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Aula 1

O conceito de cultura é uma das pedras de toque da antropologia. No entanto, a palavra


também é difundida em nosso vocabulário cotidiano e possui sen dos dis ntos, os quais cabe
aqui esclarecer.

Em nosso cotidiano o termo cultura é classi catório, distinguindo pessoas a partir de


determinados atributos relacionado ao acesso e domínio de conhecimento formal. Desta
forma, quando afirmamos que uma pessoa “tem cultura”, estamos nos referindo a critérios
como seu tempo de estudo, o número de idiomas que domina, seus gostos musicais ou de
demais formas de entretenimento. Segundo essa visão, aqueles que não par lham do mesmo
universo não possuiriam cultura. É por este mo vo que a cultura aqui está hierarquizando
diferentes grupos sociais ou indivíduos.

A antropologia segue o caminho inverso: todas as manifestações humanas são dotadas de


cultura, pois são mediadas por um conjunto de valores e significados.

No co diano, a cultura é um sistema de classificação.


O que é cultura? Em nosso dia a dia utilizamos o termo cultura para nos referir a um grupo
específico de pessoas: Alto nível de educação; formal; Com curso superior; Que falam mais de
um idioma.
Especi camente na sociedade brasileira, nós usamos “cultura” de forma discriminatória,
porque consideramos as pessoas que não gostam de coisas não tão populares como “sem
cul tura”.
CULTURA
Conhecimento formal Nível econômico
Pessoas Grupos
Sociais Países

Além disso, colocamos europeu como “cultura superior”.


Temos alguns espaços que são considerados culturais, como senso comum, dizemos que quem
frequenta teatros, óperas e afins são dotados de cultura.

Todas as nossas manifestações, seja numa ópera, campo de futebol, são determinadas de
símbolos, comportamentos, etc, são dotados de códigos.

Todos têm Cultura


Orienta uma visão de mundo; Valores Padrões de comportamento; Sen do de identidade e
pertencimento.

Determinismos

Nesta aula procuramos desconstruir outra ideia presente em nosso dia a dia: a que estabelece
que alguns comportamentos são influenciados por fatores externos à cultura. Fatores como
clima, geografia, instintos ou in uência genética seriam determinantes em diferentes aspectos
da vida.

No determinismo geográfico, por exemplo, acredita-se que as condições ambientais ou


climáticas são essenciais para o desenvolvimento econômico e a boa produtividade. Não se
trata de negar a influência do ambiente, mas de pensá-la em termos de uma relação mediada
pela cultura, e não um fator determinante.

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Fal a-se muito em “ins nto de sobrevivência” e “instinto materno”, mas, ao contrário do que se
pensa, há pouca influência dos ins ntos em nosso comportamento. Pensar o suicídio como
fato social nos permi rá desconstruir essa ideia. Ao ques onar a noção de determinismo
abrimos caminho para uma interpretação na qual a cultura e o social são protagonistas.

O comportamento humano é in uenciado pelos fatores externos como clima e geografia e


internas como características sicas e biológicas.

Determinismo Geográfico
Acredita-se que o clima e a geografia influenciam:
 Desenvolvimento Econômico
 Comportamentos coletivos ou individuais

Determinismo biológico
 Comportamento fortemente determinado pelos ins ntos
 Comportamento influenciado pelo código genético ou caracterís cas sicas
Quando falamos em instinto materno ou instinto de preservação, dizemos que é um conceito
pré-determinado.

Um exemplo importante
Cérase Lombroso [acreditava que existiam determinadas caracterís cas físicas no corpo da
pessoa que mostrava que ela tinha maior propensão a criminalidade].
Surgimento do biocriminalismo no século XIX
Biocriminalismo +polí cas raciais = repressão

Essas teorias biocriminalistas foram essenciais para polí cas discriminatórias de repressão.
No século 19, havia uma polí ca de castração em criminosos nos EUA, assim como na
Alemanha [foi além das tendências criminais, foram aplicados também casos de histeria,
homossexualidades, ou seja, qualquer coisa que pudesse ser passada de pais para lhos].
Nunca pensaram, naquela época, que as condições sociais seriam os determinantes disso,
somente os aspectos sicos que eram os determinantes.

Visão da Antropologia:
 Os instintos exercem pouca influência sobre o comportamento humano
 O homem é influenciado pelo meio em que vive e não pela genética [ele procura
estratégia para viver nesse meio, e não o meio que determina o seu comportamento]
Fatores climáticos ou geográficos influenciam estratégias, mas não determinam
comportamentos

Natureza e cultura
A relação entre natureza e cultura é um tema antigo e presente no pensamento ocidental.

O pensamento dos contratualistas é emblemá co para entender que natureza e cultura foram
pensadas como domínios opostos. No contratualismo acreditava-se que a passagem do estado
de natureza para o estado de cultura constituía o estabelecimento do pacto social. A ideia de
pacto era sobretudo a de um princípio filosó co, e, portanto, não podia ser entendida no
sentido literal. No entanto, a passagem do estado de natureza para o estado de cultura
in uenciou a antropologia moderna.

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Neste sentido, Claude Lévi-Strauss argumentava que a cultura se estabelece quando a primeira
regra é criada e com ela vêm os processos de trocas e de comunicação entre diferentes
grupos. Outras abordagens passaram a cri car o dualismo implícito na relação
natureza/cultura. Para autores como Tim Ingold, não se trata de opor um ao outro, pois há um
con nuum entre eles.

Ideia de oposição entre Natureza e cultura


Contratualistas Estado de Natureza X Pacto Social
Thomas Hobbes (1588-1679)
John Locke (1652-1704)
Jean-Jaques Rousseau (1712-1778)

Eles procuravam entender como o pacto social aconteceu. Quando os homens começam a se
ver como sociedade e como o pacto social se opõe ao estado de natureza.
Por detrás dessas teorias, havia um cunho político. Hobbes tratava do Estado absolu sta.
Locke nha traços liberais. Rousseau usava uma metáfora para entender o humanismo.

Hobbes:
Os homens no estado de natureza viviam livres, mas nham um medo constante. Era uma
violência sem limites. Então, os homens abrem mão da liberdade em troca da segurança, eles
precisam de regras, de autoritarismo.

Locke [um dos pais da teoria liberal]:


O homem nasce pleno; ele tem direitos de viver, de liberdade, no entanto, ele adere ao paco
social para ter garan as que não se encontra no estado de natureza. Então, o homem sai do
estado de natureza para o pacto social para garantir suas propriedades, suas individualidades.

Jean-Jaques Rousseau
Relações entre natureza e cultura
Comunicação: importante para passagem da natureza para a cultura
Ele é considerando o pai do humanismo, das ciências humanas.
Algumas caracterís cas distinguem Rousseau dos demais.
Para ele, o estado de natureza é um estado bom, posi vo. Tanto que nasce a ideia do bom
selvagem.
Ele nasce livre, pleno. E nessa plenitude, ele nasce com um poder criativo. Com capacidade de
pensar no cole vo. Para Rousseau, é a sociedade que corrompe o homem; que ra ele dessa
visão coletiva, integradora e o coloca na visão individualista. Essa era uma crí ca à sociedade.
Ele vê uma relação relacional com a cultura. O homem nasce com capacidades cognitivas que
permitem a criação, que potencialmente permite a criação e o desenvolvimento ar stico e da
comunicação. E é através da comunicação que o homem faz a passagem progressiva para
cultura, de manter uma relação com os demais indivíduos do coletivo.
Em Rousseau, não há um antagonismo, e sim uma con nuidade de seu pensamento.
Ele chama atenção para o aspecto comunicativo, que fala que a cultura e a sociedade é em si
linguagem, ou seja, trocas: de bens, materiais, matrimoniais.

Natureza e Cultura para Lévi-Strauss (1908-2009)


Passagem para cultura:
 Estabelecimento da 1ª regra Proibição do incesto
signi ca que, a par r do momento que uma mulher do meu grupo é proibida para mim, eu
devo trocá-la por outra. Todas as outras espécies animais, isso é desconsiderado. No caso da
relação humana, quando são mulheres próximas a você, não se pode ter relações. Então, deve-

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se ter relações com mulheres de outros grupos, ou seja, é uma aliança matrimonial, daí você é
inserido em outra cultura.
 Trocas e linguagem
 Cultura ordena a natureza

Outras concepções de Natureza e Cultura


Cri ca o caráter dualista da oposição entre natureza e cultura
Sociedades: continuo entre natureza e cultura
Múl plas interações entre humanos e não humanos
Alguns antropólogos que a visão de opor natureza e cultura é uma visão ocidental, baseada
numa sociedade dualista [corpo e alma; cultura e natureza; etc] e isso não ocorre em outras
sociedades.
Esses pensadores chegam a essa conclusão a partir do registro de xamãs, por exemplo, que
vivem outras em outras sociedades.
O ameríndio não vê diferença entre o mundo natural do social, por exemplo, dentro da
natureza há a adoção de regras sociais.

Pensamento Antropológico
Nesta aula veremos algumas escolas do pensamento antropológico, suas principais ideias e
in uências.

Desde que o conceito de cultura foi forjado por Tylor, no final do século XIX, foram abertos
outros caminhos para entender o homem e a diversidade cultural. A proposta conceitual de
Tylor era abrangente, envolvendo todas as dimensões da experiência humana. O conceito
antropológico de cultura, tal como foi utilizado pela antropologia norte-americana, abriu
caminho para compreender as relações entre indivíduo e sociedade, seja a par r do
aprendizado e dos processos de socialização, seja no diálogo entre psicologia e antropologia.

No estruturalismo de Lévi-Strauss a cultura aparece como um processo lógico para organizar e


classi car o mundo sensível. Geertz procura restringir o conceito de cultura a fim de torná-lo
mais preciso, valorizando a singularidade e as expressões locais da sociedade estudada.

O conceito antropológico de cultura


Tylor (1832-1917): “um conjunto complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a
moral, o direito, os costumes e as outras capacidades ou hábitos adquiridos pelo homem
enquanto membro da sociedade” (Tylor, apud Cuche, 1996: 35)

É um conceito muito abrangente, envolve todas as dimensões da vida humana.


A cultura é algo aprendido, não é inato ao homem.
O Tylor fala da transmissão desse conhecimento entre as gerações.

Franz Boas (1858-142) e a Escola norte-americana


Aspectos internos da cultura
Escola de Padrão e personalidade
Vínculos entre indivíduo e cultura
Noção de arco cultural

Para ele, cada sociedade podia ser entendida em sua totalidade. E nham características que
as diferenciavam das demais.
Ato cultural: embora cada cultura fosse única, elas poderiam ser enquadradas dentro de certos
padrões.

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@ classi cou sociedades como:


sociedades apolíneas: são contidas, sérias, preocupadas com as convenções
sociedades Dionísia: são mais expansivas

Essa escola tenta estabelecer uma relação entre individuo e a sociedade.


Como a cultura influencia no comportamento individual.

Importância de Durkheim
Aspectos simbólicos
Representações coletivas
Totalidade orgânica
Conceito de função [função de cada instituição no todo social]

Embora ele não falasse em cultura, ele se preocupava com os aspectos de significação.
Ele via a sociedade como orgânica, pois se uma de suas estruturas parasse de funcionar, as
demais também parariam.

Conceito de Homem e Conceito de Cultura


 Humanismo
o francês – HOMEM
 Ênfase nos aspectos lógicos
 Conceito universal
 Cultura
o Ênfase no par cular

Cultura como sistema simbólico


 Cliford Geertz (1926-2006)
o Conjunto de significados que orientam a ação
 Interpretação
o Roy Wagner (1938 -)
 Sistema inventivo e criativo

Cultura e história
Nesta aula veremos que a cultura não é algo estático, mas em permanente transformação.
Trata-se de uma questão importante, já que em nosso senso comum pensamos que a nossa
sociedade é a única capaz de mudar sem perder sua autenticidade.

Quando pensamos em outras sociedades, em especial as indígenas, qualquer mudança ou


introdução de inovações tecnológicas é entendida como perda cultural. Sociedades estão em
contato permanente e isso gera mudanças no interior da cultura, mas essa transformação
nunca é unilateral. Evidentemente nos processos coloniais as sociedades nativas sofreram um
processo violento de dominação, mas a sociedade colonial também foi transformada. A
colonização também não foi passiva, pois a cultura possibilita interpretar eventos históricos
em si próprios.

Abordaremos ainda que as sociedades possuem temporalidades diferentes, influenciando


diretamente o ritmo e os processos de transformação.

O Caráter Cumulativo da cultura


 Valores e conhecimentos transmitidos de uma geração a outra
 A cultura não é está ca

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A cultura é dinâmica, ela muda.


Ela se relaciona com valores, sistemas de significação, mas as pessoas mudam sua visão de
mundo. A história de visão de mundo afeta a cultura do indivíduo.

 Transformações internas – hipoteticamente


 Ocorrem no interior de uma sociedade (inovações e descobertas) [por exemplo, a
internet mudou a nossa experiência de se relacionar. Assim como transformação
externa, com sociedades externas. Muitas vezes algumas sociedades reforçam suas
culturas quando em contato com outras sociedades]
 Transformações externas
o Contato entre sociedades diferentes

Sociedades Quentes [segundo levi-strauss]


 Impulsionadas por transformações constantes [Vivemos num mundo que as
informações tem que ser constantes. Uma sociedade que dá mais importância nas
inovações]
 História Linear
 Sociedade ocidental
 Exemplo: revolução industrial

Sociedades Frias [sociedades místicas]


 Resistentes a transformações [elas se transformam de forma mais lenta. A própria
noção de tempo é dada socialmente. A forma que fatos e eventos são dadas
socialmente. Elas são mediadas pelo conjunto de processos simbólicos e significados
que é a cultura]
 Tempo cíclico
 Sociedades indígenas

Ao longo das aulas foi possível evidenciar como a cultura está presente em diferentes
dimensões da experiência humana, e como possui ampla influência sobre nossos modos de
pensar e agir. Muitas vezes, dado o caráter internalizado da cultura, reproduzimos
comportamentos de maneira inconsciente, como se fossem naturais.

Vimos também que a cultura está em permanente mudança e, com base nesta premissa,
comportamentos e padrões sociais também se transformam. Pesquise em jornais e revistas
(impressos ou disponíveis na internet) propagandas publicitárias nas quais a mulher é
protagonista. Pesquise de forma compara va quais as mudanças – se é que estas existem –
vinculadas à imagem da mulher entre os anos 1960 e o ano de 2016. Ao longo de cinco
décadas, quais as transformações que você iden ca? Escreva um texto analisando essas
transformações.

AULA 2

A curiosidade sobre a diferença é comum a todas as sociedades, e geralmente a diferença é


avaliada com os olhos do observador. A Antropologia surgiu com a proposta de estudar as
diferenças procurando a coerência interna das sociedades.

Nascida de processos históricos transformadores, como as grandes navegações e o


imperialismo industrial, esta disciplina voltou-se para diversidade humana. Foi um longo
caminho percorrido por ela para estabelecer uma nova abordagem sobre as sociedades
humanas, o que incluía métodos e técnicas próprios. O primeiro obstáculo foi o de equacionar

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a relação entre diversidade e unidade lógica da espécie, ma zados pelos conceitos de Homem
e Cultura.

Inicialmente o trabalho antropológico foi produzido a partir de relatos de viajantes e


colonizadores. Apenas com o trabalho de campo, no qual o pesquisador de fato experimenta
outra realidade, foi que a Antropologia adquiriu iden dade própria.

Tema 01: Surgimento da antropologia


A antropologia, como qualquer forma de conhecimento, é um produto da história. Seu
surgimento foi privilegiado por um conjunto de acontecimentos que despertaram outra
maneira de perceber a diversidade cultural.

A diferença sempre despertou a curiosidade e a imaginação humanas. Entretanto, a


antropologia consolidou um conjunto de reflexões que procura entender o “outro” de forma
coerente e lógica. Essa postura não seria possível sem as rotas comerciais que conduziram os
europeus às Grandes Navegações e à "descoberta" de um mundo novo, antes inimaginável.

O contato com a diversidade radical no seio de uma sociedade imersa em transformações


privilegiou o desenvolvimento de uma profunda reflexão sobre o outro e sobre si mesma. Se as
navegações foram fundamentais para a Antropologia, foi a expansão da sociedade colonial que
consolidou a disciplina. Neste período, o contato com o outro perpetuou seu lugar no
co diano europeu.

Antecedentes históricos
O europeu nas suas navegações encontrava diversas culturas e diferenças que para ele eram
ilógicas. Com o passar dos tempos, eles veram que adquirir uma visão desse mundo.

Rotas comerciais – Ocidente/oriente (idade Média)


Intenso comércio entre essas regiões.
A rota da Seda que era com os chineses-mongóis. Esses povos despertavam muitas
curiosidades, tanto é que foi criado um es lo literário sobre esses povos, mas a par r do ponto
de vista cristão[marabilias (relatos maravilhosos)]. Esses povos também eram interpretados a
par r da imaginação do arcabouço do cristianismo, da bíblia.
Durante muito tempo acreditavam que esses povos não eram filhos de Adão; e se eram
humanos, não eram humanos completos.
Nem sempre tivemos essa noção de humanidade. Ela sempre foi restrita aos europeus.
Nessas marabilias, sempre os povos eram retratados de forma desforme, como canibais,
próximos a animalidade.
Esses relatos não diziam respeito aos outros, e sim, aos europeus, pois era uma conduta ser
seguida por esses europeus. E o não cumprimento dessas regras colocava em risco que esses
homens fossem colocados fora desse mundo.

Grandes Navegações – Novo Mundo (século XVI)


A descoberta de um novo mundo abre os olhos para um novo conceito de vida. Muda a
representação de espaço [antes achava-se que a terra era plana].
Os relatos literários das marabilias se chocam com as novas concepções do novo mundo.

Impacto das Grandes Navegações


Pensamento reflexivo sobre os limites do mundo e da humanidade
Novo olhar sobre a sociedade Europeia

O advento das novas navegações e do novo mundo mudou a visão de mundo.

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Para o europeu do século 16, foi uma descoberta, para ele esse mundo não existia.
Ele coloca em cheque os limites de mundo.
Podemos ver que o que Rousseau colocou sobre o estado de natureza e de sociedade tem
muito a ver com os relatos feitos pelos navegadores.

Tema 02: Etnocentrismo e diversidade cultural


Etnocentrismo e diversidade andam juntos, já que o primeiro consiste na di culdade de lidar
com a diferença. O pensamento etnocêntrico ocorre no encontro – ou choque cultural –
quando somos confrontados com outros costumes e valores.

Ao nos depararmos com o diferente somos levados a julgá-lo com base em nossos costumes,
os quais julgamos “naturais”. O etnocentrismo não é uma exclusividade do ocidente, e ocorre
em diferentes sociedades. No entanto, na sociedade ocidental o etnocentrismo foi
acompanhado pela expansão colonial, justificando mecanismos de subordinação, exclusão e
extermínio de populações inteiras. O relativismo cultural é uma postura oposta ao
etnocentrismo, segundo a qual procura-se valorizar a diversidade e o pensamento do “outro”.
Ao entender o outro a par r de seus próprios termos, os costumes e valores do observador
deixam de ser inatos e tornam-se passíveis de questionamento.

O etnocentrismo e a cultura
A cultura – lente com a qual se vê o Mundo (Ruth Benedict)
Valores e visões de mundo
Naturais, corretas

Para a Ruth, nós vemos o mundo através da nossa lente, no caso, a cultura.
Por isso é difícil se colocar em perspec va e ver os outros valores que são diferentes daqueles
que não são os que conhecemos.

“O grupo do eu faz da sua visão a única possível (...) a melhor, a natural, a superior, a certa. O
grupo do outro fica, nesta lógica como sendo o engraçado, absurdo, anormal ou ininteligível”.
(Rocha 1984:5)

Caracterís cas do Etnocentrismo


 Di culdade de pensar a diferença
[o pensamento etnocêntrico ocidental serviu de desculpa para a dizimação dos povos da
américa do sul; o nazismo também; assim como o apartheid]
 Pensamento racional e afe vo
 Valores do eu como inatos ou naturais
 Fenômeno comum a todos os grupos sociais
 Ocorre quando a encontro ou “choque” entre diferentes grupos
 Pode assumir formas de dominação e segregação

O contraponto do relativismo cultural como um pensamento antropológico: distanciar dos


nossos valores e ver o outro de forma coerente, por mais estranho e exó cos esses costumes
possam ser, existe uma lógica nessa cultura.

Tema 03: Evolucionismo


O pensamento de cunho antropológico estava em processo de construção desde o século XVI,
acompanhando o fluxo da história europeia. No século XVIII, com o humanismo, col ocava-se, a
par r do conceito de Homem, a possibilidade de atribuir uma unidade à espécie humana.

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O evolucionismo surgiu no século XIX e foi uma forma de explicar como essa unidade era
possível a despeito das diferenças existentes. Para o evolucionismo havia uma unidade lógica.
Entretanto, a humanidade se encontrava em diferentes estágios de desenvolvimento. Assim, a
diferença entre um aborígene e um europeu estava em seu grau de desenvolvimento (técnico,
jurídico, cien fico etc.).

Formulou-se a ideia de uma história linear, na qual todas as sociedades saíam do estágio
primi vo para chegar à civilização. O ideal de civilização era o modelo europeu, industrial e
colonial do século XIX. Para o evolucionismo não cabiam múl plas possibilidades de
desenvolvimento social.

A antropologia nasce como disciplina irmã da sociologia. Consolida-se na sociedade social


industrial, com a instalação de colônias inglesas e francesas na áfrica.

Evolucionismo biológico e social se consolidam no mesmo período como forma de


pensamento.

O que foi o evolucionismo


 Corrente de pensamento muito popular no século XIX [é onde surge a primeira cadeira
de antropologia, com a ideia que a sociedade é uma só; mas com um crescimento
unilinear [as sociedades estão em graus e estágios diferentes].
 Desenvolvimento UNILINEAR da humanidade
 Sociedades: diferentes estágios de desenvolvimento
SELVAGERIA BARBÁRIE CIVILIZAÇÃO
PRIMITIVOS INTERMEDIÁRIO SOCIEDADE EUROPEIA
ORGANIZAÇÃO SOCIAL MELHOR DEFINIDA INDUSTRIAL [PATRIARCAL,
MONOGÂMICA]

Algumas Obras do evolucionismo


 Lewis Morgan (1818-1881: Sociedade Antiga – 1877
Ele tem um mérito de começar estudos de parentesco; que a sociedade sai de um
estágio de promiscuidade generalizado [selvageria], onde a sociedade sai de um
matriarcado e dai começam a estabelecer regras e virar monogamia [chegava ao
estado civilizado] [isso foi contestado, o matriarcado exis a de um jeito que Morgan
entendia, entre outros]
 Sir James Frazer (1854-1941)
Para ele, foi através da religião. Ele diz que as pessoas percebem que as religiões
mágicas e mís cas são falsas e que chegam ao estado de civilização descobrindo a
ciência.
Ambos os autores acharam que o homem chegou ao ápice do desenvolvimento no século 19.
A colonização foi jus ficada que, os povos colonizados também tinham que sair do estado de
selvageria e os europeus ditos evoluídos iriam ajuda-los nesse processo.
Agora no século 21, é fácil julgar esses evolucionistas, mas para a época, o evolucionismo tem
como mérito uma lógica reconhecida na academia onde, até então, só eram esboçados
pensamentos filosó cos e religiosos sobre o tema.
 O Ramo de Ouro (1890)

Outras caracterís cas


 Estabelece uma unidade da espécie humana
 História Conjectural

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É onde cria-se pontos de passagem-ligação entre um período da época entre si. Onde
se estabeleciam conjecturas a par r de dados e possibilidades de que foi assim que
aconteceu na história para veri car a sua con nuidade [esse conceito foi muito
cri cado]
 Trabalho de “gabinete”
Foi-se questionado também que esses teóricos nunca estiveram em campo estudando essas
pessoas; eles apenas estudavam os relatos das pessoas que viveram essas diferenças. Uma
ruptura nesse modelo acontece quando o trabalho de campo emerge.

Tema 04: Trabalho de campo


A Antropologia ganhou impulso com o evolucionismo, mas este produzia uma reflexão teórica,
pautada em relatos de viajantes, missionários e agentes coloniais. A realidade era, portanto,
filtrada por julgamentos e visões de mundo dos observadores.

Os primeiros trabalhos de campo, nos quais os pesquisadores produziam os "estudos


intensivos" provocaram grande impacto e ques onamento sobre os limites do evolucionismo.
Franz Boas, um dos precursores da prá ca do trabalho de campo, ques onava o método
histórico, afirmando que as sociedades possuíam desenvolvimento plurilinear.

Para Radcliffe Brown, por sua vez, a dimensão histórica era meramente especula va em
sociedades sem escrita. O foco da pesquisa estava em compreender a totalidade do social tal
qual ocorria no momento da pesquisa. Foi com Malinowski que o trabalho de campo se
transformou no método etnográfico por excelência, baseado na imersão do pesquisador e na
observação par cipante.

Trabalho de campo e crí cas ao evolucionismo


 Franz Boas (1858-1942) – América do Norte e Alasca
 Radcliffe-Brown (1881-1955) Ilhas Andaman – África
 Malinowski (1854-1942) Trobriand - Oceania

Em comum
 Estudos geograficamente limitados
Acreditava-se que as culturas eram difundidas, ou seja, as sociedades em contato com
as outras difundiam suas culturas e artefatos [que também foi baseada na história
conjectural]. Então, os estudos foram concentrados em uma área pequena, fazendo
uma imersão em um único grupo-sociedade.
Cada cultura tinha seus próprios processos, onde foi questionado que o progresso
unilinear não era real. E sim era um progresso plurilinear.
- A negação da perspec va histórica: quando se começa a se contestar os
evolucionistas, dizem que não estão interessados na história e sim como eles estão
naquele momento, com isso, elas querem limitar ou podar a ideia de se usar a história
de forma conjectural.
 Ênfase na relação entre os elementos internos a sociedade

Método Etnográfico
 Os Argonautas do Pacífico Ocidental Malinowski (1922)
Ele é o primeiro a usar o método de “Observação par cipante”, a qual não pode ser
feita de qualquer maneira, que existem tempo, forma e jeitos de produzir o método
etnográfico.
Esse método prevê que o antropólogo deve ter uma imersão na sociedade que
pesquisa, esquecer da sua origem, pois sem isso ele não será capaz que viver aquela

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