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O legado do liberalismo na primeira metade do século XIX

O Estado como garante da ordem liberal


Liberalismo- uma ideologia centrada na defesa dos direitos do indivíduo.

Os direitos naturais ou direitos do Homem


O ocidente começou a assistir à implantação do liberalismo, um novo
sistema de organização política, económica e social.
↳O liberalismo opõem-se ao absolutismo e a qualquer forma de
tirania política.
↳O liberalismo defende a soberania da nação, a livre iniciativa
económica e promove as classes burguesas

No centro do liberalismo está a ideologia liberal.


O que a ideologia liberal defende?
● Valoriza os direitos do indivíduo.
● Os direitos do indivíduo são a liberdade, a igualdade, a segurança e
a propriedade.
● Estes direitos chamam-se direitos naturais, uma vez que derivam da
condição humana que é naturalmente livre e igualitária.

Os direitos do cidadão; o cidadão e ator político


O cidadão intervém na governação, ou seja, cabe ao cidadão
desempenhar o papel de ator político, exercendo a soberania nacional e
representando a vontade da maioria.

Existiam várias maneiras para a intervenção política dos cidadãos se


expressar:
● Como eleitores - escolhiam os representantes para as assembleias e
cargos políticos
● Como detentores de cargos - elaboravam as leis e administravam o
país, a nível central e local. Participavam em clubes, assistindo a
assembleias onde apresentavam petições, interpelavam deputados
ou onde liam e escreviam nos jornais. O cidadão anónimo
intervinha na vida pública e condicionava as decisões do Estado.

O Liberalismo na 1ºMetade do século XIX fez depender o exercício político


da cidadania de critérios baseados no dinheiro e na propriedade, ou seja,
o sufrágio censitário.
↳ Pois, considerava-se que os eleitores e os governantes com maior
possibilidade económica tinham mais oportunidades de se
esclarecerem e de se instruírem.

Coube à burguesia, classe mais rica e instruída, tomar a iniciativa política.


-Através do sufrágio censitário, reservou para si o poder político e
controlou o acesso às funções públicas e administrativas.

Conceitos:

Sufrágio censitário - Quando só podem votar cidadãos que pagam uma


determinada quantia em dinheiro de impostos.

Soberania nacional - Princípio em que a fonte de poder político reside na


nação. Esta poderá exercer este poder de forma direta ou indireta,
elegendo os seus representantes.

Sistema representativo - Processo em que a tomada das decisões


políticas cabe a um corpo especializado de cidadãos (políticos),
mandatados pela Nação através de eleições.

O liberalismo político; a secularização das instituições


O liberalismo pretende um Estado neutro que respeite as liberdades e
que aplique as leis iguais para todos.

Para evitar o despotismo (despotismo é uma forma de governo na qual


uma única entidade governa com poder absoluto), quer o resultante do
exercício do absolutismo régio, quer a ditadura popular, o liberalismo
político apresenta diversas fórmulas para limitar o poder.
Deve/m existir:
● Diplomas constitucionais
● Separação dos poderes
● Soberania nacional
● Secularização das instituições

O constitucionalismo
Constituição - Diploma elaborado pelos deputados da nação que define
as regras da vida política:

● Estabelece os direitos e as liberdades dos cidadãos; consagrando a


soberania populacional; determinando a forma de governo e de
distribuição dos poderes
É através de constituições que os liberais legitimam o seu poder político,
↳ Este regime pode até ser uma monarquia desde que seja uma
monarquia constitucional.

Quanto às constituições liberais, resultam de dois processos:


● Umas vezes, votadas pelos representantes da Nação, são as
Constituições.
● Outras, outorgadas pelos reis, são Cartas Constitucionais

A separação dos poderes


↳ Para evitar que exista tirania, ou que um órgão político concentre todos
os poderes, existe a distribuição dos diversos poderes pelos diferentes
órgãos de soberania.

A secularização das instituições

O Estado neutro, que respeita os direitos individuais, assume-se também


como um Estado laico.
Laicização- Separação do Estado da Igreja.

O liberalismo económico; o direito à propriedade e à livre iniciativa

Defensor dos direitos e liberdades individuais, o Liberalismo reage contra


qualquer forma de tirania política e econômica.

Liberalismo económico - o Liberalismo é contra qualquer intervenção do


Estado na economia; não lhe reconhece outra atribuição que não seja
garantir a liberdade total da iniciativa privada na produção e na
comercialização de bens.

O liberalismo económico tem raízes no fisiocratismo, pois ambas as


correntes defendem a iniciativa individual e a ausência estatal de
intervenção na economia, insurgindo-se contra o dirigismo mercantilista.

Adam Smith, a este se devem as linhas-mestras do liberalismo


económico.
Para este, só a livre iniciativa em busca de riqueza promoveria o trabalho
produtivo, a poupança, a acumulação de capital e o investimento.
↳ Adam Smith preconizou as leis do mercado, assentes no livre jogo da
oferta e da procura e na livre concorrência.
O liberalismo económico expressava os interesses da burguesia e do
capitalismo e revelou-se uma força vital para o desenvolvimento do
capitalismo industrial do século XIX.

Os limites da universalidade dos direitos humanos; a problemática da


abolição da escravatura

Os Estados liberais nem sempre garantiram aqueles direitos que tiveram,


por exemplo:
● A propriedade continuou privilégio dos abastados, lembrando que
só a burguesia beneficiou com a venda dos bens nacionais.
● A igualdade dos homens foi só na lei, não havia as mesmas
oportunidades para todos.
● O voto censitário predominou nos diplomas constitucionais,
afastando amplas camadas da população de um efetivo exercício
da cidadania, as mulheres, por exemplo, eram excluídas.
● Em termos de liberdade, não existia para todos com a prática das
conquistas territoriais na França revolucionária que desrespeitou
povos e pela manutenção do tráficos de escravos e da escravatura
que ainda existia.

Na frança e nos Estados Unidos da América


A contradição entre a defesa da liberdade e a prática da escravatura
colocou-se, obviamente, aos liberais.

Na França:
● Uma série de medidas foram tomadas pela Assembleia Nacional
Constituinte e pela Convenção, para pôr fim ao esclavagismo
(escravatura).

Nos EUA:
● Os princípios da liberdade e igualdade da Declaração de
Independência de 1776 conviveram contrariemente durante quase
um século com a escravatura de negros.

A abolição da escravatura em Portugal

A problemática da abolição da escravatura em Portugal gravitou em torno


da proibição do tráfico negreiro.
Na 2ºMetade do século XVIII, a legislação pombalina preparou a extinção
da escravatura na metrople, ao proibir o transporte escravos negros para
Portugal e libertando os filhos de escravos.
Razões filantrópicas, econômicas e diplomáticas conjugaram-se no século
XIX, para que Portugal extinguisse o tráfico esclavagista.
● Razões filantrópicas - deveram-se aos defensores dos direitos do
Homem e foram invocadas pela Inglaterra nas inúmeras pressões
que sobre Portugal exerceu para que pusesse fim ao tráfico
negreiro.

● Motivações económicas - na raiz da pressão britânica residiam


motivações económicas.
Interessava à Inglaterra o controle dos recursos agrícolas e minerais
das colônias das economias europeias dependentes como Portugal.
A própria utilização de escravos para o trabalho representava um
verdadeiro anacronismo na sociedade industrial, uma vez que o
modo de produção capitalista assenta no trabalho assalariado.

A Regeneração uma nova etapa entre o livre-cambismo e o


protecionismo

4.1.1. Uma nova etapa política

Em 1851, deu-se um golpe de Estado realizado por Saldanha, tendo tirado


o cardo a Costa Cabral. Assim, surgiu uma nova etapa política, a
Regeneração.

Regeneração- movimento social e político, em que conciliaram as


diversas facções do Liberalismo (Setembrismo, Cabralismo e Absolutismo)
e harmonizaram os interesses da alta burguesia.
Tem como objetivo estabelecer a concórdia social e política e desenvolver
a situação económica do país.

Este período iniciou-se em 1851 e terminou em 1868.

Para o efeito:
● Procedeu-se à revisão da Carta Constitucional
● Surgiu o Ato adicional de 1852 que alargava o sufrágio e estabelecia
eleições diretas para a Câmara de Deputados;
● Assegurou-se do rotativismo partidário, ou seja, alternância no
poder dos partidos políticos realizada de 2 em dois anos;
● Realizaram-se diversas reformas económicas, para lançar o país para
o progresso.
“A Regeneração foi o nome português do capitalismo"- Manuel Villaverde
Cabral

Partidos políticos que surgiram:

4.1.2. O desenvolvimento de infraestruturas. transportes e meios de


comunicação

A Regeneração tomou especialmente atenção ao desenvolvimento dos


transportes e meios de comunicação, pois considerava que estas eram a
base, ou seja, fundamentais para o progresso económico e para a
modernização.

A quantidade de medidas realizadas em prol da modernização e do


progresso do país são chamadas de fontismo.
● O nome provém de Fontes Pereira de Melo, o dinamizador destas
medidas, um engenheiro que desempenhou cargos de ministro da
Fazenda, das Obras Públicas, da Marinha, da Guerra, ...

Medidas que Pereira de Melo tomou:

● O primeiro investimento foi na construção rodoviária. Expandiu-se


uma rede de estradas macadamizadas, tendo a sua extensão
ultrapassado os 9000km.
● Implementou uma revolução ferroviária;
○ O primeiro troço inaugurado pelo rei D. Pedro V ligava Lisboa
ao Carregado. Até ao fim do século o país ficou unido pela
rede ferroviária.
● Construção de pontes;
○ Foram inauguradas grandiosas pontes, indispensáveis para o
êxito da circulação rodoviária e ferroviária. A de D. Maria Pia,
permitiu a chegada do comboio ao Porto, a de Valença uniu
Portugal à Galiza.
● Construção de portos;
○ O porto de Lisboa foi amplificado e criou-se o porto de
Leixões.
● Instalação do telégrafo e do telefone;
● Surgiram os correios, o automóvel e o carro elétrico

Os resultados

Com estas medidas, esperava-se o desenvolvimento das atividades


económicas, especialmente a agricultura e a indústria, para que a mão de
obra, os capitais e os recursos produtivos aumentassem.

Entretanto, através dos transportes (principalmente o barco e o comboio)


e comunicações, as relações internacionais alargaram-se.

4.1.3. A dinamização da atividade produtiva

Sob o signo do livre-cambismo

A regeneração iniciou-se sem querer impor um protecionismo.

Fontes Pereira de Melo, queria exercer livre-cambismo e por isso começou


por publicar uma nova pauta alfandegária, que baixava ou extinguia as
taxas e assim, causava a liberalização do comércio.

Assim, o Estado não interferia, (não regulava produção, as importações e


exportações), ou seja, não devia tomar medidas protecionistas.

Durante quase 40 anos, Portugal adotou uma política livre-cambista, no


entanto ela foi sendo alternada com algumas medidas protecionistas. Por
isso, fala-se num livre-cambismo mitigado.

As manifestações do livre-cambismo foram testemunhadas pela adesão


de Portugal em exposições internacionais/universais.
A exploração capitalista dos campos

A abertura dos mercados externos, resultante do livre-cambismo e o


desenvolvimento dos transportes beneficiaram a agricultura.

A agricultura era a área em que mais havia investimento e a área mais


rentável.

Para melhorar, existiu:

● Libertação de terras feudais;


● Extinção de morgadios;
● Abolição de baldios e pastos;
● A superfície cultivada aumentou, com a existência de terras aráveis
abandonadas;
● Reduziu-se o pousio e a terra foi aproveitada de uma forma mais
intensiva.
● Desenvolveram-se máquinas agrícolas e a utilização de adubos
químicos cresceu;
● Muitas exposições agrícolas e pecuárias que propagandeavam as
novas máquinas e técnicas agronómicas.

Apesar deste progresso, a produção cerealífera ficou aquém.


A inovação tecnológica surgiu na mesma altura em que existia falta de
poder de compra.

Os principais compradores de produtos agrícolas eram França e


Inglaterra, compravam vinho, cortiça, gado vivo, laranjas, frutos secos, ...

Porém, a agricultura foi sendo desenvolvida, mas a indústria nem tanto.

A industrialização
Progressos

Embora a agricultura tenha sido a predileta, a indústria também mereceu


a atenção.

Criou-se o ensino industrial


● Era destinado à formação de técnicos, pois se tivessem técnicos
instruídos, não precisavam contratar uns do estrangeiro para
ensinar.
Para além das indústrias têxtil metalúrgica, os setores de tabaco, papel,
moagem, fósforos, cortiça e conservas mostraram-se promissores.

O número de operários e de unidades industriais cresceu.


A indústria têxtil destacava-se, principalmente a têxtil algodoeira que
utilizava matéria-prima importada.

Existiu um aperfeiçoamento tecnológico:


Aumento de importação de máquinas industriais;
Registo de patentes de invenção;
Aumento da força motriz, proveniente do vapor;

Bloqueios
Apesar deste progresso, as unidades industriais portuguesas
apresentavam uma fraca competitividade internacional, não
acompanhavam os outros países.

Apenas 10% da produção era exportada, algo que explicava o facto de a


indústria ter pouco peso na economia do país.

As manufaturas e o domestic system eram predominantes.

Conjunto de fatores que dificultaram o crescimento industrial português:

● Portugal começou o seu arranque industrial com muito atraso em


relação aos outros países, e por isso, não teve condições para
aguentar a concorrência das potências, algo que foi permitido pelo
livre-cambismo.
○ Com isto, os produtos provenientes da concorrência entravam
facilmente, aumentando a importação do país, Portugal
gastava mais dinheiro, mas como não tinha, criava dívidas e
recorria a empréstimos do estrangeiro.

● O mercado interno nunca foi estimulante, ou lhe faltava poder de


compra ou optava pela produção estrangeira (“o estrangeiro é que é
bom”).
● A falta ou inexistência de matérias-primas (algodão era totalmente
importado, o carvão de má qualidade e o ferro era escasso).
● A importação de matérias-primas faziam encarecer o produto e fez
com que o país se endividasse ao tentar comprar mais
matéria-prima para produzir.
● Falta de preparação de recursos humanos;
○ Empresários e operários estavam mal preparados, não tendo
formação nenhuma, algo que atrasou o processo de
industrialização. Como exemplo, quando tinham lucro os
empresários em vez de investirem no seu negócio
gastavam-no todo em luxos.
● Os capitalistas portugueses não se mostraram muito interessados
no investimento industrial, preferiam o setor imobiliário e
financeiro.
● Assim, Portugal dependia do capital estrangeiro.

4.1.4. A necessidade de capitais e os mecanismos de dependência

O liberalismo econômico facilitou a entrada de capital estrangeiro.


Sendo que, a política de obras públicas fez-se à custa de amplos
investimentos externos.
● Os caminhos de ferro, as principais linhas foram feitas devidas ao
dinheiro do Brasil, da França, da Espanha e da Inglaterra.
● O investimento estrangeiro alimentou as companhias dos
telégrafos e telefones, do fornecimento de gás e água, os
transportes urbanos (Carris), bem como dos seguros, da banca e do
comércio
● Na própria indústria ( principalmente da extração mineira,
atividades corticeiras, tabacos e da metalurgia) havia a participação
de capital estrangeiro.

Oliveira Martins acusou a influência do investimento estrangeiro:


“Os caminhos de ferro, que não são do Estado, pertencem a estrangeiros;
a estrangeiros as nossas minas; estrangeiros levam e trazem o que
mandamos receber por mar.”

A Regeneração estava dependente do capital estrangeiro.

O défice das finanças portuguesas era originado pelo excesso de


despesas relativamente às receitas:
● As receitas ou eram quase inexistentes, não chegando para cobrir as
despesas ou então, iam alimentar fortunas alheias (corrupção);

O aumento dos impostos, uma solução para aumentar a receita do


Estado, não bastou ao Portugal da Regeneração. Nem tão pouco as
remessas de dinheiro dos emigrantes.
↳ Recorreu-se então a empréstimos:
● Em Londres, estavam os grandes banqueiros do Estado
portugues, a casa Baring & Brother.
Uma vez que as finanças portuguesas se encerravam num círculo vicioso
(o de se cobrirem as despesas com empréstimos e se pagarem os juros da
dívida pública recorrendo a novos empréstimos), resultava que o défice
orçamental era cada vez mais elevado e crônico.

4.2. Entre a depressão e a expansão (1880-1914)

4.2.1 A crise financeira de 1880 a 1890

A economia portuguesa atravessou momentos difíceis na penúltima


década do século XIX. Estes momentos resultaram de circunstâncias
externas, mas sobretudo devido aos frágeis alicerces em que estava a
política econômica da Regeneração.

A Regeneração adotou o livre-cambismo, algo que favoreceu as


exportações agrícolas.
No entanto, desde a década de 70, a nossa agricultura perdeu alguns dos
tradicionais mercados de exportação (França e Inglaterra), devido a
algumas conjunturas e da concorrência estrangeira.
● O mercado britânico fechou-se aos vinhos do Douro, optando pelo
xerez espanhol. Deixou as nossas laranjas e substituiu as
importações de gado portugues pela compra de carne congelada
americana.
● A filoxera, uma bactéria, atacava as vinhas a norte e sul do
Mondego, comprometendo a produção de vinhos
● A doença dos bichos-de-seda e a preferência dos franceses pela
seda não europeia resultaram em 1876, na crise e desaparecimento
da produção de seda.

Se as exportações agrícolas diminuíram, as importações de artigos


industriais não davam sinais de enfraquecer.

A industrialização não se desenvolveu tanto quanto a de outros países.


O livre-cambismo inundou o país de produtos industriais estrangeiros,
mais baratos e mais competitivos.

Conclui-se que Portugal estava numa grave situação de crise e de défice,


resultante do saldo negativo entre as importações e exportações. Em
1889-1890, o valor das importações atingiu quase o dobro do valor das
exportações.
A dívida pública, que não parava de crescer devido aos sucessivos
empréstimos.
Portugal estava dependente do capital estrangeiro (pela via de
investimentos e pela dos empréstimos).
● Em 1890, os banqueiros londrinos Baring & Brothers, que acabavam
de concordar num avultado empréstimo a Portugal, foram à
falência.
● Assim, já não havia dinheiro para cobrir o défice das finanças
públicas ou défice orçamental, que cresceu imenso de 1885 a 1889.

Para adicionar, a economia brasileira estava em dificuldades (relacionadas


com a abolição da escravatura e a proclamação da República) e por isso,
as remessas de dinheiro dos nossos emigrantes diminuíram , outro
elemento que ajudava a minorar o défice.

Entre 1890 e 1892, Portugal estava numa situação financeira grave.


Em janeiro de 1892, o Estado viu-se obrigado a declarar a bancarrota.
● Era a confissão pública de incapacidade de resolver a dívida.

4.2.2 O surto industrial e final do século


Devido aos efeitos da grave crise económica e financeira e também, do
fracasso do livre-cambismo, o Governo publicou em 1892, uma nova pauta
alfandegária de caráter protecionista.

À agricultura e à indústria procurou-se criar condições para a mais fácil


colocação dos seus produtos, quer no mercado nacional, quer nas
colónias.

O comércio colonial tornou-se um fator fundamental no desenvolvimento


económico português .

Na indústria, consolidaram-se os progressos da primeira fase da


Regeneração.

● Difundiu-se a energia a vapor;


● Prosseguiu-se à mecanização do têxtil, da moagem e da cerâmica
de construção.
● As inovações e tecnologias da segunda revolução industrial foram
dadas a conhecer:
○ A indústria química permitiu os adubos e as tintas que
beneficiaram os têxteis; surgiu a nova indústria dos cimentos;
○ Produziu-se e distribuiu-se a eletricidade.
○ Os tabacos, as tintas e vernizes, as conservas de peixe e a
metalurgia pesada desenvolveram-se.

Tal como o resto da Europa, a conjuntura da crise empurrou a indústria


para a concentração vertical(1):
● Apareceram as grandes companhias que geravam muito capital
financeiro.
● Estavam ligadas aos:
○ Têxteis (Companhia Aliança);
○ Tabacos e fósforos ( Companhia dos Tabacos; Companhia dos
fósforos);
○ Cimentos (Companhia de Cimentos Tejo);
○ Produtos químicos (Companhia União Fabril - CUF);
○ Moagem e aos vidros;
○ Transportes (Caminhos de Ferro e Carris);
○ Serviços públicos (água, gás, electricidade e telefones);
○ Seguros (Bonança, Fidelidade);
○ Bancos e na exploração colonial (Companhias dos Caminhos
de ferro de Benguela, do Niassa e da Zambézia).

Em Guimarães, Braga e Porto, Lisboa, Barreiro e Setúbal, se fixariam os


grandes pólos urbanos-industriais.
(1) Concentração vertical consistiu na integração, numa mesma
empresa, de todas as fases da produção desde a obtenção da
matéria prima

4.3. As transformações do regime político na viragem do século

4.3.1. Os problemas da sociedade portuguesa e a contestação da


monarquia (parlamentar) (ascensão aos poucos da república)
Com a industrialização fontista, a sociedade portuguesa alterou-se
significativamente.

O país mantinha-se maioritariamente rural, mas as cidades tinham


crescido e com elas tinham também crescido as classes médias e o
operariado.
Estas concentrações urbanas eram mais conscientes, atentas e
reivindicativas.
● Os progressos da instrução e proliferação dos jornais contribuíram
para a formação da “opinião pública”, algo que os governos
passaram a ter de levar em conta e que desempenhou nas últimas
décadas da monarquia um papel importante.
A crise político-social e a emergência das ideias republicanas

O sistema político portugues assentava nesta época no rotativismo


partidário, isto é, na alternância, dos dois principais partidos monárquicos,
o Regenerador e o Progressista, que manipulavam em seu favor as
eleições e a vida política em geral.

A falta de um programa coeso do governo, a incompetência de muitos


dos seus elementos e as rivalidades e interesses que se sobreponham ao
interesse nacional, foram desgastando a imagem da classe política.

● Os governos tornaram-se alvo de duras críticas.


O rei, que nomeava os governos, ficou com as culpas.
Assim, o partido republicano vai se aproveitar do mal estar da
economia para ascender.

Cerca de 1880, uma profunda sensação de desânimo surgiu,


comparadamente ao otimismo das primeiras décadas da Regeneração.
↳ Isto porque, o país tomou consciência da debilidade económica
do país e sentia que as coisas iam se dificultar.

Dos campos mal cultivados, saíam grandes números de emigrantes, que


se dirigiam para o Brasil, procurando sustento.

Nas cidades, o operariado era miserável, pobre alojado, a passar fome,


rude e analfabeto.

As classes médias cheias de promoção social e participação política,


ajustavam-se, com dificuldade, aos seus magros salários.

Concluindo, com exceção da alta burguesia (com poder político e


econômico), o descontentamento era geral e as pessoas estavam
receptivas a mudanças.
Por isso, ouviam projetos de mudanças como o republicanismo e o
socialismo.

Partido Republicano
● Fundado em 1876:

● Utilizou em seu favor a crise económica que se abateu e o


descrédito em que estavam os partidos do rotativismo monárquico.

● Fazia duras críticas ao rei e aos seus governos, culpando-o pelo


declínio de Portugal.
● Invocava as “virtudes cívicas” e o “verdadeiro patriotismo" de figuras
como Camões ou Pombal, admirando as suas qualidades dizendo
que a monarquia os abafou.

Ao longo da penúltima década do século, os votos foram crescendo no


Partido Republicano.
Cresceu também o clima de entusiasmo patriótico que atraía um grande
público aos comícios e fomentava debates da vida nacional.

A questão colonial e o Ultimato britânico


Os temas mais falados nesta época eram a respeito aos territórios
africanos.

A Sociedade de Geografia de Lisboa elaborou em 1881, um projeto de


ocupação do território que ligava numa faixa contínua, Angola e
Moçambique, apelando para uma subscrição pública para recolha dos
fundos necessários ao estabelecimento de “estações civilizadoras”.

● Os governos de D.Luís e depois D.Carlos lutaram empenhadamente


para garantir o êxito do projeto “mapa cor de rosa”.

As pretensões africanas de Portugal, estavam expressas no mapa


cor-de-rosa e chocaram com a intenção inglesa de formar uma faixa
contínua de território no sentido sul-norte “do Cabo ao Cairo”.

A 11 de janeiro de 1890, Portugal recebeu um Ultimatum britânico, em que


se impunha a imediata retirada das forças portuguesas na zona de
disputa.

O governo e o Conselho de Estado reuniram de imediato.


Com medo de dar a Inglaterra a oportunidade de conseguir territórios
mais vastos do que aqueles que queria diplomaticamente, o governo
portugues cedeu.

● Portugal aceita devido às relações comerciais que tinha com


Inglaterra, pois devido à aliança, os britânicos davam-nos dinheiro.
Com isto, se iniciássemos um conflito não teríamos dinheiro para
ele, algo que iria coincidir com a época da crise financeira em
Portugal.

Com isto, o país revoltou-se.


A opinião pública juntou-se e realizaram-se revoltas anti-inglesas, onde a
monarquia era culpabilizada pela humilhação.
A pátria estava de luto e começaram a dizer que só a república poderia
salvar o país da sua crise política e financeira.

No Porto, surgiu a ideia de começar um movimento militar para substituir


o governo.
● A 31 de janeiro de 1891, aconteceu a primeira tentativa de derrubar a
monarquia. No entanto, fracassou, pois estava mal organizada,
carente de apoios financeiros e sem cooperação de elites
republicanas.

Do reforço do poder real à implantação da República


Embora tenha fracassado, a “Revolução do Porto” aumentou a
consciência do desgaste das velhas instituições políticas.

O sistema rotativista fracassou e a agitação aumentou.


Começou-se a sentir a necessidade de uma autoridade forte que se
colocasse acima das disputas partidárias.
↳ Assim se gerou, num contraponto ao republicanismo crescente,
um clima propício ao reforço do poder real.
D. Carlos assumiu uma posição mais interventiva, chamando ao Governo
novas pessoas e gerando reformas.
No entanto, o hábito generalizado de protesto a qualquer ato governativo
invalidou isto.

As greves sucederam-se, organizaram-se novas associações


revolucionárias.
● Sendo a mais importante a Carbonária, uma sociedade secreta cujo
objetivo era o derrube da monarquia por meios violentos como o
assassinato.
A questão colonial permanecia.

Em 1906, D. Carlos nomeia chefe do Governo João Franco, um «opositor»


do Partido Regenerador.
● Franco começa por governar de forma liberal “à inglesa”;
● Mas viu-se a braços com o sistemático bloqueio do Parlamento,
agitado por escândalos financeiros (1) e pela agressividade dos
partidos da oposição.

(1) – No ano de 1906, a credibilidade do Governo e da monarquia viu-se


abalada por dois grandes escândalos financeiros:
● O "dos tabacos”, que consistiu no favorecimento do H. Burnay,
ao qual foi atribuído o monopólio dos tabacos;
● O "dos adiantamentos à Casa Real", que estalou após a
descoberta de que vinham a ser feitos, uma série de
suprimentos financeiros destinados a cobrir os gastos
excessivos da família real.

Assim, D. Carlos a pedido do ministro, dissolveu o parlamento e João


Franco passou a governar em ditadura em abril de 1907.

A ditadura de João e a repressão sobre certos republicanos, com o rei


tirano como cúplice, levaram ao assassinato do rei D. Carlos e do herdeiro
D. Luís Filipe, no dia 1 de fevereiro de 1908.
↳ O regicídio colocou no trono D. Manuel III de 19 anos, que tentou
governar de forma calma e tolerante.
No entanto, não foi o suficiente.
A 4 de outubro de 1910, eclode uma revolta republicana em Lisboa,
que sai vitoriosa.

A 5 de outubro proclama-se em Lisboa, a Primeira República Portuguesa

4.3.2. A Primeira República

A implantação da República a 5 de outubro de 1910, levou o Partido


Republicano ao poder.
Foi ele que preparou a revolução e era a única força política capaz de
exercer autoridade.

Constituiu-se um Governo Provisório, presidido pelo republicano Teófilo


Braga.

No ano seguinte, realizaram-se as primeiras eleições para a Assembleia


Nacional Constituinte, a qual em 2 meses elaborou a Constituição de 1911,
aprovada a 21 de agosto de 1911.

● A 24 de agosto, a Assembleia elegeu Manuel de Arriaga para


primeiro presidente da República Portuguesa.

● A 3 de setembro começou o primeiro Governo Constitucional.

O sistema parlamentar

O Programa do Partido Republicano definia República como:


Uma nação exercendo por si mesmo a soberania, intervindo no
exercício normal das suas funções e magistratura.
● Assim, iriam governar de acordo com a escolha da
Nação, que demonstrava o seu poder através de
eleições.

A Constituição de 1911 dava uma grande importância ao poder legislativo,


uma vez que nele reside a representatividade da nação.
● Na nova constituição, o poder legislativo pertencia ao Congresso da
República, composto por duas câmaras - a dos Deputados e o
Senado - ambas eleitas por sufrágio direto e universal, embora com
restrições.

Quais eram as restrições?


- Só eram eleitores todos os portugueses maiores de 21 anos, que
saibam ler e escrever e que sejam chefes de família. O Código
Eleitoral de 1913, excluía os analfabetos…

Congresso e poder legislativo


A importância do poder legislativo era demonstrada nas vastas
competências do Congresso.
● Cabia-lhe a legislação em geral, assim como muitas matérias de
que dependia o exercício regular do Governo e da Administração
Pública.
● Os ministros eram responsáveis politicamente perante o Congresso
e eram obrigados a comparecer nas sessões, recebendo votos de
confiança ou de censura das câmaras (congresso controlava
ministros, ato democrático).
● A superioridade do Congresso era visível na figura do presidente da
República. O congresso elegia-o por 4 anos, em mandato não
renovável e poderia destituí-lo.

Função do presidente
● Funções meramente representativas, este era obrigado a promulgar
as leis aprovadas, não dispondo de qualquer poder sobre o órgão
legislativo (não tinham direito de veto).

O Parlamento é que controlava as ações do Governo e do presidente, o


que gerou instabilidade governativa.
O Congresso bloqueava a ação dos governos que eram continuamente
substituídos e que não tinham tempo nem autoridade para as suas
tarefas. (República não vai funcionar devido ao seu excessivo controle)

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Constituição de 1911
Poderes do congresso - legislativo.
● O Congresso elegia o Presidente da República e podia o destituir,
fazer leis, orçar as receitas, autorizar o poder executivo a fazer
empréstimos, organizar a defesa nacional, autorizar o poder
executivo a fazer guerra, organizar o poder judicial…

A concretização do ideário republicano


Ao implantar-se o novo regime, muitos portugueses viam na República a
fórmula mágica que resolveria todos os problemas.
Embora isso não se tenha realizado, os novos dirigentes queriam cumprir
as promessas do Partido Republicano, lançando-se numa obra legislativa:

● Pretendia a igualdade social e para isso foram abolidos pela


Constituição, todos os privilégios de nascimento, títulos e ordens
honoríficas;

● Cumpriu-se o laicismo e o anticlericalismo ao se promulgar a lei da


Separação do Estado e das Igrejas (1911):

○ O catolicismo deixou de ser a religião oficial do Estado


Português, tendo sido equiparado a outros cultos.

○ O casamento foi definido como um contrato civil que podia


ser dissolvido com o divórcio.

○ O Registo civil torna-se obrigatório.

○ Nacionalizaram-se os bens da Igreja.

○ Expulsaram-se as ordens religiosas como os Jesuítas.

○ Laicizou-se o ensino. Esta legislação feita por Afonso Costa


ofendeu as convicções religiosas de maior parte dos
portugueses e fez crescer a oposição a este regime.

● Na justiça social, foi :

○ Reconhecido o direito à greve (antes proibida).

○ Regulamentou-se o horário de trabalho (8 horas).

○ Instituiu-se o descanso obrigatório aos domingos para os


assalariados (antes era comum as fábricas e lojas sempre
trabalharem, só os funcionários públicos é que tinham o
domingo livre).
○ Em 1916, surgiu o Ministério do Trabalho e Previdência Social,
tendo-se investido nas áreas da habitação social, da saúde e
da assistência

● No ensino público a 1ª República deixou a sua obra mais duradoura:

○ A instrução era fundamental para a participação política e


havia uma taxa escandalosa de analfabetismo em Portugal
(75%).
○ Assim, foi instaurada a obrigatoriedade e gratuidade do
ensino primário;
○ Criaram-se escolas e um programa de formação de
professores.
○ Renovou-se o ensino técnico e universitário (universidades de
Lisboa e Porto).

No entanto, a obra legislativa não resolveu os problemas estruturais e o


clima social de Portugal.

Outros conceitos:

Revoluções liberais- movimentos de contestação do antigo regime que se


espalharam pela Europa e as Américas, entre as últimas décadas do
século XVIII e do século XIX. Tiveram como efeito:
● A eliminação do e da sociedade de ordens
● A consagração dos direitos naturais do Homem, da soberania
popular e da divisão de poderes
● A instauração da livre iniciativa em matéria económica
● A libertação política das nações

Época contemporânea- período cronológico da história da Humanidade,


no mundo ocidental, que decorre de finais do século XVIII até aos nossos
dias. A periodização tradicional inicia esta época em 1789 com a eclosão
da Revolução Francesa.

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