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Psicoterapia Baseada em

Evidências e Mindfulness
Ana Martha Lima
Psicóloga Especialista em Terapia Analítico-Comportamental
Instrutora de Mindfulness
Mindfulness-Based Health Promotion (MBHP) e
Body in Mind Training (BMT)
Mestranda em Análise do Comportamento Aplicada
Qual nosso ponto de partida?

Com o que trabalham?


Estão em qual semestre?
O que sabem sobre Mindfulness?
Agenda
• Linha do tempo: do MBSR às Terapias Contextuais
• Os conceitos de Mindfulness – uma visão comportamental
• O que é necessário saber?
• Mindfulness na Prática - BMT
• Psicoterapia Baseada em Evidências e Mindfulness
• Construindo a decisão clínica
• Mindfulness para terapeutas
• Discussão de Caso Clínico

*Ao longo da manhã faremos algumas práticas


O que discutiremos?
• O que precisamos saber sobre as práticas?
• Por que usar mindfulness na clínica?
• Como buscar boas evidências?
• A necessidade de produzir boas evidências.
• Quais práticas podem ser incorporadas?
• A que devo estar atenta se escolho implementar mindfulness
na clínica?
• Como tomar uma decisão clínica a partir dessa ótica?
• Por que eu escolhi o BMT como referencial?
Linha do Tempo
Mindfulness e as Terapias Contextuais

Jon Kabat-Zinn Ellen Langer


“The Role of Jon Kabat-Zinn MBCT
Mais tarde, autor do
MBSR Mindlessness in a “An out-patient program in
Typical Social Behavioral Medicine for
Psychological chronic pain patients based FAP
Experiment” on the practice of
Gary Deatherage mindfulness meditation: DBT ACT
“The Clinical Use Theoretical considerations
RFT
Of 'Mindfulness' and preliminary results.
Meditation General Hospital Psychiatry”
Techniques In
Div 12
Short-term
Psychotherapy”

2000 2012
1975 1979 1982 1984 1993 1999 2009

Sati, em Pali, é um termo pré-científico.– estar atento, recordar-se de forma contínua do seu objeto de
atenção
O(s) Conceito(s)
“Consciência que surge
ao prestar atenção
intencionalmente ao
momento presente de
maneira não-crítica.”
(Kabat-Zinn, 1994)
2004

2016

Ainda hoje há confusão na literatura: processo, habilidade (repertório) ou estratégia (técnica)?

Não há consenso bem estabelecido sobre o conceito a ser expresso pelo termo.
Uma visão
comportamental de
Mindfulness
Terapias Contextuais
“Conjunto de quatro
subprocessos – aceitação,
desfusão, contato com o
momento presente e eu
como contexto.”
“Mindfulness Terapêutico:
Autoconsciência que ajuda o
cliente a permanecer na
presença de estímulos aversivos
que evocam tipicamente
repertórios de esquiva.”
“É o processo intencional
de observar, descrever e
participar na realidade do
momento, com efetividade
(usando meios hábeis) e de
modo não julgador.”
“Uma forma de atenção não crítica a
experiências no momento presente
(sensações, cognições, emoções,
imagens, sons e aromas). Consciência da
atividade atual em contraste com um
comportamento automático ou mecânico
com a atenção em outro lugar.”
O que há em comum nessas
definições?

1. Atenção consciente a estímulos externos e


internos no momento presente (experiência
direta).
2. Característica não crítica (aceitação): notar
sem resistir.
Como incluir na clínica intervenções que envolvam
atenção consciente e aceitação de eventos que
evocam esquiva ou outros comportamentos-alvo?
Como integrar Mindfulness na
prática clínica?
• Terapeuta orientado por mindfulness
• Terapia informada por mindfulness
• Terapia baseada em mindfulness
(Germer, 2016)
Terapeuta orientado por
mindfulness
• Presença terapêutica: “disponibilidade e abertura a todos os
aspectos da experiência do cliente, abertura à nossa própria
experiência ao estar com ele, e à capacidade de responder a
ele a partir dessa própria experiência.” (Geller e Greenberg,
2002)
– O terapeuta também se distrai em sessão.
– O terapeuta também pode se esquivar em sessão.
– Perceber os efeitos do cliente sobre o terapeuta.
– Permanecer na presença de eventos que tipicamente evocam
esquiva do terapeuta.
“É um erro usar um princípio para
entender o comportamento do
cliente e, em seguida, ignorar o que
pode ser capaz de lhe dizer sobre o
seu próprio.”
Mindfulness for Two
Wilson & DuFrene
(2009)
Terapia informada por
mindfulness
• A terapia tem uma estrutura que a referência teórica é
influenciada pelos princípios da prática e da literatura de
mindfulness, mas não necessariamente ensinam os
exercícios ao paciente.
• A relação terapêutica é o instrumento central da mudança.
• “Estar atento” é modelado através da linguagem, tom de
voz, expressões faciais.
• O terapeuta dá particular atenção às formas como seus
pacientes resistem à experiência e como eles poderiam
entrar em contato com elas de forma mais aberta.
Terapia baseada em mindfulness
• Os exercícios são ensinados em sessão.
• Clientes podem ser orientados a praticar durante a
semana.
• Mindfulness pode ser treinado como um objetivo
terapêutico que serve de base para o
desenvolvimento de outros repertórios.
• Algum dos protocolos podem ser aplicados, se
adaptados à demanda do cliente.
Você também é
uma pessoa,
pode ser que se
distraía ou
se esquive de
experiências
difíceis na
sessão.
Uma aproximação com alguns
processos comportamentais
básicos propostos pela Análise do
Comportamento
Processos Comportamentais Básicos envolvidos no
treinamento de Mindfulness
1. Treino discriminativo de eventos privados (aversivos ou não)
2. Ampliar a sensibilidade à contingência atual
3. Atenção às sensações corporais – diminuição do controle por
regra
4. Habituação diante de exposição a estimulação privada aversiva
5. Extinção de respostas de fuga e esquiva que ocorriam em
função de estimulação privada aversiva.
Processos Comportamentais Básicos envolvidos no
treinamento de Mindfulness
6. Modelagem direta de novos repertórios verbais alternativos –
através de novas regras que transformem a função do estímulo
aversivo
7. Aumento do contato com estímulos reforçadores presentes no
ambiente – através de suavização da experiência diante de
estimulação aversiva privada que facilita autorregulação
emocional – autocompaixão
8. Desenvolvimento de autocontrole – através de atraso no
reforço e inibição motora
9. Desenvolvimento de repertório verbal - tato de eventos
privados, o que pode estar relacionado ao repertório de
autocontrole - através do inquiry
Mindfulness: o que
é necessário saber?
Tipos de Práticas
• Formais: treinamento da habilidade
– Ex.: Atenção à respiração, escaneamento corporal
• Informais: aplicar essa habilidade no dia-a-dia
– Pausas, mindful eating, walking meditation
• Relacionais: práticas que envolvem a interação de duas
pessoas. No inquérito da prática, o instrutor/terapeuta usa
os princípios do mindfulness para interagir e investigar a
experiência.
– Mindful chat
O que é um momento
mindfulness?
Modelo IAA (Shapiro, 2006)

• Intenção é o que direciona: “Porque fazemos o que


fazemos?” Valores pessoais que guiam a prática.

• Atenção: notar, perceber, observar ativamente o que estiver


ocorrendo.

• Atitude envolve as qualidades da atenção ao evento que é


notado: compaixão.
“Subprodutos” da Prática de
Mindfulness
• Capacidade de descrever eventos privados em interação com
o ambiente
• Autorregulação emocional
• Autorregulação da atenção
• Maior flexibilidade psicológica
• Diminuição da reatividade
• Diminuição de ruminações
• Maior contato com o momento presente em vez de
orientação passado/futuro
• Maior autocompaixão e compaixão

(Baer, em CBT baseada em processos 2020)


Tipos de Prática de Mindfulness

Treino Atencional Monitoramento Aberto Amor-bondade e Compaixão

Respiração Prática Sentada Compaixão


Escaneamento Corporal Mindfulness dos Sons e Autocompaixão
Movimentos Pensamentos Compaixão em Pares
Pausas de Transição:
passado-presente-futuro Ampliação do Campo de Humanidade Compartilhada
Mindful-chat Atenção – dentro/fora Cultivo do desejo de que
Atenção à distração estejamos todos livres do
Âncora da Atenção Rastrear Hábitos Mentais e sofrimento
Intenção – Relembrar Emocionais
Perceber o corpo

CORAGEM – CURIOSIDADE - COMPAIXÃO

Germer, Siegel & Fulton et al, 2016


BMT
(Body in Mind Training)
Modelo Neurocognitivo de
Mindfulness
Origem do BMT
• Neurociências
• Pesquisas em Mindfulness/Meditação
• Terapia Focada na Compaixão (Gilbert, 2015)
• Artes Marciais – práticas em movimento
O que dizem os dados?
• Primeiro o corpo, depois cognições: pensamentos são duvidosos e o
corpo não “mente”.
• A integração com as neurociências mostraram que não é necessário
realizar práticas longas nem de escaneamento do corpo inteiro. Mãos e
face são melhor representadas no cérebro e são mais estimuladas
quando diante de emoções e proporcionam experiências de aprendizado
mais conscientes e concretas.
O BMT
• Práticas adaptáveis ao dia-a-dia
• Pausa de autocuidado
• Modelo de Regulação Emocional – (Gilbert 2015)
• Pausa de Transição
• Treino atencional
• Atenção à respiração
• Atenção ao corpo em movimento
• Mini escaneamento mãos e face
• Monitoramento aberto
• Práticas de observação do corpo e do ambiente
• Maior contato com a natureza
• Espelhamento
O que observamos e como
observamos?
A prática de Mindfulness envolve:
Shauna Shapiro (2006)

INTENÇÃO

ATENÇÃO ATITUDE
3C’s
São elementos que se conectam e se influenciam mutuamente.
Intenção
• Estabelecimento de regra que discrimina os valores
na contingência atual e a longo prazo.
– Curto prazo: quais os micro passos para a mudança?
– Longo prazo: quais são meus valores que guiam as
mudanças?

• Funciona como estímulo discriminativo de onde


minha atenção deve estar.
Atenção – o modelo de 4 etapas

2. Não-objeto
(distração)

1. Objeto de 3. Perceber que


Atenção Focada se distraiu.

A “gentileza”
descreve a
qualidade da
4. Revisitar a atitude
intenção de focar Mindful.
Wendy Hasenkamp Model
(2011)
Se se distraiu, isso
Atenção 2. Não-objeto
(distração)
significa que sua mente
está funcionando bem!
Esquiva!

Hora de focar!

3. Opa! Isso não


1. Objeto de
é o objeto que
Atenção Focada
eu escolhi focar!

Que bom que


percebeu! Isso
significa que
está indo bem!
4. Revisitar a
intenção de
focar

Agora é hora de voltar!


O que observamos?
Objetos de Atenção: Corpo Como está meu corpo agora?
Sensações físicas: tensão, pressão, pulsação,
temperatura, formigamento, postura, contato,
peso, etc.

Cognição Emoções
Como está a minha mente? Como me sinto?
Pensamentos: lembranças, Sentimentos: medo, angústia,
planejamentos, julgamentos, alegria, contentamento,
comparações, dúvida, etc. satisfação, leveza,
tranquilidade, etc.
Atitude

Curiosidade Coragem

Compaixão
Em vez de tentar diminuir o desconforto,
nos preocupamos em desenvolver
estratégias de como entrar em contato com
o desconforto para agir na direção do
autocuidado e do desenvolvimento de novos
repertórios.
Modelamos o comportamento de autocuidado diante da dor.
(Abrimos espaço para a transformação da função do estímulo)
Modelo de Regulação Emocional Terapia Focada na Compaixão
Gilbert (2015)

SISTEMA DE SISTEMA DE
APRENDIZAGEM SUAVIZAÇÃO
Propósito: busca de Propósito: manejar
recursos estresse
Córtex pré-frontal Opiáceos e
Ocitocina
Núcleo accumbens Dopamina

Proteção, segurança,
Querer, buscar, adquirir, SISTEMA DE AMEAÇA cuidado, contentamento
progredir, focar Propósito: detecção de
perigo

Amigdala Adrenalina, cortisol

Ansiedade, raiva, aversão,


irritabilidade, reatividade
Identificando oportunidades de praticar autocuidado
através da auto-observação
(incluindo ações compromissadas com valores e objetivos da terapia)

Verdes de Longo Prazo Verdes de Curto Prazo

Verdes de Longo Prazo: Verdes de Curto Prazo:


preventivos ou de qualidade emergência, têm curta
de vida. duração.
Prática PAUSA:
desacelerar para ver mais
experiência presente + autocuidado + intenção

Pés no chão, bumbum na cadeira!

Como estou agora?


Do que eu preciso?
Qual a minha intenção?
PILOTO
AUTOMÁTICO

PERCEPÇÃO
E
CONSCIÊNCIA

PERCEPÇÃO E
CONSCIÊNCIA

PAUSA
PAUSA
desacelerar para ver a experiência presente
CORPO Como está meu corpo agora?
Sensações físicas: tensão, pressão, pulsação,
temperatura, formigamento, postura, contato,
peso, etc.

Como posso
me cuidar
agora?
O que cada parte pede?

Como me sinto?
Como está a minha mente? Sentimentos: medo, angústia,
Pensamentos: lembranças, alegria, contentamento,
planejamentos, julgamentos, satisfação, leveza,
comparações, dúvida, etc. tranquilidade, etc.
MENTE EMOÇÕES
Condução após a prática
Como fazer a modelagem de novo repertório verbal (descrição) do que
foi observado ajudando o cliente a se relacionar de outra forma com o
que sente e pensa.

Uma investigação curiosa e compassiva pós-prática:


• Descrição da experiência no corpo (sensações físicas)
• Solicitar relato das relações entre os eventos
• Discriminação de padrões de reatividade
• Atenção às relações entre os eventos observados (emoções,
pensamentos, impulsos) e não ao conteúdo!
Mindfulness em Movimento
Incentivando autonomia: Pausa + Cores

Para Suavizar

Como me cuido
melhor agora?

Para
Observar
Mais
Psicologia Baseada
em Evidências
Orientando a
Decisão Clínica
Não há PBE sem a integração entre os três elementos
Não há hierarquia entre os três elementos
Eles são indissociáveis

Características Expertise clínica


individuais, contexto, (habilidades do
cultura e preferência terapeuta)
do paciente
PBE

Melhores
pesquisas
disponíveis
Desafios da PBE
• Encontrar e avaliar evidências relevantes para muitas
decisões clínicas é difícil
– É necessário cautela tanto a respeito das pesquisas que
apontam os limites da prática quanto às que
supervalorizam os dados
• O julgamento clínico é notoriamente falível
– Implementar e avaliar
– Estar aberto a realizar adaptações e redirecionar o plano
de tratamento

Kelly Koerner, 2020, “Ciência na Prática” em


Terapia Cognitivo-Comportamental Baseada em Processos
Como tomar uma decisão clínica
integrando os três elementos?
• É necessário avaliar o contexto e características do cliente:
nem tudo se aplicará a todos. O contexto sociocultural
importa e muito e pode modificar de um cliente para outro!

• Ter claro qual repertório do terapeuta é necessário para


aplicação da prática.

• É preciso conhecer o que as melhores evidências têm


apontado. As melhores evidências estão longe de ser as
evidências que gostaríamos de encontrar.
Integração PBE e
Mindfulness
Características Expertise clínica
individuais, (habilidades do
contexto, cultura e terapeuta)
preferência do
paciente
PBE

Melhores
pesquisas
disponíveis

Mindfulness
Qual prática se Expertise clínica
adapta ao contexto (habilidades do
do cliente? terapeuta)
Apresentar as
possibilidades e
tomar a decisão em
PBE
conjunto.

Melhores
pesquisas
disponíveis
Características individuais, contexto,
cultura e preferência do paciente
• Fatores do cliente que influenciam na escolha
da prática:
– Queixa
• Tipo de prática
– Ambiente
• Duração da prática
– Preferências
• Fazer em casa, na sessão ou participar de um grupo
paralelo à psicoterapia.
Características Expertise clínica
individuais, contexto, (habilidades do
cultura e preferência terapeuta)
do paciente
PBE

Melhores
pesquisas
disponíveis
Características Expertise clínica
individuais, contexto, (habilidades do
cultura e preferência terapeuta)
do paciente
PBE
Como identificar um
estudo de qualidade?
Como ter bom senso na
avaliação de um estudo?
Qual a diferença do meu
público para as populações
das pesquisas?
Como avaliar os
resultados?
A quais práticas o estudo se
refere?
Melhor Evidência Disponível
• Considerações importantes:
– Muitas pesquisas, porém pouca qualidade
– A dificuldade de controlar
– Uso de questionários de autorrelato
– Qual a variável independente das pesquisas? Qual IBM
(Intervenção Baseada em Mindfulness) está sendo usada?
• Variam o tempo de prática, as práticas, a duração da sessão, a
duração do programa, a experiência do aplicador...
– Os sujeitos das pesquisas

Basicamente: qual a consistência dos dados que estão


sendo comunicados nas revisões sistemáticas e meta-
análises?
Melhor evidência entre as disponíveis
para além do rigor científico
• O que você precisa saber para selecionar as
pesquisas:
– Quais as características da amostra?
– Qual intervenção está sendo avaliada?
• Em grupo: MBSR, MBCT, MBHP, BMT, Breathworks, MBPR,
MTI?
• Práticas breves? Longas? Programa completo? Em
psicoterapia? Em grupos?
• Qual o tempo de duração das práticas?
• O programa estava associado a outras intervenções? Ou
seja, houve controle para definirmos se o efeito foi da IBM?
O que dizem os dados: tempo de prática

• 218 participantes que praticavam mindfulness ou já


praticaram no passado, mas não estavam praticando no
momento.
• Dificuldades comuns: encontrar tempo para praticar e
adormecer durante a prática formal (práticas mais longas).
• Prática informal (geralmente mais curtas) relacionada ao
bem-estar positivo
• Frequência e duração da prática formal não foram
significativamente associadas a flexibilidade psicológica.
• Crane et al (2014) – três ou mais dias por semana foram
suficientes para prevenção de recaída em depressão
• Prática informal está mais associada ao bem-estar e
flexibilidade psicológica do que a prática formal
O que dizem os dados : mindfulness e
problemas clínicos
• Uma meta-análise realizada com 39 estudos
totalizando 1.140 participantes sugere que
mindfulness tem resultados promissores para o
tratamento de problemas de ansiedade e humor
em populações clínicas (Hofmann, 2010).
• Mindfulness pode ser útil para problemas clínicos e
não clínicos como qualidade de vida, depressão,
ansiedade, estilo de enfrentamento e dor sensorial.
(Grossman et al., 2003).
O que dizem os dados : mindfulness e
problemas clínicos
• Exitalopram x Mindfulness (Jama, 2022) tratamento da
ansiedade
• Não houve diferença clínica significativa entre os tratamentos
• Mindfulness é mais barato e com menos efeitos adversos
• Tempo de prática: 45min diários
O que dizem os dados

• “Resultados efetivos diante de seus objetivos a partir do uso da Terapia


Cognitiva Baseada em Mindfulness com prevenção de recaída e melhora
dos sintomas residuais em pacientes com depressão. Nos resultados
mais modestos, com o uso da MBCT, foi pelo menos tão efetivo quanto
uso de antidepressivos em comparação a outros tratamentos.”
O que dizem os dados :
mindfulness para terapeutas
• Grepmair et al. (2017) demonstraram que os terapeutas que
praticavam mindfulness tiveram avaliações
significativamente mais altas na escala de resultado
terapêutico (Session Questionnaire for General and
Differential Individual Psychotherapy - STEP), e mostraram
maior redução de sintoma (Sympton Checklist – SCL-90-R),
indicando que a promoção de mindfulness pode influenciar
positivamente o curso terapêutico.
• Dunn (2013) terapeutas que praticavam mindfulness logo
antes das sessões não encontrou mudanças significativas
sobre os escores na escala referente à relação terapêutica.
O que dizem os dados : efeitos colaterais e
experiências desagradáveis
• Britton et a.l (2021): 60% de 96 participantes de
três variantes de intervenções baseadas em
mindfulness apresentaram pelo menos um efeito
colateral relacionado à prática.
• Entre 67% a 73% dos participantes relataram
experiências desagradáveis associadas à prática de
mindfulness durante ou após o curso.
Algumas discussões importantes sobre o
controle nas pesquisas de mindfulness
• Aqueles com níveis mais altos de mindfulness podem estar
mais conscientes da falta de bem-estar e aqueles com níveis
mais baixos de mindfulness podem não notar a falta de
bem-estar.
• “Às vezes pode me fazer perceber coisas que eu não sabia que
estava sentindo, o que pode me incomodar quando não me sinto
pronto para lidar com elas emocionalmente.” (em Birtwell, 2018)
• Mindfulness disposicional: tendência de expressar atitudes
e comportamentos conscientes na vida cotidiana (Hanley et
al.2017) – posso não praticar, mas ter a habilidade.
• Como controlar os confundidores e vieses?
Mindfulness e
algumas demandas
clínicas
Objetivo Práticas Possíveis efeitos Sugestões Tem manual!
Depressão Auxiliar o cliente Autocompaixão Regulação do afeto, Práticas mais MBCT (Segal e
a entrar em Exploração das auto aceitação, curtas, utilizar Teasdale,
contato com a sensações redução da os princípios do 2002)
dor emocional; Observação de ruminação, mindfulness
tolerância ao pensamentos diminuição da quando pedir
afeto como reatividade relatos da
pensamentos emocional, melhor experiência
qualidade de vida (modelar auto
observação)

Perguntas norteadoras:
1. O que está acontecendo neste momento?
2. Você consegue permanecer com o que está sentindo?
3. Você consegue respirar com o que está acontecendo?
4. É possível dar espaço para isto?

Mindfulness e Psicoterapia, Capítulo 8, Germer et al, 2016


Objetivo Práticas Possíveis Sugestões Não há manual
efeitos específico para
ansiedade
Ansiedade Neutralizar Observar sem Redução Práticas informais e Terapia de
respostas reagir, dos de movimento Aceitação e
ansiosas, identificar parte sintomas e auxiliam na Compromisso
aceitação das a parte da melhoria da aproximação (Hayes, 1999),
experiências miríade de qualidade sucessiva das
internas em vez experiências de vida. sensações físicas e BMT (Russel,
de tentar acontecendo no reduz o contato com 2011)
suprimi-las ou corpo, mente, experiências
evitá-las emoções, agir na aversivas da agitação
presença de física
experiências experimentadas.
internas difíceis Deve ser associada a
e aceitação. práticas da TCC
(exposição e
psicoeducação sobre
ansiedade).

Mindfulness e Psicoterapia, Capítulo 9, Germer et al, 2016


Objetivo Práticas Possíveis Sugestões Não há manual
efeitos específico para
dor crônica
Distúrbios Lidar com as Aceitação da Resultados Deve ser associada a MBSR (Kabat-
psicofisiológi “causas” dor, manejar o modestos programas de Zinn, 1982)
cos emocionais sofrimento. para reabilitação mais
ligadas à intensidade abrangentes
Dor crônica tensão Atenção ao da dor,
Fibromialgia, muscular. presente e porém
dor lombar estabelecer melhoria da
crônica, dor intenções em qualidade
pélvica vez de focar na de vida.
crônica e preocupação
artrite com a
incapacidade

Monitoramento
aberto,

Mindfulness e Psicoterapia, Capítulo 10, Germer et al, 2016


Algumas considerações importantes
sobre o uso de mindfulness na clínica
• Mindfulness parece ser um “repertório-base” para a
mudança terapêutica, mas esta é uma dedução teórico-
conceitual e não baseada em evidências. Poucas
comparações foram feitas.

• Portanto, não é recomendado que seja aplicado sem estar


associado aos tratamentos usuais.

• É relativamente fácil fazer uma pesquisa sem rigor científico,


dado que existem muitos protocolos e práticas.

• Porém, sem rigor científico o dado pode ser inválido.


Uma avaliação crítica e uma agenda prescritiva
para a pesquisa e prática clínica das evidências
em mindfulness e outras práticas meditativas
Características Expertise clínica
individuais, contexto, (habilidades do
cultura e preferência terapeuta)
do paciente
PBE

Melhores
pesquisas
disponíveis
Características Como posso estar
individuais, contexto, mais presente na
cultura e preferência sessão?
do paciente De qual forma é
mais seguro para
PBE mim inserir na
clínica?
O que me distrai
durante as sessões
quando diante de
Melhores
alguma demanda
pesquisas
desafiadora?
disponíveis
Avaliar o processo e
redirecionar a
decisão, se
necessário.
Expertise clínica
(habilidades do terapeuta)
• Presença terapêutica: o terapeuta deve ter a habilidade de estar
atento à sua própria experiência e à do cliente em sessão.
• Conhecer os tipos de prática e adaptar à necessidade do cliente.
• Saber conduzir práticas formais e informais (veja slide 54
“condução após a prática”). Faça supervisão.
• Auxiliar o cliente a perceber as relações entre os estímulos
privados, repostas públicas e o relato/descrição desses eventos.
• Fornecer mais análises funcionais sobre o que é relatado do que
focar no conteúdo.
A “melhor evidência
disponível” pode ser
limitada.
O clínico deve ter as habilidades necessárias para
selecionar as práticas adequadas ao cliente, aplicar,
avaliar e redirecionar a decisão clínica quando
necessário.
Fazer supervisão com algum profissional experiente
também pode ser útil.
Mindfulness
enquanto uma
habilidade
terapêutica
Se o cliente quer fugir da vulnerabilidade, pode ser que você queira
fugir da sua vulnerabilidade. Porém, escolhas importantes na
clínica têm vulnerabilidade envolvida: pedir que o cliente entre
em contato com a dor, falar de temas difíceis, falar verdades
dolorosas, engajar o cliente mesmo quando ele tenta fugir.
Nós também precisamos a aprender a estar na presença da nossa
vulnerabilidade.
Algumas perguntas que podem trazer
lucidez...
• Que situações ou tipos de demandas terapêuticas são
contextos para você se esquivar?

• O que te desconecta de seu cliente? Quais sentimentos,


autojulgamentos, medos...

• O que acontece no seu corpo? O que você tem vontade de


fazer diante disso?
“Se é verdade para eles, é igualmente verdade para nós.
Aumentando nossa própria habilidade de focar no que está
acontecendo no momento presente, podemos aprimorar
nossas habilidades clínicas.
Nossa interação com os clientes é um tipo de dança.
Podemos conduzir, mas precisamos conduzir com
flexibilidade, incluindo a flexibilidade de saber quando
deixar o outro conduzir. Precisamos identificar o momento
de intervir e quando conseguiremos mais simplesmente nos
calando e ouvindo. Às vezes precisamos acelerar o ritmo,
outras diminuir, quando a situação pede. Em todos esses
casos, atenção ao momento presente, estudada e praticada,
é um dos nossos maiores recursos clínicos”

Mindfulness for two, Wilson & DuFrene (2009)


Mindful Chat
Em pares: dividir alguma
dificuldade da clínica (não
precisa ser aquele tema que você tá se
esquivando de levar para a
supervisão... Pode ser um incômodo
confortável.)
Mindful Listening (escuta ativa)
Mindful Talking (fala atenta)
“Você precisa ser um conhecedor das
minúcias, das sutilezas da
inflexibilidade psicológica. Porém,
para alcançar isso do seu lado da
relação, você precisa de um outro
conjunto de habilidades. Assistir um
vídeo ou ouvir uma aula é útil, mas só
é realmente útil depois do fato, ou
talvez no momento presente de uma
supervisão.
Durante a sessão sua ferramenta
mais poderosa é a consciência
cuidadosa, momento a momento dos
seus próprios eventos privados.”

Mindfulness for two, Wilson & DuFrene (2009)


Caso Clínico
Aplicando na prática
•Qual prática poderiam selecionar, como poderiam
incluir mindfulness no processo terapêutico?

•Que investigações seriam necessárias para a tomada


de decisão clínica?

•Qual o objetivo que se pretenderia alcançar usando


Mindfulness nesse caso?
Caso Clínico
• Mulher, 45 anos tem um filho de 3 anos e se queixa do relacionamento com o
marido.
• Ela sente-se deprimida, sem conseguir dormir e não consegue mais fazer coisas
que gostava de fazer como ir à praia e fazer atividade física.
• Queixa-se de receber muitas críticas do marido sobre sua forma de cuidar da
casa e da criança. Ele não faz nenhum trabalho em casa, sai cedo para a
academia, chega tarde e vai direto para o banho, come e vai dormir.
• Moram em um país diferente de suas famílias de origem.
• Ela diz estar muito frustrada e exausta.
• Quando ela é criticada, ouve em silêncio até não aguentar mais e acaba
explodindo numa briga usando falas ofensivas.
• Recentemente, descobriu que não poderá sair do país nos próximos 12 meses.
• Acredita que é uma pessoa ruim e que por isso merece estar nessas condições.
Caso Clínico
• Como mindfulness pode ser aplicado a esse caso?
• Que perguntas devem ser feitas para o cliente a
respeito do contexto sociocultural? Quais
informações importantes devem ser levantadas?
• Quais práticas podem ser apresentadas? Com quais
objetivos?
Mindfulness formal pode ser um aliado da psicoterapia?

Talvez sim, e porque não?


Mindfulness é uma palavra do inglês que existe muito antes da ciência do
comportamento chegar à clínica.
Sati é uma prática milenar.
Tudo bem se os clínicos derem ênfase ao desenvolvimento dessa habilidade,
usufruindo de literaturas outras, porque parece que a literatura em
Mindfulness promove uma descrição mais assertiva de “como” desenvolver
essa habilidade. E esta habilidade parece ser essencial para tornar o cliente
mais sensível às variáveis presentes na contingência vigente das quais seu
comportamento é função.
O “como” envolve a “qualidade” ou as “características” dessa atenção diligente.
“Atenção cuidadosa, aberta, curiosa, gentil”, são palavras que ajudam a
amenizar o contato do cliente com estimulação privada aversiva.

O repertório verbal de um treinador de habilidades de mindfulness pode ser


bastante útil como suporte para a terapia comportamental. A literatura de
mindfulness e a própria prática pessoal pode ser bastante útil para o
desenvolvimento de repertório do terapeuta de estar atento no momento
presente da sessão e ajudar o cliente a permanecer lá.

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