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FICHAMENTO "HISTÓRIA E PORDER" - FRANCISCO FALCON

Poder e política na historiografia ocidental — ou ascensão, apogeu e declínio


da história política

A primeira Concepção de história nasceu com os gregos, se tratando de uma


narrativa das ações heroicas ou dos humanos dignos de serem lembrados, por isso
destaque para as cidades-estados, impérios e monarquias que estava no centro das
narrativas históricas.
a história dos historiadores se consolida ao longo dos séculos e mais tarde foi
chamada de história política tradicional, que definiu temas objetos, princípios e
métodos.
História -> memória -> poder

A historiografia humanista e renascentista colaborou com crítica das Fontes e


eliminação de lendas em busca de fatos verossímeis. sendo assim, a história
deveria promover provas e argumentos a respeito desses fatos. antes os
historiadores que estavam a serviço dos poderosos não eram muita exigentes na
crítica das Fontes - histórias pragmáticas.

idade moderna - história política apresentava características importantes:


1. continuava tendo função de mestra da vida, mas também era utilizado no
ensino da retórica
2. Questionamento quanto a capacidade da história e ensinar moral e ética -
ensina política
3. se refere cada vez mais as monarquias nacionais dos Estados absolutistas,
sendo precursora das histórias nacionais focadas na ideia de estado-nação

A ilustração e o romantismo entre o século 18 e 19 destacaram a importância do


político para a concepção de história. pois iluministas e românticos apesar de suas
diferenças estavam ambos comprometidos com a ideia de que a história deveria
ser história política.

historiografia dos iluministas abrange


1. história interpretada pelo filósofos - criticava a natureza descritiva factual e
essa é realmente política da história, propondo uma história filosófica
2. histórias produzidas por historiadores eruditos, chamado de antiquários -
aperfeiçoaram a crítica das Fontes documentais e revelaram novos acervos
para a investigação histórica
Romantismo propôs e defendeu perspectivas Opostas às do Iluminismo:
destacaram a importância do sentimento, da intuição, do individualismo, o
organismo e a história. foi o romantismo que colocou o estado nação como tema
central da investigação e da narrativa histórica. fez críticas das Fontes como parte
do método histórico na busca por garantir a cientificidade do conhecimento e se o
caráter verdadeiro, introduziu o conceito de história como singular coletivo,
conectado ao conceito de revolução. a história aí então no estado sua expressão
política o qual será lugar de honra na historiografia do Oitocentos.
a escola histórica alemã se caracterizou pela erudição, crítica documental rigorosa
busca por novas fontes E conhecimento filológico (filologia é o estudo do texto,
incluindo sua linguagem e seus aspectos literários, por meio da análise histórica de
documentos escritos)
Algum destaque a importância da promoção do Estado a condição de objeto por
Excelência da produção histórica O que significou a hegemonia da história política.
Com a decadência do Romantismo surge o que denominamos como historiografia
positivista, a qual se voltava para os valores do cientismo, Também sendo
conhecida por historiografia metódica uma vez que os métodos históricos deveriam
garantir a cientificidade que era considerada indispensável e isso exaltou a história
política - narrativa, factual e linear - que criou um discurso histórico próprio que
distinguia a verdade Histórica de uma ficção literária separando em dois tipos de
fatos: os verdadeiros que poderiam ser comprovados e os falsos que não possuem
comprovação possível . Daí a ideia de descrever os acontecimentos do passado tal
como realmente se passaram.
Textos como os de Marx e engels mostram que os acontecimentos políticos não se
auto explicam, eles exigem a análise de outras dimensões da realidade histórica. é
quando a história política passa a incluir além de questões políticas, questões
sociais e ideológicas.
durante as primeiras décadas do Século XX as críticas fizeram parte de uma revolta
antipositivista, Que foi inovadora mas não abalou a posição dominante da história
política, da historiografia metódica ou positivista.
mas o historicismo destacou o psicologismo como elemento explicativo das ações
dos Grandes Homens e privilegiou o papel das ideias.
O declínio da história política ocorre a partir de 1929, quando ocorre a primeira
publicação dos Annales, sob a direção de Marc Bloch e Lucien Febvre, Que propôs
ampliação do domínio historiográfico, entendendo a história como o estudo do
homem no tempo ou da sua totalidade social e redefinindo conceitos como
documento, fato histórico e tempo. a história política tradicional sofreu severas
críticas por parte desses historiadores. Jacques Julliard caracterizou a história
política como elitista, talvez biográfica e ignorante a sociedade global e as massas;
ignora a comparação; é narrativa; é parcial e não sabe e ignora o inconsciente; é
uma história factual. mas é importante deixar claro que a condenação da história
política não excluiu o político e o poder das preocupações dos annales.

Novos caminhos do poder e da política na historiografia contemporânea

Entre 1945 e o final da década de 70 ocorre a crise final da história política


tradicional dando espaço para a criação da nova história política. a partir de 45 a
história política tradicional foi alvo dos annales, do Marxismo, do estruturalismo, etc.
É importante destacar que essa condenação da história política teve maior força na
França, não se aplicando igualmente a países como grã-bretanha, Itália, Alemanha,
Estados Unidos e Brasil. a história política não desapareceu e em muitos
momentos aqueles que buscavam outras perspectivas precisaram olhar para fora
inclusive para fora dos seus países. Os Annales incorporaram termos e conceitos
gerais do Marxismo, começando pelo conceito de luta de classes.
A nova História consagrada nos anos 70 coloca a história política no lugar
secundário. a primeira geração dos Annales, de Bloch e Febvre, caracterizou a
história política como história factual (événementielle); A segunda geração de
braudel relegou suas políticas ao tempo curto (curta duração), ao qual os eventos
políticos pertencem, portanto revoltas e revoluções também foram relegadas ao
tempo curto.
a percepção marxista do político e da história política sempre foi oposta a história
política tradicional. a visão marxista denunciou ainda no século XIX a falta de
vínculo do político com processo histórico, se tornando empresa fácil da ideologia a
história é voltada para poucos agentes históricos individuais, assim como discurso
histórico narrativo, cronológico e linear, optando por uma epistemologia empirista.
Marxismo ocidental Foi decisivo no período entre guerras com o aparecimento de
diversas correntes marxistas Que serviu para contrabalancear tendências empiristas
e subjetivistas, atribuindo importância às condições materiais, as estruturas
socioeconômicas focando nas classes e grupos sociais e movimentos coletivos em
geral. a reprodução da ideologia no discurso histórico foi muito decisiva.
o Marxismo produziu dois efeitos opostos:
1. trouxe de volta ao primeiro plano da escrita histórica o poder, o político e a
política
2. Mas intensificou a rejeição da história política tradicional

No fim da década de 50 o estruturalismo se expande no campo das ciências


humanas o que impactou os métodos dos annales de fazer história. o autor traz o
confronto entre história e antropologia abordando o antropólogo Levi Strauss. foi
importante incorporar a tendência dominante o estruturalismo que era o mesmo que
ser científico e os annales em 71 proclamaram o nascimento de uma história
estrutural - a nouvelle histoire.

o autortambém destaca a importância dos métodos quantitativos aplicados ao


histórico Econômica, social e demográfica que trouxe novas possibilidades ao
estudo de ciclos e conjunturas econômicas. diferente da história quantitativa, a
história serial agrega novas críticas a história política tradicional.

a terceira geração dos annales abandonou algum paradigmas centrais o que


terminou por inviabilizar a possibilidade de uma história total, descartando a ideia
de uma grande história e admitindo múltiplas histórias. A terceira geração buscou
fora da historiografia métodos para repensar as relações entre estado e sociedade.
Se abriu para concepções e temas pouco vistos pela historiografia, como por
exemplo os poderes e seus saberes e Foucault colocou em destaque a relação
entre as diferentes práticas sociais e a pluralidade e onipresença dos poderes. É
quando a historiografia política se debruça sobre o cotidiano de cada indivíduo ou
grupo social, com o auxílio de novas correntes marxistas. importante ressaltar os
contatos e as trocas interdisciplinares da escola dos annales. O estudo do político
compreende além da política tradicional mais representações sociais ou coletivas,
seus imaginários, memórias, mentalidades e práticas associadas ao poder.

A nova história política foi possibilitada por questões históricas como advento da
sociedade pós-industrial o retorno do acontecimento como notícia e a percepção
aguda do caráter eminentemente político das decisões governamentais inseridas
nas políticas públicas a universalização da burocracia e a programação dos setores
das atividades sociais. ocorre uma politização inevitável dos acontecimentos,
atitudes, comportamentos, idéias e discursos. Nesse momento a problemática muda
para dificuldade do entendimento da história fora do universo político.

Certo que existe um consenso na crítica ao empirismo positivista e a narrativa


tradicional do discurso histórico político e houve necessidade de propor novas
abordagens e métodos para a nova história política. o historiador político deve
passar do estudo institucional do estado para o estudo do poder no processo de
eliminar questões tradicionais.
René Rémond Deixa claro que o político existe, podendo ser determinante ou
determinado, Dotado de certa autonomia e capaz de influenciar no curso da
história. para Julliard é o acontecimento político que deve ser revisto.
Peter Burke em a escrita da história expõe a divisão da história política entre a
preocupação com o centro de governo (poder) e com as raízes sociais (da política e
do poder). ele situa os estudos de minorias das relações entre gênero e poder e
outros e assinar a descoberta da cultura pelos historiadores políticos partindo do
termo “cultura política”. Remond Depende a necessidade e legitimidade da história
política, enquanto autores como Chartier desconfiam dela.

Poder e política na historiografia brasileira recente

No campo da história política a via de Mão Dupla que liga história e poder é
bastante necessária. Ocorre o predomínio da historiografia política até a década de
70 no momento que sucede as tensões e conflitos dos anos 60 as supostas
harmonias trazidas pelo milagre brasileiro . O poder entre em cena a partir de 1964
e é decisiva após 1969. importante Lembrar que no início da década de 70 ocorrem
diversas avaliações crítica da historiografia brasileira, onde inclusive busca
esclarecer a abrangência da noção de produção histórica. antes de 70 os temas a
respeito de poder estavam se referindo ao estado, mas após 1964 a historiografia
brasileira conta com apoio dos aparelhos de estado. a partir de os historiadores
foram introduzindo além da crítica A história política novos métodos novos objetos,
além de ampliar o diálogo com cientistas sociais. Novas perspectivas teóricas foram
resgatadas assim como objetos pouco frequentados, discutindo-se novos métodos.
um exemplo disso é o livro de 1968 “Brasil em perspectiva”. Mas naquele ano
essas mudanças se esbarraram na tradição e na repressão. desde 1964 a
repressão visou núcleos inovadores como a ANPUH, historiadores e cientistas
sociais da USP, da antiga FNFi, do ISEB, etc. Em 67 foi fundado o CPDOC da
Fundação Getúlio Vargas, Muito importante para a renovação da pesquisa e da
escrita histórica política do Brasil contemporâneo.

após 1970 os brasilistas tem importância na historiografia brasileira seja nos


trabalhos por eles produzidos ou na sua influência na produção de outros trabalhos.
o autor traz dados do arquivo nacional que mostram a porcentagem de trabalho
sobre história política, social, Econômica destacando a preponderância quantitativa
da história política.
Se tratando das consequências do controle repressão inclusive impostos ao
trabalho intelectual, assim como cassações, exílios, a censura e a própria Auto
censura, as denúncias ideológicas e todas as proibições Lapa denomina de
atividade castradora do Estado. Que vemos nos anos 80 é uma progressiva
libertação em Face do Estado, havia proposta de legitimar novos objetos, métodos
e abordagens. a universidade teve importante papel nisso, no sentido da
profissionalização Mas também da produção em torno do tema inclusive nos cursos
de pós-graduação. dessa forma a universidade se consolidou como um espaço por
Excelência da produção do conhecimento histórico.

o historiador voltado para temas políticos como poder, política programas de


Ciências Sociais foram muito importantes. a renovação da história política em
outros centros culturais passou e passa necessariamente pelo diálogo do
Historiador político com a sociologia, a antropologia e a ciência política.

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