Você está na página 1de 130

Terapia de Aceitação e Compromisso

ACT

Heitor P. Hirata
Psicólogo (UFRJ) – CRP 05/37196
Especialista em Psicologia Clínica (CFP)
Doutor e Mestre em Psicologia (UFRJ)
Terapeuta Cognitivo Certificado pela Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC)
Membro da Diretoria da Associação de Terapias Cognitivas do RJ (ATC-Rio)
Membro da Association for Contextual Behavioral Science (ACBS)
Ondas ou Gerações em TCC
Panorama Geral – Ondas ou gerações em TCC

• John Watson – Behaviorismo metodológico


(Psicologia S-R): A Psicologia só pode estudar
o observável. Método não investiga a
introspecção, embora considerasse a
existência de fenômenos internos.
Panorama Geral – Ondas ou gerações em TCC

• B.F. Skinner – Contingências ambientais influenciam a natureza pública ou


privada.

• Princípios do comportamento detalhadamente explicados e mecanismos


de aprendizado comprovados por vários estudos experimentais.

• Reconhecimento dos eventos internos, mas rejeição ao mentalismo (ideia


de que as cognições são responsáveis pelas emoções e os
comportamentos).

• Explicação para os comportamentos deve vir dos eventos externos (das


contingências de reforçamento).
Panorama Geral – Ondas ou gerações em TCC

• A cognição não foi o alvo dos estudos


comportamentais, embora a teoria
skinneriana tenha versado sobre diversos
assuntos concernentes ao funcionamento
humano.

• A ênfase maior na cognição foi uma


característica das abordagens de segunda
onda (ou segunda geração).
Panorama Geral – Ondas ou gerações em TCC

• As cognições como fontes do sofrimento


humano foram estudadas por autores que
compõem as abordagens cognitivistas
– Foco do tratamento passa da mudança do
conteúdo do comportamento para o conteúdo dos
pensamentos e sentimentos.
– Terapia Cognitiva de Beck, TREC de Ellis,
Treinamento Autoinstrucional de Meichenbaum
dentre outras.
Panorama Geral – Ondas ou gerações em TCC

• Para muitos clínicos de tradições


comportamentais e alguns de tradição
comportamental-cognitiva, os métodos das
terapias focadas na cognição apresentavam
limitações.

• Desenvolvimento de abordagens contextuais


(“terceira onda ou geração”).
Características das Terapias Contextuais

• Princípio da normalidade

• Métodos e princípios contextuais


– Foco em mecanismos de mudança baseados no contexto e na função
dos eventos psicológicos

• Repertório amplo e flexível


– Métodos aplicáveis a problemas distintos (transdiagnóstico)

• Modelo unificado do funcionamento humano

• Ênfase em métodos vivenciais

• Ênfase na mudança do comportamento no contexto clínico


Hayes (2004)
Álvarez (2014)
Terapias Contextuais
• Terapia de Aceitação e Compromisso
• Terapia Comportamental Dialética
• Psicoterapia Analítico-Funcional
• Ativação Comportamental
• Terapia Comportamental Integrativa de Casais
• Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness
• Terapia Focada na Compaixão
• Terapia Metacognitiva
O que é felicidade?
Bem-estar? Realizar os sonhos?

Ter tudo o que queremos? Ausência de tristeza e ansiedade?

O que é felicidade?
Fazer as coisas que nos fazem bem?
Sentir-se leve?

Estar sem problemas?

Pensar só coisas boas e positivas?


Felicidade
• Do latim
– FELIX - fértil, frutuoso, que dá frutos
– ALACRITAS, de ALACER , “de ânimo leve, contente”

• Do grego
– PHYO - “produzir”, “fecundo, produtivo”
A Armadilha da Felicidade

Crenças sobre o que é ser feliz


-Aspectos evolucionistas
-Aspectos sociais
-Aspectos individuais
O que os homens das cavernas têm a
ver com Fred?

Este é Fred
O que os homens das cavernas têm a
ver com Fred?
Melhor não
falar Melhor pegar essa clava aqui
para mostrar algum serviço!
bobagem!
OBJETIVO: Pertencer ao grupo!

Melhor não
falar Melhor pegar essa clava aqui
para mostrar algum serviço!
bobagem!

Sentimento de vergonha e pensamentos de inadequação podem ser úteis


para nossa preservação. Você e/ou seus pacientes acham o mesmo?
Aspectos sociais da felicidade
(Para refletir)
• Felicidade e atribuição de valor social
– Vivemos em uma época em que a felicidade é um
bem a ser mostrado? Há uma “tirania da felicidade”?
– Richard Sennett – Declínio do homem público e
cultura da personalidade.
– Guy Debord e a sociedade do espetáculo – cultura da
imagem e invasão da economia em todas as esferas
da vida.
– William Davies – A indústria da felicidade. Mais
felicidade implica mais produtividade. Demonização
da tristeza.
Vamos julgar alguns livros pela capa...
Algumas frases de pacientes:
• “Quero me sentir bem”
• “Quero estar feliz o tempo todo”
• “Não quero sentir ansiedade”
• “Não quero me sentir triste”
• “Não aceito essa angústia”
• “Não quero ter este pensamento”
• “Comi 6 cookies para me livrar desse sentimento”
• “Me dá uma técnica para eu me livrar disso”
• “O mundo deveria ser mais justo”
• “Eu sei que este pensamento não é racional, mas eu
continuo tendo ele, e não gosto dele!”
Mitos sobre a Felicidade
• A felicidade é o estado natural de todo ser
humano.

• Se você não é feliz, então não é normal.

• Precisamos nos livrar dos sentimentos negativos


para ter uma vida melhor.

• Você tem que ser capaz de controlar o que pensa


e o que sente.
Harris (2011)
A busca pelo sentir-se bem
• Algumas pessoas buscam incessantemente o
bem-estar e a felicidade

• Esta busca pressupõe que estar feliz é nunca se


sentir mal

• Esta busca também leva indivíduos a buscar


felicidade de forma desenfreada

• Adoção de comportamentos opostos à


“felicidade”
Lista de regras da infelicidade:
• Tome decisões só quando tiver certeza!

• Exija justiça do mundo!

• Fuja da sensação de vulnerabilidade!

• Controle tudo o que puder!

• Ignore a “pessoa que você quer ser”!


Para Refletir:
Dos casos que você atende,
quantos estão relacionados
a uma tentativa de controle
sobre algo?
Limite da Terapia Cognitiva Padrão
• Parte-se do princípio que o sofrimento
psicológico é oriundo de uma cognição distorcida.

• A reestruturação desta cognição leva o indivíduo


a ficar cada vez mais atento a padrões cognitivos
funcionais.

• Nem todas as pessoas conseguem identificar uma


distorção como tal nem se sentem melhor depois
de reestruturá-la.
Mas então reestruturar pensamentos
é errado ou não funciona?

• Beck está errado?

• Ellis está errado?


NÃO!
Ufa...
Terapia de Aceitação e Compromisso
• Psicoterapia comportamental que tem como
objetivo promover a aceitação dos eventos
privados como sentimentos, pensamentos,
memórias e sensações e dos eventos
externos.

• Parte do princípio que a evitação ou fuga a


estímulos aversivos limita as ações.

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Terapia de Aceitação e Compromisso

• Acceptance
– Accept your reaction and be present
(Aceite suas reações e esteja presente)

• Commitment
– Choose a valued direction
(Escolha uma direção valorosa)

• Therapy
– Take action (Aja)

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Os fundadores
• Steven C. Hayes é professor do Departamento de Psicologia
da Universidade de Nevada.

• Kirk D. Strosahl é psicólogo do Centro de Medicina da Família


de Washington.

• Kelly G. Wilson é professor da Universidade de Mississipi.

Steven Hayes Kirk Strosahl Kelly Wilson


ACT e TCC: diferenças
• Filosóficas
– Mecanicismo x Contextualismo (Pepper, 1942)

• Modelo de entendimento humano

• Estratégias de modificação do pensamento


(cognições) x Estratégias de aceitação, ação
comprometida baseada em valores
Histórico da ACT
• Primeira fase (décadas de 1970 e 1980)
– Distanciamento compreensivo

• Segunda fase (1985 a 1999)


– Teoria dos quadros relacionais (TQR)

• Terceira fase (1999-atualidade)


– Contextualismo funcional baseado na TQR
Bases Filosóficas da ACT
• Contextualismo
– Respostas ou comportamentos são realizados por
alguém, com alguma intenção, em algum contexto.

– Contextualismo funcional
• Comportamentos cumprem uma função específica, não
podendo ser classificados como “certos” ou “errados”.
• Neste sentido, esquivar-se de experiências, por exemplo,
não deve ser entendido como “disfuncional” ou
“desadaptativo” e sim como uma escolha que pode ou não
estar de acordo com os valores do indivíduo.
Sofrimento Psicológico
• Não necessariamente é consequência da
atividade cognitiva ou das emoções e sim da
maneira como o indivíduo se relaciona e
responde aos estímulos internos.

• Ao experienciar pensamentos perturbadores


ou sentimentos desagradáveis ainda se pode
agir de modo a criar uma vida significativa.

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


A crítica à patologização
• Hayes critica a tendência à medicalização e
patologização da vida humana.

• Crítica aos rótulos.

• Sintomas muitas vezes ocorrem por estilos de


vida e acabam sendo entendidos como
doenças.
Saban (2011)
Modelo médico x Modelo contextual

Álvarez (2014)
Proposta básica da ACT
• Aceitação de tudo que está fora do nosso
controle
– Mundo interno
– Mundo externo

• Compromisso de praticar ações que nos


proporcionem uma vida mais significativa
– Prática de ações significativas mesmo sem atingir
resultados específicos
Saban (2011)
Teoria das Molduras Relacionais
• Teoria comportamental funcional e contextual
sobre a linguagem e cognição humana.

• Diz respeito à relação entre os estímulos


– Exemplos:
• Verbais
• Imagens
• Escrita

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Relevância clínica da TMR
• Seres humanos são os únicos capazes de
adquirir linguagem da forma que fazem.

• Cada aprendizado novo em termos linguísticos


é adicionado a uma rede relacional.

• Quando aprendemos que um determinado


objeto significa uma palavra, ocorre essa
adição.
Relevância clínica da TMR
• Diversas fontes acrescentam significados a nossos
repertórios cognitivo-linguísticos
– Pais
– Irmãos
– Amigos
– Relacionamentos
– Televisão
– Internet
Perigo!!!!!

Cachorro
Relevância clínica da TMR
• Sem quadros relacionais, seres humanos não
conseguem funcionar adequadamente. Os
clínicos precisam lidar com o sistema
verbal/cognitivo com seus pacientes.

• Alguns dos problemas dos clientes são


atribuíveis ao desenvolvimento pobre de
repertórios relacionais.

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Relevância clínica da TMR

• Redes relacionais trabalham por adição, não por


subtração.

• É impossível eliminar um evento cognitivo


clinicamente relevante. Não existe
“desaprendizagem”.

• Extinguir comportamentos ou hábitos exige


novos aprendizados, inibição e flexibilidade.

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Relevância clínica da TMR

• As mesmas propriedades dos quadros


relacionais que permitem solução efetiva dos
problemas humanos também contribuem
para o seguimento rígido de regras e evitação
experiencial, que são processos poderosos
para o estreitamento de repertórios.

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Relevância clínica da TMR

• A experiência literal da linguagem e a reação à


linguagem interna do mesmo modo que se
reagiria frente aos eventos reais, gera e
amplifica o sofrimento humano em grande
medida.

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Relevância clínica da TMR
• Do mesmo modo, do ponto de vista
terapêutico, a linguagem pode ter um papel
central na melhora do paciente.

• Ao criar conteúdos terapêuticos por meio da


linguagem, o paciente os acessa facilmente,
criando repertórios que aumentam sua
flexibilidade psicológica.
– Ex.: Urso branco, convidado indesejado.
TMR e a relação arbitrária de estímulos
• De acordo com a TMR, aprendemos a estabelecer
relações arbitrárias com os estímulos a partir de
alguns critérios.

• Essas relações mediam a nossa experiência no


mundo.

• Elas também podem estar na base, dependendo


do contexto, do desenvolvimento que questões
clinicamente relevantes.
Equivalência
Oposição
• Alegria - ____________
• Raiva - _____________
• Bonito - ____________
• Grande - _____________
• Legal - ______________
• Inteligente - _____________
• Educado - _______________
• Seguro - ________________
Diferença
• Estar triste é diferente de estar angustiado.

• Estar apaixonado é diferente de estar amando.

• Estar preocupado é diferente de estar ansioso.

• Estar alegre é diferente de estar eufórico.


Comparação (exemplos)
• São Paulo é maior que o Rio de Janeiro.

• Dias ensolarados são melhores que chuvosos.

• Abobrinha é mais gostoso que jiló.

• Sentir calma é melhor que sentir ansiedade.


Hierarquia (exemplos)
• O Rio de Janeiro está dentro do Brasil.

• O Brasil está dentro da América Latina.

• A ACT está dentro das terapias comportamentais


contextuais.

• A ATC-Rio está federada à FBTC.


Outras relações:
• Espaciais
– Os cadernos estão sobre as mesas.
– As bolsas estão abaixo da cadeira.
• Temporais
– As terapias contextuais vierem depois da revolução
cognitiva.
• Causais
– Se você não comer a sua refeição, não ganhará sobremesa.
• Dêiticas
– Se eu estivesse no seu lugar, não retornaria essa ligação.
Recapitulando...
Análise Funcional do Comportamento

A C
•Accept - Aceite

•Choose - Escolha

•Take action - Aja


Hayes, Strosahl & Wilson (1999)
B

Accept

A
Choose

A C
B

Take Action

C
Importância de notar os contextos que
influenciam o comportamento

Contexto Comportamentos Contexto

A B C

Gentilmente cedido por Fabián Olaz


Modelo de Psicopatologia da ACT
• Processos comportamentais normais tornam-se
problemáticos em virtude de situações adversas.

• Papel das crenças e práticas culturais e sociais.


– Crença de que a felicidade é cotidiana
– Crença de que não se pode ficar triste
– Crença de que se estamos tristes, há algo errado e a
causa deve ser encontrada
– Crença de que ansiedade é ruim
– Crença de que raiva é errado
Saban (2011)
Modelo de Psicopatologia da ACT
• A necessidade em eliminar eventos
encobertos aversivos faz os indivíduos muitas
vezes desenvolverem repertórios de fuga e
esquiva, uma vez que julga-se muitas
sensações como negativas.

• A tentativa de controle dos eventos


encobertos tende a fracassar, levando ao
desenvolvimento de transtornos mentais.
Saban (2011)
Modelo de Psicopatologia da ACT

• O modelo de psicopatologia proposto pela


ACT é fundamental para se entender as
intervenções desta abordagem.

• A inflexibilidade psicológica é a essência da


psicopatologia na ACT.

Saban (2011)
Inflexibilidade Psicológica
• Resultado da ação conjunta de seis processos
centrais que são entendidos como as bases
para o sofrimento humano:
– Evitação experiencial
– Fusão cognitiva
– Apego ao eu-conceitualizado
– Inércia, impulsividade, persistência na esquiva
– Falta de clareza de valores
– Domínio do passado e futuro conceitualizados

Pergher & Melo (2014)


Evitação Experiencial
• Tentativas que o indivíduo faz para evitar ou
minimizar o contato com as experiências internas
indesejadas.

• Resposta aos eventos internos da mesma forma


que reagiria a ameaças reais.

• Batalha contra os próprios eventos internos.

• Esgotamento de recursos para o investimento em


uma vida significativa.
Pergher & Melo (2014)
Fusão Cognitiva
• Fusão: dois elementos inicialmente independentes
tornam-se um só.

• Fusão cognitiva: pensamento e realidade se fundem.

• Comportamento do indivíduo pauta-se muito pelos


seus pensamentos e pouco pela realidade externa.

• Psicopatologia tem menos relação com distorção


cognitiva e mais com forma de se reagir aos
pensamentos.
Pergher & Melo (2014)
Três Sensos de Self
• 1°) Self conceitualizado: Ver a si mesmo através de uma
perspectiva literal na qual os pensamentos, emoções,
sensações e memórias são experienciadas como o self, o
eu; (EU COMO AS EXPERIÊNCIAS)

• 2º) self como processo: o “eu” que vive a experiência neste


exato momento (EU VIVENDO AS EXPERIÊNCIAS)

• 3°) self como contexto: eu-aqui-agora (local ou ponto de


perspectiva que observa a experiência sendo vivida)
(EU SE OBSERVANDO TENDO AS EXPERIÊNCIAS)

Gentilmente cedido por Paulo Bozza Jr.


Gentilmente cedido por Paulo Bozza Jr.
Eu conceitualizado
• Self conceitualizado: conteúdo verbal que as
pessoas utilizam para descrever e definir a si
mesmas.

• Pode conter características observáveis e descritivas


ou julgamentos e avaliações.

• Conjunto de rótulos com os quais as pessoas se


identificam.

• Limitação do direcionamento a uma vida


significativa. Pergher & Melo (2014)
Inércia, impulsividade, persistência na esquiva

• Uma vida significativa depende não só do que


o indivíduo deseja, mas também aquilo que
ele faz.

• Impossibilidade de ação em decorrência da


esquiva persistente.

• Não compromisso com o movimento para a


ação.
Pergher & Melo (2014)
Falta de Clareza de Valores
• A psicopatologia na ACT está relacionada à
não construção de uma vida significativa, que
é um conceito subjetivo.

• Necessidade de definição de valores gerando


um senso de propósito.

• Em alguns casos os valores levam a situações


aversivas, mas com propósito por trás.
Pergher & Melo (2014)
Domínio do Passado e Futuro
Conceitualizados
• Ruminação e preocupação.

• Passado e futuro não existem e, por isso, são


conceitualizados.

• Foco no passado e futuro são excessivos.

• A vida significativa é focada no momento


presente.
Pergher & Melo (2014)
Duas formas de conceitualização:
Hexaflex e Matrix
• Hexaflex:
– Centrado nos seis processos de flexibilidade
psicológica propostos pela ACT: aceitação,
desfusão, contato com o momento presente, eu
como contexto, valores e ação comprometida.
• Matrix:
– Diagrama interativo para o incremento da FP.
– Propicia o aumento da percepção dos processos
de FP.
Matrix
Tratamento na ACT
• Foco principal: levar o indivíduo a aceitar
eventos internos e externos sem lançar mão
de esquiva
– Acontecimentos inevitáveis
– Pensamentos
– Sentimentos
– Memórias
– Reações do corpo

Pergher & Melo (2014)


Processos de Inflexibilidade Psicológica Processo Terapêutico

Evitação experiencial Aceitação

Fusão cognitiva Defusão cognitiva

Eu conceitualizado Eu contexto

Domínio do passado e futuro Contato com o momento presente


conceitualizados

Inação, impulsividade ou persistência Ação comprometida


evitativa

Falta de clareza dos valores Definição de direções valorizadas


Aceitação
• Redução das tentativas de mudar a frequência ou
controlar pensamentos e sentimentos indesejáveis ou
que trazem sofrimento.

• Conhecimento e aceitação dos pensamentos e


sentimentos.

• Aceitar não é achar bom.

• Metáfora: Armadilha de dedos chinesa


• Vídeo: Convidado indesejado
Pergher & Melo (2014)
Aceitação
• O que você está sentindo e pensando agora?
– Pede-se ao cliente para perceber cuidadosamente
suas experiências internas e listá-las e descrevê-
las, desde as mais superficiais até as mais
profundas.
• Ex.: Neste momento estou percebendo que estou
levemente ansioso e que estou pensando que talvez
esse assunto seja complexo demais. Além disso, estou
cansado e pensando que terei que trabalhar duro na
segunda-feira...

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Aceitação
• Diálogo interior de aceitação
– Não gosto desse sentimento, mas tenho espaço
para ele.
– É desagradável, mas posso aceitar.
– Não gosto disso, nem aprovo isso, mas neste exato
momento eu aceito isso.
– Estou tendo o sentimento de que...

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Aceitação
• Visualização da aceitação:
– Faça um rastreamento pelo corpo
– Escolha a sensação que mais lhe incomoda
– Observe-a como um cientista curioso
– Visualize-a como um objeto
• Qual o seu tamanho e forma?
• É sólido, líquido, gasoso?
• É transparente ou opaco?
• Tem cor? Ela varia?
• Qual a temperatura?
• Qual o peso e a textura?
• Faz algum barulho? Movimenta-se?
– Respire lenta e profundamente, deixe o ar criar um espaço
para este objeto. Deixe que ele fique onde está. Não
precisa gostar dele, apenas deixe-o ficar.
Hayes, Strosahl & Wilson (2012)
Desfusão Cognitiva
• Para a ACT, não importa se um pensamento é
verdadeiro ou falso, o mais relevante é a sua utilidade.

• Caso seja útil, vale a pena prestar atenção, caso


contrário, não vale.

• Pensamentos são só palavras e muitas vezes “servem”


apenas para humilhar, acusar e desincentivar.

• Modificação da forma como o indivíduo se relaciona


com seus pensamentos.
Hayes, Strosahl & Wilson (2012)
Desfusão Cognitiva
• A mente nunca para “de pensar”, ou seja, de contar
histórias
– Comparações
– Planejamento
– Fantasias
– Críticas
– Avaliações
– Pontuações
– Comentários

• A mente muitas vezes “se comporta” como uma


criança em busca de atenção.
Hayes, Strosahl & Wilson (2012)
Desfusão Cognitiva
• Pensamentos críticos, insultos, julgamentos e
autodepreciação apenas têm como efeito
diminuir a motivação.
– É um pensamento antigo?
– Vou obter algo útil com este pensamento?
– Este pensamento me ajuda a agir de modo eficaz
para melhorar a minha vida?
– O que eu ganharia “embarcando” neste
pensamento?
Hayes, Strosahl & Wilson (2012)
Harris (2011)
Desfusão Cognitiva
• Perguntas úteis para distinguir entre um
pensamento útil de um inútil:
– Ele me ajuda a ser a pessoa que quero ser?
– Ele me ajuda a construir relacionamentos que eu
gostaria de ter?
– Ele me ajuda a estar ligado àquilo que eu
realmente valorizo?
– Ele me ajuda, no longo prazo, a ter uma vida mais
significativa e plena?
Hayes, Strosahl & Wilson (2012)
Desfusão Cognitiva
• Dando um nome à mente

– Esta estratégia consiste em dar um nome à sua


mente.
– Quando um pensamento surgir, entenda que a sua
mente está querendo lhe dizer algo, mas que não
precisa ser necessariamente considerado. Sua
mente pode lhe dizer coisas sem importância.
Desfusão Cognitiva
• Estou tendo o pensamento de que...
– Em vez de levar o pensamento 100% a sério,
encarando-o como um retrato fiel da realidade,
podemos acrescentar “estou tendo o pensamento
de que” antes dele. Isso promove distanciamento
entre o que só uma atividade cognitiva e o que é
real.
– Exemplo: “estou tendo o pensamento de que não
sou um cara legal”.
Desfusão Cognitiva
• Dando nome à história:
– Pensamentos podem ser encarados como uma
história e podem receber um nome
correspondente.

– Exemplo: ao ter o pensamento “sou um idiota”.


Podemos pensar: “ah sim, lá vem a história do sou
um idiota, conheço essa”.
Desfusão Cognitiva
• Colocando o pensamento em perspectiva
– Lembre de um pensamento que lhe aborreça.
• Ex.: sou incompetente
– Mantenha-o na mente por alguns instantes.
– Repare em como ele lhe afeta.
– Mentalize o pensamento “eu sou uma maçã”
– Mantenha-o na mente e verifique como ele lhe
afeta.

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Desfusão Cognitiva
• Exercício das vozes ridículas:
– Escolha um pensamento que lhe aborrece ou
incomoda. Concentre-se nele por dez segundos
acreditando nele o máximo possível. Perceba o
quanto ele incomoda.
– Escolha um personagem com voz peculiar e
engraçada (ex. Pato Donald). Relembre o
pensamento na voz desse personagem. Repita o
exercício várias vezes.

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Desfusão Cognitiva
• Musicalizando um pensamento:
–O que parabéns para você e jingle bells
têm a ver com desfusão cognitiva?
Sou incompetente, sou
incompetente, sou incompetente,
soooou incompetente!
Desfusão Cognitiva
• Exercício da pluma e do cacto da escolha
– Uma pluma sobre a nossa mão machuca?
– E um cacto? Incomoda ou machuca?
Eu contexto
• Podem ser diferenciadas partes do eu:
– Eu pensante
• Parte que pensa, julga, visualiza, analisa, recorda, devaneia
e fantasia

– Eu observador
• Perceptivo, foca a atenção, consciente. Pode prestar
atenção ao pensamento, mas não produzir um
pensamento.

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Eu contexto
• Pensamento x Observação
– Procure, por um minuto, observar o que sua
mente produz. Fique alerta a todos os
pensamento e imagens.
– Caso não apareça nada, fique esperando até que
apareça algo.
– Observe atentamente esse pensamento.

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Eu contexto
• Eu pensante como estação de rádio sempre
ligada ao fundo.

• Eu observador pode ouvir ou não a rádio de


forma atenta, acreditando ou não no que está
“tocando”.

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Gentilmente cedido por Paulo Bozza Jr.
Eu contexto
Metáfora do Xadrez

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Contato com o momento presente

• Facilitação do processo do momento presente


na relação terapêutica
– “Indo mais devagar”

• Desenvolvimento de flexibilidade atencional.

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Contato com o momento presente
• Objetivo: busca da visualização de
acontecimentos pessoais sem atribuição de juízo
de valor

• Mindfulness
– Consciência das experiências internas e externas sem
responder a elas.
– Uso dos sentidos.
– Consciência não julgadora das experiências.
– Atenção plena.
Pergher & Melo (2014)
Práticas de Mindfulness
• Exercícios com respiração
– ex.: one moment meditation)

• Exercício da uva passa

• Varredura corporal

• Prática com objetos

• Prática com sons

• Alongamento consciente

• Práticas com atividades do cotidiano


Pedulla (2016)
• Importância da prática diária Teasdale, Williams & Segal (2016)
Kabat-Zinn (2013)
Ação de compromisso

• Ação comprometida é uma ação baseada em


valores.

• Manter compromisso significa, momento a


momento, se comportar consistentemente de
acordo com valores como parte de um padrão
de ação expandido.
Hayes, Strosahl & Wilson (2012)
Ação de compromisso
• Identificação de dificuldades do indivíduo em
alcançar suas metas já estabelecidas.

• Oferecimento de ferramentas para


modificação dos padrões disfuncionais.

• Trabalho em relação às evitações.

Pergher & Melo (2014)


Ação de compromisso
• Escolha e compromisso
– A ação comprometida é uma escolha de
comportamento em um determinado momento
– Importante o terapeuta não julgar as escolhas do
paciente
– Metáfora do jardim

Hayes, Strosahl & Wilson (2012)


Definição de direções valorizadas
• Identificação e construção dos valores

• Diferenciação entre valores e metas

• Viver de acordo com valores é viver de acordo


com o que se valoriza

Pergher & Melo (2014)


Definição de direções valorizadas

Pergunta essencial:
Quem é a pessoa que você quer ser?
Exercício: Minha biografia
1. Casamento/casal/ relações íntimas

2. Parentalidade

3. Relações familiares

4. Amizades/ relações sociais

5. Carreira/emprego

6. Educação/ formação/ crescimento e desenvolvimento pessoal

7. Recreação/ lazer

8. Espiritualidade

9. Cidadania

10. Saúde e bem-estar físico


Exercício: Sanfona dos valores
Exemplo Clínico
• D. Edna, 68 anos é diagnosticada com diabetes,
hipertensão arterial e glaucoma. Como medidas
importantes para sua saúde segundo
recomendações médicas, ela deveria:
1. Cortar doces
2. Limitar ou preferencialmente cortar o sal
3. Pingar colírio todos os dias
4. Fazer alguma atividade física
5. Evitar fumo e bebidas alcoólicas
Exemplo Clínico
• D. Edna reclama dizendo que o médico é muito
“mandão” e diz que ela “não tem juízo”. D. Edna
fica muito brava quando fala sobre o médico e diz
que ele quer tirar tudo que ela gosta.

• Entretanto, D. Edna diz que quer viver, ver os


netos crescer e ser uma “vovó coruja”, ela detesta
depender dos outros e não imagina como seria se
ela ficasse muito doente a ponto de ser um
“encosto” na vida das pessoas.
Exemplo Clínico
• Valores de D. Edna:
– “Quero ser uma vovó coruja”.
– “Não quero depender de ninguém”.

• Para colocar esses valores em prática, o que você


deve fazer?
– Viver, estar bem, me cuidar

• E isso envolve o que?


– Entendi... Tenho que maneirar no sal e nos doces,
pingar o colírio, caminhar...
Exemplo Clínico
• Importante: D. Edna precisou saber que ela
tinha uma escolha, que ela era livre para
decidir qual seria a sua direção, sem que
ninguém (médico, psicólogo ou familiares)
dissesse o que deveria ser feito. O que ela
deve fazer precisa estar condicionado ao seu
querer (ser avó e não depender de ninguém).
Isso precisou fazer sentido para ela colocar em
prática as ações compromissadas com seus
valores.
Exemplo Clínico
• Ao perceber quais eram os seus valores e o
que precisaria fazer para ir rumo a uma vida
significativa, D. Edna precisou colocar em
prática os processos de conscientização e
aceitação (aceitação, desfusão e eu como
contexto).
Passageiros Indesejáveis de D.Edna
Hexaflex de D. Edna
Tabela dos Valores
Área de importância Saúde Família

Como eu quero ser nesta 1. Estar bem fisicamente 1. Amorosa


área? 2. Bem disposta 2. Acolhedora
3. Menos dor possível
Coisas que posso fazer: 1. Evitar sal 1. Reservar tempo para
2. Evitar doces minha família
3. Fazer caminhadas 2. Dar abraços
3. Brincar com os netos
Quais são os possíveis 1. Frustração 1. Querer que todos
obstáculos? 2. Desejo por doces concordem comigo
3. Cansaço 2. Irritação
O que posso fazer para 1. Aceitação 1. Aceitação
trabalhar com eles rumo à 2. Desfusão 2. Desfusão
minha vida significativa: 3. Atenção plena

1. Armadilha de dedos 1. Convidado indesejado


Exercícios: 2. Dar nome à história 2. Cacto da escolha
3. Meditação por um
instante
ACT e TCC: é possível integrar?
• Uma vez que o paciente identifique seus
valores e se comprometa com a ação, o que
ele vai fazer para ir rumo à vida significativa
pode envolver estratégias também de TCC.

• Desfusão necessariamente se afasta da


reestruturação?
– Ao entender que estou pensando algo, estou
tendo um novo entendimento sobre esse algo?
ACT e TCC: é possível integrar?
• ACT e TCC são teoricamente e filosoficamente
distantes, mas na prática, ambas podem
aliviar o sofrimento humano (mesmo sendo
integradas)

• Teorias são construções humanas


– Logo, sempre passíveis de críticas e novos
entendimentos.
Para finalizar:
• A mente é como um tigre não domado. O exercício da
ACT é doma-lo para que ele não nos dirija para o
precipício.

• Frear a mente ao se distanciar dela.

• Aceitar que temos fenômenos internos que foram


adicionados à nossa rede linguística ao longo de nossas
vidas.

• Identificar os valores e comportar-se de forma


comprometida, rumo à vida significativa.
• Tenho vários pensamentos e sentimentos.

• Eles são incontroláveis.


• Relacionar-me com eles de outro modo significa
• Aceita-los e distanciar-me deles.

• Para ir rumo à vida significativa,

• Irei comprometer-me com meus valores

• Abraçando o meu “eu” gentilmente, compassivamente.


Referências
• Hayes, S.C., Strosahl, K.D., & Wilson, K.G. (2012). Acceptance and Commitment Therapy 2nd Edition. New York: Guilford.

• Hayes, S.C., Folette, V. M., & Linehan, M.M. (2004). Mindfulness and Acceptance: expanding the cognitive-behavioral
tradition. New York: Guilford.

• Saban, M.T. (2011). Introdução à Terapia de Aceitação e Compromisso. Santo André: ESETec.

• Harris, R. (2011). Liberte-se: evitando as armadilhas da procura da felicidade. Rio de Janeiro: Agir.

• Harris, R. (2009). ACT made simple. Oakland. New Harbinger.

• Pergher, G.K., & Melo, W.V. (2014). Terapia de Aceitação e Compromisso. In W.V. Melo (org.). Estratégias Psicoterápicas e a
terceira onda em terapia cognitiva. Novo Hamburgo: Sinopsys.

• Stoddard, J.A., & Afari, N. (2014). The Big Book of ACT Metaphors. Oakland: New Harbinger.

• Strosahl, K., Robinson, P., & Gustavsson, T. (2012). Brief Interventions for Radical Change: principles & practice of Focused
Acceptance and Commitment Therapy. Oakland: New Harbinger.

• Hayes, S.C. , & Smith, S. (2005). Get Out of Your Mind & Into your Life. Oakland: New Harbinger.

• Blackledge, J.T. (2015). Cognitive Defusion in Practice. Oakland: Context Press.

• Polk, K., & Schoendorff, B. (2014). The ACT Matrix: a new approach to building psychological flexibility cross settings &
populations. Oakland: Context Press.

• Strosahl, K., Robinson, P., & Gustavsson, T. (2015). Inside this Moment. Oakland: Context Press.

• https://contextualscience.org/
Contatos:

• heitorph@gmail.com

• (21) 98668-09086

• Heitor Hirata Psicologia

Você também pode gostar