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TCC PARA MINORIAS

A
INTERSECCIONALIDADE
NA PRÁTICA CLÍNICA

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AUTORAS
Carolyne Batista Juvenil
Psicóloga pela UFRJ, com atuação em
Terapia Cognitivo-comportamental.
Terapeuta do Esquema (Wainer Psicologia/
International Society of Schema Therapy).
Pesquisadora do Laboratório de Pesquisa
Integrada do Estresse - LINPES/IPUB/UFRJ.
Pesquisa questões relativas a racismo e
promoção de saúde mental da população
negra em terapia cognitivo-comportamental
e terapia do esquema.
Diana Soledade Camera
Mestra em psicologia pela UFRJ.
Colaboradora do NUDS/IPUB/UFRJ (Núcleo
de Disfunções Sexuais), pesquisa
estereótipos sobre minorias sexuais e de
gênero, sexualidade de pessoas LGBT e
demandas específicas de pessoas
transgênero.
Fernanda Paveltchuk
Mestre pela PUC-Rio. Pesquisa estresse de
minorias, vulnerabilidade psicossocial e
saúde mental de pessoas LGB. Atualmente é
doutoranda no IPUB/UFRJ, e estuda
possíveis efeitos negativos de um protocolo
de manejo de estresse de minoria em
clientes LGB.
Karla Glória
Psicóloga formada pela UFRJ. Pesquisadora
do Laboratório Integrado de Pesquisas do
Estresse IPUB/UFRJ. Estuda questões
relativas a violência doméstica e Transtorno
de Estresse Pós-Traumático.

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O QUE É
INTERSECCIONALIDADE?

Kimberlé Crenshaw

O conceito de interseccionalidade foi


desenvolvido por Kimberlé Crenshaw (1989) com
o objetivo de salientar como opressões de gênero
e raça se sobrepõem, e sinalizar as diferenças na
experiência de mulheres negras e brancas.

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Todos os indivíduos têm múltiplas
identidades sociais. Algumas dessas
identidades são baseadas em privilégios e
outras, em opressões.

Confira alguns exemplos abaixo:

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Não apenas intersecções de
opressões existem, mas também
intersecções mistas e intersecções
de privilégio.

É possível que, dentro de todas as identidades


que possuímos, tenhamos privilégios e
opressões. Por exemplo, é possível ser mulher
cisgênero, negra e lésbica: assim, há três
estruturas de opressão (mulher, negra, lésbica) e
uma de privilégio (cisgênero). Por outro lado, um
homem cisgênero, heterossexual, branco possui
quatro identidades privilegiadas (homem,
cisgênero, heterossexual, branco). Quanto mais
identidades oprimidas uma pessoa tenha,
provavelmente mais contato com estressores
específicos provenientes dessas opressões essa
pessoa terá. A teoria do estresse de minorias nos
ajuda a compreender melhor como isso
acontece.

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O que é o estresse de
minoria interseccional?

A teoria do estresse de minoria foi inicialmente


desenvolvida por Winn Kelly Brooks (antes Virginia
Brooks) em 1981, com a premissa de que, dado um
determinado status social tido como inferior ou
estigmatizado baseado em uma característica
específica (como gênero ou raça), um indivíduo
poderia desenvolver maiores níveis de patologias
psicológicas e biofísicas (Brooks, 1981). A teoria,
inicialmente explanada a partir das opressões
experienciadas por mulheres lésbicas, postula que
a sobreposição de status de minoria pode levar a
um contato cumulativo com estressores crônicos
específicos derivados da vulnerabilidade social.
Esses estressores foram classificados pela autora
como internos ou externos. A teoria ganhou força
com o passar dos anos a partir da realização de
diversos estudos epidemiológicos que utilizaram o
modelo teórico e o testaram.

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Entende-se que, desde a concepção da teoria, por falar em
status cumulativo de minoria, e consequente, contato
cumulativo com estressores específicos de minoria, Brooks
desenvolveu um modelo teórico interseccional, embora não
tenha utilizado a palavra propriamente dita.

Atualmente, artigos que utilizam o termo estresse de minoria


interseccional (intersectional minority stress) têm sido
publicados para destacar a necessidade de compreensão de
vivências específicas das pessoas que não apenas têm um
acúmulo de estressores, mas novos estressores específicos de
REGULAÇÃO EMOCIONAL.
sua múltipla condição de minoria – por exemplo, estressores
específicos de pessoas negras LGBT+ dentro da comunidade
LGBT, dentro da comunidade negra e na sociedade como um
todo, que estipula a cisheteronormatividade e a branquitude
como ideais.

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Mas a clínica deve ser
interseccional?

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)


tem testado intervenções com o objetivo
específico de manejo de estresse de minoria
interseccional: o AWARENESS é uma
estratégia cognitivo-comportamental que
tem como objetivo o trabalho clínico com a
sobreposição de estressores de homens não-
heterossexuais com HIV e uso abusivo de
substâncias (Flentje, 2020).

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Uma revisão sistemática recente
investigou quão interseccionais são
as intervenções em saúde mental
para pacientes de minorias sexuais,
classificando o grau de discussão de
Interseccionalidade em baixo, médio
e alto (Huang, Ma, Craig, Wong, &
Forth, 2020).
Os autores encontraram um baixo número de
artigos explorando essa questão de maneira
adequada: dos 43 artigos analisados, apenas 7
foram classificados como grau alto em relação à
interseccionalidade(Huang et al., 2020).
A perspectiva da Interseccionalidade pode nos
auxiliar na prática clínica mesmo atendendo a
pessoas que fazem parte de grupos privilegiados
– mas especialmente quando recebemos pessoas
em vulnerabilidade biopsicossocial no
consultório. A compreensão de que temos
experiências diferentes vivendo em uma mesma
estrutura político-social é crucial ao avaliar o
caso e planejar o tratamento.

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E como promover uma
clínica interseccional?

Estabelecer uma prática clínica em TCC, que


seja interseccional, requer considerar o lugar
social que os clientes ocupam em todos os
momentos da psicoterapia. Isso quer dizer
que desde a avaliação até a prevenção de
recaídas o/a psicoterapeuta deve considerar
o contexto em que seus clientes estão
inseridos e a que diferentes estressores de
minoria estão submetidos (Borsa, 2019).

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Para avaliar, conceitualizar o caso, realizar análise
funcional e propor um plano de tratamento,
pesquisadores como Pachankis, Safren (2019) e
Skinta (2020) sugerem contemplar aspectos, que
aqui, sistematizamos da seguinte forma:

1) Preditores – ter presenciado ou vivenciado


preconceito, discriminação e/ou violência;

2) Aspectos situacionais – o que atualmente motiva


o cliente a buscar psicoterapia;

3) Reações – pensamentos negativos, expectativa de


rejeição, vergonha e/ou medo frente a própria
identidade social; 4) Fatores de manutenção – como
o contexto em que o cliente vive contribui para que
seu problemas/sintomas se mantenham;

4) Consequências – evitação, ocultação,


compensação e orgulho frente a identidade social; e

5)Fatores de proteção – aspectos internos e


contextuais que podem amortecer os efeitos do
estresse de minoria interseccional.

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No que diz respeito a intervenções, as ferramentas
comumente utilizadas na TCC podem ser úteis se
estiverem em consonância com o que foi
compreendido através da conceitualização e da
análise funcional. Muitos clientes que vivenciam
diferentes estressores de minorias podem se
beneficiar ao buscar e manter uma rede de suporte
social, reestruturar crenças e pensamentos
distorcidos a seu respeito, criar estratégias de
enfrentamento de resistência, manejar possíveis
riscos e desenvolver uma identidade positiva
(Juvenil & Camera, no prelo)

A partir das informações supramencionadas, fica


claro que as/os terapeutas devem desenvolver
competências culturais, ou seja, compreender e agir
considerando como os aspectos culturais podem
impactar na eficácia de sua atuação (Boroughs,
Bedoya, O'Cleirigh, & Safren, 2015). Antes mesmo de
desenvolver competências culturais, devemos ter
humildade cultural,que como Santana (2018)
afirma, trata-se do processo contínuo de
autorreflexão e autocrítica que nos permite valorizar
a diversidade.

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Assim, podemos pensar que a postura de
humildade cultural, com interesse em
diversidade e reflexão sobre seu próprio
lugar social, deve ser associada ao
aprendizado de competências específicas
para atender às demandas de sujeitos de
minorias sociais. É por isto que dizemos que
empatia e compaixão são bons pontos de
partida, mas não são a linha de chegada. Os
conhecimentos do psicólogo clínico
precisam ser atualizados para que a prática
clínica não produza efeitos negativos para
pessoas em vulnerabilidade social e
promova a saúde psicológica.

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Como acontece na
prática?

Vamos pensar no caso de Antônio para


ilustrar a prática clínica atenta à
interseccionalidade. Ele é um homem negro
e bissexual. Tem tido crises de ansiedade
intensas, especialmente em situações
sociais. Ao realizar a avaliação do caso,
estabelecer a relação terapêutica e o plano
de tratamento, a ter a informação sobre os
dois status sociais de Antônio levará a uma
série de diferentes condutas do psicólogo, a
depender do seu nível de conhecimento de
competências culturais.

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Alguns exemplos são:

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CONCLUSÃO

Uma clínica interseccional em Terapia Cognitivo-


comportamental pauta-se na melhor evidência
científica disponível e no conhecimento e
atenção a dinâmicas de opressão.

Assim, o terapeuta cognitivo-comportamental


compromete-se com uma clínica engajada na
promoção de saúde para grupos socialmente
oprimidos, e não com a manutenção das
estruturas sociais que os adoecem.

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FORMAÇÃO EM TCC PARA MINORIAS

Esperamos que você tenha feito uma


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BIBLIOGRAFIA
Referências:
Boroughs, M. S., Bedoya, C. A., O’Cleirigh, C., & Safren, S. A. (2015). Toward
defining, measuring, and evaluating LGBT cultural competence for
psychologists. Clinical Psychology: Science and Practice, 22(2), 151–171.
https://doi.org/10.1111/cpsp.12098
Borsa, J. callegaro. (2019). Avaliação psicológica aplicada a contextos de
vulnerabilidade psicossocial. São Paulo: Vetor.
Brooks, V. R. (1981). Minority stress and lesbian women. Lexington. MA:
Lexington Books. doi, 10, 2068618.
Crenshaw, K. (1989). Demarginalizing the intersection of race and sex: A
black feminist critique of antidiscrimination doctrine, feminist theory and
antiracist politics. u. Chi. Legal f., 139.
Flentje, A. (2020). AWARENESS: Development of a cognitive–behavioral
intervention to address intersectional minority stress for sexual minority
men living with HIV who use substances. Psychotherapy, 57(1), 35–49.
https://doi.org/10.1037/pst0000243
Huang, Y. T., Ma, Y. T., Craig, S. L., Wong, D. F. K., & Forth, M. W. (2020). How
intersectional are mental health interventions for sexual minority people?
A systematic review. LGBT health, 7(5), 220-236.
Juvenil, C.B. & Camera, D.S. L. (no prelo) Manejo da interseccionalidade
entre sexismo, cissexismo e racismo na terapia cognitivo-
comportamental. Sexualidade e gênero em psicoterapia: práticas
baseadas em evidências.
Pachankis, J. E., & Safren, S. A. (2019). Handbook of Evidence-Based Mental
Health Practice with Sexual and Gender Minorities. Canada: Oxford
University Press.
Santana, C. (2018). Humildade cultural: conceito estratégico para abordar
a saúde dos refugiados no Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 34(11).
https://doi.org/10.1590/0102-311x00098818
Skinta, M. D. (2020). Contextual Behavior Therapy for Sexual and Gender
Minority Clients: A Practical Guide to Treatment. Routledge.

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A INSTITUIÇÃO
Temos a missão de oferecer o ensino de excelência em
psicologia clínica, na abordagem cognitivo-
comportamental, tendo como referência a prática
baseada em evidências;

Promover a desenvolvimento de terapeutas cognitivo-


comportamentais através de cursos de especialização e
formação, com ênfase na prática clínica;

Proporcionar, a estudantes e profissionais, capacitação e


atualização de conhecimentos na área de saúde mental;

Propiciar um ambiente de aprendizado com base no


acolhimento e integração entre alunos e professores, que
favoreça a construção duradoura de uma rede de apoio
profissional;

Viabilizar palestras e consultorias em parceria com


outras empresas / instituições.

"Agradecemos a parceria com o grupo TCC


para minorias para trazer para os nossos
alunos uma formação com temas tão
importantes para a prática clínica."

Rafael Thomaz
Psicólogo Clínico.
Doutor e Mestre em saúde mental pela UFRJ.
Diretor da Foco TCC

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