Homem e Sociedade

As principais visões sobre a origem humana:

- Criacionismo: Deus é o responsável pela criação do universo;
- Evolucionismo:
. Hipótese de Lamarck: os seres aumentam em complexidade e perfeição herdando
hereditariamente suas características;
. Hipótese de Darwin: os seres vivos descendem de um ancestral comum e evoluem pela
seleção natural, onde o mais adaptado ao ambiente sobrevive;
Em Lamarck, girafas nascem com um pescoço de tamanho normal, mas ele se alonga ao longo
da vida delas para que elas alcancem alimento e quando seus descendentes nascem, já nascem
com o pescoço grande. Em Darwin, existiram girafas de pescoço grande e pequeno, mas como
só as primeiras alcançavam a comida, só elas sobreviveram e evoluíram.
. Design Inteligente: o universo foi
A disseminação da teoria darwiniana foi muito
criado com a intervenção de um ser
grande, e ela acabou ganhando outras interpretações
superior (não se colocava diretamente não exatamente dentro de seus objetivos. Uma delas
Deus, mas foi a hipótese criada como foi o darwinismo social, de Herbert Spencer, que
alternativa à científica para agradar a ditava que existem seres humanos melhores e piores,
comunidade religiosa, numa posição e que os piores acabariam, como na seleção natural,
contrária ao Darwinismo); desaparecendo. Essa teoria foi favorecida pelo
Considerando todas as diferentes Imperialismo, que colocava a Europa como superior
hipóteses e os diferentes aos demais países (colônias), pela escravidão, por
conhecimentos desenvolvidos por cada movimentos como o nazismo, e até pelo
"embranquecimento populacional" realizado no Brasil
sociedade, houve ao longo da história
com as imigrações. Francis Galton e seu conceito de
muitos momentos de tensão e
eugenia, a afirmação de que uma raça era melhor,
resistência quando esses saberes
mais superior que a outra, também fazem parte
entravam em choque. Mas houve desse conjunto de ideias - em Galton, a seleção não
também alguns momentos de deveria ser natural, mas sim planejada para produzir
hibridização, onde dois conhecimentos seres mais superiores (higiene social).
de culturas diferentes foram
mesclados. O Criacionismo e o
Evolucionismo entraram em diversos Além do determinismo biológico, se discutiu também
debates ao longo das décadas, com sobre determinismo geográfico, com Ratzel e sua
algumas comunidades religiosas teoria determinista (seres sofrem influência do
aceitando melhor a teoria darwiniana e ambiente) e La Blanche e a teoria possibilista
outras não. No Brasil, a religião cristã (podemos mudar o nosso ambiente). Posteriormente,
ficou esclarecido que nem a biologia nem a geografia
sempre teve muita influência, e
tornavam nenhuma etnia ou cultura superior ou
juntamente a um Estado conservador,
inferior às outras.
fez prevalecer por muito tempo os
ideais criacionistas.
O conceito de cultura através da história

O primeiro a propor o conceito de cultura foi Edward Taylor, ditando que a cultura se
entendia como um todo complexo de conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e
toda capacidade ou hábito adquirido pelo homem em uma sociedade. Taylor também ditava
que as diferenças e as igualdades entre as diferentes culturas vinham do processo evolutivo
(influência darwiniana) que tornou sociedades europeias superiores e demais inferiores.
Depois, com Franz Boas, um estudo social muito mais aprofundado - de investigação histórica
- foi realizado e as noções de cultura atuais foram estabelecidas. A cultura passou a ser
entendida por duas perspectivas: como a soma de todos os aspectos da vida social; como o
arsenal de conhecimentos de uma sociedade. Por ser formada por relações históricas, sociais
e economicamente estabelecidas, a cultura é muito dinâmica, por isso varia tanto de um país
a outro. Dentro desse cenário, o respeito a diversidade se tornou um dos mais importantes
valores da sociedade.
O contato entre culturas diferentes pode seguir, basicamente, dois caminhos: quando não há
respeito, pode ocorrer uma aculturação, onde uma cultura domina a outra. Quando o contato
é feito respeitosamente, pode ocorrer uma hibridização, uma troca de informações amistosa
e benéfica para ambos. Há um terceiro processo que merece destaque, a apropriação
cultural, que ocorre quando um elemento de uma cultura é tirado de seu contexto e seu
significado real para ser utilizado por outra cultura.
As teorias modernas consideram como cultura o sistema de valores e comportamentos
socialmente construídos e transmitidos, e como um sistema que passa por constantes
adaptações conforme a passagem do tempo. Essas teorias mais sofisticadas devem o seu
avanço ao trabalho de Boas, que descartou o darwinismo social de uma vez por todas, junto
com a sua ideia de culturas mais/menos evoluídas.

A Antropologia e o Estudo da Cultura: o senso comum e a ciência

Culturas alheias, durante muito tempo,
foram vistas apenas sob duas perspectivas:
. Exibicionismo: nativos apresentados como
animais;
. Senso comum: por mais que seja
considerado a "maneira correta" de
interpretar o mundo, o senso comum é
extremamente contaminado com os ideais e
crenças da cultura que faz parte, o que
pode tornar uma análise tão preconceituosa
quanto o exibicionismo;
Tendo essas duas abordagens como não
válidas na análise de culturas, criou-se uma
de base científica, para investigar as
relações dos indivíduos entre si, entre suas,
culturas e entre as culturas e o ambiente, a
antropologia. Na Inglaterra, a antropologia
era social, para investigar a organização e
os grupos sociais, e nos EUA, era cultural,
investigando as variações culturais e a
influência delas nos indivíduos. As
pesquisas antropológicas são, geralmente,
qualitativas - de análise e reflexão - e
etnográficas - conhecimento sobre a
comunidade estudada. As técnicas mais
utilizadas nesses tipos de pesquisa são as
de observação natural, observação
participante e realização de entrevistas.
Os estudos etnográficos e antropológicos
entendem que existe uma imensa
diversidade cultural e que a globalização,
que antes era pensada como prejudicial a
essa diversidade, só deixou mais clara a
necessidade de conviver democraticamente
com as diferenças, com a própria Unesco
reconhecendo a necessidade de mais
políticas públicas que promovam esse
objetivo. O reconhecimento e a convivência
com a diversidade cultural, de acordo com
a Unesco, evita o empobrecimento cultural,
evita a exclusão de minorias, promove
competências interculturais benéficas a
educação, promove melhor comunicação
global e alavanca a criatividade e inovação
em setores como o econômico.
Principais características da cultura como
visão de mundo
A cultura é a lente pela qual enxergamos o
mundo, ditando o que é ou não é adequado
em sociedade e quem faz parte dessa
sociedade ou não. Querer pertencer a uma
cultura ou a uma sociedade pode levar,
portanto, a comportamentos indesejáveis,
como os de discriminar aqueles que são
diferentes ou fazem diferente do que é
ensinado pela sua cultura. Mas não existe
somente o lado ruim. A cultura é
transmitida naturalmente pelas gerações e
nunca é inalterável. O contato com outras
culturas e mudanças no ambiente podem
provocar muitas modificações, afinal, a
cultura é socialmente construída, e
mudanças na sociedade, pelos mais diversos
motivos, também mudam a cultura que ela
carrega. A cultura também define o papel
de cada indivíduo dentro da sociedade,
geralmente considerando gênero e idade.
A diversidade cultural pode ser tratada em
três perspectivas diferentes:
. Negação: considera qualquer tipo de
diferença como inexistente, e todo
fenômeno causado por diferenças
(preconceitos, exclusão) como impossíveis
de ocorrer;
. Ação afirmativa: criação de mecanismos
em busca de melhor convivência entre
grupos sociais, são muito importantes no
contexto dos direitos humanos, por
promover compensações para grupos
historicamente excluídos;
.
Dentro das ações afirmativas, pode-se
adotar um caminho punitivo - de punir e
eliminar discriminações - ou um caminho
promocional - de estimular o respeito a
diversidade.
. Compreensão das diferenças: se envolve
muito no contexto da ação afirmativa, inclui
o respeito as diversidades existentes.
Cada cultura também tem suas próprias
marcas, aquilo que diferencia ela das demais,
que a define. No caso do Brasil, algumas
marcas tipicamente brasileiras, destacados
em encontros com outras culturas como a
Copa do Mundo e definidos por sociólogos,
são: não pontualidade, excesso de contato
físico, nossa relação com a praia, hábitos
como dividir a conta e furar a fila.
A cultura mantém uma relação muito
estreita também com a indústria. A
indústria vende cultura, e a cultura se
molda para ser mais vantajosa à indústria.
Nesse meio, existem três tipos de
manifestações culturais:
. Manifestação superior: expressões artísticas refinadas, músicas clássicas, obras literárias
complexas;
. Midcult: criada a partir da manifestação superior, é mais fácil de se compreender e
consumir, mas permanece com um ar mais sofisticado;
. Manifestação em massa: produtos para determinados segmentos da sociedade, se inclui
dentro da cultura popular (que envolve todas as manifestações de uma nação); pode ser
alienadora, oferecendo uma visão irreal da sociedade; pode ajudar a apagar certos traços
culturais da vista; pode, também, produzir conformismo social, estimulando o consumo
exagerado e não mais a reflexão sobre a sociedade, transformando tudo em produtos a
serem comercializados;

Essa grande disseminação cultural (boa ou ruim) se deve principalmente a revolução digital, que criou
inúmeros canais onde a cultura pode circular. Essa revolução também criou os disseminadores dessa
cultura, os influencers - que por carisma ou simplesmente enganação, ganham atenção no meio social
e tem a capacidade de moldar o comportamento e o consumo de milhares de pessoas com apenas uma
simples postagem. O ambiente pandêmico aumentou muito o número de influencers, e também o
número de seguidores completamente alienados deles

As relações entre a Cultura e Ambiente

A cultura influencia o comportamento, o comportamento influencia o ambiente e o ambiente
influencia a cultura. Todos estão interligados e podem tornar uma sociedade mais ou menos
conscientizada ambientalmente. Diferentes culturas constroem diferentes visões da
natureza, definindo um curso que pode ir de exploração desvairada à sustentabilidade
consciente.
É de consenso geral que ser humano e natureza estão interligados, mas, como destacado, não
é uma regra que uma cultura inclua responsabilidade ambiental dentro da sociedade que se
constrói. Mesmo que o problema ambiental seja explorado, alguns países acabam deixando a
questão de lado, por terem problemas mais urgentes para resolver, como injustiça social,
fome e pobreza.
O debate entre conservação ambiental e desenvolvimento econômico deve sempre apontar
para a sustentabilidade, uma forma de aproveitar o capital natural oferecido, mas
preservando-o para que ele possa continuar a ser aproveitado futuramente. A cultura media
a relação sociedade e natureza e pode, com os estudos etnocientíficos certos, casar a visão
atual de mundo e consumo com ideias sustentáveis de uso e preservação do ambiente, como
os métodos ancestrais de manejo do ambiente por exemplo.
As relações sociais dependem - e resultam - das formas de produção e consumo de uma
sociedade, e são influenciadas pela industrialização e pelas desigualdades enfrentadas em
cada país. Tal complexidade levou a ONU a estabelecer 17 objetivos de desenvolvimento
sustentável até 2030:

. Objetivo 1: acabar com a pobreza em . Objetivo 2: acabar com a fome, alcançar a

todas as suas formas, em todos os lugares. segurança alimentar e melhoria da nutrição
e promover a agricultura sustentável.
. Objetivo 3: assegurar uma vida saudável e
promover o bem-estar para todas e todos,
em todas as idades.
. Objetivo 5: alcançar a igualdade de gênero
e empoderar todas as mulheres e meninas.
. Objetivo 7: assegurar o acesso confiável,
sustentável, moderno e a preço acessível à
energia para todas e todos.
. Objetivo 9: construir infraestruturas
resilientes, promover a industrialização
inclusiva e sustentável e fomentar a
inovação.
. Objetivo 11: tornar as cidades e os
assentamentos humanos inclusivos,
seguros, resilientes e sustentáveis.
. Objetivo 13: tomar medidas urgentes para
combater a mudança climática e seus
impactos.
. Objetivo 15: proteger, recuperar e
promover o uso sustentável dos
ecossistemas terrestres, gerir de forma
sustentável as florestas, combater a
desertificação, deter e reverter a
degradação da terra e deter a perda de
biodiversidade.
. Objetivo 17: fortalecer os meios de
implementação e revitalizar a parceria
global para o desenvolvimento sustentável.
Esses tipos de "institutos" são utilizados
desde os anos 50, e já disseminaram diversas
ideias diferentes, com o simples objetivo de
manter certas empresas lucrando - como
empresas de cigarro disseminando a ideia de
que o consumo de seu produto não está ligado
ao câncer
Simplificando, existem três linhas de
pensamento sobre a participação humana na
degradação ambiental:
. Acreditar que as mudanças climáticas não têm relação com as ações humanas (negacionistas
do aquecimento global);
. Objetivo 4: assegurar a educação inclusiva
e equitativa e de qualidade, e promover
oportunidades de aprendizagem ao longo da
vida para todas e todos.
. Objetivo 6: assegurar a disponibilidade e
gestão sustentável da água e saneamento
para todas e todos.
. Objetivo 8: promover o crescimento
econômico sustentado, inclusivo e
sustentável, emprego pleno e produtivo e
trabalho decente para todas e todos.
. Objetivo 10: reduzir a desigualdade
dentro dos países e entre eles.
. Objetivo 12: assegurar padrões de
produção e de consumo sustentáveis.
. Objetivo 14: conservação e uso
sustentável dos oceanos, dos mares e dos
recursos marinhos para o desenvolvimento
sustentável.
. Objetivo 16: promover sociedades
pacíficas e inclusivas para o
desenvolvimento sustentável, proporcionar
o acesso à justiça para todos e construir
instituições eficazes, responsáveis e
inclusivas em todos os níveis.
Apesar da necessidade óbvia de seguir
todos os objetivos e buscar a maior
preservação possível, diversas empresas
que veem prejuízo em legislações
ambientais fazem questão de ir ao extremo
para evitar suas perdas, chegando a
inclusive financiar as chamadas think tanks
- institutos de pesquisa que disseminem
"dados" que neguem a responsabilidade do
ser humano em relação à degradação
ambiental
. Acreditar que as mudanças climáticas são causadas pela ação humana, mas não são tão
significativas assim;
. Acreditar que a ação humana causou as mudanças climáticas e que são mudanças tão sérias
que se tornam até uma nova era geológica (Holocentro, de quando os humanos dominaram a
agricultura, para Antropoceno, época atual pós toda a exploração descontrolada do planeta)
Não há muitas concordâncias sobre quando se
teria iniciado o Antropoceno, se logo com o
domínio da agricultura, se na Primeira
Revolução Industrial, se na explosão da
primeira bomba atômica ou somente no pós-
guerras, mas entende-se que mesmo os
lugares que antes eram estáveis agora se
encontram sob pressão da ação humana
(subsistemas que eram capazes de regular o
funcionamento do planeta)
É necessária muita atenção para identificar
o preconceito, pois ele em sua grande
maioria dos casos se encontra escondido
pela sociedade, em palavras e atitudes. Os
preconceitos mais comuns são:
. Eurocentrismo; . Racismo;
. Homofobia; . Sexismo
. Xenofobia; . Gordofobia
. Etarismo;
Ironicamente, é em regimes democráticos que
grandes exclusões têm mais chances de
acontecer. Nesses ambientes, todos tem o
direito de opinar, é onde grupos minoritários
podem se organizar e ser ouvidos (e dominar a
maioria), e também onde o voto da maioria é o
que pode vencer (grupos minoritários são
excluídos).
Muitas movimentações vêm acontecendo em
busca de um sistema que proteja
vulneráveis e de instrumentos que ajam
contra o preconceito, a exclusão e os
discursos de ódio. O objetivo não é somente
a tolerância ao que é diferente, mas sim a
convivência respeitosa, o acolhimento de
todos.
A Sociedade: as relações étnico-raciais
Como já discutido, preconceitos, exclusão e
dificuldades em conviver com a diversidade
são alguns dos diversos problemas dentro
do meio social. O preconceito é um dos
maiores e piores, pois generaliza de forma
equivocada algum defeito e aplica a todo o
grupo étnico. Essa generalização é a forma
de justificar um ódio irracional em relação
a determinada etnia, ela cria um
preconceito, se espalha, e gera uma
diferenciação, uma situação de
desigualdade com base nesse ódio
irracional.
O preconceito pode se manifestar de
diversas formas, como por exemplo nos
estereótipos, as generalizações já citadas,
em representações sociais, a maneira como
pensamos do mundo e das pessoas (por
exemplo, pensar em um profissional de
enfermagem é pensar sempre primeiro em
uma mulher, e pensar em um profissional da
medicina é pensar sempre primeiro em um
homem), generalizações que sofrem grande
influência da indústria cinematográfica, ou
ainda na exclusão social, não aceitar um
grupo ou uma pessoa por características de
sua etnia, cultura, religião, ou por
estereótipos (características imaginárias).
O preconceito não acontece
necessariamente com uma minoria. Em
alguns casos, como na União Sul-Africana,
uma minoria quantitativa oprime e
discrimina uma maioria (no exemplo, uma
minoria branca se impõe sobre a maioria
populacional negra).
Alguns grandes marcos na defesa dos
vulneráveis são:
. Declaração dos Direitos Humanos, de
1948;
. Lei n.7.716, de 1989 - punição a crimes
resultantes de discriminação ou
preconceito;
. Lei Maria da Penha, de 2006;
. Lei Carolina Dieckmann, de 2012 - contra
crimes cibernéticos;
. Lei do Minuto Seguinte, de 2013 - de
amparo a vítimas de violência sexual;
. Lei Joana Maranhão, de 2015 - aumento da
proteção a crianças e adolescentes vítimas
de abusos sexuais;
. Lei do Feminicídio, de 2015;
No contexto de manifestações sociais, para
conseguir as ações afirmativas, existem
dois grupos, os organizados legalmente,
como ONGS, e os não organizados, que
surgem de forma espontânea, como o
movimento Black Lifes Matter (contra o
racismo), Ocuppy Wall Street (contra o
capitalismo perverso) e o Jornadas de
Junho aqui no Brasil, em 2013 (contra o
aumento das tarifas de ônibus).
Todas essas leis e muitas mais são
consideradas ações afirmativas. Por
definição do MEC, "entende-se por ações
afirmativas o conjunto de medidas especiais
voltadas a grupos discriminados e vitimados
pela exclusão social ocorridos no passado ou
no presente", portanto, são políticas com o
objetivo de corrigir desigualdades sociais.
Como sempre, há setores da sociedade que
contestam as ações afirmativas, com
argumentos inválidos como o de
"preconceito reverso" por exemplo.
A quebra de um círculo vicioso de
desvantagem social dá certo com as ações
afirmativas porque elas igualam o capital
social da população. Nosso capital social é
toda a herança cultural que carregamos, e
depende de muitos fatores, inclusive do
nível de instrução dos nossos pais. Usando o
exemplo do ambiente educacional, temos
que pais com maior nível de instrução,
consequentemente em uma maior classe
social, geram filhos com melhores
resultados em exames de larga escala. A
correção dessa desigualdade é o
oferecimento de cotas, que permite nivelar
melhor as oportunidades dos alunos,
independente da condição dos pais.

Etnocentrismo e Relativismo Cultural

O etnocentrismo é o julgamento de outros povos e culturas com base em padrões de outra
sociedade, vista como "melhor" e "superior". É como se não fosse possível pertencer ao grupo
sem excluir todos os demais. Junto ao etnocentrismo, como visto historicamente diversas
vezes, se combinam o domínio, a perseguição e o extermínio. Muitas culturas e povos foram
totalmente exterminados por serem diferentes, e muitos outros, apesar de não terem sido
exterminados, foram "apagados" ou "convertidos", tendo suas características únicas
eliminadas e se encaixando a força no padrão da etnia dominante. Há ainda certos grupos que
foram aceitos, mas somente em teoria - não foram apagados ou convertidos, mas foram
colocados em uma permanente desvantagem social.
Diferente do etnocentrismo, que se enquadra mais como ideologia, o relativismo cultural é
mais científico, tendo como objetivo realmente entender uma outra cultura dentro das
regras dela, abrangendo três aspectos principais:
. Todo elemento de uma cultura só tem sentido dentro de seu conjunto, no contexto da
cultura da qual faz parte;
. Culturas são todas relativas, não há uma toda boa e toda perfeita para a sociedade, não há
padrão a ser alcançado;
. Culturas são equivalentes, não se organizam em mais primitivas e evoluídas, elas não se
encaixam em uma classificação, estão todas no mesmo nível;
O relativismo cultural representa o respeito aos outros e suas culturas, se apoiando na
objetividade e na contextualização para entender as diversidades. Mas, obviamente, aplicar
os conceitos do relativismo na prática não é tão fácil quanto parece (exemplo: países
europeus lutando em tribunais contra o uso de véus por mulheres muçulmanas, porque para
os europeus é como apagar a presença feminina e é uma representação de dominação, mas
para as muçulmanas é apenas uma questão de respeito a sua religião, um elemento não
obrigatório dentro das suas práticas).

A Globalização e o Multiculturalismo
O multiculturalismo se entende por:
. Reconhecimento da não homogeneidade
étnica e cultural da sociedade;
. Reconhecimento da não integração de
grupos que defendem as diferenças étnicas
e culturais;
. Mobilização de recursos das tradições
dominantes contra a integração;
. Alta demanda por inclusão no sentido de
reparar as exclusões históricas;
. Alta demanda por reorientação política
para assegurar a diversidade e pluralidade.
Ou seja, o multiculturalismo é sobre assumir
que há uma enorme diversidade, e que são
necessários limites na assimilação de
culturas não dominantes para dominantes,
para que a situação seja realmente nivelada,
e que os movimentos de inclusão devem
respeitar, e não somente ignorar, as
diferenças entre os grupos étnicos.
Um dos principais acontecimentos que
levantou a discussão de multiculturalidade
foi a globalização. Ao mesmo tempo que o
capitalismo se juntou a globalização para
que todos pensassem, comprassem e se
comportassem iguais, o acesso a todo mundo
permitiu-nos encarar toda a multiplicidade
existente entre os países, as etnias e
culturas. Inicia-se, então, uma luta entre
continuar a ação globalizadora e manter as
identidades culturais vivas. Isso inclui o
fato de que certas culturas simplesmente
não querem conviver com as demais, não
querem aceitar nem globalização, nem as
diferenças, nem nada. Ao mesmo tempo em
que a globalização derruba as fronteiras,
ela dá voz para que os grupos defendam com
mais força os seus espaços. Somos
estimulados a conviver com outro e, ao
mesmo tempo, estimulados a nos
diferenciar do outro.

O multiculturalismo se relaciona também com a interculturalidade, o projeto político de

estabelecer diálogos entre culturas, com o objetivo de garantir a convivência pacífica. Nesse
processo, três instituições são importantes: a escola, por ter o trabalho de ensinar tudo que
importa, a mídia, por divulgar a imagem da sociedade, e o direito, por definir o que é ou não
aceitável.
Diferentes modelos teóricos foram criados
para compreender a aceitação do
estrangeiro:
. Autoritarismo iluminado: igualdade de
oportunidades no público e reconhecimento
das diferenças culturais no privado;
. Integração racista: igualdade na teoria,
mas não na prática, na participação
econômica e política, reconhecimento
parcial das diferenças no privado;
. Segregacionismo: acesso diferenciado no
domínio público, alimentando as diferenças;
. Multiculturalismo: igualdade de
oportunidades no público, liberdade de
expressão cultural no privado.
Dentro desses diversos modelos existem os
que consideram a exclusão social como algo
inevitável, um fenômeno sem escapatória e,
portanto, aceitável de acontecer, e os que
reconhecem que a condição humana impõe
naturalmente a inclusão social, e, portanto,
não deve ser renunciada.
A conexão entre as comunidades, que garante a
identificação - e o fenômeno da coesão - fica
explícita nos hábitos, sejam eles culinários,
religiosos, de idioma, de valores ou qualquer
outro. Toda cultura tem seus hábitos e é por
meio deles que os indivíduos se identificam como
parte do grupo.
A cultura como fator de Coesão e de
Conflito no Mundo Contemporâneo
A cultura pode gerar coesão quando, por
algum motivo, a unidade da comunidade é
importante para a sua sobrevivência. Um
exemplo são as formas de sociabilidade
subterrâneas nas favelas do Rio de Janeiro,
onde as comunidades se protegem e se
defendem, tanto dos diferentes grupos
dentro delas quanto dos indivíduos externos
a elas. As famílias, igrejas, ONGS e,
principalmente, o tráfico são os grupos que
definem a identidade cultural dos
habitantes e moldam o futuro da
comunidade, diferenciando o "povo da
favela" do "povo da cidade".
Na visão dos moradores da favela:
. A cidade é desconhecida e perigosa, os
moradores são apenas indivíduos, sem
nenhum amparo entre si, as leis são fracas
e a polícia e administração pública são
corruptas;
. A favela é segura e familiar, apesar da
violência explícita, todos são vistos como
pessoas de verdade, rodeados por família e
amigos; as leis vêm do narcotráfico, mas são
bem claras e rígidas e portanto, sempre são
aplicadas;

São diversos os exemplos onde os hábitos e a cultura foram os responsáveis por manter uma
comunidade unida. O estabelecimento da comunidade judaica aqui no Brasil, por meio de sinagogas e
escolas, manteve o grupo unido e se recuperando das perseguições sofridas em outras partes do
mundo. Do mesmo modo, também primeiro pela religião, a comunidade russa se estabeleceu e se
fortaleceu no Brasil, envolvida em seus costumes como forma de se identificar e de se ajudar.
Imigrantes chineses, sul-coreanos, bolivianos e muitos outros criaram aos poucos seus pequenos
grupos pelo território brasileiro, grupos seguros onde podiam se ajudar e praticar seus costumes,
mantendo suas identidades culturais vivas.
Mas, a coesão não é o único fenômeno envolvendo a cultura. Os próprios movimentos
migratórios citados acima são uma das principais causas de um outro fenômeno cultural, o
conflito. O possível fracasso no encontro de duas culturas diferentes pode gerar conflito de
diversas formas:
. Exclusão: onde, no caso dos imigrantes, eles não são aceitos no país novo e, por
representarem uma minoria, são excluídos e instigados a retornar aos seus países de origem;
. Assimilação: negação das diferenças culturais dos imigrantes com o oferecimento de acesso
a cidadania e inclusão no novo país, caso assuma os valores e ideais da população local (ou
seja, caso abandone sua própria cultura);
. Provisoriedade: considera os imigrantes como residentes temporários, estando no país
apenas para a prestação de um trabalho por tempo determinado; o foco se mantém então,
nos indivíduos como força de trabalho temporária, não no grupo étnico;
. Multiculturalismo: tende a garantir o reconhecimento das identidades étnicas e as
proteções necessárias (pelo menos formalmente) para suas especificidades culturais;
A pior forma de manifestação de conflito é, com certeza, o terrorismo. Os atos terroristas
são apenas causam danos por si só, mas movimentam um aumento de gastos militares nos
países industrializados, instigam ataques aos países fragilizados com armas de destruição
em massa e geram grandes movimentos de migração - e movimentos maiores ainda de
preconceito e xenofobia com esses imigrantes.