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O Terror
“Morrer é uma recompensa, pois é o céu, a ideia favorita de toda a minha vida de menina. É a
morte que sempre me fez sorrir! jamais alguma coisa me fez com que a palavra morte se
tornasse lúgubre para mim” (ARIÈS, pag.43, 2017)
“Seus olhos, já fixos, estão voltados para mim... e eu, sua mulher, senti o que jamais terá
imaginado, senti que a morte era a felicidade” (ARIÈS, pag.43, 2017)
A morte teria que ser aceita pelos familiares sem que estes, pudessem
expressar a sua comoção em público, pois, qualquer comoção deveria ser em
particular ou às escondidas, não podendo também usar vestuário escuro que
definisse um luto e nenhuma expressão que não fosse as que apresentava
cotidianamente. Ariès vai falar dessa proibição dizendo que:
“Uma dor demasiada visível não inspira pena, mas repugnância; é um sinal de perturbação
mental ou de má-educação, é mórbida. Dentro do círculo familiar ainda se hesita em desabafar,
com medo de impressionar as crianças. Só se tem o direito de chorar quando ninguém vê nem
escuta: o luto solitário e envergonhado é o único recurso [...]”.
(ARIÈS, 2017) vai dizer que por conta dessas “normas” as pessoas
dissimulavam uma rápida resignação, para em tempo curto voltarem a viver de
forma normal, mas com o tempo, o interditar a morte não mais passou a ser
suportado, levando à morte muitos enlutados diante da tristeza e dor que
explodiam em si mesmos. O século XIX fala da morte do outro e dos abalos
que começam a repercutir quando a morte interdita começa a perder fôlego. O
autor vai lembrar da contribuição feita por Gorer, (1955). no seu livro sobre A
Pornografia da Morte. Ele Ressalta que Gorer vai chamar atenção para os
perigos da configuração da morte, explicando que a interdição da morte estava
sendo causada pelo declínio das crenças religiosas e pelo abandono da
realização dos “rituais de morte”. Dizia o Autor que antes o sexo era proibido
ser dito as crianças e a morte era escancarada para todos que velavam seus
mortos nos esquifes e cemitérios. Depois as crianças passaram a saber de
sexo em tenra idade e a morte foi a que passou a ser tabu. Na Sociedade
americana, o impacto da morte interdita não foi tão presente, mesmo porque
havia já existente uma interdição da morte para que ela não viesse turvar os
objetivos de preservar a felicidade. No século XVIII e na metade do século XIX,
sobretudo no campo, os enterros americanos seguiam a tradição a família,
amigos garantiam o cortejo, o pastor, o sacristão e o coveiro, além do
carpinteiro que ia fazer o caixão. Costumavam abrir a cova na propriedade da
família. havia nessas comunidades uma Igreja que ficava próximo ao cemitério.
Os americanos não colocam a morte no lugar de interdita, por um motivo que
foi surgindo nesses séculos citados, a morte passou a promover lucros, quando
empresas surgiam querendo vender um velório e todos os preparativos que se
tem nesses eventos fúnebres, e isso, para se manter, era necessário não
esconder a morte. já antes e depois da Revolução Industrial surgia um homem
mais interessados com suas posses e riquezas adquiridas. Contudo, ao
perceberem a realidade da morte que de uma certa forma quando já sentida
sua aproximação, imaginavam como fariam diante dos bens acumulados.
Muitos queriam que essas riquezas descessem aos túmulos com eles, sem que
fosse passado a frente, mas por questões de honra, era preciso deixar para os
familiares ou mais próximos. Os testamentos então incluíam os bens como
obra para serem bem vistos nos céus perante Deus. Sendo assim, o século
XVIII foi se apresentando naturalmente nos rituais fúnebres a riqueza e a
pobreza. Nas comunidades rurais, os familiares dos mortos aguardavam que
pelo menos os amigos comparecessem no velório, porque carpideiras, padres
e missa, não eram possíveis. Essa realidade que também era vista na Idade
Média, fez com que obras de caridade, de misericórdia, fossem formadas para
garantir um enterro naqueles povoados onde a pobreza residia.
A morte ganhou várias representações, sendo muitas vezes, vista de forma
normal no cotidiano dos indivíduos. Foi domesticada, romantizada, erotizada,
vagando no imaginário das pessoas, mas no século XIX ela vai ganhar feições
de medo. Dois principais receios na época eram da morte aparente e de ser
sepultado vivo. O autor sinaliza isso quando diz: