Inconfidência Mineira apoiava-se na
independência norte-americana, a Conjuração Baiana inspirava-se no exemplo da Revolução Francesa. Essa particularidade, aliada à origem dos
revoltosos, em grande parte vindos das camadas mais populares, bastou para que a emancipação fosse concebida pelos baianos como revolução
social.
Para a identificação da autoria do manifesto, o governador da Bahia, D. Fernando José de Portugal, ordenou o exame dos papéis das
repartições para o confronto das caligrafias. A suspeita recaiu sobre o mulato Domingos da Silva Lisboa, um escriba profissional. Como outros
manifestos apareceram quatro dias depois, a busca continuou até a descoberta do verdadeiro autor, o Soldado Luís Gonzaga das Virgens. Para a
prisão dos demais membros da conspiração armou-se uma emboscada nos arredores da cidade onde se reuniam. Porém, alertados a tempo,
conseguiram fugir. Em 26 de agosto, finalmente foram presos 47 suspeitos.
No processo foram arrolados 34 réus, dos quais a grande maioria era formada de mulatos, escravos e forros (ex-escravos). Eram pessoas
de camadas populares, como soldados, sapateiros, pedreiros e artesãos, alguns deles, alfaiates (daí a denominação de Conjuração dos Alfaiates,
como também ficou conhecida a conspiração). Entre os réus havia também brancos, mas igualmente pobres. No final, foram enforcados os mais
ativos conjuradores: os alfaiates João de Deus Nascimento, 24 anos, Manuel Faustino dos Santos, 23 anos, Lucas Dantas e o Soldado Luís
Gonzaga das Virgens, 36 anos, todos mulatos. Além de enforcados, foram esquartejados, e as partes de seus corpos, espalhados pela cidade de
salvador. Quanto aos demais, as penas variavam de castigos corporais, da prisão e degredo.
A exemplo da Inconfidência Mineira, houve participação da elite, que se agrupava na Sociedade Secreta conhecida como Cavaleiros
da Luz. Os membros da elite nada sofreram, talvez pelo prestígio e riqueza ou talvez porque foram protegidos por pessoas de igual ou maior
influência. Todos eles tinham enorme simpatia pelos “abomináveis princípios franceses”, mas, com exceção de Cipriano Barata, os demais teriam
uma participação limitada. Cipriano Barata era médico e mais tarde, como jornalista, seria um dos maiores agitadores do período sua carreira
revolucionária se estenderia até 1839, na Regência. A sociedade dos Cavaleiros da Luz havia sido fundada em 1797 e por sua atuação proselitista
propagou as ideias revolucionárias entre as camadas populares.
A difusão das ideias francesas serviu não só para a denúncia da exploração colonial, como também para que a massa popular pudesse
tomar consciência da exploração e da opressão exercidas pela própria camada dominante da colônia. Nascia, assim, uma corrente política para
a qual a independência não era apenas a ruptura dos laços coloniais, mas também a alteração da ordem social, a começar pela abolição da
escravatura.
A independência do Brasil, contudo, não adotaria essa via revolucionária. O processo de emancipação política desencadeado pela expansão
napoleônica foi firmemente controlado pela poderosa elite dos grandes proprietários escravistas.

Planos dos Revoltosos:


-Fim da dominação portuguesa sobre o Brasil;
-A proclamação de uma república democrática;
-A abolição da escravidão; fim do preconceito contra negros e mulatos;
-Liberdade de comércio;
-O aumento da remuneração dos soldados;
-A abertura dos portos brasileiros a navios de todas as nações.

Merece destaque:

* Inconfidência mineira 1789 – Cláudio Manuel da Costa, segundo versão oficial, enforcou-se na prisão antes do julgamento. Acredita-se que tenha
sido assassinado por seus carcereiros. Tiradentes, que assumiu integralmente a responsabilidade pela conspiração, foi condenado à morte, sendo
enforcado em 21 de abril de 1792, no Campo de São Domingos no Rio de Janeiro. Seu corpo foi esquartejado e os pedaços distribuídos pelas
cidades onde estivera buscando apoio. Sua cabeça foi publicamente exposta em Vila Rica a fim de intimidar possíveis conspiradores e evitar novas
rebeliões.

*Inconfidência baiana 1798– Participação da organização secreta Cavaleiros da Luz sediada na casa do farmacêutico Figueiredo Melo. Principais
líderes da revolta: os alfaiates João de Deus e Manuel Faustino dos Santos Lira, os soldados Lucas Dantas de Amorim Torres, Luís Gonzaga das
Virgens e Romão pinheiro, o padre Francisco Gomes, o farmacêutico João Ladislau de Figueiredo, o professor Francisco Barreto e o médico
Cipriano Barata.

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