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HUMANOS
Renato Selayaram
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais
Especialista em Ciências Políticas
Mestre em Direito
ISBN 978-85-9502-537-0
Introdução
A Revolução Francesa de 1789 é considerada um marco no processo revo-
lucionário. Com o fim da revolução, a burguesia se consolidou, permitindo
abolir a servidão e os direitos feudais e proclamar os princípios universais de
liberdade, igualdade e fraternidade. A partir da queda da Bastilha, diversos
direitos fundamentais passaram a ser consagrados na França, sendo positiva-
dos pela primeira Constituição francesa, que seria promulgada pouco depois.
Neste capítulo, você vai ler sobre o contexto histórico em que a Re-
volução Francesa estava envolta, sua importância para a consagração
de direitos fundamentais e os direitos que se originaram a partir desse
momento histórico.
que eram separados em três níveis de Estado. O primeiro Estado contava com
cerca de 120 mil pessoas, que possuíam cargos na Igreja e eram detentoras
de 10% das terras do reino: o clero. Além disso, eram isentos de impostos,
serviço militar e julgamento em tribunais comuns.
O segundo Estado englobava a nobreza, composta por cerca de 400 mil
nobres, residentes em seus próprios castelos ou na corte real de Versalhes,
os quais também não pagavam impostos. O terceiro Estado abarcava o povo
(burguesia, trabalhadores urbanos, camponeses e sans-culottes), que somava
um pouco mais de 24 milhões de pessoas, representando em torno de 98% da
população. Esse setor era responsável por sustentar o primeiro e o segundo
Estados. Cerca de 80% das suas rendas eram destinadas ao pagamento dos
impostos (PISSURNO, 2018).
As semanas passaram a ter 10 dias, com três semanas em cada um dos 12 meses,
com cada mês fechando em 30 dias. Dessa forma, eram eliminados os domingos,
por serem de celebração a Deus, bem como os feriados cristãos. Os meses foram
nomeados da seguinte forma:
Outono — vindimário (22 de setembro a 21 de outubro); brumário (22 de outubro
a 20 de novembro); frimário (21 de novembro a 20 de dezembro).
Inverno — nivoso (21 de dezembro a 19 de janeiro); pluvioso (20 de janeiro a 18
de fevereiro); ventoso (19 de fevereiro a 20 de março).
Primavera — germinal (21 de março a 19 de abril); florial (20 de abril a 19 de maio);
prairial (20 de maio a 18 de junho).
Verão — messidor (19 de junho a 18 de julho); termidor (19 de julho a 17 de agosto);
frutidor (18 de agosto a 21 de setembro).
Os dias passaram a ser numerados de um a dez: primidi, duodi, tridi, quartidi, quintidi,
sextidi, septidi, octidi, nonidi e décadi. Cada dia tinha 10 horas, cada hora contava com
100 minutos e, cada minuto, com 100 segundos. Essa base decimal de elaboração
do calendário buscava evidenciar o racionalismo e a matemática, contrapondo-se à
influência religiosa.
O calendário da Revolução francesa foi abolido em 1805, quando Napoleão Bonaparte
estava no poder.
Fonte: Pinto (2018).
O político francês Jean Nicolas Pache (1746–1823) foi o idealizador dos princípios universais
proclamados após a Revolução Francesa. Liberdade, igualdade e fraternidade (liberté,
égalité, fraternité) foram estampados nas bandeiras de lutas dos burgueses (Silva, 2013).
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direitos naturais;
direitos humanos;
direitos do homem;
direitos individuais;
direitos públicos subjetivos;
liberdades fundamentais;
liberdades públicas;
direitos fundamentais do homem.
10 Revolução Francesa de 1789 e os direitos de primeira dimensão
Primeira dimensão
Os direitos de primeira dimensão foram os primeiros a ser reconhecidos e
protegidos, originários do século XVIII. Dizem respeito às liberdades públicas,
que antigamente eram chamadas de direitos individuais. São direitos que, em
sua origem, estão vinculados ao jusnaturalismo (FERREIRA FILHO, 2005).
Bobbio (1999, p. 70) leciona que a primeira dimensão corresponde aos direitos
de liberdade ou um não agir do Estado. Essa ideia inerente de liberdade evoluiu
junto com o princípio de igualdade, uma vez que, ao se estabelecer que todos
os homens são iguais, entende-se que são iguais no gozo da liberdade, “[...]
no sentido de que nenhum indivíduo pode ter mais liberdade que o outro”.
Ainda, como destaca Bonavides (2003), há uma universalidade formal nos
direitos de primeira dimensão, visto que estão consagrados formalmente, de
modo que é impossível haver o reconhecimento de uma Constituição sem que
eles estejam presentes.
Os direitos de primeira dimensão dizem respeito ao homem em abstrato;
ao homem singularmente considerado; são direitos de resistência do indivíduo
em face ao Estado (TOSE, 2006). Esses direitos são considerados direitos
individuais com caráter negativo, pois exigem diretamente uma abstenção
do Estado, que é o principal destinatário. Podemos citar alguns exemplos de
direitos fundamentais de primeira geração (LFG, 2017), entre outros:
direito à vida;
direito à liberdade;
direito à propriedade;
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O direito à vida é um direito fundamental de primeira dimensão, pois exige uma postura
negativa do Estado: “[...] a não promoção da morte e, consequentemente, a não aplica-
ção da pena de morte”. Dessa forma, impede-se que “[...] sejam perpetrados malefícios
pelo poder estatal (uma atitude má não se justifica com outra; violência atrai violência;
o Estado deve propagar a paz e a harmonia social)” (Tose, 2006, documento online).