Você está na página 1de 13

DIREITOS

HUMANOS

Guérula Mello Viero


Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever o momento histórico antecedente à Declaração dos Direitos


do Homem e do Cidadão.
 Reconhecer a importância da Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão para os direitos humanos.
 Explorar os artigos constantes na Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão.

Introdução
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão é um texto fundamen-
tal na positivação dos direitos humanos, pois disciplina direitos naturais
como inalienáveis e imprescritíveis ao cidadão. Até a sua promulgação,
a França vivia um regime absolutista, em que os direitos do povo eram
menosprezados em prol do clero e da nobreza. Com a Revolução Francesa,
os homens passaram a ser vistos como pessoas iguais, sem a distinção
que pairava no País até o século XVIII.
Neste capítulo, você vai ler sobre o contexto histórico que antecedeu
a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e a influência desse
documento para os direitos humanos. Ainda, vai identificar e analisar os
dispositivos presentes na Declaração.

Momento histórico antecessor à Declaração


dos Direitos do Homem e do Cidadão
Durante os séculos de XVII e XVIII, um grande movimento intelectual ilumi-
nista tomou conta da França, a tal ponto de ficar conhecido como o século das
2 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

luzes. Em prol dos ideais burgueses, os pensadores iluministas reprovavam


o absolutismo vigente no País, bem como o mercantilismo e a sociedade de
forma estamental.

A sociedade estamental é a representação típica do sistema feudal medieval, dividida


em estamentos, ou seja, grupos sociais, como clero, nobreza e servos, nos quais não
havia mobilidade social. Nesse período, a posição do indivíduo na sociedade dependia
de sua origem familiar (SOCIEDADE..., 2016, documento on-line).

Em contraponto, os pensadores iluministas defendiam novas formas de


organização política, econômica e social. Para eles, a razão era a única forma
de se atingir a verdade absoluta, o bem e a liberdade do homem (CALDEIRA,
2014). Com o Renascimento, o homem passou a desenvolver o racionalismo,
abandonando as visões teocêntricas e substituindo os acontecimentos milagrosos
por fenômenos naturais: a religião era trocada pela ciência. Segundo Ferreira
Filho (2005, p. 6), essa cosmovisão era baseada em cinco ideias-força, que se ex-
primiam pelas “[...] noções de indivíduo, razão, natureza, felicidade e progresso”.
Nesse contexto, a ciência se tornou a produtora do autêntico conhecimento,
ou seja, da verdade. Foi uma época em que houve grande desenvolvimento
das ciências físicas, químicas e biológicas. A razão guiava a humanidade na
direção do progresso, assim, o progresso se transformava em lei inexorável
da história. Essa racionalidade passou a fundamentar teorias, especialmente
as científicas, inclusive evidenciando a ideia de um universo acessível ao ser
racional, bem como uma nova concepção de humanidade, a qual seria guiada
pela razão (MORIN, 2005).

O renascimento foi um movimento cultural, econômico e político que teve seu início
na Itália do século XIV. Consolidou-se no século XV e, no século XVII, estendeu-se por
toda a Europa. Era inspirado nos valores da Antiguidade Clássica. E, com as modificações
estruturais ocorridas na sociedade, reformulou toda a vida medieval, dando origem
à Idade Moderna (Renascimento..., 2017, documento on-line).
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 3

Entre os pensadores iluministas que figuravam nesse cenário, ganharam


destaque (CALDEIRA, 2014):

 John Locke — pensador inglês que defendia o direito à vida, à liber-


dade e à propriedade como naturais ao homem; logo, a validade de um
governo dependia de um contrato com seus governados, garantindo o
respeito aos direitos inerentes aos indivíduos.
 Montesquieu — responsável por separar os poderes do Estado em
Executivo, Legislativo e Judiciário, de forma que fossem independentes
entre si, mas com fiscalização recíproca.
 Voltaire — um dos maiores críticos ao antigo regime, principalmente no
tocante à Igreja Católica, não acreditava na igualdade entre os homens,
mas defendia o direito à liberdade de expressão.
 Jean-Jacques Rousseau — acreditava que um governo deveria ser
formado pela vontade geral dos cidadãos, com base em um documento
escrito, o qual asseguraria a igualdade e liberdade, pois a propriedade
privada só trazia desigualdade social, concorrência, inveja e conflitos.

No entanto, apesar dessa linha iluminista, na França do século XVIII, ainda


vigia a sociedade estamental, em que os indivíduos eram divididos, conforme
sua ascendência, em classes sociais. O absolutismo monárquico reinava no país.
Os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário eram personificados na figura
do rei francês Luís XVI, tornando os cidadãos seus súditos (FERNANDES,
2018). Havia cerca de 25 milhões de habitantes, que eram separados em três
níveis de Estado.
O primeiro Estado contava com cerca de 120 mil pessoas, as quais possuíam
cargos na Igreja e eram detentoras de 10% das terras do reino: o clero. Além
disso, eram isentos de impostos, serviço militar e julgamento em tribunais
comuns. O segundo Estado englobava a nobreza, composta por cerca de 400
mil nobres, residentes em seus próprios castelos ou na corte real de Versalhes,
os quais também não pagavam impostos. E o terceiro Estado abarcava o povo
(burguesia, trabalhadores urbanos, camponeses e sans-culottes — artesãos e
operários), que somava um pouco mais de 24 milhões de pessoas, represen-
tando em torno de 98% da população. Esse setor era responsável por sustentar
o primeiro e o segundo Estados, já que cerca de 80% das suas rendas eram
destinadas ao pagamento dos impostos (PISSURNO, 2018).
A miséria dominava a população, enquanto a monarquia e o clero viviam
no luxo, pago pelo povo. Esse regime revoltava a burguesia, pois a alta carga
tributária dificultava o desenvolvimento do comércio (MENDES, 2017). Essa
4 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

insatisfação era agravada pela crise econômica que se instalou no país, devido
aos gastos com a Guerra dos Sete Anos (1756–1763), contra a Inglaterra, com o
auxílio destinado aos EUA na Guerra da Independência (1776) e com os altos
gastos da corte francesa. Ainda, para agravar a situação, a França enfrentaria
mais duas crises: a primeira seria no campo, devido às péssimas colheitas
ocorridas nas décadas de 1770 e 1780, que ocasionaram uma inflação de 62%;
a segunda, na esfera financeira, decorrente da dívida pública que se acumulava
pela falta de modernização, principalmente em relação aos investimentos no
setor industrial (FERNANDES, 2018).
A política também foi afetada pela situação econômica. Muitos ministros,
que não conseguiram desenvolver projetos reformistas, foram demitidos.
Para tentar solucionar a crise, o rei pediu o apoio dos burgueses, que exigi-
ram a nomeação de Jacques Necker para o ministério das finanças, em 1788
(CALDEIRA, 2014). No mesmo ano, com o agravamento da crise, Luís XVI
convocou os Estados Gerais, primeira vez em 200 anos, para deliberar sobre
a situação política da França, momento em que o conflito de interesses se
acirrou: de um lado, o terceiro Estado; de outro, o segundo e o primeiro, que
possuíam interesses em comum. Assim, em 5 de maio de 1789, o rei estabeleceu
a Assembleia dos Estados Gerais (FERNANDES, 2018).
Contudo, devido aos impasses, um mês depois, a burguesia (que liderava
o terceiro Estado) propôs uma Assembleia Nacional, em 10 de junho de 1789,
para formular uma nova Constituição para a França. Como a proposta não
foi aceita pelo rei, pela nobreza e pelo clero, os burgueses, trabalhadores e
demais integrantes do terceiro Estado reuniram-se, em 17 de junho, para
formular uma Constituição (FERNANDES, 2018). Paralelo a isso, vendo que
não conseguiria dissolver a assembleia paralela do povo, o rei ordenou que
o primeiro e segundo Estados se unissem a ele, além de convocar o exército
para conter o levante popular em Paris (PISSURNO, 2018).
Diante disso, a população se uniu para tirar o poder das mãos de Luís XVI.
Em 14 de julho de 1789, o povo invadiu os arsenais do governo, apoderando-se
de cerca de 30 mil mosquetes. O primeiro alvo foi a Bastilha, prisão desativada,
mas que representava um dos maiores símbolos do absolutismo. A população
tomou o local, desencadeando a Queda da Bastilha, evento considerado o marco
do início do processo revolucionário (ALBUQUERQUE, 2018). Em seguida, a
Assembleia Constituinte promulgou a Declaração dos Direitos dos Homens
e do Cidadão, em 26 de agosto de 1789. O documento efetivava a ruptura
com a política francesa. Composto por 17 artigos mais o preâmbulo, o texto
se comprometia a estabelecer princípios conhecidos até hoje e que passaram
a embasar a elaboração das constituições ocidentais (MENDES, 2017).
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 5

Influência da Declaração dos Direitos do


Homem e do Cidadão nos Direitos Humanos
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão é um dos textos fundamen-
tais da Revolução Francesa, visto que foi a primeira declaração de direitos e
fonte de inspiração para outras normas que vieram posteriormente, a exemplo
da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Organização
das Nações Unidas (ONU), em 1948. Composta por 17 artigos, serviu de
estímulo para que os povos lutassem pelos seus direitos.
Com o fim da Revolução Francesa, a hegemonia da burguesia afirmou-
-se, fato que permitiu abolir a servidão e os direitos feudais e proclamar
os princípios universais de liberdade, igualdade e fraternidade. Conforme
Norberto Bobbio (1992), esses ideais consolidaram-se a partir da Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão, instituída pela Assembleia Nacional
em 1789. Desde esse momento histórico, os indivíduos passavam a ter direitos
frente ao Estado, que tinha o dever de cuidar das necessidades de seu povo,
sejam elas individuais ou coletivas, fazendo os cidadãos deixarem de ter apenas
deveres em relação ao Estado.
Segundo José Afonso Silva (2000), já no artigo inicial da Declaração,
podemos identificar a igualdade que permeava os indivíduos. O art. 1º definia:
“os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só
podem fundar-se na utilidade comum” (DIRETORIA DE POLÍCIA COMU-
NITÁRIA E DE DIREITOS HUMANOS, 2016, documento online). Para Silva
(2000), esse princípio firmava a igualdade jurídico-formal no plano político,
abolindo privilégios, isenções pessoais e regalias destinadas às classes.
A Declaração apresentou previsões de direitos humanos inovadoras para
a época, como (MORAES, 2011, p. 9):

[...] princípio da igualdade, liberdade, propriedade, segurança, resistência à


opressão, associação política, princípio da legalidade, princípio da reserva
legal e anterioridade em matéria penal, princípio da presunção de inocência,
liberdade religiosa, livre manifestação de pensamento.

Entretanto, até no início do século XX, os direitos humanos e os direitos


fundamentais predominavam na sua forma individualista, necessitando de
intervenção do Estado para realizar a justiça (SARLET, 2004).
No entendimento de Silva (2013), a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, que é marcante até os dias de hoje, influenciou a vida constitucional
dos povos do Ocidente e Oriente, pois representou o progresso na história da
6 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

afirmação dos valores fundamentais da pessoa. No entanto, por ser resultado


do liberalismo do século XVIII, possuía um cunho nitidamente individualista,
subordinando a vida social ao indivíduo e atribuindo ao Estado o dever de
conservar os direitos individuais.
Contudo, ao se promulgar a Declaração, a afirmação dos direitos fun-
damentais foi complementada e recebeu apoio para conscientizar sobre a
necessidade de proteger judicialmente os direitos do ser humano, “[...] por
meio de um processo de positivação voltado à organização da vida social e
o reconhecimento do direito à dignidade da pessoa humana” (SILVA, 2013,
documento online).
Paulo Bonavides (1997) destaca que essa vinculação dos direitos funda-
mentais à liberdade e à dignidade permitiu conduzir os valores ao significado
da universalidade, que eram inerentes aos direitos da pessoa. Ainda, conforme
Bonavides (1997), foi por meio da Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão que essa universalidade se manifestou pela primeira vez, demons-
trando o racionalismo presente na Revolução Francesa. Ainda conforme Silva
(2013, documento online), à época, “[...] os direitos humanos eram definidos
como direitos naturais, inalienáveis, imprescritíveis e sagrados, e refletiam
o conceito amplo de liberdade, englobando a propriedade, a segurança e a
resistência à opressão”.
Essa positivação está presente até os dias atuais. Após mais de 200 anos,
a Revolução Francesa ainda influencia o Direito que conhecemos hoje. Inú-
meras constituições foram elaboradas no mundo todo mantendo a bandeira da
democracia. No Brasil, por exemplo, a primeira Constituição foi outorgada em
25 de março de 1824 e seguiu os ideais liberais herdados da França, dividindo
o poder em Executivo, Legislativo e Judiciário (MENDES, 2017). Como
leciona Rodolfo Mendes (2017), o lema central da Revolução Francesa, qual
seja, liberdade, igualdade e fraternidade, serviu de base constitucional para a
Carta Magna brasileira de 1988. Prova disso são os princípios nela presentes,
os quais visam ao bem-estar da sociedade.

Artigos da Declaração dos Direitos


do Homem e do Cidadão
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão é um dos textos fundamen-
tais votados pela Assembleia Nacional Constituinte, formada em decorrência da
reunião dos Estados Gerais. Composta pelo preâmbulo e 17 artigos, disciplina
direitos naturais e imprescritíveis do indivíduo, como:
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 7

 direito à liberdade;
 direito à propriedade;
 direito à segurança;
 direito à resistência à opressão.

Ainda, reconhece a igualdade como um direito, principalmente em relação


ao povo frente à lei e à justiça, bem como reforça o princípio da separação
entre os poderes (EMBAIXADA DA FRANÇA NO BRASIL, 2017).
Logo no preâmbulo, podemos identificar que os parlamentares expuseram
os direitos naturais como sagrados, inalienáveis e imprescritíveis. Isso porque
eles consideravam que a causa dos males públicos e da corrupção dos governos
estava baseada na ignorância, no esquecimento e no menosprezo dos direitos
do ser humano (ROQUE, 2012):

Preâmbulo
Os representantes do povo francês, reunidos em Assembleia Nacional, con-
siderando que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do
homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos governos,
resolveram expor, em uma declaração solene, os direitos naturais, inaliená-
veis e sagrados do homem, a fim de que essa declaração, constantemente
presente junto a todos os membros do corpo social, lembre-lhes permanen-
temente seus direitos e deveres; a fim de que os atos do poder legislativo e
do poder executivo, podendo ser, a todo instante, comparados ao objetivo de
qualquer instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que
as reivindicações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e
incontestáveis, estejam sempre voltadas para a preservação da Constituição
e para a felicidade geral (DIRETORIA DE POLÍCIA COMUNITÁRIA E DE
DIREITOS HUMANOS, 2016, documento online).

Já nos 17 artigos que se seguem (DIRETORIA DE POLÍCIA COMUNI-


TÁRIA E DE DIREITOS HUMANOS, 2016, documento online), fica evidente
a consagração dos direitos fundamentais inerentes ao ser humano. O art. 1º
demonstra a positivação dos princípios da igualdade e da liberdade, não per-
mitindo a discriminação de ordem legal (ROQUE, 2012, documento on-line):
“Art. 1º Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções
sociais só podem ter como fundamento a utilidade comum”.
O direito de associação fica garantido no art. 2º, mas deve conter objetivos bem
definidos, que caracterizem a defesa dos direitos humanos e das liberdades públicas
(ROQUE, 2012, documento on-line): “Art. 2º A finalidade de toda associação
política é a preservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses
direitos são a liberdade, a prosperidade, a segurança e a resistência à opressão”.
8 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

O art. 3º refere-se à autoridade pública, pois os políticos devem ser es-


colhidos pelo povo, sendo o princípio básico da democracia (ROQUE, 2012,
documento on-line): “Art. 3º O princípio de toda a soberania reside, essen-
cialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer
autoridade que dela não emane expressamente”.
O conceito de liberdade, em que é permitido fazer por livre e espontânea
vontade tudo aquilo que a lei permita ou não proíba, vem expresso no art. 4º
(ROQUE, 2012, documento on-line).

Art. 4º A liberdade consiste em poder fazer tudo o que não prejudique o


próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem
por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o
gozo dos mesmos direitos. Estes limites só podem ser determinados pela lei.

Ao complementar o artigo anterior, o art. 5º procura reprimir possíveis


excessos do legislador (ROQUE, 2012, documento on-line): “Art. 5º A lei
não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo o que não é vedado pela
lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela
não ordene”.
As leis devem atender à vontade do povo, visto que quem formula a lei é
aquele a quem ela se aplica. Devido à população não ter condições de elaborá-las,
escolhem representantes para fazer esse papel (ROQUE, 2012, documento on-line).

Art. 6º A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito


de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação.
Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos
os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dig-
nidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra
distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos.

O art. 7º positiva o princípio da legalidade, em que permite ao ser humano


ser livre e praticar os atos que quiser, contanto que não haja proibição em lei
(ROQUE, 2012, documento on-line):

Art. 7º Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determi-
nados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam,
expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos;
mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer
imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 9

O art. 8º reforça a ideia expressa no artigo anterior, visto que é necessário


existir lei anterior que defina o ato como crime, juntamente com sanção es-
tabelecida em lei (ROQUE, 2012, documento on-line): “Art. 8º A lei só deve
estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser
punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito
e legalmente aplicada”.
Seguindo o contexto dos artigos anteriores, o art. 9º afirma que só é culpado
quem assim for declarado pela justiça (ROQUE, 2012, documento on-line):
“Art. 9º Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e,
caso seja considerado indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à
guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei”.
A liberdade religiosa vem exposta no art. 10, reprimindo a discriminação e
o ódio que tenham como fundo ideologias religiosas: “Art. 10 Ninguém pode
ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que sua
manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei” (ROQUE,
2012, documento on-line).
O art. 11 positiva a liberdade de pensamento e a manifestação do pensa-
mento (ROQUE, 2012, documento on-line): “Art. 11 A livre comunicação das
ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem; todo cidadão
pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia,
pelos abusos dessa liberdade nos termos previstos na lei”.
O art. 12 aponta os deveres do Estado perante aos cidadãos, cabendo-lhe
a garantia das liberdades públicas e os direitos do homem (ROQUE, 2012,
documento on-line): “Art. 12 A garantia dos direitos do homem e do cidadão
necessita de uma força pública; essa força é, portanto, instituída para benefício
de todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada”.
Os arts. 13 e 14 devem ser vistos de forma conjunta, pois dizem respeito ao
aparelhamento do Estado destinado a garantir as liberdades públicas, a ordem e
a paz. Para manter esse sistema, é necessário o pagamento de impostos, o qual
é convertido para benefício da população (ROQUE, 2012, documento on-line):

Art. 13 Para a manutenção da força pública e para as despesas de adminis-


tração é indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida entre
os cidadãos de acordo com suas possibilidades.
Art. 14º Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si mesmos ou pelos
seus representantes, a necessidade da contribuição pública, de consenti-la
livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta,
a cobrança e a duração.
10 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

Conforme Sebastião Roque (2012, documento online), “O agente público é


o ocupante dos cargos da administração pública, até mesmo os nomeados. São
mandatários do povo e, portanto, têm deveres próprios de mandato, principal-
mente o de prestar contas ao mandante”: “Art. 15 A sociedade tem o direito
de pedir contas a todo agente público pela sua administração”.
O art. 16 reforça que a Constituição de um país deve prever a divisão dos
poderes, devendo eles serem independentes, opondo-se um ao outro, mas
mantendo a observância do sentido de colaboração (ROQUE, 2012, documento
on-line): “Art. 16 A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos
direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição”.
O art. 17 deriva do iluminismo e do liberalismo e foi positivado na De-
claração como um dos direitos fundamentais do ser humano (ROQUE, 2012,
documento on-line): “Art. 17 Como a propriedade é um direito inviolável e
sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública
legalmente comprovada o exigir e sob condição de justa e prévia indenização”.

ALBUQUERQUE, C. História da Revolução Francesa. Estudo prático, 2018. Disponível


em: <https://www.estudopratico.com.br/historia-da-revolucao-francesa/>. Acesso
em: 6 ago. 2018.
BOBBIO, N. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
BONAVIDES, P. Curso de Direito Constitucional. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 1997.
CALDEIRA, G. C. A Revolução Francesa e a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão. História contemporânea, 2 out. 2014. Disponível em: <https://hcontemporaneai.
wordpress.com/2014/10/02/a-revolucao-francesa-e-a-declaracao-dos-direitos-do-
-homem-e-do-cidadao-s-d-a-t-s/>. Acesso em: 6 ago. 2018.
DIRETORIA DE POLÍCIA COMUNITÁRIA E DE DIREITOS HUMANOS. Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão. Legislação: documentos históricos. São Paulo,
2016. Disponível em: <http://www4.policiamilitar.sp.gov.br/unidades/dpcdh/Nor-
mas_Direitos_Humanos/DECLARA%C3%87%C3%83O%20DE%20DIREITOS%20DO%20
HOMEM%20E%20DO%20CIDAD%C3%83O%20-%201789%20-%20PORTUGU%C3%8AS.
pdf>. Acesso em: 6 ago. 2018.
EMBAIXADA DA FRANÇA NO BRASIL. A Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão. A França no Brasil, 13 jan. 2017. Disponível em: <https://br.ambafrance.org/A-
-Declaracao-dos-Direitos-do-Homem-e-do-Cidadao>. Acesso em: 6 ago. 2018.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 11

FERNANDES, C. Revolução Francesa. História do mundo, jan. 2018. Disponível em: <ht-
tps://historiadomundo.uol.com.br/idade-moderna/revolucao-francesa.htm>. Acesso
em: 6 ago. 2018.
FERREIRA FILHO, M. G. Direitos humanos fundamentais. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
MENDES, Rodolfo. Os ideais da Revolução Francesa e o Direito moderno. JusBrasil,
2017. Disponível em: <https://chelios.jusbrasil.com.br/artigos/464544307/os-ideais-da-
-revolucao-francesa-e-o-direito-moderno>. Acesso em: 6 ago. 2018.
MORAES, A. Direitos humanos fundamentais: teoria geral (comentários aos artigos 1º a
5º da Constituição da República Federativa do Brasil — doutrina e jurisprudência. 9.
ed. São Paulo: Atlas, 2011.
MORIN, E. Para além do iluminismo. Revista Famecos, Porto Alegre, n. 26, abr. 2005.
Disponível em: <http://www.uesb.br/labtece/artigos/Para%20%20Al%C3%A9m%20
do%20Iluminismo.pdf>. Acesso em: 6 ago. 2018.
PISSURNO, F. P. Revolução Francesa. InfoEscola, 2018. Disponível em: <https://www.
infoescola.com/historia/revolucao-francesa/>. Acesso em: 6 ago. 2018.
RENASCIMENTO: características e contexto histórico. TodaMatéria, 20 dez. 2017. Dispo-
nível em: <https://www.todamateria.com.br/renascimento-caracteristicas-e-contexto-
-historico/>. Acesso em: 6 ago. 2018.
ROQUE, S. J. Declaração dos direitos do homem e do cidadão: o início de nosso direito.
Conteúdo Jurídico, 6 fev. 2012. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.
br/?colunas&colunista=29702_Sebastiao_Roque&ver=1158>. Acesso em: 6 ago. 2018.
SARLET, I. W. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal
de 1988. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004.
SILVA, J. A. Curso de Direito Constitucional positivo. 17. ed. São Paulo: Malheiros, 2000.
SILVA, L. G. A evolução dos Direitos Humanos. Conteúdo Jurídico, 8 abr. 2013. Disponível
em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.42785&seo=1>. Acesso
em: 6 ago. 2018.
SOCIEDADE estamental. TodaMatéria, 19 maio 2016. Disponível em: <https://www.
todamateria.com.br/sociedade-estamental/>. Acesso em: 6 ago. 2018.

Você também pode gostar