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FUNDAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE CAJAZEIRAS - FESC

FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE CAJAZEIRAS - FAFIC


CURSO DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA
DISCIPLLINA: ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA
DOCENTE: DR. DAMIÃO FERNANDES DOS SANTOS
DISCENTE: JOSÉ VITOR VIEIRA LOPES

FICHAMENTO DE CITAÇÃO

1- INTRODUÇÃO
“ Antropologia e Filosofia. Desde a aurora da cultura ocidental (cujos começos se situam
convencionalmente em tomo do século Vlll a.C., na Grécia), a reflexão sobre o homem,
aguilhoada pela interrogação fundamental “o que é o homem?”, permanece no centro das mais
variadas expressões da cultura: mito, literatura, ciência, filosofia, ethos e política”(pag 09).
“No entanto, a interrogação filosófica sobre o homem encontrou-se, desde os fins do século
XVIII, com o rápido desenvolvimento das chamadas “ciências do homem” (human sciences ou
Geisteswissenschaften) e das ciências da vida que investigam cada vez mais profundamente o
ser biológico do homem, em situação análoga à que se encontrara a Filosofia da Natureza no
séc. XVII, quando do aparecimento da ciência galileiana: ela foi chamada a definir
rigorosamente o seu estatuto epistemológico em face dos novos saberes científicos sobre o
homem, definindo, ao mesmo tempo, sua relação com os procedimentos metodológicos e com
os conteúdos dessas novas ciências”(pag. 09-10).
“Na tentativa de superação da crise que envolve a concepção do homem na cultura ocidental,
diversas tendências se manifestaram desde o século passado, que podem ser enfeixadas em duas
grandes correntes: o naturalismo, que professa um reducionismo mais ou menos estrito do
fenômeno humano à natureza material como fonte última de explicação”(pag.10).
“ [...] situação problemática da concepção do homem em nossa cultura aponta para três tarefas
fundamentais a ser cumpridas por uma Antropologia filosófica:”(pag. 10).
“— a elaboração de uma idéia do homem que leve em conta, de um lado, os problemas e temas
presentes ao longo da tradição filosófica e, de outro, as contribuições e perspectivas abertas
pelas recentes ciências do homem;”(pag.10).
“— uma justificação crítica dessa idéia, de modo que possa apresentar-se como fundamento da
unidade dos múltiplos aspectos do fenômeno humano implicados na variedade das experiências
com que o homem se exprime a si mesmo, e investigados pelas ciências do homem;”(pag.11).
“— uma sistematização filosófica dessa idéia do homem tendo em vista a constituição de uma
ontologia do ser humano capaz de responder ao problema clássico da essência: “O que é o
homem?”(pag.11).
“No estágio atual de nossos conhecimentos, um imenso horizonte de saber envolve o objeto-
homem, desdobrando em múltiplas direções e aprofundando no sentido das explicações
fundamentais a pergunta inicial “o que é o homem?” A Antropologia filosófica se propõe
encontrar o centro conceptual que unifique as múltiplas linhas de explicação do fenômeno
humano e no qual se inscrevam as categorias fundamentais que venham a constituir o discurso
filosófico sobre o ser do homem ou constituam a Antropologia como ontologia”(pag. 11-12).
“Uma Antropologia integral deve tentar uma articulação entre esses três pólos que não ceda ao
reducionismo e não se contente com simples justaposição, mas proceda dialeticamente,
integrando os três pólos da natureza, do sujeito e da forma na unidade das categorias
fundamentais do discurso filosófico sobre o homem, como veremos ao tratar do
método”(pag.13).
“Problemas filosóficos das ciências do homem. A Filosofia recebe de duas fontes principais
seus dados e seus problemas: da experiência natural, que chamaremos de pré-compreensão, e
da ciência, que chamaremos de compreensão explicativa. No caso da Antropologia filosófica,
tanto a experiência natural como a ciência voltam-se para o próprio homem que é, a um tempo,
sujeito e objeto da interrogação filosófica”(pag.13).
“A questão fundamental gira em tomo da possibilidade de se alcançar uma compreensão
adequada da essência do homem seguindo-se a linha dessa sua derivação natural”(pag.14).
“No campo das ciências hermenêuticas, que é propriamente o campo das ciências humanas,
formulam-se os problemas fundamentais que constituem tradicionalmente o objeto da
Antropologia filosófica”(pag.14).
“Problema da cultura: é esse o domínio que Hegel denominou do espírito objetivo ou E. Cassirer
o das formas simbólicas. Aqui se cruzam duas linhas de explicação do homem e do seu mundo,
a que aponta para o mundo das formas com que o homem exprime a realidade e a si mesmo, e
a que aponta para o próprio homem como sujeito da intencionalidade expressiva que está na
origem daquelas formas”(pag.14).
“Problema da sociedade: a sociedade é também um fato de cultura e pertence ao domínio do
“espírito objetivo” na terminologia hegeliana. Mas o enorme desenvolvimento das ciências
sociais (aqui incluindo a ciência econômica) a partir do século XIX, acompanhando as
mudanças profundas da sociedade ocidental nos últimos três séculos, trouxe para o centro da
interrogação filosófica sobre o homem algumas questões fundamentais em tomo do homo
socialis e do homo aeconomicus que passaram a constituir tópicos obrigatórios da Antropologia
filosófica contemporânea”(pag.14-15).
“Problema do psiquismo: a ciência experimental do psiquismo, procedida por antecipações às
vezes geniais como as de Aristóteles, constituiu-se formalmente no século XIX e conheceu um
enorme desenvolvimento no século XX, constituindo o campo vasto e complexo das ciências
psicológicas”(pag.15).
“Problema da história: a chamada “condição histórica” do homem é uma evidência que
acompanha desde o início a reflexão filosófica sobre a sua natureza e, sobretudo, sobre o seu
destino. Mas é, sem dúvida, a partir do século XVIII, com o rápido desenvolvimento das
ciências históricas modernas e com a inflexão historiocêntrica do pensamento filosófico (de
Herder a Hegel), que o problema da historicidade do homem toma-se um tema dominante na
reflexão filosófica”(pag.16).
“Problema da religião: a linguagem religiosa do mito está nas origens da filosofia, e a crítica
das representações religiosas é um dos topoi mais antigos na tradição filosófica ocidental
(Xenófanes, séc. VI a.C.). Mas as ciências da religião que se desenvolvem rapidamente ao longo
do século XIX renovam profundamente a interrogação filosófica sobre a natureza do fato
religioso”(pag.16).
“Problema do ethos: na verdade esse problema envolve, de I alguma maneira, todos os outros,
desde que se entenda por ethos | a dimensão do agir humano social e individual na qual se faz
presente uma normatividade ou um dever-ser, ou que se supõe provir da natureza ou que é
estatuído pela sociedade. Enquanto social o ethos é costume, enquanto individual é
hábito”(pag.17).
“Assim, nesse vasto horizonte das ciências do homem, apresentam-se problemas antigos e
novos que irão constituir, juntamente com os dados permanentes da experiência natural, o
domínio objetivo dos saberes do homem sobre si mesmo que a reflexão filosófica deverá
tematizar e organizar sistematicamente em tomo do centro último de inteligibilidade do homem,
que é sua autoposição como sujeito”(pag.17).

2- HISTÓRIA DAS CONCEPÇÕES DO HOMEM NA FILOSOFIA OCIDENTAL


A CONCEPÇÃO CLÁSSICA DO HOMEM

“As raízes da concepção do homem que denominamos clássica1 e cuja expressão filosófica
tentamos traçar brevemente devem ser buscadas sobretudo na cultura grega arcaica que floresce
nos séculos Vlll e VII a.C. e apresenta uma extraordinária riqueza de manifestações que a
cultura clássica (a partir do século VI) recolherá e organizará num universo espiritual coerente
e harmonioso”(pag.27).

A concepção do homem na cultura arcaica grega


“A imagem do homem que a cultura arcaica grega nos oferece é rica e complexa, e alguns de
seus aspectos irão permanecer influindo profundamente na evolução da cultura
ocidental”(pag.28).
“Linha teológica ou religiosa. É a linha que traça uma nítida divisão e mesmo uma oposição
entre o mundo dos deuses_ (theoí) e o mundo dos mortais (thanatoí). Os primeiros são imortais
(athánatoi) e bem-aventurados (eudaimones), os segundos são efêmeros (ephémeroi), isto é,
seres de um dia, e infelizes (talaíporoi)”(pag.28).
“Linha cosmológica. A contemplação da ordem do mundo e a admiração diante dessa ordem
são atitudes que o espírito grego partilha com o de várias culturas antigas”(pag.28).
“— Linha antropológica. Como se reflete a condição humana na imagem que o homem grego
arcaico faz de si mesmo? Uma das mais conhecidas expressões dessa condição, que articula, de
resto, experiências humanas fundamentais e a relação do homem com os deuses, é a oposição
entre o apolíneo e o dionisíaco como dimensões constitutivas da alma grega, que F. Nietzsche
celebrizou6, dando-lhe porém uma interpretação contestável”(pag.29).
“As linhas que compõem a imagem do homem na cultura grega arcaica encontram um ponto
de intersecção e convergência no temeroso tema do destino (moira), que oferece um fio
condutor para a passagem da visão arcaica clássica do homem. Esse tema é objeto, sobretudo
depois de Nietzsche, de uma rica literatura”(pag.30).

A concepção do homem na filosofia pré-socrática


“O primeiro autor representativo de um pensamento antropológico já claramente definido é
Diógenes de Apolônia (floruit entre 440 e 430 a.C.) De um lado, ele é tido como discípulo dos
physiólogoi jónicos, tendo sofrido provavelmente a influência de Antístenes,- de outro está
próximo de Anaxágoras, propondo uma visão finalista do mundo (desde que se aceite a
atribuição a Diógenes, proposta por W. Theiler12, do fragmento finalista de Xenofonte nas
Memorabilia Socratis, I, 4)”(pag.30).
“O pensamento de Diógenes estabelece uma linha de transição com a primeira filosofia pré-
socrática do século VI a.C., dominada pelo problema da physis e da busca do princípio (arché)
explicativo do seu movimento e do seu vir;-a-ser. A individualidade do homem aparece
abrigada na majestade da physis e na ordem do mundo17 e só começa a emergir na poesia épica
e lírica”(pag.31).
“Ao longo do séc. V a.C., o problema antropólogico sobrepõe-se pouco a pouco ao problema
cosmológico como centro teórico de interesse na filosofia grega. Essa descida da filosofia do
céu para a terra, como se exprimirá Cícero, está ligada, sem dúvida, às transformações da
sociedade grega aceleradas pelas guerras pérsicas e pela consolidação do regime democrático
em Atenas e outras cidades”(pag.31).
“O problema da educação (paideía) que se coloca em tomo de ^ uma nova forma da areté
política exigida pela vida democrática e diferente da areté .arcaica aristocrático-
guerreira”(pag.32).
“O problema da habilidade ou sabedoria (sophía) que não ^ encontra mais sua fonte na tradição
ê vê acentuar se seu caráter técnico (téchne) e intelectualista”(pag.32).
“As primeiras indicações desses problemas encontram-se já nos fragmentos antropológicos de
Heráclito de Éfeso (floruit entre 504 e 500 a.C.) que é, nesse sentido, como Diógenes, um
pensador de transição”(pag.32).

A transição socrática
“Aceitando-se o veredicto de W. Jaeger, Sócrates representa, na história das concepções
filosóficas do homem no Ocidente, a inflexão decisiva que orienta até hoje o pensamento
antropológico. Com efeito, encontrando-se no centro da crise ateniense da segunda metade do
século V, tragicamente agravada pela guerra do Peloponeso, e abrindo-se ao mundo de idéias
novas trazidas pela Ilustração sofística, Sócrates pensou a crise ateniense à luz daquelas idéias,
e de sua meditação emergiu uma nova concepção do homem, cujos traços fundamentais irão
compor justamente a imagem do homem clássico que as filosofias posteriores nos
transmitirão”(pag. 33-34).
“Na visão socrática, o “humano" só tem sentido e explicação se referido a um princípio interior
ou a uma dimensão de Interioridade presente em cada homem e que ele designou justamente
com o antigo termo de “alma" (psyché), mas dando-lhe uma significação essencialmente nova
e propriamente socrática”(pag.34).
“A “alma”, segundo Sócrates, é a sede de uma areté que permite medir o homem segundo a
dimensão interior na qual reside a verdadeira grandeza humana. É na “alma\ em suma, que tem
lugar a opção profunda que orienta a vida humana segundo o justo ou o injusto, e é ela, portanto,
que constitui a verdadeira essência do homem, sede de sua verdadeira areté”(pag.34).
“Tendo em seu centro a noção de “alma”, os traços principais que vamos encontrar na idéia
socrática do homem são[...]”(pag.34).
“A teleologia do bem e do melhor como via de acesso para a compreensão do mundo e do
homem, e sobre qual se funda a natureza ética da psyché”(pag.34).
“A valorização ética, do indivíduo que encontrou sua expressão mais conhecida na
interpretação socrática do preceito délfico do “conhece te a ti mesmo (gnôthi sautón) do qual
resulta a necessidade da Cura e do cuidado com a vida inteira”(pag.34-35).
“A primazia da faculdade intelectual no homem donde procede o chamado intelectualismo
socrático inspirando a doutrina da virtude-ciência: ao exaltar o homem como portador do logos
e ao fazer da relação dialógica a relação humana fundamental, Sócrates é provavelmente a fonte
principal da definição do homem como zôon- logikón”(pag.35).

A antropologia platônica
“A influência do platonismo é, provavelmente, a mais poderosa que se exerceu sobre a
concepção clássica do homem, e até hoje a imagem do homem em nossa civilização mostra
indeléveis traços platônicos”(pag.35).
“A antropologia platônica apresenta uma, unidade resulta da síntese dinâmica de temas, cuia
oposição se concilia do ponto de vista de uma realidade transcendente à qual o homem se ordena
pelo movimento profundo e essencial de todo o seu ser a realidade das ideias”(pag.36).
“A teoria das Idéias, anunciada no Menon e amplamente exposta no Fedon, constitui o horizonte
segundo o qual são pensados a origem e o destino da “alma” (mito da preexistência e doutrina
da imortalidade), e para o qual a “alma” permanece essencialmente voltada pela
“reminiscência” (anamnesis) e pelo imperativo da “purificação” (kátharsis)”(pag.36).
“O tema do eros constitui o pólo que aparece inicialmente em oposição ao pólo do logos,
recuperando, no movimento total da experiência humana, a dimensão do corpo e da beleza
corporal”(pag. 36).
“A herança cosmológica da filosofia pré-socrática é assumida por Platão numa perspectiva
antropológica ou, mais exatamente, na perspectiva do finalismo da inteligência pensado agora,
à diferença de Anaxágoras, como imanente ao movimento cósmico”(pag.37).
“O lugar-comum que faz de Platão um “dualista” típico em sua concepção do homem não
parece respeitar a complexidade de motivos do pensamento antropológico platônico”(pag.37).

A antropologia aristotélica
“Aristóteles é considerado, com razão, um dos fundadores da antropologia como ciência e o
primeiro que tentou sistematicamente uma síntese científico-filosófica em sua concepção do
homem. No entanto, as idéias antropológicas de Aristóteles conheceram uma evolução
significativa, cujo estudo constitui um campo importante da bibliografia aristotélica
recente”(pag.38).
“Os passos seguidos por Aristóteles na passagem da primeira à segunda concepção desenham
uma linha evolutiva cuja reconstituição é justamente objeto de discussão entre os estudiosos.
Seja como for, em sua fase definitiva, a antropologia aristotélica tenta levar a cabo, como já o
fizera a antropologia platônica, mas com instrumentos conceptuais diferentes, uma síntese
entre, de um lado, o fisicismo jónico e o finalismo intelectualista de Sócrates e, de outro, a
filosofia da cultura herdada dos Sofistas”(pag.38).
“O centro da concepção aristotélica do homem é, assim, a physis, mas animada pelo dinamismo
teleológico da forma (entelécheia) que lhe é imanente e, como forma ou eidos, é seu núcleo
inteligível”(pag.39).
“[...] Aristóteles celebra também no homem a capacidade de passar além das fronteiras de seu
lugar no mundo e elevar-se, pela theoría, à contemplação das realidades transcendentes e
eternas”(pag.39).
“[...] Da civilização da polis, Aristóteles reúne numa imagem harmoniosa os traços mais
significativos do homem grego da idade clássica na hora em que irá iniciar-se um novo ciclo da
civilização antiga, trazendo consigo uma profunda mudança nessa imagem do
homem”(pag.39).
“[...] Aristóteles reúne naquela que podemos considerar sua concepção antropológica definitiva,
[...]”(pag.39).
“Estrutura biopsíquica do homem ou teoria da psyché55. O conceito de psyché em Aristóteles
é um conceito abrangente, que integra elementos de procedência diversa: o fisicismo jónico, a
investigação empírica da tradição da medicina e o intelectualismo finalista socrático-
platônico”(PAG.39).
“O homem como zôon logikón. Sendo, em razão de sua psyché, um ser que pertence, por sua
essência, ao âmbito da physis, o homem se distingue de todos os outros seres da natureza em
virtude do predicado da racionalidade”(pag.40).
“A racionalidade é, pois, a diferença específica do homem, e, ao acentuar esse aspecto,
Aristóteles prolonga a linha de reflexão antropológica que tem origem na Sofística e que fora
continuada, mesmo sofrendo profunda inflexão pela antropologia socrático-platônica”(pag.40).
“O ponto de vista do finalismo da razão. Sob essa perspectiva, Aristóteles considera a atividade
intelectual de acordo com o fim que ela tem em vista e que especifica o saber por ela
produzido”(pag.41).
“O ponto de vista dos processos formais do conhecimento. Em seus livros reunidos
posteriormente sob o título de Órganon (instrumento) e que, a partir da época helenística,
passaram a ser compreendidos no campo da ciência lógica (logikè episthéme), Aristóteles
recolhe e organiza toda a tradição lógica do pensamento grego, estreitamente ligada à arte da
discussão aperfeiçoada pelos Sofistas e Sócrates e herdada pela escola platônica, como também
à arte da demonstração desenvolvida pelo pensamento matemático”(pag.41).
“Aristóteles assegura ao predicado da racionalidade, próprio do homem, os instrumentos
poderosos e decisivos para que ele possa plasmar seu mundo segundo as exigências da razão,
ou seja, para que possa fazer da ciência o centro de seu universo simbólico”(pag.41-42).
“O homem como ser ético-político. Ao fazer do domínio da praxis um domínio específico e
autônomo de racionalidade, Aristóteles pode ser considerado, se não o criador, certamente o
sistematizador da Ética e da Política como dimensões fundamentais do saber do homem sobre
si mesmo, vem a ser, da antropologia”(pag.42).
“O homem como ser de paixão e de desejo. Esse aspecto da antropologia aristotélica costuma
ser menos estudado, mas é essencial para que se tenha uma visão integral de sua concepção do
homem”(pag.42).
“A antropologia aristotélica continua sendo, até hoje, um dos fundamentos da concepção
ocidental do homem. Os problemas levantados por Aristóteles em tomo da pergunta sobre o
que é o homem e as categorias com que tentou resolvê-los[...]”(pag.43).

Antropologias da idade helenística


“A época helenística (séculos III-I. a.C.) caracteriza-se, do ponto de vista da concepção do
homem, pelo advento do indivíduo ao centro da reflexão filosófica, consequência do declínio e
fim da polis grega como comunidade soberana na qual o indivíduo se sentia plenamente
integrado. Mas o individualismo helenístico tem características próprias que o tomam um
capítulo da concepção do homem clássico, e seria um erro tentar compreendê-lo à luz do
individualismo moderno”(pag.43).
“A concepção da psyché é, portanto, estritamente física, ela não é senão um agregado de átomos
e se dissolve com a morte. O atomismo permite, por outro lado, completar com uma concepção
associacionista a origem e formação das representações, sendo elas o resultado do eflúvio de
“imagens” (eídôla) que procedem dos átomos e se associam para formar as opiniões”(pag.44).
“No tempo de profunda crise da civilização helénica que foi o século III a.C., o Estoicismo,
preconizando a obediência à Natureza (omologouménôs tê physei zên ou naturam sequere
ducem) participa, de alguma maneira, das correntes “primitivas” representadas exemplarmente
pelos Cínicos e que se opunham à tradição “progressista” da Primeira Sofística”(pag.45).
“No centro da antropologia estóica, está igualmente, como no Epicurismo, o problema do
indivíduo. Trata-se fundamentalmente de definir as condições do seu “viver feliz”
(eudaimonía), e entre estas obtêm primazia aquelas que tomam o indivíduo independente ou
asseguram-lhe o senhorio de si mesmo[...]”(pag.45).
“Como a Ética estóica é, essencialmente, uma ética das virtudes que levam o homem a
conformar-se à natureza e a obedecer ao logos nela imanente, o estudo das paixões (pathê), que
são um obstáculo ou um auxílio para a virtude, passa a ser um dos tópicos fundamentais da
antropologia estóica, e suas minuciosas análises nesse campo justificam o título de fundadores
da Psicologia atribuído aos Estóicos”(pag.46).
“A visão monista da physis domina a antropologia estóica[...]”(pag.46).
“Primazia do logos na definição do homem segundo a tradição clássica. Mas, sendo o logos no
homem manifestação do logos que rege a physis, a vida segundo o logos (katà tòn lógon) será,
no homem, uma vida segundo a natureza (katà tên physin)”(pag.46).
“O ideal do Sábio expresso em sua independência (autárkeia) que o toma superior aos reveses
da Fortuna (tyche tomara-se uma deusa onipotente do imaginário religioso
helenístico)”(pag.47).
“O universalismo estóico que leva o Sábio a superar as particularidades de raça, pátria e
condição, podendo encontrar-se tanto sobre o trono imperial (Marco Aurélio) como nos
vínculos da escravidão (Epiteto), sem que essas contingências da vida humana alterem a
verdadeira natureza do Sábio”(pag.47).
“A idéia do dever (Tò kathekon) que terá grande influência no Estoicismo romano (M. T.
Cícero, De Officiis e a descoberta da interioridade que aprofunda o ‘conhece-te a ti mesmo”
socrático (pròs euatón ou “a si mesmo" como alvo dos pensamentos de Marco Aurélio)84
completam os traços da imagem estóica do homem, que representa uma das expressões mais
significativas do homem clássico”(pag.47).

A antropologia neoplatônica
“A concepção neoplatônica do homem constitui o estágio final da concepção clássica e, embora
recolha os elementos principais da tradição antiga, alguns de seus aspectos anunciam já um
novo ideal de humanidade, que encontrará no Cristianismo sua plena expressão”(pag.47).
“O platonismo, depois da brilhante geração da Primeira Academia, conhecera a fase cética da
Nova Academia (século I a.C.) e renascera vigorosamente no século II d.C., no chamado
platonismo médio, que precede e prepara o neoplatonismo. Para o aristotelismo, depois da
edição das obras esotéricas de Aristóteles por Andrônico de Rodes [...]”(pag.48).
“A antropologia neoplatônica acentua os traços espirituais com os quais o médio platonismo se
opusera ao Estoicismo85, opondo ao monismo estóico uma versão renovada do dualismo
psychésôma.”(pag.48).
“A idéia inteligível do homem compreende a presença da faculdade sensível (tò aisthetikón), o
que implica a colaboração essencial dos sentidos ao processo do conhecimento[...]”(pag.48).
“A estrutura do homem reflete a estrutura triádica da realidade superior (Uno-Inteligência-
Alma) na qual o homem está inserido”(pag.48).
“A descida da alma no corpo é, para Plotino, um evento natural e implica a relação da psyché
individual com este (seu) corpo”(pag.49).
“O homem é pensado em sua unicidade, o que implica a individualidade e pluralidade das
pessoas, na sua liberdade expressa na transcendência da psyché sobre a physis, no dualismo
finalista que atesta a presença da psyché na fronteira entre o sensível e o inteligível, enfim em
sua socialidade cuja manifestação plena é a vida virtuosa[...]”(pag.49).
“A concepção clássica do homem encontrou variadas e ricas formas de expressão”(pag.49).
“Nela já se fazem presentes os grandes problemas que alimentarão a reflexão antropológica ao
longo da filosofia ocidental”(pag.49).

REFERÊNCIA

VAZ, Lima Henrique. Antropologia Filosófica I, Belo Horizonte, Editora Loyola, 1998.
p.09-49.

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