Outras historiografias ao longo do tempo: o caso da historiografia chinesa
Identifique e caracterize os principais tipos historiográficos para o
caso chinês? Os textos primitivos - são os primeiros que se conhecem da historiografia chinesa, são os primeiros relatos escritos sobre uma sociedade. Constitui-se pelo livro dos Documentos (Shu-Ching) que reflete o pensamento Confuciano, sendo que, no pensamento de Confúcio, os pensamentos éticos deviam ser também usados para a base política, ou seja, existe aqui a ideia de ética pessoal. É uma cronologia recuada, a uma idade do ouro, idealizada. Tem como fontes os discursos anónimos e discursos solenes de reis. O seu conteúdo baseia-se na educação para os homens do governo, funcionários e eruditos. Faz também parte deste tipo historiográfico os anais da primavera e do outono. Refletindo uma ideia cíclica, este tipo historiográfico é uma compilação de todos os acontecimentos: crónica de registo, cronológica, entre 722-481 a.C., ou seja, ritos, sacrifícios, relação entre nobres e funcionários, fenómenos naturais, e tem uma função didática, sendo leitura obrigatória para os funcionários imperiais. Histórias dinásticas ou Histórias modelo – Histórias sobre a dinastia, ou dinastias chinesas que era, redigidas por funcionários estatais designados para tal, organizados numa comissão histórica. Era uma recompilação de informações sobre cada dinastia. Eram também histórias didáticas que serviam para ensinar. Outros textos históricos – podem ser grandes enciclopédias, histórias locais e geográficas, relatos escritos por estrangeiros, registos de atividade administrativa (é ela que fundamenta tudo aquilo que é a redação sobre o presente e o passado).
Qual o papel das Histórias-Modelo na historiografia chinesa?
Exemplifique As histórias modelo são histórias didáticas que servem para ensinar. Têm como objetivo a legitimação da dinastia Han, de modo que os modelos sejam postos em causa. Apesar de estes textos serem uma documentação continua e compilatória da atividade política e estatal na China, a sua influência e perceção externa não foi sempre igual. A sua existência como textos didáticos, de exemplo e educação aos homens da elite política e erudita, mas também a sua existência como meros catálogos informacionais, acabaram por ser criticados e questionados. E por vários ângulos: a história como institucionalizada, capturada pelo poder político, de forma a impor e manter a ordem, e a história sem critica, sem preocupação pela verdade e pela filologia, algo que discordava com o pensamento confuciano e neoconfuciano (o homem do presente, compreendido pelo passado, precisa de um passado real). Tópicos da historiografia no século XIX: o impacto dos nacionalismos Qual a importância dos movimentos nacionalistas do século XIX na Historiografia? Um dos movimentos com impacto no pensamento histórico, o nacionalismo, veio reforçar a emergência dos estados-nação e as suas implicações politico-culturais na história. A essencialidade da história nesta missão: vai levar ao nascimento do historicismo (corrente ou forma, de pensar o presente e o passado, onde o passado, o ensino, a investigação, tem uma predominância) e a um retorno ao passado distante e fundador: a idade média e os seus valores (por ser o momento de criação e consolidação dos estados-nação). A emergência dos estados-nação reclama uma tradição nacional. Como se justifica o retalhar da Europa, como se explica um estado, para além da sua fronteira física. Tem de se encontrar a fronteira cultural. Existe, então, uma necessidade em procurar os fundamentos da identidade própria de determinado estado, e isso está inevitavelmente no passado, através da fundação dos arquivos nacionais (congregar as fontes do passado, para se poder investigar as populações), do ensino patriótico da história e obras de recuperação do património escrito e material (obras exaustivas: textos, vestígios, artefactos… reúne-se tudo o que caracteriza o passado). Assim, dá-se o nascimento de obras historiográficas que refletem os estados- nação ou as nações culturais inseridas em outros estados-nação ou em estados multinacionais, como por exemplo, a história do povo sueco, história da Inglaterra, história dos estados unidos…etc. O objetivo era construir uma grande obra que encontre a identidade e justifique o novo espaço político-social desta população. É uma história global, baseada nas circunstâncias do presente: a necessidade de legitimação de um estado projeta-se no passado, a consciência do presente marca agora o passado. É o pensar do passado com olhos do presente, numa procura de justificar o presente. Mas esta visão acabar por propiciar deturpações do passado, para benefício do presente. Podemos concluir que as necessidades de legitimação dos estados-nação implicou o surgimento de uma tendência presentista, que projeta no passado a nação contemporânea, as suas fronteiras e a sua consciência histórica.
Caracterize a historiografia alemã do século XIX?
Herança filosófica do século anterior: tem influência do iluminismo do século XVIII: a dimensão filosófica, dos círculos burgueses e académicos. O idealismo (a mente e o espírito) deviam estar em comunhão. O romantismo (curiosidade sobre o passado, num sentido subjetivo: como se fosse vivido, com toda a emoção). Angústia sobre o presente). Há um interesse sobre o passado subjetivo, vivido e lido com todos os sentidos do Homem, nomeadamente, a sua emoção. Os sentimentos passam a ser importantes para interpretar a dimensão histórica, ou seja, parte da literatura torna-se outra coisa, com peso nas dimensões históricas. A História é vista como a luta pela liberdade, contra os vícios de um regime corrompido. A única forma de se conseguir estes objetivos é defendendo de uma história pragmática, ao serviço das causas políticas e sociais. Consequência do ambiente cultural deste período. Assim, este vai ser um período de grande intervenção política dos historiadores, especialmente na política. Identifique as principais fases da historiografia francesa do século XIX? Geração contemporânea, isto é o enaltecimento de quem viveu o mito da revolução burguesa. Sublinham a importância da burguesia e da sua grande obra, do grande progresso a si inerente e há um certo interesse no presente. A geração de 1815, onde dá-se uma aceleração do tempo após a rotura, a profissionalização da História, o triunfo da liberdade, do progresso, do forte otimismo histórico e antropológico. Há um otimismo em relação ao futuro e uma enorme confiança em relação a este. Acredita-se nas capacidades do Homem em se realizar nas suas mais plenas características. A geração de 1830, ao serviço de ideias liberais para assentar os fundamentos ideológicos da nova ordem social dos movimentos de Restauração. Há um comprimisso político e um romantismo (Idade Média e “paraísos perdidos”), sendo que a burguesia prevaleceu e tinha de ter alicerces políticos. Por fim, a geração de 1848, que se afastou da euforia e não é tão pessimista, mas tem ideais marcados. Reconhecem o valor de mudança/rotura e pensam na revolução como uma consequência natural do povo já há muitos séculos a querer conquistar um Estado liberal. Tópicos da historiografia no século XIX: o positivismo e a história científica Em que consiste o trabalho do historiador para Leopold von Ranke? Leopold von Ranke foi fundador do historicismo alemão clássico (toda a razão humana é histórica). Procura narrar os factos tal como aconteceram e privilegia a temática político-diplomática - tem a ver com a dimensão política, a dimensão fundamental do homem. Ranke defende um estoicismo alemão clássico: a importância da história e do passado no centro da vida do homem. Fundador do historicismo alemão clássico: toda a razão humana é histórica. Procura narrar os factos tal como aconteceram (os factos e as situações do passado como sendo únicos). Privilegia a temática político-diplomática (desvalorizando os fatores mais humanos ou individuais que possam estar envolvidos) e o ensino universitário. Vai acabar uma das suas obras explicando qual foi a metodologia utilizada, mostrando como a história devia ser considerada uma ciência (e como o método tal justificava). Para ele, há que ter uma enorme exaustividade das fontes, todos os objetos que podem ter decorrido da ação humana, quer objetos visuais, escritos, todos os vestígios do passado devem ser usados para o conhecimento da história. O passado podia se conhecer, exatamente como tinha acontecido, como qualquer outro objeto da ciência”). O empirismo histórico radical: exclui a teoria, a abstração, a filosofia. O único conhecimento vem da experiência. Deste modo, procura- se uma causa-efeito, segundo a ideia de que todos os fenómenos humanos são comandados por leis (sem qualquer intervenção divina. Momento de extrema racionalidade), de modo que, o presente e o passado podem tentar compreender-se por normas que condicionam todas as ações. O determinismo do comportamento humano (desconsideração da sua complexidade). A história torna-se no estudo “do que realmente se passou”. Como caracteriza a escola historiográfica fundada por Leopold von Ranke? A historia-ciência: grande desenvolvimento na escola alemã, especificamente na universidade de Berlim. Estamos perante uma disciplina autónoma, assente no tratamento metódico e científico das fontes primarias, com vista à narração dos factos passados, tal como foram.
Que papel desempenhou a publicação de revistas históricas no
âmbito da história científica do século XIX? Um papel de importância dos periódicos na divulgação de novas metodologias, especificamente do método e da ideologia de positivo-rankeano. Relevante para a autonomização e institucionalização da história como disciplina científica e para a profissionalização do ofício. Capacidade de atualização constante, um século de constante dinamismo na história precisa das suas próprias vias de expansão. Historiografia do século XX: da reação ao positivismo às novas ideias Qual o papel desempenhado por Friedrich Nietzsche para a historiografia dos inícios do século XX? Friedrich Nietzsche foi um dos intelectuais mais influentes do final do seculo XIX. Reflete sobre a natureza humana, cultura, moralidade e história, e fornece um contributo importante da filosofia na história deste período. Estudou filologia, mostrando a relevância que dava à critica, procurando criticar os documentos que leu, as dimensões e significado das palavras. Nietzsche defende que é necessário pensar o passado para conhecer as origens da moralidade moderna e da razão, para perceber as suas transições históricas e alterações e “para negar a crença num passado histórico do qual se possa aprender uma única e substantiva verdade”. A verdade não é única, mas é antes um conceito múltiplo. Não há uma explicação única para os acontecimentos. O homem faz-se na confluência de duas forças em competição, os dois lados, ambos necessários, do homem. Este é o centro do passado, é no homem onde encontramos as explicações do passado: a força caótica e criativa dionisiana e a força da ordem apolínea; ambas necessárias, o desequilíbrio é que é perigoso. O homem tem em si todas as capacidades para ser progresso, mas também para ser decadência, e mesmo na sua vida tem esse ciclo. Este propõe o esquecimento como uma necessidade, esquecer no âmbito de apagar algo da História: as sociedades dão importância ou não a certos aspetos que aconteceram no passado, a memória é seletiva e fomos feitos para não nos lembrarmos de tudo. O historiador não pode representar o passado de forma objetiva, pois ele é guiado pelos seus próprios valores, motivos, impulsos psicológicos (até inconscientes); o historiador não é imparcial. Defende, também, que cada indivíduo deve ser livre de extrair do passado aquilo que necessita, que é sempre subjetivo. Assim, a objetividade é sempre contingente e relativa. E as causas dos acontecimentos são elaborações mentais do próprio historiador. O cidadão deve ter a capacidade de ler os historiadores e tomar as suas próprias conclusões, inevitavelmente subjetivas, aquilo que for conveniente para a sua vida, nas suas facetas. O individuo deve ter capacidade de escolher e de interpretar a história Projetos historiográficos do século XX: a New History e a Escola dos Annales Quais as conceções de História que o movimento da Escola dos Annales procurava combater? Combatia-se a ideia de que a história estava em marcha constante até ao seu momento de desenvolvimento áureo, defendendo-se antes um ceticismo, uma crença na constante possibilidade de regressão, refletiva do contexto das grandes guerras. Combatia-se a ideia de que há grandes teorias que conseguem encapsular todos os elementos relevantes, dá-se, portanto, uma preferência pela história do particular e parcelar. Questiona-se a capacidade metodológica do período anterior: a objetividade como inalcançável, o historiador funciona como um mediador parcial da história (a sua contemporaneidade e as suas escolhas, desde fontes a interpretações, contaminam a objetividade), mas também se tem de considerar os contextos, tanto da sociedade em si como da nossa imaginação histórica. A história como uma ciência exata, tal como Ranke ou Comte defendiam, está em crise, agora a história vai ser antes aproximada das outras ciências sociais (especialmente a antropologia e a sociologia). Novas preocupações também alteram o ambiente epistemológico da história: o estudo da ciência, arte, das ideias e dos conceitos. Os annales como movimento historiográfico, pratico e teórico, estavam na fronteira de todas estas inovações.
Quais os objetivos principais da Escola dos Annales?
A história analítica orientada por um problema. Considera-se sempre uma pergunta de partida e uma procura de uma solução. Não é meramente identificar um facto histórico e explicá-lo, como se fazia antes, com o positivismo. Agora temos uma problematização, que vai muito para além da história em si, é uma questão muito multidisciplinar. Resolver a questão num amplo espetro de complexidade. Valorização da história socioeconómica. A importância do facto histórico em si deixa de ser central. Ampliação temática e disciplinar da História (vários temas abordados, tudo aquilo que diz respeito à vida do Homem, enquanto ser social, económico, ampliava-se as perspetivas de trabalho). O homem visto em toda a sua perspetiva. Já não é apenas a sua acessão política que importa para a história. Defesa da monografia histórica: causas e tempos globais. Escolher um tema e estudá-lo de forma ampla e profunda. A analise extensiva. Interdisciplinaridade, como veículo para a história total, para o rigor científico e para se atingir a globalidade. Pretendia-se também, uma ligação à sociologia, à antropologia e à ciência económica. - A história total através da pluridisciplinaridade (geografia, sociologia, psicologia) e da diversidade temática (história socioeconómica globalizante). Outro objetivo é a convergência entre teoria e prática na relação entre história e ciências sociais: rigor científico e globalidade através do diálogo interdisciplinar. A herança historiográfica dos Annales Qual o papel da interdisciplinaridade nas propostas historiográficas da Escola dos Annales? A interdisciplinaridade tem um papel importante sendo que este é um antecedente definitivo para o surgimento da escola dos Annales (especialmente o diálogo com a sociologia, geografia e antropologia). A procura de uma historiografia integradora e globalizante, aberta a todas as perspetivas, define o surgimento dos annales. Os autores precursores pensaram a história com outros elementos, numa abordagem multidisciplinar, que aproximava a história a outras ciências sociais. Lefebvre (abordagem mais económica), Pirrene (procura justificar a história do mediterrâneo com base em fatores socioeconómicos), Berr (também procurava a multidisciplinaridade). Quanto aos fundadores, Lucien Febvre e Marc Bloch, estes criam as suas próprias escolas. A revista surge como consequência da necessidade de institucionalizar as suas propostas (uma abordagem histórica, plenamente integrada, tanto na academia, como em publicações). A sua abordagem vai valorizar a história social e cultural, e vão ainda defender a multidisciplinaridade como veículo para a história total, a importância da diversidade temática (história socioeconómica globalizante), a convergência entre teoria e pratica entre a história e as ciências sociais, o rigor cientifico e a globalidade, através do dialogo interdisciplinar.
Qual o papel de Fernand Braudel na historiografia dos Annales?
No pós-II guerra mundial, deu-se uma necessidade de renovação e de reação ao golpe das guerras. Este momento é caracterizado pela busca de novos paradigmas, que procuram sustentar os modelos político-económicos em ascensão (comunismo ou capitalismo liberal). Deste modo, os historiadores necessitam de procurar respostas no passado muito estruturais e quantificáveis. A obra de Braudel dividida em 3 partes é refletiva do seu contexto: a fisionomia geográfica e o seu impacto, a história cultural e social e, finalmente, os acontecimentos políticos e dos homens. Estamos perante a inversão do paradigma: a secção mais importante já não é a história política, este já não é o centro da abordagem histórica. Braudel propõe uma renovação dos conceitos de tempo (divisão entre longa duração, [mais imutável], tempo social, [de medio prazo, quase geracional], e o tempo individual, [de curta duração, quase momentâneo]) e espaço (a história como global e multicausal, a ideia de que há uma correlação múltipla dos factos, de várias naturezas). Concluindo, o estruturalismo histórico, tal como defendido por Braudel e propagado na sua versão dos annales, reflete as condições imutáveis ou muito pouco mutáveis para o homem desenvolver a sua atividade, o seu quotidiano (por oposição à conjuntura, que são as condições a cada momento, circunstâncias temporais, mutáveis, que definem o comportamento humano). Este vai ainda defender a seleção de inúmeras fontes, de forma extensiva e com especial atenção às quantitativas. Exemplos: monografias de modelo geográfico-demográfico, como as de Labrousse e Chaunu, que revelam uma história económica e quantitativa, baseada em fontes e métodos estatísticos (tanto na descrição, como na analise teórica). Caracterize o movimento conhecido como a terceira geração da Escola do Annales. Exemplifique. No final da década de 70 temos um retorno à linguagem compreensível. Um abandono das narrativas de quadros esquemático e científico, típicos do estruturalismo. Novas dimensões entram nas preocupações da história: culturais, artísticas (as necessidades económicas do pós- guerra já estão distantes, a Europa já reganhou hegemonia política). As condições para a terceira fase da escola dos annales estão reunidas (e um novo nome escolhido: história e ciências sociais). A história das mentalidades (o estruturalismo económico desfavorecido). Um tempo marcado pela crise económica, pela ameaça nuclear e pelas catástrofes ecológicas (novas dimensões, com reflexões na população, levam a pensar a própria condição humana). Os modelos estruturais, científicos e materialistas da história em crise: são considerados demasiado práticos e apegados às fontes, com uma falta de interpretação dos dados. Revela a ausência de modelos interpretativos e de teorização (ideia de que “sem teoria não há histoóia”). Defende-se o estudo de grupos sociais que não as elites (algo que se tornava difícil de fazer quando o foco ainda era económico). Agora dá-se antes enfase a aspetos existenciais da vida diária. É o consolidar da micro-história, ou seja, da pequena condição. Preferência por matérias como a história cultural, a antropologia, a linguística e a semiótica (estudo da relação das palavras, parte da filologia), mas sem esquecer completamente a economia. O surgimento da história da vida privada: pela primeira vez dá-se especial atenção à infância, à família, ao ócio, ao tempo, à morte. A micro-história permite uma abordagem mais ampla, que considera mais experiências e modos de vida. Surgem novas disciplinas: psicohistoria, cultura popular, antropologia simbólica. Importância do conceito de mentalidades: ideias, condutas quotidianas e inconscientes. A história das mentalidades, por Georges Duby faz uma reprodução cultural e do imaginário social (As três ordens ou o imaginário do Feudalismo), mas tambem Michel Vovelle. Experiências coletivas do tempo (Jacques Le Goff: o tempo da igreja, do mercador, no imaginário medieval). Philipes Ariès: preocupação pela cultura, infância, morte. Roger Chartier: história dos livros e da alfabetização (refletindo as categorias sociais, profissionais e os hábitos culturais, denunciando as novas preocupações históricas). Uma geração com preocupações renovadas: um novo publico, consequência da alfabetização, mas também novas formas de divulgação. Continuação da preocupação política, mas agora das massas, de toda a população, em todos os grupos sociais (a decadência da elitização na história em funcionamento). A História do Tempo Presente Quais as fontes utilizadas pelos historiadores que se dedicam à chamada História do Tempo Presente? A história do tempo presente diferencia-se por ser uma história com recurso a documentos mais imediatos, especificamente a utilização da imprensa como ferramenta essencial. “Mais o documento corrente, menos o documento de arquivo”. As suas fontes são mais diversificadas, mas contemporâneas, especificamente, orais, mas também vivas (testemunhos), documentos normativos (que antes não teriam tido a mesma consideração, como um testamento ou uma publicidade). O passado não está morto, há uma certa continuidade e necessidade de objetividade dos factos, sendo a história caracterizada pela sua interdisciplinaridade (ciência política, jornalismo, psicologia, antropologia, relações internacionais…). A história significa testemunha do momento, o pensar no passado através do presente, com especial contributo dado ao historiador pois o passado é aquilo que este quer que seja, o presente determina e condiciona completamente o passado, de tal forma que este movimento acredita que a história se confunde com a experiência do historiador. Faz-se uma reflexão sobre o tempo: o passado, o presente e o futuro, uma vez que estes estão ligados, e cabe ao historiador tecer essa linha de ligação. Assim, há uma cronologia dinâmica, movel e inacabada. Todo o trabalho coloca-se no historiador e na sua experiência de vida, e como é que estes aspetos condicionam tanto o passado como o futuro, uma vez que o historiador está inevitavelmente inserido no seu próprio tempo. Problemáticas historiográficas: os “campos” da História ou as especialidades da História O que entende por história fragmentada no século XXI? Exemplifique. A historiografia fragmentada é um conceito aplicado à História do século XXI em que se multiplicam os objetos e os temas que o historiador pode e quer conhecer. Isto é, a História feita hoje já não encaixa em divisões clássicas, como História Política, Económica, Social, mas é muito mais fragmentada e diversificada. Tudo se estuda, hoje, em História. As escalas de observação são perspetivas em que o historiador vê o passado, e podem ser mais amplas ou mais focadas num objeto preciso. É preciso uma hiperespecialização, a história subdivide-se cada vez mais. Os historiadores procuraram desenvolver partes específicas do mundo, dá-se, por isso, uma expansão do campo da história, por diversas áreas, onde tudo pode ser alvo de investigação. As preocupações que se tinham alargado no mundo anterior, tais como o quotidiano, a cultura ou a morte, levam a uma fragmentação, a uma divisão na própria exploração genérica da história. Há, portanto, uma procura por uma análise mais extensa e profunda, a procura do globalismo, onde todos os pormenores precisam de ser conhecidos num só tema específico. Isto leva à perda de uma visão em conjunto, da inserção da parte no todo, sendo necessário a especificação por parte do historiador, tornando-se essencial que o seu trabalho seja feito em coletivo e de forma multidisciplinar, a fim de não se perder a visão global. Identifique e caracterize escalas de observação usadas pelo historiador para compreender o passado? As formas mais micro ou mais macro de observar a história. As aproximações à realidade, a gradação com que analisamos um tema, as dimensões ou os domínios que abordamos, podem ser muito diferentes. Temas, métodos e discursos da História no século XXI Que desafios o século XXI impõe ao historiador e à disciplina histórica? No século XXI, o historiador depara-se com novos desafios, sendo estes a procura pela objetividade, que agora complexifica-se pelo facto de esta ter um papel inevitável na formação de uma consciência histórica. Há que repensar o tempo. Isto é, aceitar que o passado não está terminado e tem uma continuação no presente. Assim, dependendo do discurso escolhido, o historiador passa a ter a capacidade de alterar o passado. O historiador não é um simples funcionário, ele tem agora um papel ativo na sociedade, e deve desmitificar as crenças criadas pela memória coletiva, de modo que passa a existir a possibilidade de este ser questionado por qualquer pessoa, os cidadãos podem e devem questionar, pois este é agora responsável pela sua própria produção, já não se deve permitir fechar no próprio ambiente. No século XXI, as sociedades estão ativas no seu próprio presente, devido à existência da internet, há um comentário constante e, o papel da história deve se submeter a esse comentário. O instituto pretende ser uma abertura do trabalho do historiador à sociedade. Pode haver uma seleção de dados culturais segundo tópicos e motivos do presente, isto é, a criação de imagens do passado, que não precisam necessariamente de ser verossímeis pois a sua imaginação é subjetiva a um autor. Dá-se uma mudança neste conceito de cultura popular, condicionados pelas questões políticas, sociais e ideológicas contemporâneas. Como se faz história no século XXI? O século XXI é comandado pela ideia de que o passado não está morto, havendo uma continuidade histórica. É preciso analisar a história sem quaisquer condicionantes do presente, ou seja, em busca da objetividade, sem perder consciência de como o presente molda. A história está diretamente ligada com a interdisciplinaridade, assim como o jornalismo, a psicologia, a ciência política, a antropologia, as relações internacionais…entre outras, e estas novas matérias permitem uma nova visão histórica, levantando questões, tais como: “como pensar o próprio tempo?”. Devido às tecnologias particulares deste século, a escrita histórica encontra-se constantemente sob vigilância e, por isso, o historiador tem o papel de desmitificar crenças geradas pela memória coletiva e tentar formar uma consciência histórica. Numa continuidade relativamente às tecnologias referidas, a história do século XXI está exposta à utilização das Humanidades digitais (no caso do projeto iForal): plataforma de edição digital. A história é um debate, pergunta-se o que é história, quais os seus objetivos de estudo, qual a sua missão, etc. Quanto às suas fontes, estas podem ser orais, vivas (testemunhos), documentos normativos, todas as fontes possíveis que evidenciem aspetos do passado, todas as formas de pensar e reviver o passado (arqueologia, publicidade, fotos ou filmes, a observação local…). A imprensa torna-se uma ferramenta essencial do trabalho do historiador (mais o documento corrente, menos o documento de arquivo). Relativamente aos métodos usados, estes podem ser científicos, de amplo espetro, isto é, muito abrangente (por exemplo, desde um drone à leitura paleográfica). Contudo, não existe só o discurso científico, é importante que a produção historiográfica se destine à sociedade. Existem várias formas de chegar ao presente e ao mundo em geral, como por exemplo numa exposição num museu ou numa biblioteca, cartazes publicitários, produção para a imprensa ou para as redes sociais, em congressos ou aulas. Há, portanto, uma diversidade dos discursos, mas também uma diversidade dos ouvintes, pois a sociedade é recetora. Nos próprios discursos acabam por surgir novos conceitos que em si moldam a história que se faz hoje. Os temas são especializados, há uma relação com aquilo que o homem hoje pretende saber sobre o seu passado, sobre aquilo que o homem precisa. Interessam as várias disciplinas e envolvem figuras dessas mesmas (multidisciplinaridade), sendo um aspeto que molda não só os temas, mas as formas de se fazer e falar sobre a história.
Fichamento Igor Amorim-BLOCH, Marc. "A Observação Histórica". in A Apologia Da História Ou o Ofício Do Historiador. Rio de Janeiro Zahar, 2001.cap. II PP 69-87