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O QUE É DIALÉTICA
I . ORIGENS DA DIALÉTICA
I.I Antiguidade
2. Heráclito (c.540-480 a.C.): foi seu expoente mais radical durante a Grécia
antiga. Tudo existe em constante mudança e conflito;
Categorias opostas (morte e vida, sono e vigília, juventude e velhice) eram “realidades
que se transformam umas nas outras” (p.8).
fragmento 91, Nunca podemos entrar duas vezes no mesmo rio: todas as vezes em que
um ser humano entra em um rio ambos já mudaram. PANTHA REI
Nessa época, pautada pela sociedade feudal, com a vida concentrada nos campos
e a visão de mundo hegemônica baseada na moral católica e no pensamento teológico,
havia poucas oportunidades para participar da vida política e discutir problemas de
interesse coletivo, como ocorria nas poleis gregas. Petrus Damianus (1007-1072)
esclarece um pouco da visão dominante da época ao considerar que a única coisa
importante para o Homem era salvar sua alma e que a maneira mais fácil de fazê-la era
tornar-se monge e, portanto, não ter nenhuma necessidade do pensamento filosófico. Foi
esse tipo de pensamento que condenou a dialética a uma atividade baixíssima no ideário
medieval, condenando até mesmo a própria palavra, tomada como sinônimo de lógica e
usada pejorativamente em alguns casos como “a lógica das aparências” (p.11).1
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Interessante ressaltar a demonstração de todo esse processo no filme ou no livro O nome da rosa, em
que Guglielmo da Baskerville é um representante do pensamento filosófico e, muito possivelmente, da
dialética mesma. (Comentário meu)
isso, a teologia não deveria interferir “no estudo das coisas contingentes do mundo
empírico”.
“Todas as coisas estão sujeitas a passar de uma mudança a outra; a razão, buscando
nelas uma subsistência real, só pode frustrar-se, pois nada pode apreender de
permanente, já que tudo ou está começando a ser e absolutamente ainda não é –
ou então já está começando a morrer antes de ter sido”. (Montaigne in Konder,
1981, p.14).
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Per + factum = completos, completamente acabados. (Comentário meu)
Duas exceções se encontram nos pensadores Denis Diderot (1713-1784) e Jean-
Jacques Rousseau (1712-1778). Diderot compreendeu que o indivíduo era condicionado
pelas mudanças e dinâmicas da sociedade em que vivia, afirmando “sou como sou porque
foi preciso que eu me tornasse assim. Se mudarem o todo, necessariamente eu também
serei modificado” (p.16).
Já Rousseau acreditava que os homens nasciam livres, mas tinham essa liberdade
natural tolhida pela organização em sociedade, opondo-se, assim, aos outros iluministas
por não confiar na razão humana, mas sim na natureza. Buscava então as bases de um
contrato social através do qual fosse possível alcançar uma liberdade na vida social que
compensasse a perda da nossa liberdade originária. Entretanto, observando a sociedade,
percebeu que os conflitos de interesses entre os diversos indivíduos que a compõem
tinham chegado a exageros, que a propriedade era mal distribuída, o poder concentrado
e as pessoas escravas de seu egoísmo. Acreditava que a base de uma sociedade
verdadeiramente democrática não poderia ser fundada em critérios formais
quantitativos, como a “vontade de todos”, mas deveria se pautar em uma “vontade
geral” (p.18) vinda de um movimento de convergência. Essa vontade geral levaria os
sujeitos “a se reconhecerem concretamente uns nos outros e a adotarem uma perspectiva
universal” para soluções de seus problemas.
II. O TRABALHO
Para ele, todas as filosofias haviam sido até então ingênuas ao tentar investigar e
definir o que era a realidade, sem resolver o que era o conhecimento.
Para Hegel, a questão central da filosofia não era o conhecimento, mas o Ser: “Se
eu pergunto o que é o conhecimento, já na palavra é está em jogo uma certa concepção
de ser; a questão do conhecimento, daquilo que o conhecimento é, só pode ser
concretamente discutida a partir da questão do ser” (p.22). Apesar das divergências
quanto ao centro da pesquisa filosófica, Hegel concordava com Kant ao afirmar que o
sujeito humano é essencialmente ativo e interfere sempre na realidade.
Hegel, diante dessa situação política e social, acabou percebendo que o homem
transforma a realidade, mas essa transformação tem ritmos e condições impostas pela
realidade objetiva. Assim, para tentar avaliar as possibilidades do ser humano de maneira
mais realista, se dedica aos movimentos do “plano objetivo” (p.23), estudando atividades
políticas e econômicas: a base desse pensamento hegeliano é constituída, como apontado
por Lukács, não só pelas reflexões acerca da Revolução Francesa, mas também pelas
reflexões feitas em cima do processo de revolução industrial pelo qual passava a
Inglaterra.
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Essas contradições são chamadas “antinomias”: “Sobre o termo, informa Torralba: ‘De origem grega
(άντινομία; de άντι: contra e νόμος: lei), o vocábulo procede do léxico jurídico: a antinomia tem lugar
quando, para julgar ou resolver um mesmo caso, existem duas leis contrapostas. Num sentido mais amplo,
significa a oposição de duas proposições ou princípios quando ambos possuem justificação suficiente. A
antinomia é apenas aparente quando a oposição pode ser desfeita; por sua vez, é real quando não há modo
de resolvê-la. Kant se serviu do termo para descrever aspectos essenciais de sua crítica da razão e, desde
então, o significado de antinomia acabou associado à filosofia kantiana’” (TORRALBA, 2009, p. 68)
apud LIMA FILHO, J. E.; NICOLAU, M. F. A. A dialética das antinomias kantianas e a crítica hegeliana.
In: Revista Contemplação 2014 (9): p. 14-29. Disponível em:
https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&cad=rja&uact=8&ved=0ah
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permite que o Homem seja o que ele é, um ser racional, capaz de antecipar resultados de
ações, fazer escolhas para atingir seus fins. Foi por meio do trabalho que o homem se
afastou da natureza de modo a poder se contrapor como sujeito ao mundo material dos
objetos.
Para descrever esse conceito, em alemão, Hegel utilizou o verbo aufheben, que
significa suspender em três sentidos diferentes. O primeiro é o de negar, anular. O
segundo é o de erguer ou suspender alguma coisa para mantê-la protegida. E o terceiro é
o de elevar o patamar, a qualidade, “promover a passagem de alguma coisa para um plano
superior” (p.25). Hegel utiliza essa palavra com todos os três sentidos, pois a superação
dialética, para ele, se dá simultaneamente por meio da negação de uma realidade, a
conservação de algo essencial desta e a elevação da realidade a um nível superior, um
novo nível. Exemplificando por meio do trabalho, a matéria prima (realidade) é anulada,
e negada (“destruída” em sua forma natural, modificada), porém conservada ao mesmo
tempo (não é completamente destruída, é modificada e reaproveitada, utilizada), e assume
uma nova forma correspondente aos objetivos e finalidades do trabalho.
Karl Marx (1818-1883), outro pensador alemão, discípulo de Hegel, propôs que
seu mestre usara a dialética de cabeça para baixo e então decidiu virá-la e colocada sobre
os pés. Considera-se que Marx tenha dialeticamente superado Hegel.
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“Na concepção hegeliana, a dialética então proposta não mais seria, como antes, um processo
cognoscente humano tendente a solucionar conflitos estabelecidos entre dois conceitos aparentemente
opostos [...]. [...] A dialética em Hegel não seria, assim, “um mero recurso metodológico, ou seja, um
instrumento do pensamento para o conhecimento” (CIOTTA, 1994, p.9)”.
Para Hegel, “as coisas são, em si, contraditórias e inacabadas, estando sujeitas a um permanente devir,
num “movimento de diferenciação que põe sempre novas determinações” (CIOTTA, 1994, p. 12). De tal
modo, a contradição não seria decorrente de um equívoco racional, mas de um princípio natural do ser,
que o impulsiona, constantemente, a novos parâmetros de determinação, em que há a superação das
contradições anteriores e o estabelecimento de níveis de determinação crescentemente concretos.”
CIOTTA, Tarcílio. Hegel: A fundamentação ética do Estado. Dissertação para obtenção do Grau de
Mestre em Filosofia. PUCRS, novembro de 1994. et FERREIRA, F. G. apud FERREIRA, Fernando
Guimarães. A dialética Hegeliana, uma tentativa de compreensão. Rev. Estudos Legislativos, Porto
Alegre, ano 7, n. 7, p. 167-184, 2013
O filósofo materialista concordava com Hegel na proposição do trabalho como
mola que impulsiona o desenvolvimento humano, porém se opõe e critica o envolvimento
unilateral na concepção de trabalho, explicando que o único trabalho que Hegel conhecia
e reconhecia era o trabalho intelectual, o “trabalho abstrato do espírito”. Essa visão faria
com que Hegel se aproximasse das potencialidades criativas do trabalho, mas falhasse em
ver seus lados negativos, “as deformações a que ele era submetido em sua realização
material, social” (p.27). Dessa forma, Hegel não conseguiu analisar os diversos
problemas decorrentes do que Marx viria a chamar de “alienação do trabalho” nas
sociedades dividias em classes.5
III. A ALIENAÇÃO
Para Marx, o trabalho é a atividade por meio da qual o homem domina as forças naturas,
humaniza a natureza e pela qual cria a si mesmo. Porém, se põe a seguinte questão: se o
trabalho é tão importante para o homem e sua realização, como pode se tornar alo
negativo? Como o trabalho vira “uma atividade que é sofrimento, uma força que é
impotência, uma procriação que é castração?” (p.29)
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Assim como Libâneo o faz, de forma contraditória dentro da própria lógica marxista no Texto Base do
nosso trabalho. (Comentário meu)
As lutas de classes assumem características e formas muito
variadas. Nas sociedades capitalistas, as lutas de classes assumem formas
políticas cada vez mais complicadas.
Por outro lado, o capital reúne os operários em indústrias para poder explorá-los, mas a
massa trabalhadora se organiza, toma consciência de sua força e passa a fazer
reivindicações, até chegar ao ponto de poder liderar uma revolução social.
Nunca antes houve uma tal situação: uma classe social – o proletariado moderno – não
lidera um movimento que tem como objetivo substituir um modo de produção baseado
na propriedade privada por outro também baseado na propriedade privada. Teoricamente,
a superação da divisão do trabalho deixa de ser um sonho e passa a poder ser executada.
“Mesmo quando desenvolve técnicas cada vez mais aperfeiçoadas para controlar o
funcionamento de suas empresas e as operações de seus negócios, a burguesia carece da
capacidade de continuar a controlar a sociedade como um todo. Como classe [...] ela não
consegue elevar seu ponto de vista a uma perspectiva totalizante” (p.34).
IV. A TOTALIDADE
Qualquer coisa que o homem possa perceber ou criar é smpre parte de um todo. Em tudo
o que faz, o homem se defronta com problemas interligados. Para, então, encaminhar uma
solução para os problemas, o homem precisa ter uma visão de conjunto: só a partir da
visão de conjunto é possível avaliar a dimensão de cada elemento do quadro.
A visão de conjunto é sempre provisória e nunca pode esgotar a realidade a que se refere.
A realidade é sempre mais rica do que nossas sínteses. A síntese é a visão de onjunto
que nos permite descobrir a estrutura significativa da realidade em uma certa situação.
Essa estrutura significativa é o que chamamos de totalidade.
A totalidade é mais do que a soma das partes que formam o conjunto. Na forma de se
articularem e relacionarem, os elementos assumem características que não teriam se
estivessem fora do conjunto/totalidade em questão. Há também totalidades mais
abrangentes e menos abrangentes.
A modificação do todo só ocorre após o acúmulo de mudanças nas partes que o compõem:
ocorrem modificações setoriais, quantitativas, até alcançar um ponto crítico que assinala
a transformação qualitativa da totalidade. Essa é a lei da dialética da transformação da
quantidade em qualidade. Porém, a modificação do todo é mais complicada do que a
modificação de cada uma das partes que o compõem. Cada totalidade muda de uma
maneira, e as condições variam de acordo com o caráter da totalidade e do processo do
qual ela é um momento.
V. A CONTRADIÇÃO E A MEDIAÇÃO
Porém, podemos nos perguntar: como podemos saber que estamos trabalhando com a
totalidade correta e fazendo a totalização adequada para análise de determinada situação?
A verdade é que não podemos. A teoria é importante, mas não é a prova de erros e no
plano puramente teórico também não há solução para o problema.
Na investigação científica, começamos trabalhando com conceitos que são sínteses ainda
muito abstratas e, assim, são representações caóticas do conjunto. Por meio de análises,
chegamos a conceitos mais simples e daí retorno à síntese inicial, agora bem definida,
uma totalidade rica em relações complexas.
“’A dialética – observa Carlos Nelson Coutinho – ‘não pensa o todo negando as partes,
nem pensa as partes abstraídas do todo. Ela pensa tanto as contradições entre as partes (a
diferença entre elas: o que faz de uma obra de arte algo distinto de um panfleto político)
como a união entre elas (o que leva a arte e a política a se relacionarem no seio da
sociedade enquanto totalidade).’”
Para poder ir além das aparências e penetrar a essência das coisas, precisamos realizar
operações de síntese e análise que esclareçam a dimensão imediata como a dimensão
mediata das coisas.