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ILUMINISMO E CIDADANIA

Queridos alunos, estamos vivenciando um processo eleitoral: as eleições


para prefeito e vereador se aproximam. É um momento em que a retórica eleitoral
nos apresenta os grandes conceitos que surgiram com o pensamento Iluminista e
moldaram o mundo conforme o conhecemos: cidadania, representatividade, divisão
de poderes, liberdades de expressão, opinião e organização, eleições, Constituição,
garantias constitucionais, direito ao voto etc. Enfim, é um momento propício para
falarmos e vivenciarmos esses conceitos...
Mas sabiam que muitos desses conceitos surgiram ainda no século XVII, no
chamado pré-Iluminismo e época da “Revolução Científica”. John Locke, grande
pensador do século XVII e conhecido como “Pai da Ciência Política” foi um dos
maiores precursores do Iluminismo. Sua defesa dos chamados “direitos naturais”,
fundamentam o que hoje conhecemos como “garantias constitucionais” e “Direitos
Humanos”.
Então, iremos constatar que esse pensamento inspirou os homens dos
séculos XVIII e XIX, levando aos movimentos que defendem a cidadania e a
liberdade. Contestam os privilégios pelo nascimento que o clero e a nobreza
possuíam: todos nascemos e somos iguais. A defesa da liberdade comercial
questionou os alicerces do Pacto Colonial: daí os movimentos anticoloniais pelas
independências americanas que vimos na atividade anterior. As ideias de igualdade
jurídica, de representação política e de poder constituinte abalaram o Absolutismo:
as Revoluções Inglesa e Francesa puseram fim ao Antigo Regime. Por fim, a defesa
da livre-iniciativa nas práticas econômicas, derrubou o Mercantilismo e instalou o
Liberalismo Econômico.
Veremos a seguir como esses fatos se conectaram a partir do Iluminismo.
Avante!
Jorge Alfredo Leite Gonçalves
Professor de História – 2º ano do EM – 2020

“[...] todos os homens foram criados iguais e dotados pelo Criador de direitos
inalienáveis, como a vida, liberdade, busca da felicidade”.
(KARNAL, 2006, p. 142)
O liberalismo, sinteticamente, é um conjunto de pensamentos que surgiu no
século XVII e ganhou destaque na Europa do século XVIII. O seu apogeu ocorreu
após a Revolução Industrial, no início do século XIX. Basicamente, a visão liberal de
mundo consiste em enxergar que todos os seres humanos são dotados de
capacidades para o trabalho e intelectuais e que todos têm direitos naturais a
exercer a sua capacidade.
Dessa maneira, o Estado não tem o direito de interferir na vida e nas
liberdades individuais dos cidadãos, a menos que esses atentem contra a ordem
vigente. Esse pensamento liberal norteou eventos como a Revolução Francesa e a
Revolução Industrial, criando um Estado de Direito liberal no mundo
contemporâneo, que visava assegurar os direitos dos cidadãos e acabar com
o despotismo.
O liberalismo, como um todo, visava a acabar com a opressão do
chamado Antigo Regime (as monarquias absolutistas que dominaram, durante
muito tempo, as potências europeias). Para os liberais, o ser humano era dotado de
direitos naturais (pensamento herdado do filósofo inglês John Locke, como já
falamos) que assegurariam o direito de todos os cidadãos de participar da política e
da economia, de trabalhar, acumular riquezas e adquirir uma propriedade privada.
Do mesmo modo, eram direitos naturais a vida e a liberdade, sendo vedado ao
Estado qualquer forma autoritária e injustificada de restrição da liberdade ou
assassinato ou prisão dos cidadãos sem o devido processo legal.
Para os teóricos liberais modernos, não havia qualquer justificativa para o
controle da vida, do governo e da economia por parte dos monarcas. Isso porque
a monarquia absolutista estava assentada no ideal do direito divino, ou seja, os
governantes eram pessoas eleitas por Deus para guiar o povo. O pensamento
moderno, já altamente racional, rejeitava essa noção.
Para os pensadores iluministas, era a razão, distribuída entre as pessoas, a
responsável por criar um projeto de mundo capaz de impulsionar a sociedade e os
indivíduos ao crescimento. Esses ideais, que constituíam o Iluminismo, geraram o
centro do pensamento liberal: a capacidade individual de trabalhar, criar e evoluir.
O pensamento liberal, em geral, visava a acabar com a opressão estatal
sobre a vida das pessoas em seus aspectos políticos e econômicos. Para tanto,
era necessário abandonar a visão absolutista de governo, baseada no poder
absoluto e irrestrito de um governante e no severo controle da economia por parte
do Estado (como ocorreu no mercantilismo, em que os governos promoviam as
ações da economia, baseadas no comércio e na exploração de colônias, controlando
absolutamente tudo).
Ao abandonar a visão antiga de governo e economia, os liberais modernos
adotaram uma visão política baseada no republicanismo ou no parlamentarismo.
Esses sistemas políticos permitiam a divisão dos poderes, retirando das mãos de um
monarca o poder absoluto.
O filósofo francês Montesquieu, um dos pensadores que influenciaram o
liberalismo, defendeu a divisão dos poderes estatais em três partes: o Poder
Legislativo (formado por um corpo de legisladores, que criam as leis); o Poder
Executivo (formado por um corpo de governo responsável por executar as leis e
governar a cidade ou o país); e o Poder Judiciário, que atua quando algum cidadão
infringe as leis estabelecidas ou entra em conflito de interesses com outros cidadãos
ou com o Estado.
No campo econômico, foram as ideias do filósofo e economista
inglês Adam Smith que predominaram para estabelecer as diretrizes desse novo
pensamento econômico. O liberalismo econômico consiste no entendimento de
que o Estado não deve interferir na economia, pois essa deve ser feita a partir da
livre iniciativa dos cidadãos, que devem ser livres para produzir e fazer comércio,
sendo responsáveis por si mesmos.
A meritocracia e a valorização do esforço individual são marcantes no
pensamento liberal, que coloca como responsável pela riqueza e pelo sucesso,
unicamente, o indivíduo. Para Smith, haveria uma espécie de “mão invisível” que
faria com que a economia se desenvolvesse autonomamente no poder da iniciativa
privada, sem necessitar do Estado, pois esse colocava um entrave no crescimento
econômico ao querer reivindicar a sua parte nos lucros sem nada oferecer em troca.

AS REVOLUÇÕES LIBERAIS

As primeiras insurgências liberais começaram já no fim do século XVII, com


um pensamento burguês que desafiava a ordem vigente do absolutismo. Na
Inglaterra, esse fator ocorreu com a Revolução Inglesa ou Gloriosa, que acabou de
vez com o absolutismo inglês e implantou um regime parlamentar no país que
manteve a monarquia, mas abriu um Parlamento com a possibilidade de
participação política de pessoas que não pertenciam à nobreza.
O pensamento liberal começou a se espalhar pela Europa, destacando-se
personalidades como o filósofo inglês John Locke ainda na segunda metade do
século XVII, além dos filósofos políticos franceses pertencentes ao Iluminismo,
como Voltaire, Montesquieu, Rousseau e Diderot.
Em razão da influência do pensamento iluminista, que valorizava a razão e a
racionalidade em detrimento da antiga concepção religiosa que tomava conta da
vida política durante as Idades Média e Moderna, as pessoas se atentaram para o
fato de que a vida pública deve ser regida pela racionalidade, e não pela religião.
Também foi fundamental a percepção de que existem direitos básicos que
devem ser garantidos, o que John Locke chamou de naturais e que os iluministas
franceses chamaram de direitos do homem e do cidadão. Dentre tais direitos,
destacam-se a liberdade, a igualdade (no caso, não a igualdade socioeconômica,
mas a extinção de um sistema de nobreza que privilegia as castas nobres na política)
e o direito à propriedade (nos regimes absolutistas, a maior parte da propriedade
concentrava-se nas mãos da nobreza e do clero).
Em dez anos, de 1789 a 1799, a França passou por profundas modificações
políticas, sociais e econômicas, o que ficou conhecido como Revolução Francesa.
A aristocracia do Antigo Regime perdeu seus privilégios, libertando os
camponeses dos antigos laços que os prendiam aos nobres e ao clero.
Desapareceram as amarras feudais que limitavam as atividades da burguesia, e
criou-se um mercado de dimensão nacional.
A Revolução Francesa foi a alavanca que levou a França do estágio feudal
para o capitalista e mostrou que a população era capaz de condenar um rei.
Igualmente, instalou a separação de poderes e a Constituição, uma herança
deixada para várias nações do mundo.
Em 1799, a alta burguesia aliou-se ao general Napoleão Bonaparte, que foi
convidado a fazer parte do governo. Sua missão era recuperar a ordem e a
estabilidade do país, proteger a riqueza da burguesia e salvá-los das manifestações
populares.
Por volta de 1803 têm início as Guerras Napoleônicas, conflitos
revolucionários imbuídos dos ideais da Revolução Francesa que teve como
protagonista Napoleão Bonaparte.
Outro fator que impulsionou o pensamento liberal foi a Revolução Industrial
e o desenvolvimento do capitalismo industrial. A burguesia queria expandir os seus
negócios, produzir mais, lucrar mais e expandir a propriedade privada. Com os
entraves colocados pelos governos autoritários, os burgueses viam-se incapacitados
de lucrar como queriam. Daí, as ideias liberais fizeram nascer um pensamento
liberal no campo econômico para permitir o desenvolvimento econômico baseado
apenas nos esforços da burguesia, sem interferência estatal.

CONCLUSÃO

Podemos salientar que o século XVIII operou uma grande transformação


econômica, social e política nas sociedades humanas. Neste período, além das
grandes revoluções, consolidaram-se as bases do pensamento liberal e da sociedade
industrial, criando e reelaborando as bases teóricas e filosóficas do liberalismo,
podendo ser citados:
[...] a doutrina da tolerância, com Voltaire, ou das garantias contra o Estado,
com Montesquieu (em sua leitura um tanto idealizada do sistema constitucional inglês),
ou a ideia de progresso, com Condorcet, ou o papel da ciência no aperfeiçoamento
material e moral dos homens com Diderot, ou, em geral, a teoria dos direitos humanos,
presente em maior ou menor grau dos principais autores. (ROUNET, 1987, p. 200)

As formulações teóricas desse período provocaram uma intensa revolução


cultural devido ao legado dos filósofos iluministas e ao espírito da Revolução
Francesa e da Revolução Industrial.

Seguem dois links para quem quiser e se interessar em aprofundar a questão:

1) http://www.unimep.br/phpg/mostraacademica/anais/7mostra/5/88.pdf

2) http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/2nwjMOpLy
Wln7m3_2018-10-6-10-38-31.pdf

Mãos a obra!...

A) Pesquise sobre John Locke e os direitos naturais, fazendo um pequeno


resumo. A partir dai tente diferenciar “direitos naturais” das “garantias
constitucionais” e dos “direitos humanos”;

B) Para as ex-colônias as suas independências não alteraram as estruturas


herdadas do período colonial. As propostas mais populares de separação
colônia-metrópole foram derrotadas em quase sua totalidade. Os
movimentos vitoriosos contaram com a liderança das elites coloniais. Reflita
e desenvolva o porquê da liberdade política conquistada com a
independência não alterar as condições de vida da maioria da população;

C) Em solo europeu a realidade também pouco difere das colônias. O fim do


absolutismo após as Revoluções Liberais, apesar das inúmeras conquistas
políticas atingidas, pouco representou em termos de conquistas sociais.
Portanto, quais os limites do pensamento liberal na nova realidade que se
implantou após os movimentos revolucionários atingirem seus objetivos?; e

D) A Revolução Industrial representa uma grande novidade em termos de


mudança nas relações de produção e na forma de produzir os bens materiais
que necessitamos. O Liberalismo Econômico que se consolida a partir de
então piorou as condições de vida e de trabalho da classe trabalhadora.
Como, em síntese, deu-se esse processo?

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