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História

cultural
Prof.ª Dr.ª Dilza Porto
Gonçalves/FACH/UFMS
História cultural por Peter Burke
 Sob a bandeira da Nova História, de acordo
com Robinson, a História inclui qualquer
traço ou vestígio das coisas que o homem
fez ou pensou, desde o seu surgimento sob
a terra.
 Por método, “A Nova História deverá utilizar-se
de todas as descobertas sobre a humanidade,
que estão sendo feitas por antropólogos,
economistas, psicólogos e sociólogos”.
 Embora Bloch não se utilizasse
frequentemente do termo, seu livro foi uma
obra pioneira para o que hoje designamos de
história das mentalidades. Pode também se
descrito como um ensaio de sociologia
histórica, ou antropologia histórica, por
focalizar os sistemas de crença – e também de
sociologia do conhecimento.
 Pretendia exercer uma liderança intelectual nos
campos da história social e econômica
 Foi a partir de 1930 e 1940 que Febvre
escreveu a maioria de seus ataques aos
especialistas canhestros e empiricistas, além
de seus manifestos e programas em defesa de
um novo tipo de história” associado aos
Annales – postulando por pesquisa
interdisciplinar, por uma história voltada pra
problemas, por uma história da sensibilidade.
 Critica os positivistas, sugere a
problematização, a interdisciplina e a
sensibilidade.
A história das mentalidades tal como é
praticada a partir dos anos 60 pro Georges
Duby, Robert Mandrou, Jacques Le Goff e
tantos outros, deve muito ao exemplo de
Febvre, como também ao de Bloch.
 Os Annales começaram como uma revista de
seita herética. É necessário ser herético,
declarou Febvre em sua aula inaugural.
Depois da guerra, contudo, a revista
transformou-se no órgão oficial de uma igreja
ortodoxa.
A ERA BRAUDEL
A pesquisa foi interrompida quando Braudel
foi contratado para lecionar na USP, 1935 –
1937. Foi no retorno de sua viagem ao Brasil
que Brasil conheceu Lucien Febvre.
 Primeiramente há a história quase sem
tempo, da relação entre o homem e o
ambiente. Surge então, gradativamente, a
história mutante da estrutura econômica,
social e política e, finalmente, a história dos
acontecimentos
 Segundo Braudel, a contribuição especial do
historiador às ciências sociais é a consciência
de que todas as estruturas estão sujeitas a
mudanças, mesmo que lentas. Era impaciente
com fronteiras, separassem elas regiões ou
ciências. Desejava ver as coisas em sua
inteireza, integrar o econômico, o social, o
político e o cultural da história total. Um
historiador fiel às lições de Lucien Febvre e
Marcel Mauss desejará sempre ver o todo, a
totalidade do social.
 De todo jeito, a obra de Braudel é importante
por sua síntese entre o que pode ser
denominado a pequena história do dia-a-dia,
facilmente transformável em mera descrição,
anedotário ou antiquarismo, e a história das
grandes tendências socioeconômicas da
época.
 Sua concepção de civilização material merece
também uma análise mais acurada. A ideia de
um domínio da rotina, oposto ao domínio da
criatividade, foi muito cara a Osvald Spengler,
um historiador com o qual Braudel tem mais
afinidades do que as geralmente admitidas.
 Braudel jamais demonstrou grande interesse pela
história das mentalidades, e pressupunha-se que
pensamento e crença eram atribuições de seu
parceiro.
 O capitalismo não pode ter se originado de uma única
fonte, observava, pondo de lado Marx e Weber com
um simples piscar de olhos. Economia, política,
sociedade, cultura e civilização, cada uma delas tem
sua parte. Assim como a história, que freqüentemente
decide, em última análise, quem vencerá a prova de
forças. Este é um trecho característico de Braudel,
que combina uma visão ampla com uma falta de rigor
analítico, dando peso a fatores pouco analisados no
decorrer do livro
 Braudel resistia aos métodos quantitativos da
mesma maneira que resistia à maioria das
formas de história cultural, o que o levava a
descartar o famoso livro de Burckard, “a
civilização da renascença na Itália, por estar
suspenso no ar. Ele foi assim, de alguma
maneira, alheio a dois grandes movimentos no
interior da história dos Annales de seu tempo,
a história quantitativa e a história das
mentalidades”.
 De uma maneira similar, a maioria das
monografias regionais, dentro do estilo dos
Annales das décadas de 60 e 70, uma notável
obra coletiva, restringia-se à história
econômica e social, com introdução
geográficas ao modelo de Braudel.
 Le Roy Ladurie, é o mais brilhante dos
discípulos de Braudel, a ele se assemelhando
em muitos aspectos – poder imaginativo, na
ampla curiosidade, na abordagem
multidisciplinar, na preocupação com a longa
duração e numa certa ambivalência em
relação ao marxismo.
A terceira geração
A terceira geração é a primeira a incluir a
mulher em seus estudos. Os historiadores
anteriores dos Annales haviam sido criticados
pelas feministas por deixarem a mulher fora
da história, ou mais exatamente, por terem
perdido a oportunidade de incorporá-la à
história de maneira integral.
 Esta geração é mais aberta a ideias vindas do
exterior. Tentaram fazer uma síntese entre a
tradição dos Annales e as tendências
intelectuais americanas – como a psicohistória,
a nova história econômica, história da cultura
popular, antropologia simbólica, etc.
 Na geração de Braudel, a história das
mentalidades e outras formas de história
cultural situavam-se marginalmente ao projeto
dos Annales.
 No decorrer dos anos 60 e 70, uma importante
mudança dos Annales transferiu-se da base
econômica para a “superestrutura” cultural do
“porão ao sótão”
 Foi uma contribuição de Ariès colocar a infância
no mapa histórico, inspirar centenas de estudos
sobre a história da criança em diferentes
regiões e períodos, e chamar a atenção de
psicólogos e pediatras para a nova história.
 Um livro seu: “ A história social da criança e
da família”. Ele escreve também sobre a
história morte entre os ocidentais.
 Dois dos maiores historiadores recrutados para
a história das mentalidades, no início dos anos
60, foram os medievalistas Jacques Le Goff e
Georges Duby.
 Tudo o que os historiadores anteriores pareciam
desejar de sua disciplina vizinha era a
oportunidade de sobrevoá-la, de tempos em
tempos, em busca de novos conceitos.
 Alguns historiadores das décadas de 70 e 80,
contudo, demonstraram intenções mais sérias.
Podiam mesmo pensar em termos de
casamento, em outras palavras em termos de
antropologia histórica ou de etno-história.
 A relação história e antropologia se prolongaria.
 A bem da verdade a produção historiográfica
estaria pulverizada pelo entendimento
antropológico.
O conceito de capital simbólico fundamenta alguns
trabalhos recentes sobre a história do consumo
ostensivo. Historiadores de mentalidades, cultura
popular e de vida cotidiana, todos aprenderam
com a teoria da prática de Bourdieu.
 As ideias de Goffmam, Bourdieu, De Certeau e
outros foram adotadas, adaptadas e utilizadas
para construir uma história mais antropológica.
 Jacques Le Goff, vem trabalhando no que pode
ser descrito como antropologia cultural da idade
Média, indo da análise estrutural das lenda aos
estudos dos gestos simbólicos da vida social,
especialmente o rito da vassalagem.
A importância dos ensaios de Chartier está
em que exemplificam e discutem uma
mudança na abordagem, como ele diz, da
história social da cultura para a história
cultural da sociedade. Isto é, os ensaios
sugerem que o que os historiadores
anteriores, pertencentes ou não à tradição dos
Annales, geralmente aceitavam como
estruturas objetivas, devem ser vistas como
culturalmente constituídas ou construídas.
A sociedade em si mesma é uma
representação coletiva.
 Para Chartier, vale menos o estudo dos camponeses ou
dos vagabundos, mas a imagem que deles tem as
classes superiores, imagens do outro.
 Distanciando-se dos chamados fatores objetivos,
Chartier está de acordo com a antropologia corrente,
com os trabalhos recentes sobre o imaginário e também
como falecido Michel Foucault.
 O retorno à política. Talvez a mais conhecida crítica à
chamada Escola dos Annales tem sido a sua
pressuposta negligência em relação à política, uma
crítica que a revista parece confessar por levar em seu
título o lema Economias, sociedades, civilizações, sem
mencionar estados.
 Febvre e Marc Bloch podem não Ter ignorado
a história política, mas não a tomaram muito a
sério.
 O retorno à política na terceira geração é uma
reação contra Braudel e também contra outras
formas de determinismos (econômico e
marxista).
 Está associado à redescoberta da importância
do agir em oposição à estrutura.
 Está associado também ao que os
americanos denominam cultura política, de
ideias e de mentalidades.
 Graças a Foucault, esse retorno se estendeu em
direção `a micropolítica, a luta pelo poder no interior da
família, da escola, das fábricas, etc. em consequência
dessas mudanças, a história política está em visas de
uma renovação.
 A volta à política está também ligada ao ressurgimento
do interesse na narrativa dos eventos.
 Os Annales na visão internacional: segundo um
observador alemão simpático ao movimento é a de que
uma história, ao estilo dos Annales, sobre a história de
nosso século é, ao mesmo tempo, necessária e
impossível. Se for escrita, não será história ao estilo
dos Annales. Mas à história contemporânea não pode
continua a ser escrita sem os Annales
 Na América Central e do Sul, a história é bem
diferente. No Brasil, as aulas de Braudel, na
USP, nos anos 30, são ainda lembradas. A
famosa trilogia sobre a história social do Brasil
do historiador – sociólogo Gilberto Freyre,
trabalha com tópicos como família,
sexualidade, infância e cultura material,
antecipando a nova história dos anos 70 e 80.
A representação de Freyre da Casa-Grande
como um microcosmo e como metáfora da
sociedade híbrida, agrária e escravocrata
impressionou Braudel, que o citou em sua
obra.
Foucault
 Caminhou em linhas paralelas às da 3ª geração dos
Annales.
 Da mesma maneira que ela, estava preocupado em
ampliar os temas da história.
 O que Foucault gosta de denominar sua arqueologia
ou sua genealogia, tem, pelos menos, uma
semelhança familiar com a história das mentalidades.
 Ambas as abordagens mostram uma grande
preocupação com tendências de longa duração e
uma relativa despreocupação com pensadores
individuais.
O grupo dos Annales ampliou o território da história,
abrangendo áreas inesperadas do comportamento
humano e a grupos sociais negligenciados pelos
historiadores tradicionais.
 Essas extensões do território histórico estão
vinculadas à descoberta de novas fontes e ao
desenvolvimento de novos métodos para explorá-las.
 Estão também associadas à colaboração com
outros ciências, ligadas ao estudo da humanidade,
da geografia à linguística, da economia à psicologia.
 Essa colaboração interdisciplinar manteve-se por
mais de sessenta anos, um fenômeno sem
precedentes na história das ciências sociais.
História cultural por Ronaldo Vainfas
A História das Mentalidades é filha da
Escola dos Annales.
Os historiadores dessa área se
reconhecem como herdeiros de Bloch e
Febvre, considerados por muitos, os pais
da Nova História.
Foi com eles que teve início o estudo
acerca dos sentimentos, crenças e
costumes na historiografia ocidental.
 Vainfasdiz que foi na Segunda metade do
século XX que a Nova História e a História das
Mentalidades iriam experimentar os maiores
movimentos em sua estrutura e em suas
relações dentro da História propriamente e
com outras áreas.

 Afirma que a historiografia francesa passou a


trilhar os rumos das mentalidades a partir da
década de 1970, campo privilegiado da
chamada Nova História. Nessa época, a
terceira geração predominava nos Annales.
 As mudanças no interior da Escola e os novos
rumos que ocorreram nas últimas décadas do
século XX estão relacionadas a diversos
fatores. Dentre eles, a saída de Braudel da
Escola.
 Sua opção pela abordagem de predominância
econômica e social, teria desagradado boa
parte dos historiadores da época.
 Ao mesmo tempo, a influência estruturalista de
Lévi-Strauss, durante o período de Braudel,
permitiu o surgimento de novas orientações
historiográficas.
 Michel Foucault, mesmo sendo criticado
por muitos, em virtude de seu pensamento
filosófico não obedecer a nenhuma forma
preestabelecida, o fato é que o discurso
deste historiador iria contribuir para o
arrefecimento do enfoque das
mentalidades.

 Foucault não se definia por historiador,


como diz: Vainfas, o autor de “Vigiar e
Punir”, preferia dizer que suas pesquisas
estavam a serviço da história.
 Esse tempo começava, dar vazão ao olhar
interdisciplinar das ciências Sociais,
principalmente entre a História e a Sociologia.
No dizer de E.H. Carr. “quanto mais
sociológica a história se torna, e quanto mais
histórica a sociologia se torna, tanto melhor
para ambas.

É a partir de Foucault, que surge a discussão


em torno da sexualidade, a loucura, a prisão,
a disciplina, o poder, dentre outros.
O seu trabalho , ao mesmo tempo que
põe em xeque os paradigmas
cientificistas e a racionalização, ele
acaba por rememorar velhos ideais de
Bloch e Febvre.
Outros temas recorrente as pesquisa das
mentalidades passaram pela abordagem
do cotidiano e representações, ou outros
temas como: amor, mulher,
homossexualismo, morte, modo de
vestir, comer, beijar, etc
 Jacques Le Goff, é um dos tantos
historiadores que manifestaram sua análise e
compreensão acerca deste estudo.
 Para ele, a mentalidade de um indivíduo é o
que ele tem de comum com outros tantos
indivíduos. De outra forma, diz que paira no
campo da irracionalidade, o inconsciente
coletivo dos homens.
 A história cultural foi, ao seu ver, o campo de
refúgio e legitimação do estudo das
mentalidades.
Ronaldo Vainfas fala em Nova História
Cultural como segmento da História
cultural.
Na sua visão é com os historiadores da
Nova História da cultura que haveria
uma abrangência maior com relação aos
temas estudados.
Ela vai da análise dos discursos das
elites e dos letrados, ao popular, festas,
crenças, resistências, sobretudo o
informal, em linhas gerais.
 Lyn Hunt, também comentado por Ronaldo
Vainfas, manifesta pelo mesmo viés, o sentido
da pluralidade que caracteriza a Nova História
cultural.
 É de Hunt também, a impressão de que a
história cultural estava sendo marcada pela
perplexidade dos historiadores. Segundo seu
dizer, havia conflito de pensamento entre
historiadores dos Annales e àqueles que
preferiam um enfoque de caráter marxista.
 A falta de novos paradigmas também se
constituiu num complicador para a
Historiografia contemporânea.
 Com relação a historiografia latino-
americana, essencialmente a Nova História,
Vainfas saliente seu desenvolvimento no
Brasil.
 Ao seu ver, o atraso com que esses estudos
chegaram no país, década de 1980
aproximadamente, deveu-se às
transformações que as mentalidades estava
passando na França.
 Neste país, a Nova História cultural estava
surgindo como bandeira principal da
historiografia.
Para o Brasil, ele salienta em primeiro
nível as obras lançadas na década de
1930.
Notadamente Gilberto Freyre e Sérgio
Buarque com as obras “Casa Grande e
Senzala” e “Raízes do Brasil”,
respectivamente.
Para Vainfas esses autores trabalhavam
em favor das mentalidade sem
saberem.
A década d 1970 é praticamente
desprovida de elaborações em favor da
Nova História Cultural e das
mentalidades, em função da opressão
exercida pelo regime militar da época.

Outro autor lembrado como sendo um


dos precursores da Nova História no
Brasil é, na verdade uma autora, trata-se
de Laura de Mello e Souza, com a obra
”O diabo e a terra de Santa Cruz”.
História Cultural por
Sandra Pesavento

1990 – verdadeira virada nos domínios da Clio...


Modelos correntes de análise não davam mais
conta da diversidade social, das novas
modalidades de fazer política, das renovadas
surpresas e estratégias da economia mundial e,
da aparente escapada de determinadas
instâncias da realidade – como a cultura, ou os
meios de comunicação de massa – aos marcos
racionais e de logicidade (2012, p.9).
 Duas correntes foram criticadas: o marxismo e
a corrente dos Annales;
 Porém não representa uma ruptura completa
com as matrizes originais;
 Foi dentro da corrente neomarxista inglesa e
da história francesa dos Annales que veio o
impulso da renovação;
 Resultando na abertura da corrente que
chamamos de História Cultural ou Nova
História Cultural.
As criticas foram a essas vertentes se
centralizaram basicamente aos
princípios fechados do materialismo
histórico como modelo completo e
fechado e as ambições de uma
história total, proposta por Braudel, na
Escola dos Annales.
 A História Cultural é chamada de Nova História
Cultural porque está dando a ver uma nova forma
de trabalhar a cultura
 Trata-se de pensar a cultura como um conjunto de
significados partilhados e construídos pelos
homens para explicar o mundo.
 A cultura é ainda uma forma de expressão e
tradução da realidade que se faz de forma
simbólica, ou seja, admite-se que os sentidos
conferidos às palavras, às coisas, às ações e aos
atores sociais se apresentem de forma cifrada,
portanto já um significado e uma apreciação
valorativa (Pesavento, 2012, p.15).
 A questão tornou-se mais complexa;
 Não mais a posse dos documentos ou a busca
de verdades definitivas.
 Não mais uma era das certezas normativas, de
leis e modelos a regerem o social.
 Tudo o que foi, um dia, contado de uma forma,
pode vir a ser contado de outra.
 Tudo o que hoje acontecerá terá , no futuro,
várias versões narrativas.
 Resumindo, não há verdade absoluta.
 A HistóriaCultural hoje envolve historiadores
com posturas bem diversas, como
 Roger Chartier,
 Robert Darnton,
 Carlo Ginzburg
 Há diferenças sensíveis entre eles...
Diferenciação entre história das
mentalidades e a história cultural
 Roger Chartier – a especificidade de uma
maneira nacional de pensar as questões
determinam a existência de uma concepção no
sentido de situar a história das mentalidades e
a história das ideias no âmbito da história da
cultura (p.30).
 “o Campo da história dita intelectual cobre, de
fato, o conjunto das formas de pensamento e o
seu objeto não é, a partida, mais precisa do
que da história social ou econômica” (p.31).
 “Os historiadores da cultura tendem a situar
seus objetos de estudo no âmbito do universo
constituído pelas ideias, atitudes, crenças,
valores, códigos de comportamento e rituais
construídos pelos diferentes grupos, segmentos
ou classes sociais como instrumentos que
viabilizam a compreensão e vivência de sua
realidade social. São levados a buscar uma
aproximação com a antropologia mais íntima
(p.31).
 Compreender, na sua dinâmica e na sua reciprocidade,
as relações que mantem vários grupos e desse modo,
evitar as representações simplistas, unívocas e
imutáveis da dominação social ou da difusão cultural.
Afirma a necessidade de se relativizar a eficácia dos
mecanismos normativos e disciplinares, ressaltando,
que “ler, olhar ou escutar são uma série de atitudes
intelectuais que permitem na verdade a reapropriação,
o desvio, a desconfiança ou resistência.
 Delimitação de um ponto comum entre diversas
abordagens a história cultural, ou seja, a negação da
dicotomia entre cultura popular e cultura erudita (p.34).
 Imprescindível o questionamento da distinção entre
“popular” e “erudito”.
 Abolidas as fronteiras entre cultura popular e cultura erudita
resta a ideia de um universo demarcado pela pluralidade das
práticas culturais, cuja complexidade e movimento seriam
dados pela diversidade das apropriações dos mesmos bens,
das mesmas ideias, dos mesmos gestos, que remete não
apenas à hierarquia das fortunas, das condições, mas
também a outras diferenças (sexuais, territoriais, religiosas)
que circulam nesse universo (p.34).
 Chartier considera os esquemas geradores das
classificações e das percepções, próprios de cada grupo ou
meio com verdadeiras instituições sociais, incorporando sob
forma de categorias mentais e de representações coletivas
as demarcações da própria organização social.
 Faz questionamento da oposição entre real e imaginário.
 A história é sempre relato, mesmo quando pretende
desfazer-se da narrativa.
 Todas as relações econômicas e sociais
“são ao mesmo tempo culturais, pois que
elas traduzem em atos e maneiras plurais
através das quais os homens dão
significação ao mundo que é seu”.
 (…) faz questão de frisar que todas as
relações econômicas e sociais são ao
mesmo tempo culturais, pois elas traduzem
em seus atos as maneiras plurais através
das quais os homens dão significação ao
mundo que é o seu.
 Carlo Ginzburg – afirma que a história das
mentalidades constitui um campo específico de
investigação delimitado pelas “sobrevivências, os
arcaísmos, a afetividade, a irracionalidade”
portanto bastante distinto de “disciplinas paralelas
já consolidadas como a história das ideias ou a
história da cultura” (p.30).
 (…)
 Noção de circularidade cultural.
Ginzburg e Chartier – pontos em comum:
1º - Dicotomia só aparente que remete na
verdade a uma cultura unitária em que não é
possível estabelecer recortes claros. Mas se
distanciam no conceito de cultura popular.
Chartier faz distinções sociais (p.34)
Robert Darton – “história das mentalidades”
poderia ser chamada de história cultural …
uma tendência etnográfica (p.30).
 Clifford Geertz – cultura como “sistema de concepções
herdadas, expressas em forma simbólica, por meio das
quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem
o seu conhecimento e as atitudes perante a vida” (p.31).
 “O reconhecimento da necessidade de uma aproximação
maior e mais profunda entre a História e a Antropologia
já se encontra presente nas concepções de Lucien
Febvre e seria incorporado por Jacques Le Goff quanto
aos rumos que a História das mentalidades deveria
seguir. Como viabilizar essa aproximação, trata-se de
dois campos do conhecimento cuja posição expressaria
um confronto entre a perspectiva diacrônica da História e
a perspectiva sincronica da Antropologia” (p.31).
 “aproximação entre Thompson e Natalie Davis
– ambos compartilham a ideia de que a cultura
desempenha um papel decisivo ‘como força
motivadora da transformação histórica” (p.31).
 (…)
 “Simbólico é real”, o real é tão imaginado
quanto o imaginário. Parcialidade das verdades
culturais e históricas – caráter essencialmente
contestável polifônico da realidade cultural
(p.34).
 Marshal Sahlins – defende a necessidade de se
promover uma inter-relação entre a análise
cultural e a história, tencionando recuperar para
a primeira o acontecimento, a ação, a
transformação e o mundo e para a segundo a
análise estrutural. Uma das tarefas prioritárias da
História das Mentalidades seria a de procurar
superar a dicotomia entre estrutura e evento.
 Jacques Le Goff – as estruturas mentais seriam
quase imóveis, na medida em que os homens
servem-se das máquinas que inventam
conservando as mentalidades anteriores a esses
máquinas.
 Antropologia e História Cultural – produz e
atualiza o debate de questões essenciais
referentes aos modos de abordagem de alguns
objetos, ou seja, aos suportes teóricos e
metodológicos. A percepção da cultura conduz
ao questionamento da metáfora “base” versus
“superestrutura” e do determinismo econômico
que se mantém atrelado a ela.
 Lucien Febvre – faz uma crítica ao hábito de
se pensar as coisas da História por andares.
Propõe como alternativa que a História fosse
concebida como “ciência da mudança perpétua
das sociedades humanas”.
 Marx – a simultaneadade de expressão das
relações de produção características em
todos os sistemas e áreas da vida social e
não uma ideia de primazia do econômico.
 Norbert Elias – importância da interpretação
da circulação dos modelos culturais.
 Michel Foucault – exigia que os
historiadores repensassem a própria história.
É necessário desmistificar a instância global
do real com a totalidade de restituir.
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compreender a História Cultural
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