Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
»Democracia (1)
»Democracia (2)
Simultaneamente, o liberalismo advoga a criação de instituições para dar voz ativa aos cidadãos
nas decisões políticas. É a partir disso que ocorre o fortalecimento do Parlamento, órgão de
representação por excelência das forças atuantes da sociedade e capaz de coibir os excessos do
poder central. A expressão "parlamento" se origina do francês "parler", que significa falar. Designa,
portanto, o local onde ocorrem conversações, discussões e deliberações.
A concepção de uma origem parlamentar do poder significa a superação de teorias que remontam
à Antigüidade, segundo as quais o poder vem de Deus ou da tradição familiar (nobreza). Ao
contrário, o voto dado a um parlamentar representa o livre consentimento do cidadão à sua
atuação política, isto é, o mandato popular. É o que ocorre hoje nas democracias representativas,
como a brasileira, em que deputados e senadores são (ou ao menos deveriam ser) representantes
do povo.
Além disso, essas Declarações estabelecem a garantia das liberdades individuais de pensamento,
crença, expressão, reunião e ação, desde que não sejam prejudicados os direitos de outros
cidadãos. Deriva daí a concepção tradicional de liberdade, segundo a qual "a liberdade de cada um
vai até onde o permite a liberdade do outro".
Pode-se questionar ou criticar esse fundamento, mas, na prática, sua capacidade de produzir
riqueza tem sido patente. O problema reside mais na questão da distribuição dessa riqueza. Além
disso, à medida que esses conceitos liberais foram sendo absorvidos pelas instituições dos
diversos países, na Europa e nos Estados Unidos, deu-se um passo significativo em direção à
democracia, tal qual é praticada, em maior ou menor grau, no mundo contemporâneo.
Vale lembrar que dos ideais do liberalismo também se originou o conceito de cidadania que, em
seus primórdios, no século 18, referia-se apenas a direitos civis: à liberdade e à segurança
individual, direito de ir e vir, liberdade de crença e opinião, seu
lugar institucional eram os tribunais e sua vigência dependia da
aplicação progressivamente imparcial da lei.
Os avanços tecnológicos, porém, não corresponderam a uma evolução nas relações sociais,
tornando-as mais justas, ou diminuindo a distância entre o topo da pirâmide social e sua base. Na
Europa do século 19, o contraste entre riqueza e pobreza era cruel, como ocorre hoje em dia nos
países em desenvolvimento. Em contrapartida, a classe operária começou a se unir para
reivindicar os seus direitos num processo que culminará com o desenvolvimento do socialismo
O socialismo considera que o individualismo liberal resulta na defesa de uma classe social em
particular: a burguesia. De qualquer modo, para enfrentar os problemas trazidos pelos novos
tempos, a teoria liberal se adaptou às novas exigências da realidade. O liberalismo tornava-se
cada vez mais democrático, acentuando a necessidade de igualdade jurídica e política, bem como
uma solução para as precárias condições de vida das massas oprimidas. Um dos representantes
dessa tendência, o inglês John Stuart Mill, sugere co-participação dos trabalhadores na gestão e
nos resultados da indústria.
Nos Estados Unidos, por exemplo, para enfrentar a depressão econômica subseqüente à quebra
da bolsa de valores de Nova York (1929), o presidente Franklin D. Roosevelt implantou um
programa conhecido como New Deal, que fez o Estado se tomar o principal agente do
reativamento econômico do país. A construção de grandes obras públicas ajudou a aumentar a
taxa de emprego e foram concedidos créditos para as empresas, além de serem adotadas
inúmeras medidas assistenciais de atendimento aos trabalhadores.
Globalização e neoliberalismo
A partir da década de 1960, o estado do bem-estar social começou a dar sinais de desgaste, em
especial porque as despesas governamentais acabaram por superar a arrecadação ou receita,
provocando um aumento insustentável do déficit público, da inflação e da instabilidade social.
No Brasil - onde o Estado se tornara um poderoso agente econômico entre a Era Vargas e a
ditadura militar - as idéias liberais entraram na ordem do dia dos governos Collor e Fernando
Henrique Cardoso, com a diminuição do Estado, a partir da privatização das estatais, da venda das
empresas públicas que, apesar de pertencerem ao governo, nada têm a ver com as funções do
governo, como bancos e companhias telefônicas.
Não vem ao caso avaliar aqui os resultados dessa orientação "neoliberal" à política brasileira
contemporânea, nem à economia - que se mantém fiel a ela, apesar do governo de Luís Inácio
Lula da Silva, cujo partido sempre se proclamou simpático ao socialismo. O importante é ressaltar
como a influência das idéias liberais se estendem, historicamente, desde o século 18 até os dias
de hoje. A história da humanidade é ao mesmo tempo feita de transformações e permanências.
*Antonio Carlos Olivieri é escritor, jornalista e diretor da Página 3 Pedagogia & Comunicação.