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A escrita da nova história:

Novas perspectivas
Peter Burke (organizador)

Profº Machado
Sobre o autor

● Nascido em 1937
● Historiador inglês
● Doutorado em Oxford
● Professor emérito de Cambridge
● Inicialmente especialista em história moderna europeia
● Professor-visitante do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) 1994 - 1995
● Foi colunista da Folha de SP
● Especialista na obra de Gilberto Freyre
● A obra é organizada por Burke, que escreveu o primeiro e o último capítulo.
A nova história seu passado e seu futuro

● Inicia apontando o fato de que a história foi dividida em várias áreas


● Na última geração, o universo dos historiadores apresentou uma expansão.
● História mundial x História regional
● História social se desmembrou da história econômica.
● Ramificações da história econômica: Demografia histórica, história do trabalho, história
urbana, história rural
● História econômica nova 1950 e 1960, altera a reflexão de produção para o consumo.
● Essa mudança gera dificuldade entre história econômica, social e cultural
● A História política tem suas visões; luta pelo poder na fábrica, luta pelo poder na
escola, luta pelo poder na família.
● Colapso na história e a crise de identidade como consequência do crescimento: "Se a
política está em toda parte, é preciso história política?"
● A nova história questiona o paradigma tradicional.
● A expressão Nova História se popularizou na França, tendo como um dos principais
representantes o historiador Jacques Le Goff.
● A nova história é alinhada com a escola dos Annales de March Bloch e Lucien Febvre
● A nova história é um termo vago, definido pelo que critica (aquilo que ela não é)
● Thomas Kuhn "Ciência é elaborada através de saltos." Os paradigmas anteriores são
bloqueados pelo novo salto.
● Um colapso de paradigma, um choque com a história rankeana
"Em segundo lugar, os historiadores tradicionais pensam na história com o essencialmente
um a narrativa dos acontecimentos, enquanto a nova história está mais preocupada com a
análise das estruturas. Uma das obras mais famosas da história de nossa época, o
Mediterranean de Fernand Braudel, rejeita a história dos acontecimentos como não mais
que a espuma nas ondas do mar da história. Segundo Braudel, o que realmente importa são
as mudanças econômicas e sociais de longo prazo e as mudanças geo-históricas de muito
longo prazo. Embora recentemente tenha surgido alguma reação contra este ponto de vista
e os acontecimentos não sejam mais tão facilmente rejeitados quanto costumavam ser, a
história das estruturas de vários tipos continua a ser considerada muito seriamente."
● De acordo com o paradigma tradicional, a história diz respeito essencialmente à
política: "História é a política do passado e política a história do presente" Jonh Seeley
● Nesse ponto a ponto a política é admitida essencialmente relacionada ao Estado, mais
nacional e internacional que regional.
● A nova história engloba a história central sem desconsiderar a história periférica, além
da política, envolvendo a cultura.
● Relativismo cultural e refletir sobre o todo.
● O paradigma tradicional acreditava que a história era uma narrativa dos
acontecimentos e a nova escola se debruçava nas estruturas.

Brudel = Acontecimento, conjunta e estrutura. Além da história individual


"Em terceiro lugar, a história tradicional oferece uma visão de cima, no sentido de que tem
sempre se concentrado nos grandes feitos dos grandes homens, estadistas, generais ou
ocasionalmente eclesiásticos. Ao resto da humanidade foi destinado um papel secundário
no drama da história. A existência dessa regra é revelada pelas reações a sua transgressão.
Quando o grande escritor russo Alexandre Pushkin estava trabalhando em um relato de um
a revolta de camponeses e de seu líder Pugachev, o comentário do czar Nicolau foi que tal
homem não tem história. Nos anos 50, quando um historiador britânico escreveu uma tese
sobre um movimento popular na Revolução Francesa, um de seus examinadores
perguntou-lhe: "Por que você se preocupa com esses bandidos?”

História da elite e dos grandes personagens.

O que os vencedores falam sobre os subalternos? Ex: Hegel e a África.


QUESTÃO

A nova história é a história escrita como uma reação deliberada contra o “paradigma”
tradicional, aquele termo útil, embora impreciso, posto em circulação pelo historiador de
ciência americano Thomas Kuhn. Será conveniente descrever esse paradigma tradicional
como história rankeana, conforme o grande historiador alemão Leopold von Ranke
(1795-1886) […]. Em prol da simplicidade e da clareza, o contraste entre a antiga e a nova
história pode ser resumido em seis pontos.

(Peter Burke (org.), A escrita da história: novas perspectivas)

Segundo Burke, a história tradicional


Alternativa
● oferece uma visão de cima porque se concentra nos grandes feitos dos grandes homens,
como os estadistas, e a nova história preocupa-se também com a história vista de baixo, caso
da história da cultura popular.
● Pensa nas estruturas econômicas como determinantes das esferas política e social, enquanto
a nova história coloca as ideias como centrais para se compreender as transformações
estruturais humanas.
● estuda os espaços e as organizações transnacionais a partir das referências da cultura, de
modo bem diverso da nova história, preocupada com as histórias nacionais e privilegiando as
tradições das elites políticas.
● Trabalha com um rol diversificado de fontes, escritas ou não, enquanto a nova história passou
a difundir a novidade metodológica de utilizar, em especial, documentos produzidos com a
finalidade de serem um documento.
● restringe-se às grandes ordens econômicas, como o feudalismo e o capitalismo, e, para a
nova história, a mais importante função do conhecimento histórico é tratar da dimensão
institucional da política.
Como surgiu a nova história?

● O autor estabelece os pontos fortes e fracos da nova história.


● O movimento de mudança nasceu a partir da percepção difundida da inadequação do
PARADIGMA TRADICIONAL
● Essa reestruturação só pode ser compreendida se olharmos além do pensamento do
historiador, para as mudanças no mundo mais amplo.
● A novas influências externas sobre a escrita da história: Descolonização e o feminismo
e seus impactos na escrita recente.
● Novos problemas: definição, fontes, métodos e explicação.
● Definição: Oriente x Ocidente (os autores estão avançando em território não familiar)
● O ocidente e o resto
"Daí resultou uma situação curiosa. Por um lado, o impacto da Europa no conceito da
própria história tornou-se ainda mais forte que antes. Historiadores da Ásia e da África
frequentemente iam para a Europa para estudar história, ou pelo menos para concluir sua
educação. Trabalhavam em arquivos ocidentais e se valiam dos modelos ocidentais para
aprender com a história que deveria ser estudada e escrita. Assim , com o os japoneses após
a revolução Meiji, eles aprenderam a história a partir do ponto de vista ocidental."
● A importância de distinguir a HISTÓRIA DAS MULHERES da HISTÓRIA DOS HOMENS,
ênfase dada pela historiadora Joan Scott.
● A ingênua assemelhação das diferentes classes dominadas
● Em algumas partes do mundo, a HISTÓRIA DO POVO é contatada como A HISTÓRIA
DOS DOMINADOS, em paralelo com as CLASSES SUBORDINADAS.
Questão

A nova história é a história escrita como reação deliberada contra o “paradigma” tradicional,
aquele termo útil, embora impreciso […] Será conveniente descrever este paradigma
tradicional como “história rankeana”, conforme o grande historiador alemão Leopold von
Ranke (1795-1886). Poderíamos também chamar este paradigma de a visão do senso
comum da história, não para enaltecê-la, mas para assinalar que ele tem sido com
frequência – com muita frequência – considerado a maneira de se fazer história.

(Peter Burke, A escrita da história: novas perspectivas)

Para Peter Burke, a antiga e a nova história se contrastam, entre outros pontos, pois, em
termos do paradigma tradicional, a história
Alternativas
● Entende que a pesquisa e a escrita da História devem se restringir ao espaço local ou
regional; já a nova história, tem como grande objeto de investigação a formação e o
desenvolvimento dos Estados Nacionais Modernos.
● Considera que o texto historiográfico precisa ser baseado na filosofia especulativa da história;
a nova história defende que os investigadores do passado humano desenvolvam pesquisas
sobre a epistemologia da história.
● percebe a profunda relatividade do conhecimento do passado, cabendo ao historiador
construir várias versões possíveis; a nova história tem radical comprometimento com a busca
da verdade histórica.
● abrange as relações entre as esferas do político, econômico e cultural, privilegiando o
espaço global; na nova história, recomenda-se o uso de documentos escritos e oficiais,
isentos de qualquer contaminação ideológica.
● diz respeito, em essência, à política e pensam a história como fundamentalmente uma
narrativa de acontecimentos; a nova história tem interesse em toda a atividade humana e
cuida da análise das estruturas
● A DEFINIÇÃO DA HISTÓRIA VISTA DE BAIXO, é uma alternativa que traz problemas e
precisa de reflexões: Essa história deveria discutir os pontos de vistas e as ações de
todos os excluídos do poder ou deveria lidar com a política em nível local?
● Definição: Dificuldade de definir HISTÓRIA DA CULTURA POPULAR é a noção de
"cultura".
● Uma noção ampla de cultura entende que Estado, grupos sociais e até o sexo são
culturalmente construídos, porém, o que não deve ser considerado cultural?
● Explicação: Outrora rejeitada como trivial, a história da vida cotidiana é encarada
agora, por alguns historiadores, como a única história verdadeira, o centro a que tudo o
mais deve ser relacionado.
● Consequência e impacto do relativismo cultural é o desmembramento da HISTÓRIA
CULTURAL e a HISTÓRIA SOCIAL.
● Segundo Norbert Elias, a noção de cotidiano é imprecisa:
● “Igualmente difícil de descrever ou analisar é a relação entre as estruturas do
cotidiano e a mudança. Visto de seu interior, o cotidiano parece eterno. O desafio para o
historiador social é

Mostrar como ele de fato faz parte da história, relacionar a vida cotidiana aos grandes
acontecimentos, como a Reforma ou a Revolução Francesa, ou a tendências de longo prazo,
com a ocidentalização ou a ascensão do capitalismo."
O problema das fontes

● Os maiores problemas atualmente estão nas fontes


e nos métodos: Em busca de novas fontes é
necessário observar as entrelinhas.
● Fontes tradicionais podem ser tão dispersas quanto
fontes não tradicionais (oral).
● Fotos e imagens: Assim, como os historiadores, os
fotógrafos não apresentam reflexos da realidade,
mas apresentações da realidade.
● Imagem para interpretar x imagem para comprovar.
● É muito fácil discutir um grupo, interpretando uma
obra de Albrecht Durer.
● Métodos quantitativos: concentram-se na obtenção de informações por
meio de ferramentas como pesquisas e questionários.
● História serial e história das mentalidades, assim denominada por serem os
dados são expostos em séries.
● História serial precisa ser tratada como problemática especialmente quando
as mudanças estudadas a longo prazo.
QUESTÃO

“Método histórico, método filosófico, método crítico: belos utensílios de precisão. Honram
os seus inventores e as gerações que os usaram, que os receberam dos seus antecessores e
os aperfeiçoaram, utilizando-os. Mas saber manejá-los, gostar de os manejar — isso não
chega para fazer o historiador. Só é digno desse belo nome aquele que se lança totalmente
na vida, com o sentimento de que ao mergulhar nela, ao penetrar-se na humanidade
presente, decuplica as suas forças de investigação, os seus poderes de ressurreição do
passado. De um passado; que detém e que, em troca, lhe restitui o sentido secreto dos
destinos humanos”.

(FEBVRE, L. Combates pela história. Lisboa: Editorial Presença, 1989, pp. 49-50).

Peter Burke define a “Escola dos Annales” como uma revolução francesa da historiografia.
Constituem elementos dessa revolução:
Alternativas
● Esse movimento pode ser sintetizado no período entre 1920-1945, e caracterizou-se por ser
pequeno, radical e subversivo contra a história tradicional, a história política e a história dos eventos.

⦁ Depois da Segunda Guerra Mundial, o movimento, que mais se aproxima verdadeiramente de uma
“escola”, com conceitos diferentes (particularmente estrutura e conjuntura) e novos métodos
(especialmente a “história serial” das mudanças na longa duração).

⦁ Na história do movimento, podemos falar em uma terceira fase que se inicia por volta de 1968. É
profundamente marcada pela fragmentação, no entanto não podemos falar num distanciamento dos pais
fundadores.

⦁ O crescimento dos Annales ultrapassou as fronteiras da França, país de origem do movimento e se


enraizou em cada país ocidental. Na Inglaterra, por exemplo, esse movimento ficou conhecido como Nova
História Social.

⦁ A Escola dos Annales incorpora diversos conceitos marxistas, como “estrutura”, “classes sociais” e
“totalidade histórica”, caracterizando o movimento como uma variante das escolas históricas do marxismo
ocidental.
ELEMENTOS DA REVOLUÇÃO CONFORME PETER BURKE

"Esse movimento pode ser dividido em três fases. Em sua primeira fase, de 1920 a 1945,
caracterizou-se por ser pequeno, radical e subversivo, conduzindo uma guerra de
guerrilhas contra a história tradicional, a história política e a história dos eventos.
Depois da Segunda Guerra Mundial, os rebeldes apoderaram-se do establishement
histórico. Essa segunda fase do movimento, que mais se aproxima verdadeiramente de
uma “escola”, com conceitos diferentes (particularmente estrutura e conjuntura) e
novos métodos (especialmente a “história serial” das mudanças na longa duração), foi
dominada pela presença de Fernand Braudel. ". Peter Burke – A Revolução Francesa da
Historiografia
A expansão do campo do historiador.

● Quem são os verdadeiros agentes na história? Indivíduos ou grupos?


● Na história política. A revolução francesa, abordada pela história vista de
baixo apresenta diferença na explicação daqueles que se concentram nos
feitos dos líderes.
PROBLEMAS DE SÍNTESE

"Embora a expansão do universo do historiador e o diálogo crescente com outras


disciplinas, desde a geografia até a teoria literária, certamente devam ser bem vindos,
esses desenvolvimentos têm seu preço. A disciplina da história está atualmente mais
fragmentada que nunca. Os historiadores econômicos são capazes de falar a
linguagem dos economistas, os historiadores intelectuais, a linguagem dos filósofos, e
os historiadores sociais, os dialetos dos sociólogos e dos antropólogos sociais, mas
estes grupos de historiadores estão descobrindo ser cada vez mais difícil falar um com
o outro. Teremos de suportar esta situação ou há uma esperança de síntese?"
● O benefício é a ampliação do conhecimento humano e o encorajamento de métodos
rigorosos e padrões mais profissionais.
● Os custos são a não comunicação entre as subdisciplinas.
● A oposição entre a HISTÓRIA DOS ACONTECIMENTOS e a HISTÓRIA DAS ESTRUTURAS,
estão cedendo espaço por interesse por seu INTER-RELACIONAMENTO:

FORMAS NARRATIVAS DE ANÁLISE ou FORMAS ANALÍTICAS DE NARRATIVAS

● As barreiras históricas estão passando por um processo de dissolução: Caindo "a


história com a política posta de lado" e fixando "o elemento social na política"
A obra conclui que:

● Ainda estamos distantes da HISTÓRIA TOTAL defendida por Braduel


● Apesar de ser irrealista que esse objetivo seja alcançado, alguns passos
foram dados em sua direção.
QUESTÃO

Está clara e correta a redação do seguinte comentário sobre o texto:


Alternativas

⦁ Peter Burke não compartilha com a tese que os românticos viam o fenômeno da
invenção como um atributo de apenas gênios isolados.

⦁ Na visão de um historiador, não há efeito isolado, como invenção absoluta, que


não dependessem de outros fatos concorrentes a ela.

⦁ Embora aparentemente se oponha quanto ao sentido, tradição e invenção se


mesclam como um fator de progresso extremamente inventivo.

⦁ Não há dúvida quanto a períodos históricos onde ocorra especial


desenvolvimento inventivo, seja nas artes, seja na tecnologia.

⦁ Faz parte do senso comum acreditar, ainda hoje, que toda e qualquer grande
invenção decorre do talento pessoal de um gênio.
QUESTÃO
A nova história é a história escrita como reação deliberada contra o “paradigma” tradicional,
aquele termo útil, embora impreciso […] Será conveniente descrever este paradigma tradicional
como “história rankeana”, conforme o grande historiador alemão Leopold von Ranke (1795-1886).
Poderíamos também chamar este paradigma de a visão do senso comum da história, não para
enaltecê-la, mas para assinalar que ele tem sido com frequência – com muita frequência –
considerado a maneira de se fazer história.

(Peter Burke, A escrita da história: novas perspectivas)

Para Peter Burke, a antiga e a nova história se contrastam, entre outros pontos, pois, em termos do
paradigma tradicional, a história
Alternativas
● Entende que a pesquisa e a escrita da História devem se restringir ao espaço local ou
regional; já a nova história, tem como grande objeto de investigação a formação e o
desenvolvimento dos Estados Nacionais Modernos.
● Considera que o texto historiográfico precisa ser baseado na filosofia especulativa da história; a nova
história defende que os investigadores do passado humano desenvolvam pesquisas sobre a
epistemologia da história.
● percebe a profunda relatividade do conhecimento do passado, cabendo ao historiador construir
várias versões possíveis; a nova história tem radical comprometimento com a busca da verdade
histórica.
● abrange as relações entre as esferas do político, econômico e cultural, privilegiando o espaço
global; na nova história, recomenda-se o uso de documentos escritos e oficiais, isentos de qualquer
contaminação ideológica.
● diz respeito, em essência, à política e pensam a história como fundamentalmente uma narrativa de
acontecimentos; a nova história tem interesse em toda a atividade humana e cuida da análise das
estruturas.

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