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Duplo Debate Sobre a História do Século XVII – XVIII: Vico e Voltaire

Sinopse_________________________________________________________________________

Este trabalho é fruto da análise das obras de dois pensadores cujas ideias
desempenharam um papel importante na transformação dos cânones da compreensão
histórica, e na selecção e interpretação dos factos. Assim, com a “Scienza Nuova” de
Giambattista Vico e o “Essai sur les Moeurs” de Voltaire, abandona-se a antiga
concepção unitária da história judeu-cristã (teologia da história) como contemplação
das grandes intervenções de Deus na natureza e na história, e leva-se a cabo uma
reflexão filosófica que se concebe sobre os deveres operativos do Homem. Enquanto,
de um lado, pretendiam afirmar a concepção da história como obra do Homem e
expansão da sua liberdade, de outro lado, Vico queria provar que para que o Homem
se constitua “fabro” do mundo da história, tem necessidade da luz providencial de
Deus, que pode torná-lo verdadeiramente livre. Porém, para Voltaire, o que mina a
liberdade humana é exactamente essa força providencial. Daí que, para Voltaire, «para
que a história seja de facto acção livre do Homem no tempo é necessário eliminar a
ideia mesmo da presença, e quanto menos da acção providencial na história» Embora
esta concepção da história começa visivelmente a decair no decorrer do século XVIII,
as premissas da sua crise foram lançadas a partir do tempo do Humanismo e do
Renascimento. Já vinha-se compreendendo que a transcendência divina é opressão e
mortificação do Homem. Portanto, esse é o debate que vai se desenvolver no presente
trabalho que consistiu na leitura, compreensão, interpretação e síntese da obra
explorada acima mencionada. E, o principal objectivo é exactamente compreender as
visões filosóficas sobre a história que esses dois pensadores ostentam.

Capítulo I: Pensamento Filosófico Sobre a História de Vico

1.1. A história como produto da acção humana e da providência

Vico começa por apresentar o conceito providência como o problema filosófico da história no
âmbito da jurisprudência, mostrando a sua função na complexa estrutura da teoria da história.
Onde, a história recebe a sua direcção e o seu sentido nesta “teologia civil racional da
providência”.

A questão da providência fora descurado pelos filósofos modernos, e Vico tenta resgatá-la,
afirmando que, «a história é feita pelos homens, mas chega a resultados tais que transcendem
e às vezes contradizem as expectativas humanas» (NGOENHA, 1992:26). Trata-se duma
tentativa de demonstrar o agir da providência na ordem humana e histórica do mundo civil.

Não se trata da providência da teoria cristã, mas aquela que Vico descobriu dos jurisconsultos
romanos que afirmavam, que o direito natural das pessoas foi dado pela providência divina.
Assim, a história é feita pelo Homem, mas com a intervenção da acção divina. E tal acção da
providência divina ‘e realizada através da religião. De acordo com NGOENHA (1992:33), «a
religião é o inabalável fundamento da sociedade humana; é através dela que Deus suscita no
homem sentimentos de autêntica humanidade e os conserva».
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Vico assegura que, o direito natural das nações nasceu com os costumes comuns; e nunca
existiu uma nação ateia, pois todas começaram com qualquer religião. Daí que, existem tantas
ideias de Deus quantas são as religiões e as crenças dos vários povos.

Portanto, a providência colabora com o Homem na edificação da sua história. Surge que, «a
providência é a ordenadora do direito natural, porque ela é a única e verdadeira rainha dos
afazeres humanos» (Idem, p. 38). Desta feita, para Vico, a história não é simplesmente
história da liberdade, mas também, história da providência. Prova disso, é a evidente
desproporção entre os fins e os meios da acção humana.

Ora, se o Homem dependesse de si só (do seu egoísmo), acabaria por destruir toda a vida
social e histórica e o próprio Homem. Daí que, só a providência divina pode manter o Homem
entre as ordens da família, do Estado e da humanidade. Todavia, «a providência transforma os
vícios naturais dos homens, que acabariam com toda a humanidade sobre a face da terra,
numa felicidade civil» (Ibidem, p. 39).

Reside, aqui, a demonstração da providência divina na história social que compreende todos
os factos civis como os matrimónios, as sepulturas, as leis, as formas de governo, as lutas de
classes, etc. Vico concebe a história não como uma simples acção livre e decisão, mas
também e sobretudo acontecimento e evento. Por isso, ela não é unívoca, mas ambígua.

Segundo NGOENHA (1992:42), «em todo o lugar onde da barbárie se passa à civilização, do
conflito à harmonia, da ignorância à ciência, lá está presente a providência na sua
efectividade». Daí que, o único meio adequado de chamar os Homens à razão é a religião, esta
que tem a função essencialmente conexa à ideia de progresso e civilização, por isso mesmo,
Vico diz que “sem religião não há progresso”. Portanto, a religião é o único meio que cria e
conserva as relações sociais, só ela pode humanizar e disciplinar os selvagens (os Homens),
pois, sem ela não se pode ter autocontrolo, sem autocontrolo não há liberdade, e sem
liberdade não há história.

1.2. Da faculdade poética à construção do conhecimento

Com a desconfiança da presunção racionalista que conduzia o cartesianismo em direcção a


uma visão do mundo matematizada e mecanizada que dele se inspirava, Vico reivindica uma
auto-reflexão do Homem. O seu esforço é a reivindicação da cientificidade das matérias do
ramo antropológico, e a sua reintegração no lugar que lhe compete por direito.
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A auto-compreensão a qual Vico se refere, não é o conhecimento do tipo metafisico, mas


operativo. Não é o eu que se apresenta como a primeira verdade incontrovertível, como tinha
sido teorizado por Descartes, mas o eu é artífice da história, das ciências e das artes do direito
e das actividades económicas. A natureza humana não é só razão, mas é também sentimento,
fantasia, paixão, vontade. (Cfr. VICO apud NGOENHA, 1992:60)

Essas atitudes fundamentais da natureza humana: sentimento, fantasia e razão correspondem


as três idades históricas: divina, heroica e humana. O Homem é todo ele em cada momento
sentimento, fantasia e razão. Tanto na fase da espontaneidade, como na fase de reflexão, o
Homem encontra-se transcendentalmente aberto à verdade, e define-se por essa abertura. Na
fase da espontaneidade existe um predomínio dos sentidos e da imaginação sobre a razão e na
fase da reflexão tem primazia a razão abstracta em detrimento da imediatez vivencial. Assim,
Vico apresenta três formas de actividade do espírito humano: sensitivo-passional, fantástico-
passional e racional-volitivo, necessárias para o desenvolvimento harmonioso e a perfeição
do Homem.

Vico reivindica o valor da plena legitimidade de cada período histórico, e não na base de
falsos cânones de razão abstracta, mas com a interpretação de cada época, com a mentalidade
com que foi produzida. Segundo ele, quem presumisse poder entender as formas da vida das
idades antigas, com a mentalidade racionalista, acabaria por não entender nada. (Idem, p. 62)

Enquanto para o cartesianismo conhecer era constatar, para Vico conhecer é explicar. O
conhecimento tem que ser procurado no conhecimento da produção ou reprodução do
processo causal. Portanto, para Vico, conhecer não pode ser uma constatação, mas sim, uma
construção – captar o que se faz; criação, produção ou construção do objecto. Daí que, para
ele, a ciência reside no conhecimento através das causas, e o critério para determinar que se
tem ciência de uma coisa é fazê-la, provar por causas é fazer a coisa. Assim, surge a sua
máxima: “verum et factum convertuntur” (o verdadeiro e o feito convergem/equivalem).

No que concerne ao hiper-realismo, Vico afirma que as ciências e as artes serão tanto mais
certas quando mais estão separadas do objecto material (abstração). Para ele, as ciências
menos certas serão a moral e a física e a mais certa será aritmética.

Segundo NGOENHA (1992:78), «objectivo da história não é o Homem individual, mas o


Homem que efectuando as suas construções sociais, produz objectivações de tipo cultural».
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Porém, estas criações não devem ser estudadas naturalmente nas suas raízes meramente
individuais, ligadas ao temperamento e ao critério de cada um, mas têm que ser referidas a
índole social do Homem. O que interessa a Vico é evidenciar esta peculiar característica dos
Homens: a capacidade de “viver com justiça e conservar-se em sociedade, celebrando assim a
sua natureza social, que é finalmente a verdadeira natureza do Homem”.

A Filosofia torna-se científica na medida em que colhe os seus princípios da natureza


humana; não recebe de fora a luz interpretativa dos factos, mas colhe-a do interior da mente
do Homem que é o agente da história.

1.3. A liberdade na história

O Homem, a sua consciência, a força criativa da sua mente, pressupõem um acto criativo de
Deus que está na base de todo o existir. Por isso, a verdadeira fonte do operar humano está em
Deus.

O Homem, que não pode conhecer com verdade a natureza, porque feita por Deus, não pode
sequer conhecer com verdade a própria história, pois ele a realiza não como sujeito, mas como
instrumento. Para que possa existir a história da brutalidade e da civilização, é portanto
necessário pôr em evidência que a mente humana não foi criada por Deus com caracteres
definitivos e imutáveis, mas sim com a indeterminação construtiva, na qual se insere a
possibilidade decisional do Homem. É nesta mesma ordem de ideia que Vico, vem dizer que a
história é a expressão da liberdade humana, pois ela responde a uma intenção criativa, produz
algo novo, a partir de algo pré-existente, vendo-se aqui que a acção histórica é criativa.

Capítulo II: Pensamento Filosófico Sobre a História de Voltaire

2.1. A história como progresso do espírito humano

O pensamento de Voltaire descobre com o conceito de história do espírito humano o seu


princípio de coerência. Refere-se aqui, a capacidade de o Homem formar ideias e de decidir
pela sua correcção. A história do espírito humano apresenta-se aqui como história verídica, e
não como alibi de um desígnio providencial. Ela convida a razão agora conquistada, a fazer-se
conquistadora.

Muito depressa, o género histórico revela-se singularmente mais adequado a reflectir, e depois
a recolher e sintetizar o pensamento novo. Contudo, este pensamento só é novo em certa
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medida, uma vez que o “Henriade” o deixa pressentir e o Discour sur “l'histoire de Charles
XII”, propunha-se, no mesmo espírito, distinguir o grande homem do conquistador. O
historiador vê a história geral do espírito ganhar forma, a convergir em direcção ao século.

O conhecimento da história muda o próprio historiador. Isto significa que a razão se consagra
ao aperfeiçoamento da razão para o estudo da história. O conhecimento do passado e a
percepção do presente ajustam-se segundo o ponto de vista autêntico, o da história do espírito
humano.

Os únicos filósofos que Voltaire estima e que considera úteis ao género humano pois possuem
na verdade o espírito filosófico com o qual ele queria escrever a sua história universal, são
aqueles que não substituem os factos por construções abstractas (crítica à Vico).

Voltaire quer que a filosofia estude a natureza, remete a filosofia para a física, vendo-se aqui
que Voltaire pretendeu alargar o método da física ao estudo da filosofia. A história universal
de Voltaire, pelo contrário, será escrita com aquele espírito filosófico com que Madame do
Chatelet queria ler, isto é, com espírito científico.

2.2. A verdade e o espírito humano como fundamento da história

Aqui, Voltaire, em conversação com Newton, acaba por acreditar na existência de Deus, e
como tal, mostra a prova da existência de Deus pela causa final que consiste em considerar
não simplesmente a ordem do universo, mas o fim ao qual cada coisa se podia ordenar.

Voltaire questiona-se se é que poderíamos na ausência de Deus continuar a construir a


ciência. Newton afirma que para que se possa continuar a pensar correctamente é necessário
que Deus exista. No entanto, Voltaire não se fascina com a física de Newton mas sim no seu
aspecto metafisico e religioso, na qual Voltaire tem a necessidade de Deus e, é o seu edifício
da história do espírito humano que tem necessidade de Deus. Na metafísica de Voltaire liga a
ideia de Deus a realidade humana através do espírito e depois procura a relação que existe
entre Deus e o Homem. No entanto, o que o interessa na solução dos problemas metafísicos ‘e
o interesse social, começando a acreditar na imortalidade da alma que antes negara e admite o
castigo e a recompensa na vida futura.

Não obstante, o ponto de partida para a compreensão da Filosofia de Voltaire é o Homem. Ele
é o princípio, o centro e o fim da sua Filosofia, mesmo quando se refere a Deus, é para se
acertar que o Homem pensa e adquire ideias para o uso dos seus sentidos e para alegrar-se,
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depois ter uma conclusão que se ele é assim, foi Deus quem o quis. Se Deus deu ao Homem o
pensamento, foi para que ele pudesse viver em sociedade.

A história dá o seu assentimento à existência de Deus e, em contrapartida Deus favorece o


progresso da civilização. A história do espírito é constituída pelo diálogo entre o
conhecimento e a acção. Ela está circunscrita, por um lado, por esse elemento necessário que
tem por nome Deus, e por outro lado, pela realidade imprevisível e incontrolável de uma
história da razão na qual viver a história do espírito humano é viver uma contínua
insatisfação, mas ao mesmo tempo de uma contínua esperança.

A invenção do verdadeiro método histórico coincide com o início da história verídica, aquela
que escreve o nascimento do espírito. Voltaire não quer separar a história da filosofia mas, a
verdade da história não pode continuar a duvidar o sentido de uma história verídica porque o
progresso da epistemologia histórica testemunha o aperfeiçoamento da razão.

Ora, a Filosofia da História pretende antes de mais responder a uma exigência de


objectividade, escrevendo-se uma história imparcial, assim confirma-se o progresso da razão.
Pois, escrever Filosofia da História significa literalmente extrair da ciência da história uma
sabedoria. (Cfr. NGOENHA, 1992:142)

Voltaire critica o bispo Bossuete e articula-se em três pontos: primeiro, ele critica Bossuete
por ter explicado a história e por ter procurado o segredo da história na providência. Voltaire
não aceita, nem de longe, a ideia de um Deus que intervenha na economia do mundo. Para ele,
não é a existência de Deus que está em causa, pelo contrário, a sua existência constitui um
ponto firme para Voltaire. Porém, dizer que Deus interfere na história dos Homens, e até agir
diferentemente depois de nos ter dado a lei natural, é inadmissível.

Em segundo lugar, Voltaire desaprova Bossuete por ter feito o cristianismo, uma das
civilizações mediterrâneas, sobretudo do povo judeu, o centro nevrálgico da história
universal. A terceira crítica foi de ter dado enorme importância ao povo judeu na economia do
mundo. Ele parecia ter escrito unicamente para dizer que tudo foi feito pelos judeus.

Para se falar de história do espírito humano é necessário, segundo Voltaire, pôr o centro
totalmente no sujeito operante, porque uma presumível providência, uma heteronomia na
história eliminaria a possibilidade de uma história feita pelo espírito humano. No entanto,
Vico assim como Voltaire, sustentam que a história é produto da acção livre do Homem.
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A Filosofia da História volteriana exprime o método e o espírito de uma história libertadora


porque libertou do magistério metafisico que exercia a sua tirania sobre a razão. Para o
historiador do espírito humano, o cristianismo representa um anacronismo cómodo e, para tal,
é uma doutrina totalitária, destinada a fornecer uma explicação radical ao Homem e da sua
história e a deduzir delas as regras do comportamento e da acção. Voltaire propõe a aplicação
da razão à história onde deve conhecer o destino das outras ciências, o que fará progredir em
certeza.

2.3. O lento progresso do espírito humano

Voltaire esforçou-se por libertar a razão das garras de toda a metafísica. É no decorrer desta
empresa que ele verifica a hipótese de um progresso do espírito, isto não abrange a
transformar em dogma uma verdade da experiência. No que se refere a noção do progresso,
não existe nenhum problema, se se trata do progresso do espírito os nomes de Bacon, Galileu,
Descartes, Newton servem de prova, se trata do progresso político ele citara a Inglaterra com
preocupação os despostos iluminados. Se se trata de progresso económico, a Europa de facto
enriquecia e aperfeiçoava a sua civilização material.

Do espetáculo de história Voltaire retira a ideia de uma instabilidade essencial, em todos os


domínios produzem-se revoluções, no gosto, nos estados. Gis porque no estudo de história, o
principal objectivo é de conhecer na medida do possível os costumes dos Homens e as
revoluções nos espíritos.

O termo revolução não tem nenhum valor progressista, a palavra traz uma mudança profunda,
ou uma modificação considerável de um estado de facto como também no sentido de uma
evolução. Portanto a história avança como um barco que rema contra a corrente. O mundo
governa-se por contradições e nós vagueamos num barco constantemente agitado por ventos
contrários.

Para se ter uma justa perspectiva da história deve-se ter algumas ideias sobre a imensidade do
tempo e apreciar o progresso do homem em relação a essa imensidade.

Para chegar ao estado civil, o espírito teve necessidade de muito mais tempo do que lhe
concede a cronologia tradicional e a história tem de recuar até aos séculos desconhecidos e
ultrapassar a barreira da pré-história.
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O importante para Voltaire é não ceder o seu pensamento atemporal, toda actividade humana
que o historiador constata que toma lugar num processo complexo, nunca tem a ver com o
início absoluto.

Tratar da origem de uma ideia ou de uma instituição é seguir a sua formação graças ao
testemunho da experiência.

Conclusão

Dever-se-á acordar que o tratado filosófico da história soa em si já problemático. Deu-se logo
a priori uma reflexão orientada por Voltaire, onde o autor pretende avaliar os factos como a
filosofia e a história se correlacionam. Rápido a reflexão do autor notou-se que o mesmo vota
a necessidade de desenvolver a história ao espírito humano.

Deparou-se com uma ideia clara aqui preocupa Voltaire, ele propunha-se a destruir com a sua
filosofia da história, o antigo sistema religioso, e em particular a concepção cristã da história.
O que Voltaire entende por filosofia da história, tem portanto a ver com uma disposição
crítica destrutiva para com as instituições religiosas e metafísicas. Trata-se de eliminar do
universo histórico o falso, a mentira, o obscurantismo e a superstição. Tudo o que a religião
cristã, providencialista, representa a seus olhos, de modo que a verdade se possa por fim
revelar.

Objectivo principal na perspectiva de Voltaire, a Filosofia da História é aquela que está para
provar que o curso da história revela a intervenção de nenhuma providência. O que mais
adiante veremos como oposição das ideias de Vico. Para tal é necessário destruir as
cerimónias, os monumentos, símbolos das mentiras construídas pelos sistemas religiosos e
metafísicos para enganar e cegar os espíritos. Em seguida é necessário introduzir a razão na
história, é necessário que a razão se torne mestra. Voltaire quer provar que o cristianismo, os
seus dogmas, são puras cogitações humanas que para se imporem tiveram que destruir outras.
E como opinião que são, sujeitas também à destruição, não devem servir de referência.
Voltaire mirava indirectamente a desacreditar a tradição bíblica da criação.

E por fim Vico foi o suporte da nossa abordagem como aquele máximo génio que faz uma
coligação perscruta do Homem a partir de uma demonstração civil racional com providência
divina na história social. De facto, Vico é patrono de uma teologia civil para entender
unitariamente o provir humano como historia ideal eterna com apelo a providencia, entendida
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numa dimensão transcendental, mas que se revela na história mediante leis naturais e do
destendimento da razão humana. Vico afirma que a redescoberta das origens da história
através do nosso espírito humano e a sua capacidade de penetrar o próprio passado,
fundamenta filosofia do espírito humano para conduzir-nos a Deus enquanto eterna
providência. A providência para ele serve portanto, de substrato a toda a Ciência Nova.

Bibliografia

NGOENHA, Severino Elias. Duas Interpretações Filosóficas da História do Século XVII:

Vico e Voltaire. Porto, Edições Salesianas, 1992.

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