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12/05/2019

Terapia Metacognitiva
Heitor P. Hirata
Psicólogo com Licenciatura Plena (UFRJ)
Especialista em Psicologia Clínica (CFP)
Doutor e Mestre em Psicologia (UFRJ)
Terapeuta Cognitivo Certificado (FBTC)
Membro da diretoria da ATC-Rio

O que é Metacognição?

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12/05/2019

Metacognição
• Meta – Do grego – transcendência,
posterioridade, reflexão crítica sobre.

• Cognição: pensamento, processos de


pensamento, estruturas de pensamento.

• Metacognição: Reflexão sobre processos de


pensamento ou estilos de pensamento.
Moses & Baird (2001)
Profº Dr. Heitor P. Hirata Flavell (1979)

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Definição de Terapia Metacognitiva


• A Terapia Metacognitiva (TMC) é uma
abordagem criada na década de 1990.

• Parte do pressuposto que as perturbações


emocionais são causadas não pelo conteúdo das
cognições e sim sobre a cognição sobre a
cognição (metacognição).
Wells & Matthews (1994)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

Exemplos de Processos Cognitivos


• Preocupações

• Ruminações

• Foco nas ameaças

• Obsessões

• Preenchimento de lacunas
Profº Dr. Heitor P. Hirata Wells (2009)

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Definição de Terapia Metacognitiva


• Preocupação e ruminação estão ligadas a
crenças disfuncionais sobre o pensamento e
estratégias inúteis de autorregulação.

• Pensamento (e não a situação em si) é


percebido como terrível, aterrorizante e
catastrófico.

Wells & Matthews (1994)


Profº Dr. Heitor P. Hirata

O Fundador da TMC
• Adrian Wells é professor de
psicologia clínica e psicopatologia
experimental da Universidade de
Manchester, Reino Unido.

• Fundador do MCT Institute:


Adrian Wells, PhD
www.mctinstitute.com/metacog.html

Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Atenção e Emoção

• Como a atenção pode influenciar a emoção?

Profº Dr. Heitor P. Hirata

Imagine o seguinte:
• Pense em algo de que você tem
medo/nojo/raiva ou outra emoção.

• Pense em uma situação em que isto está


presente junto com outros estímulos

• No que você presta atenção?

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Atenção e Emoção
• Os estímulos selecionados pelo processo atencional
dependem de diversos fatores. Um deles é a
importância emocional que eles têm.

• Indivíduos com depressão e/ou transtornos de


ansiedade tendem a focar atenção em estímulos
enviesados, o que resulta em processos como
ruminação e preocupação.

Profº Dr. Heitor P. Hirata Wells & Matthews (1994)

• Conceitos básicos de TMC:


– Crenças Metacognitivas
– Modelo da Função Executiva Autorregulatória
– Síndrome Cognitiva Atencional

Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Crença Metacognitiva
• Uma crença metacognitiva é aquela que se
refere a um processo cognitivo como a
preocupação (“a preocupação me ajuda a lidar
com os problemas”) e a ruminação (“ruminar
me ajuda a entender minha depressão”).

• Pode ser positiva ou negativa.

Profº Dr. Heitor P. Hirata Wells (2000)

Profº Dr. Heitor P. Hirata


Crenças Positivas
Preocupações Ruminações
“As preocupações me ajudam a lidar com os “A ruminação me ajuda a entender os
problemas”. problemas”.

“Preocupando-me, estarei preparado para os “Caso eu analise por que eu estou me


problemas”. sentindo dessa forma, irei encontrar
respostas”.

“As preocupações me mantêm seguro”. “Ruminar me ajuda a entender minha


depressão”.

“”As preocupações me ajudam a fazer as “A ruminação me ajuda a resolver


coisas bem”. problemas”.

“Algo ruim pode ocorrer caso eu não me “Ruminando eu estarei tentando encontrar
preocupe”. saídas para a depressão”.

“A preocupação me ajuda a resolver


problemas”.

“Preocupando-me mantenho pessoas que


amo em segurança”.

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Crenças Negativas
Preocupações Ruminações

“Irei enlouquecer com essa preocupação”. “Eu não posso controlar meus pensamentos
depressivos”.

“A preocupação pode me causar danos”. “Meus pensamentos depressivos são um sinal


de que eu estou perdendo a cabeça”.

“A preocupação coloca meu corpo sob stress”. “Meus pensamentos depressivos me


controlam”.

“Caso eu não controle minha preocupação, “Eu sou anormal por pensar assim”.
ela irá me controlar”.

“Minha preocupação é incontrolável”. “Minha ruminação é incontrolável”.

Prática 1
• Em um pedaço de papel, anote algumas
preocupações

• Essas preocupações têm uma função.

• Elas têm utilidade?

• Você as classificaria como positivas ou negativas?

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Função Executiva Autorregulatória (S-REF)


• Três níveis de cognição:
1. Nível automático – envolvimento consciente
mínimo.
2. Processamento online – limitadamente
consciente. É responsável pela regulação dos
pensamentos e interpretações (depende de
recursos atencionais).
3. Conhecimento armazenado na memória de
longo prazo (crenças).
Wells & Matthews (1994,1996)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Função Executiva Autorregulatória (S-REF)

• Essa arquitetura de três níveis sustenta toda a


gama de operações de processamento
disponíveis ao indivíduo, podendo ser
executados diferentes modos e configurações
de processamento.

• Dois principais modos: “do objeto” e


“metacognitivo”.
Profº Dr. Heitor P. Hirata Wells & Matthews (1994, 1996)

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Modos
• Do objeto: modo de fusão do pensamento
com a realidade.

• Metacognitivo: pensamentos podem ser


percebidos como parte da grande gama
multifacetada da experiência consciente.

Wells (2000)
Profº Dr. Heitor P. Hirata Fisher & Wells (2009)

Prática 2
• Olhe para as preocupações que escreveu no
exercício anterior.

• Você costuma fundir-se com elas, entende-las


como reais ou você consegue criar algum
distanciamento delas?

• Como seria passar de um modo do objeto


para o modo metacognitivo?

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Dúvidas, questões?

Vieses Atencionais

• As pessoas em geral têm estratégias que


mantêm a atenção em fontes de ameaças,
engajando-se em processamentos baseados na
preocupação como forma de coping.

Profº Dr. Heitor P. Hirata Wells (2000)

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Síndrome Cognitiva Atencional (SCA)

• Trata-se de um estilo perseverativo de


pensamento que toma a forma de
preocupação, ruminação e foco na ameaça.

• Está muitas vezes relacionada com


comportamentos de coping contraproducentes
como supressão, evitação e abuso de
substâncias.
Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata
Fisher & Wells (2009)

Prática 3
• Selecione uma das suas preocupações

• Pense em um momento em que foi difícil se


desconectar dela

• O que você sentiu? Como ficou o seu corpo? O


que deu vontade de fazer?

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Tipos de Preocupação

• Tipo I: preocupações do cotidiano (sociais


saúde, financeira etc.).

• Tipo II: Metapreocupações (preocupações


sobre as preocupações).

Profº Dr. Heitor P. Hirata Wells (2009)

Modelo Metacognitivo
• As preocupações estão ligadas a uma base de conhecimento
específica sobre elas e não a crenças sobre si ou sobre o
mundo.

• O conhecimento metacognitivo regula o sistema cognitivo e


advém das crenças negativas e positivas sobre os
pensamentos.

• Padrões de pensamento como a preocupação, ruminação e


alocação atencional na ameaça resultam da ativação de
crenças metacognitivas. Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Terapia Cognitiva (Beck) Terapia Metacognitiva (Wells)

Transtornos de humor
Transtornos de ansiedade TAG, TEPT, TOC, Depressão,
Indicações Dependência química bulimia, abuso de álcool
Transtornos alimentares
Casais

Psicoeducação SIM SIM

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O Modelo A-M-C

Profº Dr. Heitor P. Hirata Fisher & Wells (2009)

Algumas Estratégias

• Técnicas de Detached Mindfulness

• Técnicas de Treino Atencional

• Diálogo Socrático focado na


Metacognição
Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Detached Mindfulness
• Um estado de consciência de eventos internos
sem responder a eles com avaliações, tentativas
de controle ou supressão (Wells, 2005).

• Antítese da SCA, no sentido de dissociar-se dos


estilos perseverativos de enfrentamento.

• Mudança do modo do objeto para o modo


metacognitivo de processamento.
Profº Dr. Heitor P. Hirata Fisher & Wells (2009)

Detached Mindfulness

• Separação entre o eu (self) e o pensamento.

• Tem como objetivo o aumento da gama de


respostas flexíveis a pensamentos, crenças e
sentimentos quando eles estiverem ativados.

Profº Dr. Heitor P. Hirata Wells (2009)

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Prática 4: Tarefa do Tigre


Feche os olhos e faça aparecer um tigre. Não
tente influenciar ou mudar a imagem de nenhum
modo. Apenas assista a imagem e o
comportamento do tigre. O tigre pode se mover,
mas não o faça se mover. Ele pode piscar, mas não
o faça piscar. Ele pode balançar a cauda, mas não
o faça realizar isso. Veja como o tigre tem seu
próprio comportamento. Não faça nada, apenas
veja a imagem, veja como o tigre é só um
pensamento na sua mente que é separado de
você e tem um comportamento próprio.
Profº Dr. Heitor P. Hirata Wells (2009)

Prática 5: Metáfora da Nuvem

Um modo de entender DM requer que você


considere experienciar seus pensamentos como se
fossem nuvens passando no céu. As nuvens são
parte do sistema auto-regulatório do clima na
Terra, e é impossível e desnecessário tentar
controlá-las. Tente tratar seus pensamentos e
sentimentos como você trataria nuvens
passageiras no céu e permita que elas ocupem seu
próprio espaço e tempo.
Profº Dr. Heitor P. Hirata Wells (2009)

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Prática 6: Metáfora do Trem


• Imagine uma estação de trem na qual está
passando um trem que não irá parar para
embarque de passageiros. Deste modo, não
há sentido em tentar pará-lo ou tentar
embarcar nele. O máximo que se pode fazer é
olhá-lo passar. Da mesma forma ocorre com
alguns pensamentos. É possível para-los?

Profº Dr. Heitor P. Hirata

DIFERENÇAS ENTRE DM E TCCBM


Detached Mindfulness TCC baseada em Mindfulness

Planejada para uma ampla gama de Planejada inicialmente para depressão. Hoje
transtornos emocionais é utilizada em diversos tipos de queixas.

Forma uma parte de um pacote integrativo de É um tratamento por si mesmo


tratamento

Pode ser ensinado e aprendido de forma Requer algumas sessões para se ensinar e
relativamente rápida aprender

Foca explicitamente em reduzir a atenção Não necessariamente foca na redução da


auto-focada e aumentar o controle flexível da atenção auto-focada ou melhora o controle
atenção atencional. Foco maior é em atenção plena.
Emprega exercícios construídos para ensinar Emprega estratégias de meditação budistas
habilidades metacognitivas de ganhar para aumentar a consciência do aqui e agora
distância e dissociamento dos pensamentos. (por exemplo focando a atenção na
respiração).

Profº Dr. Heitor P. Hirata Cooper, Todd & Wells (2009)

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Treino Atencional
• Objetivo: desenvolver a flexibilidade e o controle
mental , além do foco da atenção que está
direcionada a elementos da SCA.

• O primeiro estudo em que o TA foi utilizado foi em


um caso de transtorno de pânico em que treinou-
se o paciente a voltar a atenção a eventos
corporais para entendimento do quadro (Wells,
1990).
Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata
Fisher & Wells (2009)

Treino Atencional
• O TA envolve manipulação da atenção como
base para a interrupção da SCA e para o
aumento da flexibilidade metacognitiva.

• Feito com sons.

Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Treino Atencional
• Não é uma estratégia de coping.

• Deve ser praticado repetidamente.

• Devem ser incluídos novos sons.

• Não deve ser praticado quando a pessoa está


ansiosa.
Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

Componentes do treino atencional


• Atenção seletiva: guiar a atenção do paciente a um som
entre vários outros que estão disputando a atenção do
indivíduo.

• Mudança rápida da atenção: instruções para mudar a


atenção entre vários sons com rapidez crescente.

• Atenção dividida: aumento da largura e profundidade


da atenção e tentativa de processar vários sons
simultaneamente.
Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Prática 7: Treino Atencional

Profº Dr. Heitor P. Hirata

Diálogo Socrático Focado na Metacognição


• A TMC utiliza o diálogo socrático para explorar
crenças e interpretações sobre pensamentos.

• Na TCC tradicional se utiliza o diálogo socrático


para explorar conteúdos de pensamentos e
crenças.

• Na TMC ele é utilizado para detectar e deter a


SCA.
Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

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• Na TCC: foco no conteúdo, na


interpretação.

• NA TMC: foco no impacto que processos


como ruminação, preocupação, supressão,
monitoramento de ameaças etc exercem
como disparadores de pensamentos
negativos.

Profº Dr. Heitor P. Hirata Wells (2009)

Intervenções possíveis
• Vamos examinar como você pensa em resposta a esse
pensamento.

• No que você pensa em seguida a esse pensamento?

• Quanto tempo você gasta pensando assim (ou se


preocupando)?

• O modo como você responde ao pensamento “X” parece


deixar você triste. Com isso você tenta encontrar o que está
errado com você (ruminação).

• E se encontrássemos modos alternativos de responder a


esse pensamento?
Profº Dr. Heitor P. Hirata Wells (2009)

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Novos planos de processamento


Consiste em elaborar um cartão contendo a forma
antiga e a nova forma de lidar com os processos
cognitivos trabalhados em terapia.

Profº Dr. Heitor P. Hirata

Dúvidas, questões?

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Terapia Metacognitiva
para a Depressão

Profº Dr. Heitor P. Hirata

Ruminação e Pensamento Depressivo


• O modelo metacognitivo foca no entendimento e
causas da ruminação para o entendimento da
depressão.
• Em resposta a pensamentos negativos, o
indivíduo rumina.
• Ruminação  orientada para o passado, ligada à
culpa, pensamentos de inutilidade, luto,
experiências ruins em geral Ruminação

Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Crenças Positivas sobre a Ruminação

• Crença de que ruminar trará benefícios e


vantagens para o indivíduo.
Ex.: Ruminar sobre como sou culpado sobre
meus erros do passado me fará melhorar
daqui em diante.
“É melhor ser pessimista do que
desapontado”.
Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

Crenças Negativas sobre a Ruminação

• Tipo I  Crença de que a ruminação é


incontrolável e causará danos (preocupação
sobre a ruminação)

• Tipo II  Crença de que a ruminação causará


prejuízos sociais e interpessoais.

Papageorgiou & Wells (2004)


Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Componentes básicos e estrutura do modelo clínico


metacognitivo da ruminação e depressão

Profº Dr. Heitor P. Hirata Papageorgiou & Wells (2004)

Situação Pensamentos Sentimentos Resposta Reavaliação


Automáticos Alternativa
Disfuncionais

Deitado na Sou mesmo um Tristeza(100%) TRABALHADO TRABALHADO


cama. A pilha inútil, desta NA TERAPIA NA TERAPIA
de relatórios está forma nunca COGNITIVA COGNITIVA
sobre a mesa. vou conseguir
fazer nada.
(80%)

Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Profº Dr. Heitor P. Hirata

A Síndrome Cognitiva Atencional na Depressão

• Estilo perseverativo de pensamento que toma


a forma de ruminação.
• A preocupação também está presente, uma
vez que indivíduos deprimidos podem
preocupar-se em relação à sua melhora e seu
futuro e, até mesmo, catastrofizar possíveis
consequências de seu estado atual.
• Desesperança é uma manifestação da
ruminação.
Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Modelo Metacognitivo da Depressão

Fora da consciência 

Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Estrutura do Tratamento
• Avaliação
• Conceitualização de caso
• Socialização
• Treino atencional
• Detached mindfulness
• Desafio às crenças metacognitivas negativas
(incontrolabilidade, modelo de doença)
• Desafio às crenças de incontrolabilidade sobre a ruminação
• Remover comportamentos residuais e monitoramento à
ameaça
• Prevenção de recaída

Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

Entrevista de Formulação de Caso para


Depressão
• 1. Qual foi o pensamento negativo inicial?

• 2. O que você pensou a seguir? E então qual foi seu pensamento seguinte?
E depois? Por quanto tempo seu pensamento continuou assim?

• 3. Quando você estava pensando dessa maneira o que aconteceu com as


suas emoções? O que aconteceu com sua depressão? O que você acabou
pensando? Como isso afetou seu comportamento?

• 4a. Há algo que você possa fazer para parar de ruminar? O quão
incontrolável é a ruminação?

• 4b. Você acredita que pode fazer algo sobre seus sintomas?

• 5. Há alguma vantagem em ruminar ou analisar por que você se sente


desse modo? Permanecer muito tempo pensando em como você se sente
ajuda de alguma forma?
Profº Dr. Heitor P. Hirata Wells (2009)

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Profº Dr. Heitor P. Hirata

Psicoeducação
• É fundamental ensinar ao paciente o que é
ruminação.
• “São cadeias de pensamento negativo”
• “São ciclos de pensamentos derrotistas
orientados ao passado que fazem você se sentir
cada vez pior e culpado”
• “Ruminar faz sentido dentro do seu quadro, uma
vez que você... (procura entender sua depressão,
acha que ruminar vai ajudar você a se mexer...)
Profº Dr. Heitor P. Hirata Wells (2009)

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Treino de Atenção na TMC para


Depressão
• O aumento da flexibilidade atencional faz com
que indivíduos deprimidos consigam perceber
que a atenção não precisa necessariamente
ser direcionada para a ruminação
• Não deve ser feita tentativa de afastar a
ruminação, ela pode continuar presente, mas
não precisa receber toda atenção.
• Deve ser passado como tarefa de casa.
Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

Adiamento das Ruminações


• Fazer acordo com o paciente para que ele não
se engaje mais no processo de ruminação.
• Quando tiver um pensamento negativo não
lidar com ele naquele momento, ou seja,
adiar.
• Estabelecer um horário para ruminar por 10
minutos, mas não usá-lo obrigatoriamente.
• Deve ser passada como tarefa de casa.
Profº Dr. Heitor P. Hirata
Wells (2009)

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Experimento da Modulação da
Ruminação
• Pedir para o cliente ruminar e suspender a
ruminação depois de um minuto, entrando
em um estado de “quietude vigilante”.

• É possível aumentar a ruminação? Então


também é possível diminuí-la? Então ela é
incontrolável?

Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

Minisurveys
Minisurvey, ou mini-questionário, consiste em uma
pequena lista de perguntas que pode ser feita do cliente
para outras pessoas sobre humor.

Exemplos:
• Você tem flutuações de humor?
• Algumas vezes você fica para baixo sem saber por que?
• Sente-se cansado ao levantar pela manhã?
• As vezes você questiona sua competência?
• Fica irritado por pouco as vezes?
Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Minisurveys
• Geralmente as respostas apontam para uma
certa “normalidade” das flutuações de humor.

• Como simplesmente sentir-se mal é motivo


para indivíduos deprimidos ruminarem, a
resposta do minisurvey pode ajudá-lo a
questionar o papel da ruminação.

Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

Modificando Crenças Metacognitivas Positivas

• Análise de vantagens e desvantagens.

• Questionamento de evidências.

• Experimentos ruminativos.

Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Análise de Vantagens e Desvantagens


• Analisar as vantagens e desvantagens da
ruminação.

• Manter claro para o paciente de que a


ruminação é um problema.

• Desafio em relação às vantagens.

Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

VANTAGENS EM RUMINAR DESVANTAGENS EM RUMINAR

Ruminar me ajuda a ter os problemas mais


claros na minha cabeça
Ajuda realmente? Em qual situação ela Ruminar pior meu humor
ajudou de fato? Que outra coisa você poderia
ter feito para ajudar mais?
Ruminar me faz tirar o foco dos problemas
Quando você rumina o foco dos problemas Ruminar faz o problema parecer pior do que
vai para a ruminação sobre eles mesmos. O realmente é
que isso parece para você?
Ruminar me ajuda a pensar em fazer algo a
respeito
Supondo que de fato ruminar ajude você a Ruminar de deixa cansado mentalmente
pensar em fazer algo, como fica sua
motivação para colocar o plano que você
pensou em prática?
Ruminar não ajuda a resolver os problemas
de fato

Resultado: RUMINAR Wells (2009)

Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Questionando as Evidências
• Objetivo: Questionar “verdades” construídas
acerca da ruminação.
• Se a ruminação ajuda, não faria mais sentido
você ter conseguido resolver algum problema
por meio dela?
• Como a ruminação funciona? Qual o
mecanismo que a possibilita ajudar a resolver
problemas?
Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

Experimento da Ruminação
• O paciente é instruído a ruminar por um dia
inteiro sobre um problema e no outro não
ruminar.
• Em seguida, ele é convidado a refletir o
quanto a ruminação o ajudou a resolver
alguma coisa.
• Este experimento serve de desafio às crenças
positivas sobre a ruminação.
Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Modificando o Monitoramento das


Ameaças
• Alguns pacientes monitoram sinais internos da depressão
como angústia, vazio intenso, tristeza exacerbada etc.

• O foco de atenção a esses sinais muitas vezes piora a


depressão.

• Pode ser feita análise de vantagens e desvantagens em


monitorar ameaças.

• Chega-se à conclusão de que a estratégia é


contraproducente.

Wells (2009)
Profº Dr. Heitor P. Hirata

Prevenção de Recaída
• Formula-se um documento colaborativamente
com o cliente contendo a conceitualização de
caso, exemplos de crenças positivas e negativas
sobre a ruminação assim como evidências contra
elas.

• Planos de uso de estratégias para lidar com os


gatilhos que podem levar à ruminação também
são traçados.

• Follow ups devem ser agendados em 3 e 6 meses.

Profº Dr. Heitor P. Hirata Wells (2009)

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Alguns Estudos:
Profº Dr. Heitor P. Hirata

Autores e ano Revista População Procedimentos Resultados


Estudada
Papageorgiou & Wells Cognitive and Behavioral Pacientes com depressão Tratamento com Treino Redução do auto-foco e
(2000) Practice (N=4) Atencional aumento do controle
metacognitivo, reduzindo
a depressão.

Spada & Wells (2010) Personality and Individual Dependentes de Álcool Verificação de presença Alcoólatras tendem a ter
Differences (N=48) de metacognições em mais metacognições
dependentes de álcool. positivas sobre a auto-
regulação cognitiva e
emocional, além de
metacognições negativas
sobre incontrolabilidade e
dano cognitivo.

Lobban, Haddock, Personality and Individual Pacientes com Comparação entre Pacientes com
Kinderman & Wells (2002) Differences esquizofrenia que metacognições de esquizofrenia que
apresentam alucinações pacientes esquizofrênicos alucinam e com
(N=32) e pacientes com que alucinam, que não transtornos de ansiedade
transtornos de ansiedade alucinam e com apresentam mais crenças
(N=24) transtornos de ansiedade. positivas sobre
metacognições.

Papageorgiou & Wells Psychological Medicine Pacientes hipocondríacos Tratamento com Treino Redução dos sintomas
(1998) (N=3) Atencional hipocondríacos.

McEvoy & Perini (2009) Journal of Anxiety Pacientes com fobia social Tratamento em TCC em Treino atencional e
Disorders (N=81) grupo com relaxamento relaxamento possuem
ou treino atencional efeitos similares na TCC
em grupo para FS.

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Autores e Ano Revista População Procedimentos Resultados


Estudada

Rees & Koesveld (2008) Journal of Behavior Pacientes com TOC (N=8) Terapia Metacognitiva em Melhora dos sintomas de
Therapy grupo nos 8 pacientes TOC.
M do Y-BOCS pré = 23,2
M do Y-BOCS pós = 14,1
M do Y-BOCS no follow-up
= 9,0
Spada et al (2007) Addictive Behaviors Estudantes universitários Preenchimentos de Foi encontrada correlação
fumantes (N=104) questionários para significativa entre as três
verificar se a variáveis.
metacognição é um fator
mediador entre emoção e
comportamento de fumar
Spada et al (2008) Computers in Human Estudantes universitários Preenchimentos de Foi encontrada correlação
Behavior usuários de Internet questionários para significativa entre as três
(N=97) verificar se a variáveis.
metacognição é um fator
mediador entre emoção e
uso de Internet.
Wells et al (2009) Cognitive Therapy and Pacientes Deprimidos Terapia Metacognitiva Melhora nos sintomas
Research (N=4) individual (treino depressivos com redução
atencional, detached dos escores no BDI.
mindfulness, modificação M pré = 24
de crenças positivas sobre M pós = 6,5
ruminação etc).
Wells et al (2010) Behaviour Research and Pacientes adultos com Aplicação de TMC vs O grupo tratado com TMC
Therapy TAG Relaxamento Aplicado apresentou melhoras bem
(N=20) mais significativas.

Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Profº Dr. Heitor P. Hirata

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Dúvidas, questões?

Terapia Metacognitiva:
adaptação para crianças

Profº Dr. Heitor P. Hirata

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As origens:
• Estudo sobre Terapia Metacognitiva desde o
final da graduação

• Mestrado sobre Terapia Metacognitiva para os


transtornos de ansiedade

• Prática clínica com crianças identificando


processos como preocupação e ruminação
Profº Dr. Heitor P. Hirata

O processo de criação
• Atendimento de uma paciente adulta e sua
“Neura”.

• Não seria a “neura” um processo cognitivo?

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Prática 8: Identificando a minha “neura”


• Assim como a Neura do comercial, todos nós
temos os nossos personagens que podem
simbolizar a preocupação ou ruminação.

• Pense em um personagem para você


– Como ele/a é?
– Como se chama?
– O que fala?
– Como você interage com ele/a?

Crianças têm as suas “neuras”?


• A prática clínica dizia que sim!

• Criação de personagens infantis que fizessem


o papel da “Neura”.

• Inspiração no Urso Branco de Wegner.

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Preocupação, ruminação e supressão

• Experimento do urso branco

• Há vários tipos de ursos, você sabe alguns?

• Vou lhe apresentar dois novos!

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Preocupanda e seus pensamentos sirene

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Marrumina e seus pensamentos chiclete

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Poltoc e seus pensamentos E.T.

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Sr. Cutuka e Zenvuka

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Trabalho de TMC com crianças


• O que a criança “acha”, “pensa” ou “entende”
de sua Preocupanda e/ou Marrumina consiste
em uma crença metacognitiva.

• Se ela dá muita bola, fica se irritando ou leva a


sua Preocupanda e/ou Marrumina muito a
sério, ela está entrando em Síndrome
Cognitiva Atencional.

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Trabalho de TMC com crianças


• Ajudar a criança, por meio de um processo
lúdico, a identificar eventos cognitivos e suas
respectivas interpretações sobre eles pode
ajuda-las a regular cognições e emoções.

• Não há necessidade de utilizar termos difíceis


e abstrações não compreensíveis para a
criança.

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Registro de Metacognições para Crianças

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Até o momento...
• Trabalho clínico com algumas crianças apresentando
resultados animadores.

• Modelo de adaptação em desenvolvimento.

• Relação com a teoria da TMC com a prática clínica.

• Possibilidade de uso com outras faixas etárias.

• Parte integrante de pesquisa de doutorado.


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Prática 9: conversando com meu


personagem
• Perceba o que diz o seu personagem

• Esse é um pensamento que tem uma função. Ele é útil?

• Caso ele tenha utilidade, é possível expressar gratidão


pelo seu personagem por ele lhe ajudar neste
momento.

• Caso não seja, gentilmente desenvolva um olhar


compassivo e diga a ele/a que entende a tentativa de
ajuda, mas que agora essa preocupação/ruminação
não é útil.

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Prática final: Escrevendo uma carta


para o meu personagem.
• Redija em poucas linhas uma carta ou bilhete
no qual você reconhece que o seu
personagem pode ajudar em algumas
situações, mas que em outras ele atrapalha.

• Leve com você essa carta e releia com


frequência para se lembrar de desenvolver
uma relação mais saudável com seu
personagem.

Dúvidas, questões?

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Referências
• Fisher, P., & Wells, A. (2009). Metacognitive Therapy. New York: Routledge.
• Hirata, H. P. (2014). Terapia Metacognitiva. In C.B. Neufeld, E.M.O. Falcone, B. Rangé. (Orgs.).
PROcognitiva: programa de atualização em terapia cognitivo-comportamental. Ciclo 1, V.2. Porto Alegre:
Artmed Panamericana, p. 45-98.
• Hirata, H.P., & Rangé, B.P. (2014). Terapia Metacognitiva. In W.V. Melo (org.). Estratégias Psicoterápicas e
a Terceira onda em Terapia Cognitiva. Novo Hamburgo: Synopsys.
• Hirata, H.P., & Gabriel, S.A. (2017). Utilizando a Terapia Metacognitiva com Crianças. In C.B. Neufeld,
E.M.O. Falcone, B. Rangé. (Orgs.). PROcognitiva: programa de atualização em terapia cognitivo-
comportamental. Ciclo 4, V.3.. Porto Alegre: Artmed Panamericana.
• Hirata, H.P. , & Gabriel, S.A. (2018). Preocupanda & Marrumina: entendendo a preocupação e a
ruminação na criança. Novo Hamburgo: Sinopsys.
• Papageorgiou, C.; & Wells, A. (2004). Depressive Rumination: nature, theory and treatment. Chichester:
Wiley.
• Wells (2010); A Terapia Metacognitiva: elementos de controle mental na compreensão e no tratamento do TAG
e do TEPT. In R. L. Leahy (org.). Terapia Cognitiva Contemporânea: teoria, pesquisa e prática. Porto Alegre:
Artmed.
• Wells, A. (2003).Perturbações Emocionais e Metacognição. Lisboa: Climepsi.
• Wells, A. (2009). Metacognitive Therapy for Anxiety and Depression. New York: Guilford Press.
• Wells, A., & Matthews, G. (2001). Atenção e Emoção: uma visão clínica. Lisboa: Climepsi.
• Wells, A. (2002). GAD, Metacognition and Mindfulness: an information processing analysis. Clinical
Psychology: Science and Practice, 9, 95-100.
• Wells, A., & King, P. (2006). Metacognitive Therapy for Generalized Anxiety Disorder: an open trial.
Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry, 37, 206-212.
• MCT Institute: http://www.mct-institute.com/metacog.html
Profº Dr. Heitor P. Hirata

Obrigado!
E-mail: heitorph@gmail.com

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