FACH/UFMS Da natureza da cultura ou da natureza à cultura A natureza dos homens é a mesma, são seus hábitos que os mantêm separados (Confúcio). Outros cidadãos, filósofos, viajantes e religiosos também perceberam a diversidade cultural dos povos, embora tenham-na dado significados diferenciados, tais como: Heródoto, Tácito, Marco Polo, José de Anchiente, Montaigne, Marcus Pollio, Ibn Khaldun, Jean Bodin, D’Holbach, entre outros. As diferenças de comportamento entre os homens não podem ser explicadas através das diversidades somatológicas ou mesológicas. Tanto o determinismo geográfico como o determinismo biológico foram incapazes de explicar a diversidade cultural dos povos (LARAIA, 2007, p.24). 1. O determinismo biológico
São velhas e persistentes as teorias que
atribuem capacidades específicas inatas aa “raças” ou a outros grupos humanos (LARAIA, 2007, p.17). Os antropólogos estão convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais (LARAIA, 2007, p.17). As diferenças se explicam, antes de tudo, pela história cultural de cada grupo (Relatório da Unesco, 1950, apud LARAIA, 2007, p.17). A espécie humana se diferencia anatômica e fisiologicamente através do dimorfismo sexual, mas é falso que as diferenças de comportamento entre as pessoas de sexos diferentes sejam determinadas biologicamente (LARAIA, 2007, p.19).
O comportamento dos indivíduos depende de
um aprendizado, de um processo que chamamos endoculturação (LARAIA, 2007, p.20). Ummenino e uma menina agem diferentemente não em função de seus hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada (LARAIA, 2007, p.20). Brinquedos 'de meninos' e 'de meninas': experimento testa como adultos reforçam rótulos http://www.bbc.com/portuguese/geral-40974995 Os brinquedos exercem um impacto não só na forma como as crianças se veem, mas também em quais habilidades aprendem, passando pelo desenvolvimento de seus cérebros. Alguns psicólogos argumentam que isso ajuda a explicar por que algumas profissões são tão dominadas por homens. Neste sentido, cada vez mais pais e cuidadores dizem agora querer evitar estereótipos de gênero. A BBC fez um experimento com quatro voluntários adultos e duas crianças para testar se estamos condicionados a reforçar esses rótulos. Antes do início do teste, as crianças, Marnie e Edward, trocaram de roupa: Marnie foi vestida com roupas 'de menino' e passou a ser apresentada como 'Oliver', e Edward ganhou roupas de menina e recebeu a identidade de 'Sophie'. Os voluntários, que não sabiam das trocas, foram gravados, individualmente, com cada uma das crianças. Eles foram instruídos apenas a brincar com as crianças. E o que se viu surpreendeu a todos ao final. Todos, sem exceção, acabaram por reforçar estereótipos de gênero. Quando brincaram com 'Oliver' (Marnie vestida de menino), ofereceram a ela somente brinquedos 'de menino', como um carrinho ou robôs. Já quando brincaram com 'Sophie' (Edward vestido de menina), ofereceram a ele somente brinquedos 'de menina', como uma boneca ou um bicho de pelúcia. Ou seja, os voluntários escolheram brinquedos exclusivamente de acordo com o que acreditavam ser o sexo das crianças e não nas habilidades que poderiam ser exercitadas com eles. Ao final do experimento, ao saberem a verdade, todos demonstraram surpresa e confessaram que não pensar em suas escolhas. Estudos mostram que quando as crianças brincam com jogos de noções espaciais, seus cérebros mudam fisicamente em três meses 2. O determinismo geográfico O determinismo geográfico considera que as diferenças do ambiente físico condicionam a diversidade cultural (LARAIA, 2007, p.21). Essas teorias formuladas por geógrafos ganharam popularidade no século XIX;
ParaHuntington, existe uma relação entre latitude
e os centros de civilização, considerando o clima como fator importante na dinâmica do progresso (LARAIA, 2007, p.21). A partir de 1920, antropólogos como Boas, Wissler, Kroeber refutaram essa afirmação e demonstraram que existe uma limitação na influência geográfica sobre os fatores culturais; é possível existir diversidade cultural em um mesmo tipo de ambiente físico (LARAIA, 2007, p.21). As diferenças existentes entre os homens não podem ser explicadas em termos das limitações que lhe são impostas pelo seu aparato biológico ou pelo meio ambiente.
A grande qualidade da espécia humana foi a de
romper com suas próprias limitações (LARAIA, 2007, p.24). 3. Antecedentes históricos do conceito de cultura
Século XVIII – conceitos de Kultur e
Civilization passam a ser usados; ParaEdward Tylor (1832-1917) culture, “tomando em seu amplo sentido etnográfico é todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo como homem como membro de uma sociedade (LARAIA, 2007, p.25).
Em 1871, Tylor definiu cultura como
sendo todo o comportamento aprendido, tudo aquilo que independe de uma transmissão genética (LARAIA, 2007, p.28). John Locke(1690), procurou demonstrar que a mente humana não é mais do que uma caixa vazia no nascimento, dotada de uma capacidade ilimitada de obter conhecimento, através do processo que chamamos de endoculturação (Laraia, 2007, p.26). Marvin Harris (1969) expressa as implicações da obra de Locke: Nenhuma ordem social é baseada em verdades inatas, uma mudança no ambiente resulta numa mudança no comportamento (Laraia, 2007, p.26). Jacques Turgot (1727-1781), possuidor de signos o homem tem a faculdade de assegurar a retenção de ideias e comunicá-las a outros homens, como uma herança sempre crescente ( apud Laraia, 2007, p.26-27). Jean-Jacques Rosseau (1712-1778), atribui grande papel à educação, chegando a acreditar que esse processo teria a possibilidade de completar a transição entre os grandes macacos e os homens (Laraia, 2007, p.27). Kroeber (1917) acabou de romper todos os laços entre o cultural e o biológico, postulando a supremacia do primeiro em detrenimento do segundo (LARAIA, 2007, p.28). Geertz (1973) escreveu que o tema mais importante da moderna antropologia era o de “diminuir a amplitude do conceito e transformá-lo num instrumento mais especializado e mais poderoso teoricamente (LARAIA, 2007, p.27). 4. O desenvolvimento do conceito de cultura Primeira definição do conceito de cultura é de Tylor (1871): • Reafirma que a igualdade da natureza humana pode ser estudada na comparação das raças do mesmo grau de civilização (p.32); • Diversidade resultado da desigualdade de estágios no processo de evolução (p.33); • Uma das tarefas da antropologia seria estabelecer uma escala de civilização (p.33); • Seu livro foi produzido depois de A Origem das Espécies, de Charles Darwin (p.33); • Stocking, critica-o por deixar de lado o relativismo cultural (p.34); • Acreditava na unidade psíquica da humanidade. Mas, não reconheceu os múltiplos caminhos da cultura (p.34); • Seu mérito estava na capacidade de criticar os relatos dos viajantes (p.35). • Recusou-se a aceitar que diversos grupos tribais eram desprovidos de religião (p.35). Com Frans Boas (1858-1949) inicia-se uma crítica ao evolucionismo. Atribui a antropologia a execução de duas tarefas:
• Reconstrução da história dos povos ou regiões
particulares; • Comparação da vida sociall de diferentes povos, cujo desenvolvimento segue as mesmas leis (p.35). Desenvolveu o particularismo histórico ou chamada Escola Cultural Americana, segundo a qual cada cultura segue seus próprios caminhos em função dos diferentes eventos históricos que enfrentou (p.36) Alfred Kroeber (1876-1960) mostrou como a cultura atua sobre o homem e suas explicações contrariam um conjunto de crenças populares;. Kroeber teve a preocupação de diferenciar o orgânico e o cultural: “o homem depende muito de seu equipamento biológico (…). Mas, embora essas funções sejam a toda humanidade, a maneira de satisfazê-las varia de uma cultura para outra (p.37). A espécie humana sobreviveu com um equipamento físico pobre e sem modificações (ou quase sem) anatômicas (p.39). Para Kroeber a ampliação do conceito de cultura pode estar relacionada aos seguintes pontos: 1. A cultura determina o comportamento do homem e justifica suas realizações; 2. O homem age de acordo com padrões culturais, seus instintos foram parcialmente anulados; 3. A cultura é o meio de adaptação aos diferentes ambientes ecológicos, sem mudar o aparato biológico; 4. O homem é capaz de transformar toda terra em seu habitat; 5. O homem passou a depender mais do aprendizado; 6. Desde o Iluminismo é o processo de aprendizagem (socialização ou endoculturação) que determina o comportamento e a capacidade artística ou profissional; 7. A cultura é um processo acumulativo; 8. Os gênios são indivíduos que têm a oportunidade de utilizar conhecimento existente ao seu dispor, construído por participante vivou e mortos do seu sistema cultural e criar um novo objeto ou nova técnica (p.48). Cesare Lombroso (1835-1909), procurou correlacionar aparência física com tendência para comportamentos criminosos (p.44). Não basta a natureza criar indivíduos altamente inteligentes, mas é necessário que coloque ao alcance desses indivíduos o material que lhes permita exercer sua criatividade de uma maneira revolucionária (p.46). Comunicação é um processo cultural. A linguagem é um produto da cultura, mas não existiria cultura sem sistema articulado de comunicação oral (52). 5. Ideia sobre a origem da cultura simplificada seria a de que o duziu cultura a partir do que cérebro, modificado pelo utivo possibilitou isso; esquisadores que o nto do cérebro articulado dade de utilização das mãos o homem produzir cultura. Para Lévi-Strauss a cultura surgiu no momento em que o homem convencionou a primeira regra. E, esta seria a proibição do incesto, padrão comum a todas as sociedades humanas (p.54).
Leslie White considera que a passagem do estado
animal para o humano ocorreu quando o cérebro humano foi capaz de gerar símbolos (p.55).
Clifford Geertz, mostra que a paleontologia
demonstrou que o corpo humano formou-se aos poucos. Por isso, concluiu que “a maior parte do crescimento cortical humano foi posterior e não anterior ao início da cultura” (p.57). A cultura desenvolveu-se, pois, simultaneamente com o próprio equipamento biológico e é, por isso mesmo, compreendida como uma das características da espécie, ao lado do bipedismo e de um adequado volume cerebral(p.58). 6. Teorias modernas Teorias que consideram a cultura como um sistema adaptativo (difundida por Leslie White e formulada criativamente por Sahlins, Harris, Carneiro, Rapport, Vayda e outros):
1. Culturas são sistemas (de padrões de
comportamento socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos 2. Mudança cultural é primariamente um processo de adaptação equivalente a seleção natural. 3. A tecnologia, a economia de subsistência e os elementos da organização social diretamente à produção constituem o domínio mais adaptativo da cultura. 4. Os componentes ideológicos dos sistemas culturais podem ter consequências adaptativas no controle da população, da subsistência, da manutenção de ecossistema, etc. (p.59-60). As teorias idealistas de cultura subdividem-se em três abordagens:
1ª) Cultura como sistema cognitivo, se
distingue pelo estudo do sistemas de classificação folk (análise de modelos construídos pelos membros da comunidade a respeito de seu próprio universo. Cultura fica no mesmo domínio da linguagem (p.60-61). 2ª) Cultura como sistemas estruturais (Lévi-Strauss), define cultura como um sistema simbólico que é uma criação acumulativa de mente humana. O seu trabalho tem sido o de descobrir na estruturação dos domínios culturais – mito, arte, parentesco e linguagem – os princípios da mente que geram essas elaborações culturais (p.61). 3ª) Cultura como sistemas simbólicos (Geertz e Schneider). Gertz, busca uma definição de homem baseada na definição de cultura. Cultura deve ser considerada “não um complexo de comportamentos concretos mas um conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras e instruções para governar o comportamento. Todos os homens são capazes geneticamente aptos para receber o programa (cultura) (p.62). Considera a Antropologia uma busca de interpretações (p.63). David Schneider – Cultura é um sistema de símbolos e significados. Compreende categorias ou unidades e regras sobre relações e modos de comportamento. O status epistemológico das unidades ou ‘coisas’ culturais não depende da sua observabilidade: mesmo fantasmas e pessoas mortas podem ser categorias culturais (p.63). II Parte 1. A cultura condiciona a visão de mundo do homem Ofato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar seu modo de vida como o mais correto e o mais natural (p.72); O etnocentrismo é um fenômeno universal (p.73);
Oponto de referência não é a humanidade,
mas o grupo (p.73). 2. A cultura interfere no plano biológico Cultura interfere na satisfação das necessidades fisiológicas básicas, condiciona outros aspectos biológicos e até mesmo pode decidir sobre vida e morte dos membros de um sistema (p.75); Doenças podem ser influenciadas por padrões culturais (p.77). 3. Indivíduos participam diferentemente de sua cultura A participação do indivíduo em sua cultura é sempre limitada; nenhuma pessoa é capaz de participar de todos os elementos de sua cultura (p.80). Maiorparticipação na vida cultural de elementos masculinos (p.80). Participação cultural também depende da idade (p.80). 4. A cultura tem uma lógica própria Ao invés de um sistema contínuo magia, religião e ciência, temos de fato sistemas simultâneos e não- sucessivos na história da humanidade (p.88). .
As explicações sobre determinados
questionamentos pelos membros das sociedades humanas são lógicas e encontram a coerência dentro do próprio sistema.
Entender a lógica de um sistema cultural depende
da compreensão das categorias constituídas pelo mesmo (p.93). 5. A cultura é dinâmica Cada sistema cultural está sempre em mudança; Entender a dinâmica é importante para atenuar o choque entre gerações e evitar comportamentos preconceituosos; É fundamental a compreensão das diferenças entre povos de culturas diferentes;.