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NEUROCIÊNCIAS,

NEUROPSICOLOGIA
E A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO

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NESTE E-BOOK VOCÊ VAI ENCONTRAR:
• Caso clínico - O exemplo de um psicólogo que ampliou sua conduta
terapêutica a partir de um desafio no consultório
• Por que entender o funcionamento do sistema nervoso é tão importante para
o psicólogo?
• O que é Neurociência e o que é Neuropsicologia?
• Um breve histórico sobre o conhecimento das funções do cérebro ao longo
do tempo
• Alguns campos de trabalho da psicologia em que o conhecimento da
Neurociência é fundamental e por quê:

1. Psicologia Clínica
2. Diagnósticos e Avaliação Psicológica
3. Psicologia Médica e Hospitalar
4. Diagnóstico Neuropsicológico e Reabilitação Neuropsicológica
5. Neuromarketing

• O cérebro, esta fascinante máquina biológica


• O sistema nervoso primitivo que ainda carregamos
• O cérebro evoluído que desenvolvemos
• Somente os seres humanos têm consciência?
• Arquitetura macroscópica do sistema nervoso

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NESTE E-BOOK VOCÊ VAI ENCONTRAR:

• Um cérebro que atua integrando todas as suas estruturas


• O cérebro e suas partes
• Divisões macroscópicas do encéfalo
• Uma visão microscópica do encéfalo
• Neurônio
• Neuroplasticidade
• Neurogênese
• Neurônios espelho
• Considerações finais
• Referências:

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PSICÓLOGO QUE NÃO
ESTUDA NEUROCIÊNCIAS?
COMO ASSIM?
O exemplo de um psicólogo que ampliou sua
conduta terapêutica a partir de um desafio.

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João chegou a uma psicóloga por indicação
médica, pois há muitos anos sofria com
uma depressão crônica de média
intensidade, falta de motivação e fadiga
constante.

Ele tomava antidepressivos há tempos, mas


eles não alteravam muito o quadro de falta
de entusiasmo pela vida.
A psicoterapia foi recomendada, e durante
muitos meses ele falou de sua vida sem
problemas relevantes, e da sua
incompreensão sobre sua falta de prazer
em tudo.

Distimia (*) foi o diagnóstico que João


recebeu, e a medicação com
antidepressivos mantinha a tristeza e a
apatia de João em níveis controlados.

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Este é um típico quadro que
desafia qualquer psicólogo!
Nada parecia fazer efeito, e a psicoterapia se
arrastava, causando frustração tanto em
João quanto na terapeuta.
Um dia, na sua supervisão, a terapeuta
percebeu que ela tinha que entender sobre
a fisiologia dos sintomas do João, e dos
efeitos físicos da medicação que ele
tomava.

Não adiantava continuar fazendo uma


psicoterapia baseada somente na
subjetividade, em uma escuta empática,
nem mesmo nos protocolos da TCC, que já
havia experimentado com João.
Estava na hora de atuar em outros canais
para ajudar aquele paciente

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Para isto retomou os estudos da química cerebral,
mergulhou no conhecimento dos neurotransmissores,
dos comportamentos, e das dietas que alteravam os
estados emocionais.
Pesquisou os efeitos da medicação na percepção da realidade, e descobriu
inclusive que a serotonina, um dos neurotransmissores responsáveis pela
regulação do humor e pela sensação de bem-estar, é fabricada
principalmente no intestino, e que o bom funcionamento deste órgão é
essencial para o bom estado emocional.

Descobriu também que a medicação que ele tomava poderia estar


contribuindo para a apatia que ele sentia diante dos estímulos da vida, e
que existem vitaminas essenciais para a produção adequada dos
neurotransmissores. Concluiu que existem muitos outros fatores que
poderiam ser elementos para ela planejar uma intervenção mais assertiva no
processo terapêutico do João.

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Assim, em parceria com o médico e um
nutricionista, o psicólogo coordenou uma
intervenção multidisciplinar onde foi
introduzida uma dieta anti-inflamatória
intestinal para regular a produção de
serotonina.

Além disto foi recomendada a


suplementação de vitaminas e
probióticos, além da retomada dos
exercícios físicos, essenciais para fabricação
das endorfinas.

O medicamento antidepressivo foi adequado


na dosagem, e foi planejada a sua retirada
gradativa.

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A diferença foi notada em algumas
semanas, e em poucos meses João estava
se sentindo uma outra pessoa, livre de
psicofármacos e com outra percepção de
mundo.
Hoje ele continua o seu processo
terapêutico, não por causa da distimia,
mas para seguir seu caminho de
autoconhecimento e crescimento pessoal.

(*) Distimia - Distimia é uma depressão


crônica de intensidade moderada que tem
como principal sintoma a irritabilidade, além
de mau humor, baixa autoestima, desânimo,
tristeza e predominância de pensamentos
negativos.

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POR QUE ENTENDER O
FUNCIONAMENTO DO
SISTEMA NERVOSO
É TÃO IMPORTANTE PARA
O PSICÓLOGO?

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Apesar da nossa formação acadêmica em
Psicologia conter algumas matérias
relativas à anatomia e fisiologia do
sistema nervoso, este conhecimento
fornecido pelas faculdades ainda é
insuficiente para uma compreensão
ampliada dos comportamentos, dos
sintomas, e sobre o que interfere na
subjetividade humana, objeto primordial
do nosso trabalho.

O fato de compreendermos que o sistema


nervoso e sua complexidade estão
inevitavelmente envolvidos em todos os
processos objetivos e subjetivos do nosso
funcionamento, faz com que busquemos
estudar cada vez mais sobre esta máquina
biológica, tão intrigante quanto
fascinante.

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Como psicólogos, devemos ampliar nossa
percepção sobre os nossos pacientes,e
compreender os comportamentos
emocionais com bases neurofisiológicas.
Devemos entender todos os fatores
envolvidos, e tratar adequadamente os
transtornos de ansiedade, pânico,
depressão, e outras tantos sofrimentos
psíquicos que nos chegam ao consultório.

Assim, teremos o cuidado de investigar as


possíveis causas fisiológicas e os padrões
de funcionamento do sistema nervoso
envolvidos no sofrimento da pessoa que
nos procura.

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Ao compreender este funcionamento,
podemos desenvolver lideranças,
motivar, transformar crenças
disfuncionais, ajudar pessoas a criar
alternativas inovadoras para velhos
problemas, enfim, nos possibilita exercer
nossa profissão com mais propriedade e
assertividade, somando estas informações
essenciais ao manejo clínico, e todos os
seus pressupostos.

Ao entender que o sistema nervoso está


no comando de absolutamente tudo que
constitui nossa forma de ser neste
mundo, teremos uma visão mais ampla
das nossas possibilidades profissionais
e da nossa capacidade de ajuda.

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O QUE É NEUROCIÊNCIA E O
QUE É NEUROPSICOLOGIA?

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Neurociência
é o estudo interdisciplinar do sistema
nervoso, que engloba várias áreas do
conhecimento como Biologia, Medicina,
Nutrição, Educação, Linguística, e
muitas outras, inclusive a Psicologia,
que vamos destacar aqui.
A intercessão entre a Neurociência e
a Psicologia deu origem a uma nova
área do conhecimento, que é a
Neuropsicologia.

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A Neuropsicologia
é a ciência que trata da relação entre
cognição, emoções, comportamento e a
atividade do sistema nervoso em condições
normais e patológicas.
Um dos objetivos da Neuropsicologia é
identificar qual particular atividade de
um circuito cerebral responsável por um
determinado desempenho cognitivo, um
sintoma, ou um comportamento, produzindo
diagnósticos que vão nortear os tratamentos
médicos e psicológicos.

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UM BREVE HISTÓRICO
SOBRE O CONHECIMENTO
DAS FUNÇÕES DO CÉREBRO
AO LONGO DO TEMPO

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Parece intuitivo e óbvio que as funções
cognitivas dependam do cérebro, mas
este conhecimento foi construído
gradativamente ao longo dos séculos.

A comprovação de que regiões específicas


do cérebro estavam relacionadas com
funções cognitivas específicas só
aconteceu na segunda metade do século
XIX, e desde então vem explicando
diversas patologias físicas e mentais.

Quando uma pessoa sofria uma lesão


cerebral, por dedução os cientistas foram
chegando a algumas conclusões, a partir
das consequências que o paciente
apresentava. Porém o cérebro só podia ser
estudado após a morte, porque não havia
recursos para ser diferente, de forma que
o conhecimento que os cientistas tinham
sobre o funcionamento do cérebro eram
bastante reduzidos. 18
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As neurocirurgias ampliaram bastante este
conhecimento. Nos estudos da
Neuropsicologia existe o clássico exemplo do
paciente HM, que foi submetido a uma
cirurgia encefálica por causa de uma
epilepsia grave, ocasião em que lhe foi
retirado os dois lados do hipocampo.

A partir de então ele passou a não fixar


novos eventos em sua memória, e viveu o
resto da vida como se estivesse acordando
um dia depois da operação. Este caso
contribuiu muito para a compreensão do
processo de memória. O cérebro deste
paciente é estudado até hoje.

Atualmente, os exames detalhados de


imagem trouxeram um grande avanço no
conhecimento sobre o cérebro e suas
funções, permitindo aos cientistas estudá-lo
em pleno funcionamento.

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Até um passado recente, acreditava-se
que o cérebro era imutável, até que
surgiu o conhecimento sobre a
neuroplasticidade.
A neuroplasticidade é um conceito que
vem merecendo muita atenção
recentemente, que consiste na
capacidade do cérebro de se adaptar e
criar novas conexões e circuitos,
quando ele é estimulado.

No final do século XX, os cientistas


provaram que o cérebro produz novas
células ao longo da vida, num processo
chamado de neurogênese. Caía então
um dos mais arraigados mitos da ciência,
que considerava que o sistema nervoso
não era capaz de formar novos neurônios.

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Este fascinante mundo das

Neurociências
só está começando a ser explorado.
Ele avança de tal forma, e desperta tanto
interesse de profissionais e de
apaixonados por esta ciência, que todos
os dias algo novo surge para desvendar
o ainda tão desconhecido universo da
mente.

No entanto ainda há muito


o que descobrir!

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ALGUNS CAMPOS DE
TRABALHO DA PSICOLOGIA EM
QUE O CONHECIMENTO DA
NEUROCIÊNCIA É FUNDAMENTAL

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Psicologia clínica no consultório
O psicólogo que tem conhecimento de Neurociência amplia sua escuta para além
da subjetividade. Ao considerar que todos os aspectos emocionais e
comportamentais das pessoas têm uma correlação anatômico-funcional, o olhar
do psicólogo fica magnificado.

Muitos sintomas podem ser resultado do balanceamento alterado dos


neurotransmissores, do uso de medicamentos, de disfunções ou lesões no
cérebro, de nutrição inadequada, e de inúmeros outros fatores que envolvem esta
complexa estrutura que temos. Hipóteses funcionais devem ser descartadas
quando há suspeita de interferência no aparecimento de sintomas diversos.

Todo psicólogo clínico deveria ter conhecimentos significativos de


Neuropsicologia, Psicofarmacologia e Nutrição, mesmo que ele não atue
diretamente em Diagnósticos Neuropsicológicos e Avaliação
Psicopatológica.

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Diagnósticos e Avaliação Psicológica
Esta área de atuação da psicologia é de extrema importância, pois pode
nortear um tratamento médico ou psicológico. Temos os testes
psicológicos como instrumento de diagnóstico, porém o entendimento do
psicólogo fica especialmente ampliado quando ele consegue relacionar as
evidências dos testes com o funcionamento cerebral.

Isto aumenta a assertividade do laudo e a segurança do psicólogo. Os


testes neuropsicológicos, apesar de não serem restritos ao psicólogo,
ampliam a assertividade dos diagnósticos.

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Psicologia Médica e Hospitalar
Muitas patologias afetam o funcionamento cerebral, e os medicamentos
também. O sofrimento físico e emocional de uma enfermidade muda
os padrões de sentimentos e comportamentos, muitas vezes com alterações
significativas na química cerebral.

Isto pode alterar padrões de comportamento, favorecendo o surgimento de


quadros depressivos e inúmeras varáveis, que devem ser consideradas para o
tratamento psicológico. O conhecimento da Neuropsicologia é essencial para
os psicólogos que atuam nesta área, tanto em consultório como no hospital.

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Diagnóstico Neuropsicológico
e Reabilitação Neuropsicológica
Estes são campos de atuação crescentes no mercado de trabalho
dos psicólogos, e aqueles que pretendem atuar nesta área
necessitam de aprofundamento no estudo das neurociências,
especialmente a Neuropsicologia.

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NEUROMARKETING
Este campo de atuação está sendo ocupado por muitos
profissionais não psicólogos, que estudando
Neurociência procuram entender como funciona o
cérebro em relação ao consumo, e como as empresas
devem fazer sua comunicação para que seu público
consumidor seja atingido pela mensagem que se
quer passar. Este mercado de trabalho pode ser
ocupado com muita competência por psicólogos, que
têm uma visão mais completa do ser humano, seus
processos subjetivos, seus sentimentos e
comportamentos.

Porém é importante que ele conheça mais a fundo sobre


os mecanismos cerebrais envolvidos no consumo, e toda
lógica fisiológica que explicam nossos desejos, nossas
necessidades, e emoção envolvida no processo de
compra, e consolidação de uma marca na percepção do
seu público consumidor.
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O CÉREBRO,
ESTA FASCINANTE
MÁQUINA BIOLÓGICA

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VOCÊ JÁ PENSOU
O QUE É REALIDADE?
Vamos começar com um pressuposto muito importante.
Tudo que pensamos, sentimos, acreditamos, vivenciamos,
nossa capacidade de compreensão, nossa maneira de ser,
nossa possibilidade de pensar até sobre os nossos
pensamentos, nossa capacidade de absorver cultura,
formar crenças, e a partir delas criar nosso mapa de
mundo, absolutamente tudo, depende desta estrutura
muito complexa que nós, seres humanos possuímos em
nosso corpo, da forma mais evoluída que temos
conhecimento, que é o nosso cérebro.

O cérebro interpreta o mundo e cria a realidade que


percebemos, através de uma complexa rede que envolve
células especializadas, substâncias químicas, corrente
elétrica e particularidades anatômicas. Esta máquina
biológica também sofre influências determinantes pela
nutrição e estilo de vida da pessoa.
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Portanto, podemos supor que
a realidade é relativa, e que
uma mesma ocorrência pode
ser percebida de diversas
formas por pessoas diferentes.
Este pressuposto é muito importante para a psicologia,
pois nos coloca diante da forma absolutamente singular
de cada indivíduo perceber e interpretar um
acontecimento, e reforça ainda mais a necessidade de
desenvolver a empatia e a flexibilidade na forma de
atendimento dos nossos pacientes.

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O CÉREBRO E
A EVOLUÇÃO

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As estruturas cerebrais são resultado da evolução,
e têm origem na pré-história, há bilhões de anos, a
partir de uma forma de vida muito simples.
Cientistas supõem, que há cerca de 2 bilhões de anos, algumas bactérias
desenvolveram a capacidade de produzir sinais elétricos quando se moviam.
Há 600 milhões de anos, nas águas vivas, surgiram os primeiros sistemas
nervosos, ainda bem rudimentares.

Há 500 milhões de anos surgem as Planárias, uma classe de vermes com


sistema nervoso simétrico e bilateral, com sensores de luz. Acredita-se que
estas estruturas sensíveis a luz são protótipos dos olhos de hoje. A
bilateralidade é uma característica da evolução que seguiu em etapas
seguintes. Evolutivamente depois, vieram os peixes primitivos com um
sistema nervoso mais complexo.
É interessante observar que o processo evolutivo começou na água, e só
depois de muito tempo continuou fora dela, com o surgimento dos anfíbios e
depois dos répteis. Depois dos répteis, a evolução continuou em duas
ramificações distintas, a das aves e dos mamíferos.

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Uma analogia interessante pode
ser feita para uma melhor
compreensão desta questão:
Imagine a construção de uma casa, que vai sendo feita
sem um projeto final. Primeiramente a pessoa constrói
o mínimo para abrigá-la, por exemplo um cômodo
multifuncional. Depois ele vai tendo outras
necessidades e então ele constrói mais um quarto,
depois outro, depois mais um banheiro, depois uma
varanda, um segundo andar, e por aí vai.
A casa já está bem maior, mais funcional, mas o
primeiro cômodo ainda está lá, assim como os
seguintes que foram sendo construídos aos poucos.

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O SISTEMA NERVOSO
PRIMITIVO QUE AINDA
CARREGAMOS

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Assim como esta casa, nosso sistema nervoso de
hoje tem as estruturas primitivas que surgiram no
início da evolução. Estas estruturas são conhecidas
popularmente como

“cérebro reptiliano”
em uma referência ao cérebro animal que nós, seres
humanos, carregamos desde o princípio do processo
evolutivo. Prefiro chamar estas estruturas de sistema
nervoso primitivo ou instintivo.
Isto explica por que seres evoluídos como o ser
humano tem emoções, reações e comportamentos
primitivos e irracionais.

Nosso instinto de autopreservação e de reprodução


é tão intenso como o dos animais, e só é regulado
pelas conexões com o nosso “sistema nervoso
evoluído”, capaz de racionalizar nossos impulsos e
decidir como agir.

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Isto explica por que tantas pessoas têm reações
inexplicáveis pela razão. Isto explica por que as
pessoas têm paixões que não escolheriam
conscientemente, tem impulsos que as
direcionam para caminhos contrários ao que seria
recomendável racionalmente.

Isto explica também as compulsões diversas, os


gostos inexplicáveis pela ótica da razão, o sexo
como destaque na nossa sociedade, os
comportamentos coletivos, as reações impulsivas,
as fobias, as ansiedades e tantas outros
comportamentos e sintomas tão comuns.

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Concluindo, nosso sistema nervoso primitivo tem a função de economizar
energia, nos manter vivos, e perpetuar a espécie. Ele controla nossas
funções vitais e reprodutivas. Ele é instintivo e suas reações não passam pela
razão. Ele acende o alarme quando algo nos ameaça a sobrevivência, e nos
faz interessados em sexo, com preferências nem sempre compreendidas.
Nosso sistema nervoso primitivo não interpreta, não racionaliza. Ele age
automaticamente para cumprir suas funções primordiais.

Tudo seria como nos animais, porém esta parte do nosso encéfalo é ligada a
outras estruturas mais desenvolvidas e especializadas. A capacidade de avaliar
e decidir é o que nos torna humanos.

É o famoso “livre arbítrio” que em algum


momento da evolução passou a ser o grande
diferencial dos humanos.

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O CÉREBRO EVOLUÍDO
QUE DESENVOLVEMOS

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Em nosso processo evolutivo, desenvolvemos
estruturas cerebrais avançadas, capazes de
interagir com nosso cérebro primitivo.
Estas estruturas possibilitam a nossa diferenciação como espécie,
propiciando uma possibilidade de “conversa” com nossos impulsos
primários para que possamos atuar de forma intencional nas nossas
escolhas e modo de viver.

O córtex cerebral, é responsável por este lado evoluído da nossa


espécie humana. Ele nos diferencia dos animais, principalmente na
capacidade de racionalizar e fazer escolhas conscientes, além de
várias outras habilidades que só os humanos têm.

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SOMENTE OS
SERES HUMANOS
TÊM CONSCIÊNCIA?

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Estudos recentes mostram que os
animais também possuem inúmeras
capacidades cognitivas e afetivas
semelhantes aos humanos, o que
tem muita lógica, considerando a
sobreposição evolutiva.
Inúmeras experiências mostram que existe um
nível de consciência em muitas espécies animais.
A declaração de Cambridge que trata deste
assunto, diz o seguinte:

"A ausência de um neocórtex não parece impedir


que um organismo experimente estados afetivos.
Evidências convergentes indicam que animais não
humanos têm os substratos neuroanatômicos,
neuroquímicos e neurofisiológicos de estados de
consciência juntamente como a capacidade de
exibir comportamentos intencionais.

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Consequentemente, o peso das
evidências indica que os humanos não
são os únicos a possuir os substratos
neurológicos que geram a consciência.
Animais não humanos, incluindo todos
os mamíferos e as aves, e muitas outras
criaturas, incluindo polvos, também
possuem esses substratos
neurológicos".

Isto explica e justifica o crescente


movimento pelo veganismo, e pela
luta para proteção e reconhecimento
dos direitos dos animais.

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ARQUITETURA
MACROSCÓPICA
DO SISTEMA NERVOSO

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O nosso sistema nervoso
é dividido em sistema nervoso central,
constituído pelo encéfalo e pela medula
espinhal e pelo sistema nervoso periférico
(nervos cranianos e raquidianos). O encéfalo é
formado pelo cérebro, cerebelo, bulbo,
elementos importantes na
constituição nervosa do nosso organismo.
Para iniciar a compreensão do encéfalo,
vamos falar um pouco sobre a arquitetura
desta estrutura.

Macroscopicamente, ele pesa cerca de 1,3 a


1,5 Kg, tem uma textura parecida com uma
borracha, e tem giros e sulcos em seu
aspecto físico. Ele é composto por diversas
estruturas que interagem entre si formando
um grande circuito com impulsos elétricos e
substâncias químicas, que regulam o seu
funcionamento.
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O nosso sistema nervoso é dividido em:

sistema nervoso central sistema nervoso periférico

Nervos Raquidianos
Cranianos
Encéfalo
• Nervos
Cranianos

• Nervos
Medula espinhais e
Espinhal gânglios

• Nervos
periféricos
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UM CÉREBRO QUE ATUA
INTEGRANDO TODAS AS
SUAS ESTRUTURAS

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É a conexão entre o
cérebro primitivo e
o cérebro evoluído
que nos faz ter senso crítico, fazer escolhas,
refletir eticamente, adquirir conhecimento e
organizá-lo para aplicá-lo, estabelecer regras
de convivência, frear os instintos, controlar as
compulsões, interpretar situações, e desenvolver
diversas outras habilidades.
Da possibilidade desta interlocução está nosso
poder de escolha sobre como agir, e sobre como
tomar as decisões mais adequadas.

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Anatomicamente a parte primitiva do nosso encéfalo está localizada no seu
centro, e é responsável pela sobrevivência. Em volta, fica o chamado Sistema Límbico,
que de maneira geral coordena as emoções, o humor, a memória e o aprendizado. A
parte mais recentemente evoluída fica localizada na parte externa, e tem funções
cognitivas bastante especializadas.

Sistema
Límbico

Porém, esta é apenas uma referência didática, pois o cérebro funciona como uma
unidade inteiramente relacionada, com circuitos e funções que se interpenetram e se
completam, fazendo uma complexa e intrigante cadeia de conexões, que

determinam toda a nossa existência.


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O CÉREBRO E
SUAS PARTES

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Olhando pelo ângulo externo do cérebro, temos
dois hemisférios, direito e esquerdo e os
diversos lobos, cada um especializado em
determinadas funções, porém todas as partes se
inter-relacionam em um circuito funcional de
alta complexidade. Muitas funções cognitivas
usam circuitos que envolvem os dois hemisférios
simultaneamente. As conexões são feitas
através dos neurônios, que são as células do
sistema nervoso.
Existem também as chamadas especializações
hemisféricas, que são funções predominantes de
cada lado do cérebro, sendo que o hemisfério
esquerdo executa primordialmente as
funções verbais e funções mais objetivas, e o
direito as funções não verbais e mais
subjetivas.
Por exemplo, o lado esquerdo percebe o
significado da fala e o direito a entonação.
O hemisfério direito comanda o lado esquerdo
do corpo, e o hemisfério esquerdo comanda o
lado direito. 50
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Divisões macroscópicas do encéfalo:
Lobo Frontal – Lobo Parietal – Lobo Temporal – Lobo Occipital – Sistema
Límbico –– Ventrículos - Cerebelo
O córtex pré-frontal, subdivisão didática do Lobo Frontal, localizado na
direção da nossa testa e rosto foi a última região cortical a se desenvolver. Esta
parte merece destaque porque é nela que ocorre os processos mentais e
cognitivos mais complexos.

Lobos
Cerebrais

Lobo Frontal
Lobo Occipital
Lobo Temporal
Lobo Pariental

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Uma visão
microscópica do cérebro
Todo nosso tecido nervoso é composto de
uma célula diferenciada e especializada que
se chama neurônio. Cientistas calculam que
temos cerca de 86 bilhões de neurônios,
que recebem e transmitem informações
simultaneamente, em uma sincronia e
organização sem comparação.

Estima-se que cada neurônio faz de 1.000


a 10.000 conexões em média.
Isso nos faz imaginar o número
absurdamente grande de combinações
destas conexões!

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• Corpo
Celular

• Núcleo
Neurônio • Dentritos
tem a forma parecida com uma árvore.
Nesta metáfora, os galhos desta árvore são
os dendritos, o tronco é o axônio, e as raízes
representam sua parte terminal, que se
conecta a outro neurônio. Bainha de
As membranas dos dendritos têm características Mielina
bioquímicas que funcionam excitando e inibindo os
disparos elétricos que percorrem o sistema
nervoso. • Axônio
O axônio é o caminho, a trilha por onde corre o
impulso elétrico. Em alguns neurônios este
caminho é revestido por uma camada de gordura,
como se fosse uma capa de um fio elétrico. Esta
camada tem o nome de Bainha de Mielina.

• Final do
Axônio 53
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Estes neurônios revestidos pela Bainha de
Mielina formam a parte branca do
cérebro, que fica concentrada na sua parte
interna. A parte cinzenta visível do cérebro
fica localizada na sua parte externa. Esta
camada de gordura é um isolante elétrico
que permite uma condução mais rápida e
mais eficiente dos impulsos nervosos.
Substância Branca
Nos extremos dos axônios ficam pequenas Substância Cinzenta
vesículas onde são depositados os
neurotransmissores. Estas estruturas
liberam estas substâncias químicas nas
fendas sinápticas, que são pequenos Neurotransmissor
espaços entre os neurônios. Algumas
substâncias promovem os disparos elétricos
entre os neurônios, enquanto outras
substâncias inibem estes disparos, que são
regulados pelo balanço entre dois
elementos químicos, o sódio e o potássio.
O resultado destes disparos faz a realidade
que percebemos, o que sentimos, o que
pensamos, promovem nossas habilidades,
controlam nossos movimentos, nossas
funções vitais, nosso mundo inconsciente,
enfim, regem a grande orquestra da nossa
existência. 54
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O resultado destes disparos faz a
realidade que percebemos, o que
o que pensamos,
sentimos,
promovem nossas
habilidades, controlam
nossos movimentos, nossas
funções vitais
nosso mundo inconsciente, enfim,
regem a grande orquestra da nossa
existência.

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Neuro-
plasticidade

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Esta é uma palavra que está
atualmente no centro das
atenções, e isto interessa
muito à psicologia!
Neuroplasticidade é a capacidade do cérebro
de se adaptar às mudanças. Trata-se da
habilidade do cérebro de reorganizar os
neurônios e os circuitos neurais, moldando-se
em níveis estruturais, por meio de
aprendizagem e vivências.

Estaa descoberta traz esperança para inúmeras


pessoas que podem decidir a operar mudanças
no comportamento, e com isto adquirir novas
capacidades ou potencializar habilidades.

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É como se o cérebro respondesse a uma
ginástica e criasse caminhos alternativos,
potencializando as conexões neuronais,
ampliando as possibilidades de
aprendizado, percepção, habilidades e
demais funções cerebrais.

Os cientistas ainda não decifraram


completamente como isto acontece, mas
sabe-se que até os dois anos de idade a
neuroplasticidade ocorre de forma mais
intensa, sendo um período da vida de
fundamental importância para o
desenvolvimento saudável da criança.
Esta capacidade plástica do cérebro
continua pela vida afora e pode ser
estimulada sempre, inclusive na maturidade.

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Lea Grinberg, uma das coordenadoras
do banco de cérebros da USP, diz que “o
cérebro é como um músculo: se você
exercita, você está mais protegido
contra problemas”

As pessoas podem estimular a criação


de novos caminhos neuronais através
da introdução de novos hábitos de vida
como aprender um novo idioma,
aprender a tocar um instrumento, viajar,
conhecer novas pessoas, estudar um
assunto diferente do habitual, e até
passar por caminhos diferentes no dia a
dia. Enfim, estimular áreas diferentes
do cérebro faz com que novos
circuitos e conexões possam ser
formados.

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O papel do psicólogo diante desta
informação é orientar o seu paciente
no sentido de informá-lo sobre este
fato, e estimular estes novos hábitos
de vida, criando metas,
acompanhando o desempenho e
cuidando para que as suas crenças
limitantes não deixem que ele desista.

Especialmente para reabilitação


neuropsicológica, esta informação é
muito relevante, pois é base para
formular um plano de trabalho com o
paciente, visando estimular as áreas
cerebrais necessárias.

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Neurogênese

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Neurogênese
é o mecanismo pelo qual os neurônios
são desenvolvidos dentro do sistema
nervoso. Envolve a formação de
neurônios altamente especializados no
cérebro, e acontece tanto no crescimento
fetal quanto na criança e no adulto.

Os estudos recentes sobre a Neurogênese


no adulto mostram que ela resulta na
formação de novos neurônios maduros, que
podem se integrar ao sistema neuronal
pré-estabelecido.

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Por que a neurogênese
é importante em adultos?
A neurodegeneração é um processo natural que
ocorre no cérebro adulto, principalmente em
idades mais avançadas, no qual os neurônios vão
perdendo sua capacidade funcional.
Portanto, a neurogênese é importante para
combater esse problema, gerando novos neurônios
para substituir os mais antigos, preservando as
habilidades, as capacidades e a memória.

Espera-se que em breve o resultado das pesquisas


sobre a neurogênese ajudem a combater os efeitos
das doenças degenerativas cerebrais como o Mal
de Alzheimer, Mal de Parkinson, dentre outras.
A neuroplasticidade e a neurogênese adulta têm
funções análogas e complementares, e acontecem
simultaneamente em um processo praticamente
indivisível.

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Neurônios
Espelho

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Neurônios espelho
são as células do cérebro que disparam sua
atividade não apenas quando realizamos uma
ação específica, mas também quando
observamos alguém realizar a mesma ação.

Os neurocientistas acreditam que esse


"espelhamento" é o mecanismo que nos permite ter
empatia pelo outro. Através do espelhamento
podemos discernir características das expressões
faciais, e principalmente aprender por imitação.
Acredita-se que esse processo seja o mecanismo
neural pelo qual as ações, intenções e emoções de
outras pessoas possam ser automaticamente
compreendidas.

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Também suspeita-se que a disfunção dessas
células-espelho possa estar envolvida em
distúrbios como o autismo, onde os sinais clínicos
podem incluir dificuldades na comunicação verbal e
não verbal, imitação e empatia pelos outros.
Portanto, obter uma melhor
compreensão do sistema de
neurônios-espelho pode ajudar a
conceber estratégias para o
tratamento desse distúrbio.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considero que a curiosidade e o espírito
investigativo são atributos indispensáveis
de um bom psicólogo.

Nossa profissão pede atualização constante, e


pesquisar sobre o corpo humano como um todo,
especialmente sobre o sistema nervoso e seu
funcionamento, é a base para uma atuação
consciente sobre a qual podemos utilizar diversas
abordagens ou linhas terapêuticas.
Entender sobre os fundamentos fisiológicos que
podem estar por trás de problemas emocionais e
comportamentais é essencial para que possamos
discernir quando precisamos de ajuda
multidisciplinar, ou mesmo quando precisamos
intervir objetivamente nos hábitos de vida de
nossos pacientes.

Este material foi preparado com informações


básicas para que possa servir de primeiro passo
para uma jornada fascinante de aprendizado, pois
ser psicólogo significa estudar constantemente.
E como diz o nosso lema, “Conhecimento é para
sempre!”. 67
BONS ESTUDOS! www.cicloceap.com.br
REFERÊNCIAS
• News Medical
• Neuropsicologia – Das bases anatômicas à
reabilitação – Ricardo Nitrini
• Curso Neuropsicologia – Ciclo CEAP
• Curso Reabilitação Neuropsicológica – Ciclo CEAP
• Fundamentos da Neurociência e do
comportamento- Eric Kandel
• Canal Neurovox
• Caso clínico relatado por uma aluna do Ciclo CEAP

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