Você está na página 1de 7

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIBA

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
COMPONENTE CURRICULAR: História Contemporânea I
PROFESSOR: JOSÉ DO EGITO
AVALIAÇÃO DA UNIDADE I: Abril/2023

PESO DA PROVA: 8,0 +PRESENÇA nas aulas:2,0 10,0

01- O Historiador Eric J. Hobsbawm (1981) é uma das maiores autoridades do mundo
acadêmico no estudo sobre “As Eras das Revoluções”. No caso da Revolução Francesa
(1789-1799), sua tese demonstra todas as crises que dilaceraram a Monarquia
Absolutista de Luis XVI, desde a revolta dos notáveis até a Convocação dos Estados
gerais, a qual se configurou na grande oportunidade que a “Burguesia” e seus demais
integrantes do Terceiro Estado tanto queriam para assumirem o comando de uma
Nação decadente com seu Absolutismo ultrapassado (Antigo Regime). Destarte,
Escreva uma produção textual, elencando o cenário europeu que levou à queda do
Antigo Regime por meio da maior revolução de todos os tempos: A Revolução
Francesa. Demonstre por que a Revolução Francesa é considerada a maior de todas no
campo das idéias; o projeto da burguesia diante dos demais integrantes do terceiro
estado; a liderança dos girondinos durante a Assembléia Constitucional; estabeleça
pontes entre girondinos, jacobinos e sanscullotes, bem como, lance olhares sobre os
líderes dos jacobinos e a implementação da Convenção Nacional que de certo modo
mobilizaram o apoio das massas urbanas para chegarem ao poder. Mas, a Revolução
também matou seus filhos, e o projeto radical dos sansculottes não se concretizou,
afinal, os líderes dos jacobinos acabaram se inclinando para a classe média e afastando-
se dos trabalhadores. Os jacobinos se perderam durante a Convenção Nacional, lá por
volta de 1794, quando o sangue da guilhotina “lembrava a todos os políticos que
ninguém estava realmente a salvo”. Também podemos observar que, apesar da
Revolução Francesa expressar os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, muitos
sujeitos históricos ficaram de fora dos
projetos que garantiriam o Sufrágio Universal, dentre eles, as mulheres, que
participaram da lutas revolucionárias. Deste modo, amparando-se no texto de Daniel
Gomes de Carvalho, “As Heranças da Revolução Francesa”, discorra sobre a trajetória
de “Claire Lacombe – a mulher livre”, em meio às Narrativas BASES, do texto de
Hobsbawn.
P.S.
Mínimo de 4 páginas e máximo de 6 páginas.
Sigam as normas ABNT. Fonte:12 times News Roaman, espaço 1,5. Façam
parágrafos, citações longas, F11 espaço simples.
Resposta

O ano de 1789 marca o início da revolução francesa, entretanto, para


compreendermos como tal movimento aconteceu, é preciso fazer uma análise dos anos
anteriores a este fato. Entre 1770 e 1788, a França enfrentou um momento de duras
crises sócio-econômicas.  Os invernos rigorosos, somados às difíceis colheitas, só
trouxeram mais dificuldades aos mais pobres. Aliás, antes de discorrermos mais
profundamente sobre os fatores que ocasionaram tal movimento, é importante
compreendermos como era dividida a sociedade francesa.

Regida sob a égide de uma monarquia absolutista, o estado francês era formado pelo
clero, que pertencia ao primeiro estado, pela nobreza, ou aristocracia francesa,
pertencentes ao segundo estado, e pelo restante da população, como é o caso da
burguesia e dos camponeses, que pertenciam ao terceiro estado. 

Nesse cenário, os nobres gozavam de muitos privilégios - não tantos quanto o clero, é
claro - que iam da isenção de impostos até o direito de receber tributos feudais. Em
muitas ocasiões, essa parcela da sociedade francesa do século XVIII, utilizava a sua
“posição” para obter ainda mais vantagens. Os membros do terceiro estado, os
camponeses, embora em geral livres e não raro proprietários de terras, pagavam altos
impostos, como os tributos feudais e os dízimos, que tiravam uma grande proporção de
sua renda. 

É diante disso, que as sucessivas crises que agravavam a situação deplorável da


parcela mais pobre da população, provocavam ainda mais revoltas. Os últimos anos da
década de 1780, representaram um período de grande dificuldade para praticamente
todos os ramos da economia francesa. A crise no campo reduzia o mercado de
manufaturas, e também produzia o que chamamos de uma depressão industrial. 

“Os pobres do interior ficavam assim desesperados e envolvidos


em distúrbios e banditismo; os pobres das cidades ficavam
duplamente desesperados, já que o trabalho cessava no exato
momento em que o custo de vida subia vertiginosamente”.
(HOBSBAWM, 1962).
Como se isso já não bastasse, os problemas financeiros ocasionados pela monarquia,
que queria agregar mais privilégios, agravaram ainda mais o quadro, visto que ela era
mantida pelos impostos. Esses sucessivos acontecimentos, deram à aristocracia a
oportunidade que eles desejavam para confrontar o absolutismo, visando adquirir mais
benefícios, e ter uma maior participação política. Diante disso, a “burguesia”, que tinha
ideias provenientes do liberalismo clássico, constrói as bases dos seus pensamentos, e
organiza as suas exigências, que mais tarde foram delineadas na famosa Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. 

Entre 1788 e 1789 foi espalhada pelo reino uma grande campanha de propaganda,
que trouxe ao sofrimento e ao desespero do terceiro estado, uma perspectiva política.
Seguramente, a Convocação dos Estados Gerais havia acirrado ainda mais os conflitos
entre o Clero, a nobreza e a burguesia. O aceno feito pela Aristocracia, com a
convocação da Assembleia dos Estados Gerais1, em 1789, para o terceiro estado, logo
tornou-se mais um dos motivos, que aumentava a insatisfação e a tensão na França. A
não resposta do Clero e da Nobreza para convocação da Assembleia Nacional, proposta
pela burguesia para uma reformulação na constituição, foram o estopim para os
movimentos que começavam a tomar as ruas. Levados por uma onda de pânico de
massa, que se espalhou de forma “obscura, mas rapidamente por grandes regiões do
país”, o famoso “Grande Medo”, que ocorreu entre julho e agosto, esses movimentos
levaram à queda da Bastilha em 14 de julho de 1789. Acontecimento este, que ratificou
a queda do despotismo e foi saudada em todo o mundo como princípio de libertação. 

Por conta desses acontecimentos, a Revolução Francesa é considera, quando


comparada com as demais que a antecederam, durante o século XVIII, como sendo a de
maior relevância no campo das ideias. Prova disso, é que diversas nações foram
influenciadas pelos temas da política liberal e radical-democrática provenientes deste
movimento. A ideologia das antigas civilizações, que até aquele momento resistiam às
constantes investidas de outras nações europeias, são atingidas em cheio – não
conseguindo suportar impacto – através da influência francesa. O movimento Francês
foi tão importante, que forneceu não só padrões para os movimentos revolucionários
subsequentes, como os que levara a libertação da América Latina depois de 1808, mas

1
Em 5 de maio de 1789, com o objetivo de decidir pelo voto os rumos do país. Entretanto, os votos eram por
representação de Estado. Sendo assim, sempre o resultado seria dois votos contra um, ou seja: Primeiro e
Segundo Estados contra o Terceiro. Fato que despertou a indignação de burgueses e trabalhadores.
também representou o primeiro grande movimento de ideais da cristandade ocidental,
que teve efeitos reais sobre o mundo islâmico. 

Os primeiros anos da Revolução Francesa foram marcados por uma Assembleia


Constituinte, que durou entre 1789 e 1791. Nesse período, os Girondinos, a considerada
burguesia moderada, esteve no poder. Foram tomadas providencias, como nos diz
(HOBSBAWM, 1962), “para a gigantesca regionalização e reforma da França”. Os
interesses dos Girondinos na economia eram voltados totalmente para as ideias liberais.

“Sua política em relação aos camponeses era o cerco das terras


comuns e o incentivo aos empresários rurais; para a classe
trabalhadora, a interdição dos sindicados; para os pequenos artesãos,
a abolição dos grémios e corporações”. (HOBSBAWM, 1962).

Com uma nova constituição, criada em 1791, estabeleceu-se um sistema de


monarquia constitucional - transformando a Constituinte em Assembleia Legislativa -
baseada num direito de voto censitário “dos cidadãos ativos reconhecidamente bastante
amplo”, como nos fala Hobsbawm. A ideia de democracia excessiva foi completamente
rechaçada. O rei, o representante do Absolutismo, fugiu, assim foi considerado um
traidor, além de claro, por conta de sua atitude, perder a lealdade de muitos de seus
antigos súditos.

Nesse contexto, a Assembleia Legislativa, movida pelo ímpeto dos franceses, bem
como a de seus simpatizantes no exterior, que acreditavam que a libertação da França
era apenas o primeiro passo para o triunfo “universal da liberdade”, decidem que era
dever da pátria libertar todos os povos que “gemiam debaixo da opressão e da tirania”.
As nações absolutistas que ainda existiam na época, como a Prússia, viam no
movimento francês uma grande ameaça, e acreditavam em um eminente confronto.
Diante das tensões, a França declara guerra não só a Prússia, mas também a Áustria,
utilizando-se de sua Guarda Nacional como força de combate. A guerra, foi vista como
uma oportunidade para solucionar diversos fantasmas internos.

“Era tentador e obvio atribuir as dificuldades do novo regime às


conspirações dos emigrantes e dos tiranos estrangeiros, e lançar
contra eles os populares descontentes. Pois a desvalorização da
moeda e outros problemas só podiam ser remediados se a ameaça de
intervenção fosse dissipada ”. (HOBSBAWM, 1962).
A guerra que foi declarada em 1792, trouxe com a sua derrota, que para muitos só
aconteceu por conta da sabotagem e da traição real, queda da Monarquia Constitucional.
Com a ação dos sans-culottes de Paris, a República é estabelecida. Inicia-se então a época
que fica conhecida como Convenção Nacional, o chamado ano II da revolução, onde os
Jacobinos assumem o poder. Eles são responsáveis por defender a instrução pública, gratuita
e universal e a modernização dos hospitais.

Entre 1792 e 1794, a França a Assembleia Legislativa foi substituída pela Convenção
Nacional, que teve seus participantes eleitos através do voto apenas dos homens adultos. É
nessa época, que após o rei Luís XVI, ser capturado, surge um grande empasse, o que fazer
com ele? Para os Jacobinos, o monarca deveria ser morto, já para os girondinos, exilado. O
símbolo mais imponente da Aristocracia acaba sendo assassinado. O governo jacobino é
marcado pela conhecida “fase do terror”, que dura dos anos de 1793 até 1794. Nesse
período, com a aprovação do “tribunal revolucionário”, diversos políticos são perseguidos e
guilhotinados. É uma época que cerca de 17 mil franceses são mortes, ao longo de apenas 14
meses.

Quando tratamos da Revolução Francesa, é inegável dizermos que tanto os


Jacobinos, como os Girondinos, foram os principais grupos políticos da revolução. Embora
ambos quisessem a queda do Absolutismo, divergiam quanto a forma de governo que
deveria substitui-la. Hobsbawm nos mostra muito bem as suas diferenças, onde os
Girondinos são vistos como os representantes da classe média das provinciais, que estava,
preocupados em manter a ordem e evitar os radicalismos. Já os Girondinos, são descritos
como mais radicais. Soma-se a esses dois grupos, os Sanscullotes, que por sua vez eram os
trabalhadores urbanos, que se tornaram a força da revolução, apoiando os Jacobinos na luta
pela igualdade.

A Revolução Francesa foi de fato plural em suas possibilidades. Entretanto, as cores


vermelha, azul e branca, que para muitos tem significado de igualdade, ganham tonalidades
cinzentas, se considerarmos a pouca participação das mulheres. Nesse contexto, destaca-se
Claire Lacombe, uma atriz que fez da revolução um trampolim para novas perspectivas. De
fato, os artistas eram vistos pelo antigo regime como párias, e constantemente tinham seus
espetáculos submetidos a regulamentações e censuras. Contudo, com o novo regime, eles
ganharam o reconhecimento oficial de cidadãos, e receberam, através das leis
revolucionárias de liberdade comercial de 1791, a possibilidade de melhoria em seus
ambientes de espetáculos, com a construção de 11 novos teatros.
Claire Lacombe, nesse cenário, ganha um grande destaque, principalmente por sua
luta pela revolução, oferecendo-se inclusive para o combate, em um discurso na Assembleia
dos deputados da França, em 1792.

“Francesa, artista e sem lugar. Esta sou eu [...]. Nascida com a


coragem de uma romana e com o ódio contra os tiranos, me sentirei
orgulhosa de contribuir para que eles sejam destruídos. Morte aos
déspotas, até o último deles”. (CARVALHO).

Entretanto, se hoje a trajetória de uma mulher não é fácil, imaginemos no século


XVIII. A mesma revolução que abriu caminhos, acabaria, em suas reviravoltas, criando
obstáculos para a ação feminina. Em 1793, Lacombe foi encarcerada na prisão, por ser
acusada de conspiração, embora tenha sido solta na mesma noite. No mesmo ano, as
mulheres tiveram a Sociedade das Republicas revolucionárias fechada. Contudo, é inegável
dizer que durante o período revolucionário francês, que as mulheres não exerceram um
grande papel. Foi nessa época que as cidadãs chegaram a ser protagonistas em momentos
como as Jornadas Revolucionárias de outubro.

Referências bibliográficas

CARVALHO, Daniel Gomes de. Revolução Francesa. São Paulo: Contexto, 2022.

HOBSBAWM, Eric J.A ERA DAS REVOLUÇÕES (1798-1848). 35o ed. Rio de Janeiro:
Paz & Terra, 2015.

Você também pode gostar