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17/10/2022 16:05 UNINTER

DESIGN, CULTURA E SOCIEDADE


AULA 2

Profª Cristiana Miranda

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CONVERSA INICIAL

Olá! Esta aula tem como objetivo o estudo do termo cultura, identificando seus principais

elementos sob o viés das ciências sociais.

Existem inúmeras variáveis a serem observadas no conceito de cultura, como a construção da

identidade do indivíduo, a relação entre um indivíduo e sua comunidade, bem como entre uma

comunidade e outra. Por meio da análise de todos os conceitos, espera-se a melhor compreensão do

mundo social. Os temas abordados serão:

O que é cultura?

Manifestações culturais;

Ambiente cultural;

Multiculturalismo;
Globalização.

CONTEXTUALIZANDO

A palavra cultura tem várias aplicações no nosso dia a dia. Pode significar a ação de cuidar da

terra e da plantação, a criação de certos animais, como a cultura de abelhas, e desenvolvimento de

algumas espécies microbianas e de células. Naturalmente, não iremos trabalhar com essas

abordagens para cultura.

Também existe o termo cultura organizacional para se referir ao conjunto de comportamentos

específicos de uma organização, como no exército, na escola, na igreja, na indústria automotiva etc.

Você perceberá que, apesar de não ser o tema da disciplina, vários dos assuntos abordados nesta

aula poderão ser aplicados (mediante alguma adaptação) à cultura organizacional.

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TEMA 1 – O QUE É CULTURA?

O termo cultura provém do latim culturae, cujo significado representa cultivar. Assim, cultura,

nos estudos sociais, pode ser entendida como aquilo que é cultivado no indivíduo, aquilo que afeta o

seu desenvolvimento pessoal.

A palavra cultura pode ser utilizada para qualificar o conjunto de conhecimento de uma pessoa

sobre um ou vários assuntos, geralmente relacionado à educação formal: “fulano é muito culto (tem

cultura), fala cinco idiomas, é doutor em administração, viveu na Europa por 15 anos”.

No contexto desta disciplina, cultura é a soma dos comportamentos, saberes, técnicas,

conhecimentos e valores acumulados por um grupo social ao longo do tempo. Complementa esse

raciocínio a ideia de que a cultura é algo a ser aprendido pelo sujeito, transmitido de geração para

geração. Não é algo relacionado à natureza fisiológica humana, mas ao processo de socialização.

Portanto, todas as pessoas têm cultura e não existe uma cultura melhor que a outra. O que existem

são culturas diferentes.

Cada cultura tem sua própria e distinta forma de observar e classificar os fatos sociais. E com

percepções diferentes, teremos manifestações diferentes. Entender e respeitar as diferenças entre

grupos sociais distintos, seja um grupo pequeno, como os torcedores de um time de futebol, ou um

grupo grande, como a etnia árabe, é o elemento-chave para combater todo e qualquer tipo de
preconceito.

O etnocentrismo, que é a propensão de determinada pessoa a considerar a sua cultura como

superior à cultura do outro, que é diferente, é uma forma de preconceito, mas quando sentido com

exagero, é o responsável por movimentos radicais como a escravidão de povos africanos e indígenas,

o Ku Klux Klan, o Apartheid, o Nazismo etc.

Saiba mais

Para saber mais sobre Ku Klux Klan, Apartheid e Nazismo, acesse os links disponíveis em: <h

ttps://escola.britannica.com.br/artigo/Ku-Klux-Klan/481680>; <https://escola.britannica.com.br/a

rtigo/apartheid/480627>; <https://escola.britannica.com.br/artigo/nazismo/482017>. Acesso


em: 26 ago. 2020.

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Toda pessoa de determinada cultura, quando passar a viver em outra (migração temporária ou

permanente por motivos de estudo, trabalho, segurança pessoal etc.) sente muitas dificuldades em

entender e aceitar outros costumes. Em alguns casos, não é preciso nem viver em outra região ou

país, pois basta ter o conhecimento de alguma prática cultural diferente da nossa para provocar

manifestações de repúdio.

É fundamental ampliarmos nossa compreensão de outras culturas, entendendo que compreensão

não significa, necessariamente, aprovação ou incorporação daquela característica cultural em nossa

atitude pessoal. O que se propõe é a relatividade cultural como ação oposta ao etnocentrismo. É o

entendimento de que, para “julgar” determinada cultura, devemos analisá-la com base nos valores e

costumes da cultura em análise, e não dos valores e costumes daquele quem julga.

Conforme Dias (2004), a cultura apresenta cinco características fundamentais:

1. É exclusiva às sociedades humanas: só as sociedades humanas têm cultura (na definição

dos estudos sócio-antropológicos). Naturalmente, os primeiros hominídeos apresentavam

quase nenhuma cultura, sendo mais evidente com a evolução da espécie humana.

2. Compreende todas as criações humanas: tudo aquilo que não for uma construção da

natureza é construção humana, portanto é cultura. Toda cultura apresenta elementos materiais

(ou tangíveis), resultantes de ciência e tecnologia; e elementos imateriais (ou intangíveis) como

valores, ideologia, mitos etc.

3. É transmitida pela herança social: os grupos primários (família, amigos) transmitem

cultura aos indivíduos mais novos através das manifestações culturais (como relações

interpessoais, vida material, linguagem, visão estética, religião, folclore etc.).

4. Influencia a maneira como a pessoa entende o mundo: a influência ocorre pelo processo

de socialização, a partir das heranças culturais recebidas e comportamentos dos grupos sociais

de onde estamos inseridos. A cultura também determina os limites da ação social, por

exemplo, se uma sociedade aceita a emancipação da mulher ou é receptiva com a imigração.

5. É um instrumento de adaptação: considerando que a humanidade é a espécie animal

que se tornou dominante no planeta em razão da sua capacidade de adaptação, transformação

da natureza e transmissão de conhecimento, a cultura é a ferramenta que possibilita o ato de

adaptação.

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Trazendo a cultura (produção da sociedade humana) para o contexto pessoal, cada sujeito traz

consigo diferentes aspectos culturais, adquiridos em momentos distintos ao longo de sua jornada.

Desta maneira, a cada nova etapa, o mesmo indivíduo será culturalmente diferente do que era antes.

Ter consciência que essa mudança é natural ao ser humano ajuda entender por que nossa identidade

cultural não é fixa no tempo.

Identidade cultural é a afirmação pessoal das semelhanças e diferenças culturais que o indivíduo

acredita e incorpora na sua vida, gerando sentimento de solidariedade e pertencimento em relação a

um grupo cultural. Conforme Rodrigues (2020):

Em outras palavras, a identidade cultural está relacionada com a forma como vemos o mundo

exterior e como nos posicionamos em relação a ele. Esse processo é continuo e perpétuo, o que
significa que a identidade de um sujeito está sempre sujeita a mudanças. Nesse sentido, a

identidade cultural preenche os espaços de mediação entre o mundo “interior” e o mundo


“exterior”, entre o mundo pessoal e o mundo público. Nesse processo, ao mesmo tempo que

projetamos nossas particularidades sobre o mundo exterior (ações individuais de vontade ou

desejo particular), também internalizamos o mundo exterior (normas, valores, língua...). É nessa
relação que construímos nossas identidades.

Apesar de identidade cultural ser uma posição pessoal, o termo é também usado para se referir

ao posicionamento de um grupo cultural, de uma comunidade, de uma empresa, de uma nação.

TEMA 2 – MANIFESTAÇÕES CULTURAIS

Uma vez que cultura é toda e qualquer produção humana, material ou imaterial, as

manifestações culturais são categorizadas nos seguintes temas:

Relações interpessoais:comportamentos individuais e coletivos, status, papéis, grupos e as

instituições sociais (como visto em outras aulas); crenças, valores, normas e sansões. Crenças

(não apenas religiosas, mas também relacionadas ao saber popular) são conhecimentos e ideais

compartilhados entre todos os que têm a mesma cultura e que orientam as atitudes. Por

exemplo, nas cidades do Sul do Brasil, há a crença de que, se chover sobre a geada, o frio será

mais intenso. Valores são conceitos coletivos sobre o que é bom, certo, desejável (também vale

para o oposto). Normas são crenças e valores que orientam e regulam o comportamento

individual, ou seja, especificam o que pode ou não pode ser feito pelo indivíduo em

determinada cultura. As normas podem ser detalhadas com formalidade (Direito) ou de

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maneira informal, pelos costumes socialmente aceitos. Sanções (físicas e/ou morais) são as

penalidades e gratificações que o indivíduo (ou grupo) recebe por cumprir ou não as normas.

Vida material: ciência (matemática, astronomia medicina), tecnologia (moinhos, máquinas de

guerra, formas de produção) e produção material, enfim, todos os elementos relacionados ao

conhecimento e à economia.

Linguagem: todos os elementos relacionados à comunicação oral e à escrita, expressões

idiomáticas (por exemplo, “agarrar a oportunidade de emprego com unhas e dentes”, gírias

etc.), à comunicação pictórica e simbólica, aos gestos físicos (que acompanham a fala ou
isolados: determinado movimento com os olhos ou mãos).

Visão estética: conceitos de beleza e arte (pintura, escultura, música, literatura), formas de

identificação de status social (tipo de carro, roupas, relógio que usa).

Religião: entendimento e conceituação sobre vida e morte. As crenças religiosas influenciam


diretamente vários comportamentos socioculturais.

Folclore: mitos, roupas e comidas típicas etc. são manifestações no presente sobre
comportamentos do passado.

Não existe cultura que não tenham um significado essencial para uma determinada comunidade.

Sendo assim, entender os aspectos culturais contemporâneos somente será possível a partir da
análise de todo o processo evolutivo daquela comunidade.

Como podemos perceber no dia a dia, existem diversas subculturas dentro de uma cultura

maior. A subcultura acontece quando há elementos sociais (costumes, alimentação, sotaque, gírias
etc.) que são identificados em grupos de indivíduos. A cultura baiana, por exemplo, é uma subcultura

da cultura brasileira.

Isso ocorre, principalmente, devido à construção social daquela sociedade em específico, como

as migrações humanas para a região no momento de fundação da cidade ou durante os anos


seguintes. Entretanto, fatores ambientais (clima quente ou frio, períodos de chuvas etc.) e

econômicos (produção industrial ou agronegócio) também ajudam a formar as subculturas sociais.

A existência de subculturas não invalida a cultura “maior”, da mesma forma que uma mesma
pessoa ou grupo pode pertencer a uma ou várias subculturas e, ao mesmo tempo, pertencer à

cultura mãe.

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Na mesma lógica, a distinção entre cultura mãe e subcultura é contextual, pois cada subcultura
tem suas próprias subculturas. Por exemplo, a cultura latino-americana tem como subculturas a

brasileira, a argentina; a cultura brasileira tem como subculturas a mineira, a católica, a flamenguista
etc.

Cada indivíduo é incentivado a agir conforme o comportamento padrão de determinada cultura

(herança cultural e socialização). E para que esse padrão seja respeitado, é imprescindível que a
compreensão de um mesmo fato, entre os indivíduos de uma mesma cultura, seja o mesmo.

Formam-se, assim, os signos culturais (representações, linguísticas ou sensoriais, de um determinado


objeto ou sentimento, são expressões que carregam uma ideia, um significado específico).

Os signos representam épocas e períodos diferentes da humanidade. Cada símbolo e seu


respectivo significado mudam de acordo com cada comunidade. Dentro do aspecto multicultural, os

signos nem sempre têm as mesmas representações. A suástica, por exemplo, é utilizada como
símbolo tanto pelo nazismo, com grave conotação, quanto pelo budismo, para representar a
felicidade.

Os signos culturais estão em todas as manifestações de uma sociedade. Às vezes, são bem
evidentes, como nas representações estéticas (na pintura, escultura, arquitetura, artesanato e música)

ou folclore. Em outras situações, os signos culturais são pouco percebidos, como na ciência e sua
aplicação. O fato de determinada sociedade não permitir a manipulação genética em embriões

humanos é um signo cultural pouco evidente, mas que caracteriza aquela cultura.

TEMA 3 – O AMBIENTE CULTURAL

Todo o agrupamento de pessoas forma um ambiente cultural, não necessariamente uma

sociedade (para que ocorra a efetiva caracterização de sociedade, o agrupamento humano deve
apresentar os seguintes elementos: finalidade social, manifestações de conjunto ordenadas e poder

social). Independentemente disso, o ambiente cultural apresenta uma estrutura básica formada por
traço e contexto cultural:

Traço cultural: é o elemento cultural básico, que pode distinguir uma cultura de outra. O traço
cultural não existe isolado, mas interligado a outros traços da mesma cultura (ou subcultura,

dependendo do contexto analisado). Por exemplo, a interjeição mas báh, tchê” é um traço

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social identificado como da cultura gaúcha. Determinado traço cultural pode ser utilizado em

culturas distintas, como falar o português.


Contexto cultural: é o conjunto de traços culturais. Seguindo o exemplo anterior, o contexto

social da cultura gaúcha é a soma do mas báh, tchê” com o sotaque característico, o chimarrão,
a fama de fazer bom churrasco, as roupas típicas dos Centros de Tradição Gaúcha (CTG), o

vanerão etc. Importante comentar que, apesar de ser identificado com o mesmo nome, dois ou
mais contextos culturais podem apresentar diferenças, como no caso do Carnaval. O Carnaval é

uma tradição europeia que chegou ao Brasil com a colonização. O Carnaval do Carnaval no Rio
de Janeiro (capital) tem traços culturais diferentes do Carnaval em Olinda, em Pernambuco.

É justamente a “distribuição” de traços culturais de uma cultura em vários contextos culturais,

que se organizam com traços sociais de outras culturas e que se modificam devido a fatores sociais,
geográficos e econômicos, o motivo de existirem tantas subculturas dentro de uma cultura mãe.

No ambiente cultural, as pessoas criam, alteram e transmitem cultura. A transmissão da cultura

acontece de maneira informal, a partir das relações interpessoais nos grupos primários (família,
amigos, comunidade, organização) e formalmente pelos grupos secundários (livros, revistas, rádio,

teatro, cinema, jornais).

Normalmente, os grupos primários transmitem cultura aos indivíduos mais novos no ambiente

cultural sem grandes alterações na estrutura (traços e contexto cultural), o que é chamado de
herança cultural. A cultura é produzida e consumida pelos participantes do próprio grupo. Quando
uma cultura se altera abruptamente, geralmente é devido a fatores externos ao grupo cultural, como

a entrada de um ou vários indivíduos muito influentes e com outras práticas culturais; em casos de
migrações (principalmente as forçadas); e devido a eventos ambientais e econômicos não previstos.

Nos grupos secundários, a transmissão da cultura pode ser segmentada (para atender a
determinados grupos culturais) ou em massa. Massa é a aglomeração de pessoas formando, em

termos socioculturais, um grupo heterogênico (com várias subculturas), mas que é tratada como
homogênea pelos meios de comunicação, indústria, prestador de serviço e governo.

A transmissão de cultura em massa acontece, por exemplo, quando o veículo de comunicação

não tem a preocupação de atender às características particulares de subculturas, apenas “nivelando”


[1]
todos em um mesmo padrão. Lembramos de um programa de TV “com os maiores sucessos nas

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rádios brasileiras”. Só havia música popular brasileira (MPB), que de popular não tinha nada, pois as
rádios “ferviam” com música sertaneja e nunca vimos um sertanejo se apresentando nesse programa.

Podemos encontrar exemplos semelhantes em jornais (qual informação é oferecida aos leitores), na
produção industrial, na educação etc. Lembre-se: tudo o que é produzido pela espécie humana é

cultura.

Provavelmente você está se perguntando como comunicação e a produção em massa determina


seu padrão para produzir e transmitir cultura. No exemplo mencionado, do programa de TV, o

padrão cultural estava relacionado às classes sociais mais altas, que poderiam comprar os discos dos
cantores de MPB ou que, assistindo ao programa, davam status a ele.

No caso da indústria de bens duráveis, critérios como tamanho da população e influência de

outra cultura “desejável” são direcionadores importantes para a produção em massa. Por exemplo: se
70% da população é magra, então só vamos produzir roupas para magros; se todas as mulheres

brasileiras querem ser lindas como as europeias, vamos produzir e vender tintas para deixar o cabelo
loiro e cremes alisantes.

Outro tema relacionado ao ambiente cultural é a ideia de cultura erudita versus cultura popular.
[2]
Cultura erudita é aquela produzida e consumida pela classe dominante , ou que significa, para as

sociedades ocidentais dos últimos 300 anos, a cultura europeia (principalmente a originária da
Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Suíça) e/ou norte-americana, considerada como ideal “devido ao

alto padrão de desenvolvimento artístico, científico, intelectual e econômico” – etnocentrismo,


porém agora considerando a cultura “do outro” melhor.

[3]
A cultura popular é o conjunto de saberes empíricos , crenças e valores das pessoas e/ou

grupos “fora” da classe dominante. Em palavras corriqueiras, a cultura do povo que, aos olhos da
classe dominante, é subdesenvolvido quando comparado à cultura ideal (etnocentrismo). Mas nos
[4]
últimos 30 anos, a dicotomia entre cultura erudita e popular encontrada em tantas sociedades está

sendo desestruturada, criando diferentes manifestações culturais no ambiente cultural.

Parte dessa desestruturação se deve à indústria da música e os meios de comunicação de massa


que usam cada vez mais elementos da cultura “popular” para comercialização. Assim, a comunicação

em massa propaga a música e outros elementos da cultura menosprezada, como dança,

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comportamento, moda, culinária etc. por toda a sociedade (pois não há distinção de subculturas),

diminuindo com os preconceitos sociais e raciais.

Para finalizar nosso estudo sobre o ambiente cultural, gostaria de destacar o folclore, que é o
conjunto de manifestações culturais populares, mas que aconteceram no passado e que hoje são

apropriados pela sociedade, reapresentados, relembrados, refeitos. Além da questão temporal (é a


cultura dos antepassados), devemos ter em mente que, no folclore, alguns ou vários componentes

culturais foram modificados. Troca-se o tempero antigo pelo atual, o tecido das roupas é
industrializado, o real objetivo foi esquecido, a cada geração, a história “real’ ganha contornos de

fantasia e a dança recebe movimentos contemporâneos.

Sendo assim, o folclore deve ser valorizado como expressão e identificação da sociedade atual
pelas tradições culturais em desuso, mas não como representação fidedigna da cultura dos nossos

antepassados.

TEMA 4 – MULTICULTURALISMO

Antes de falarmos sobre multiculturalismo, vamos rever os conceitos de território, Estado e


nação.

Quadro 1 – Território, Estado e nação

Território É o espaço geográfico apropriado e delimitado por relações de soberania e poder.

Estado É um conjunto de instituições públicas que administra um território, procurando atender os anseios e interesses

de sua população. Dentre essas instituições, podemos citar as escolas, os hospitais públicos, os departamentos

de política, o governo e muitas outras.

Nação Significa uma união entre um mesmo povo com um sentimento de pertencimento e de união entre si,

compartilhando, muitas vezes, um conjunto mais ou menos definido de culturas, práticas sociais, idiomas, entre

outros.

Fonte: Pena, 2015.

Como você pode observar, não existe Estado sem um território e nação não é sinônimo de
Estado. Podemos ter um Estado multinacional como a Espanha, que tem dentro do seu território a

nação espanhola, a basca, a catalã, a navarra e outras que lutam para construir seus respectivos

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Estados. Também é possível uma nação, como a curda, que não tem território e, portanto, não tem

um Estado.

Assim, o termo Estado-nação significa que uma nação ocupa um território e que se organiza

como Estado. Desde o surgimento desse conceito no século XVIII, o papel do Estado-nação foi o
fortalecimento da própria soberania, através do crescimento econômico, poder bélico e identidade

cultural.

Alguns Estados-nação foram constituídos a partir de uma única comunidade cultural, com seus
indivíduos compartilhando uma identidade cultural fortalecida, sem conflitos internos. Por razões

diversas (colonização, ocupação do mesmo território por culturas semelhantes, guerra), vários
Estados-nação foram constituídos onde várias comunidades com culturas diferentes ocupavam o

mesmo território – o multiculturalismo.

A maneira com que cada Estado-nação se relaciona com o próprio multiculturalismo varia do
tempo, conforme situações bem específicas, entre elas, forma de governo. Conforme Salaini (2012),

podemos identificar vários tipos de multiculturalismo:

Crítico: valorização e oficialização da cultura da classe dominante (por critérios econômicos,

políticos e/ou militares) sobrepondo outras culturas, muitas vezes majoritária em indivíduos,

mas sem poder. Sendo assim, os grupos culturais desalinhados com a cultura dominante
podem ser marginalizados (ignorados) pelo Estado e comunidade cultural dominante; e/ou

sofrerem impedimentos legais (criados pelo Estado com o apoio do grupo social dominante)

para manifestar sua cultura; e, em casos extremos, forçados a emigrar ou serem eliminados
(genocídio[5]) sem a chance de deixar o país.

Conservador: valorização e oficialização da cultura da maioria dos indivíduos da sociedade, em

que as minorias culturais são marginalizadas e/ou sofrem impedimentos legais.

Liberal: propõe a integração dos grupos sociais minoritários à cultura e sociedade majoritária e,
baseando-se na cidadania individual, tolera que as manifestações culturais rejeitadas pela

maioria sejam realizadas apenas no ambiente particular.

Corporativo: é possível administrar as diferenças culturais da minoria (principalmente aquela

que estão em oposição a algum critério da cultura majoritária) se isso for de interesse e
promover vantagem para a maioria.

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Comercial: considerando que a diversidade seja reconhecida publicamente, se pressupõe que

as diferenças culturais são resolvidas através das relações privadas, não precisando que os

governos adotem políticas específicas para intermediar eventuais contratempos ou redistribuir

o poder.
Pluralista: adoção de estratégias e políticas governamentais que permitam a manobra de

conflitos em potencial e a permissão de manifestação igualitária para todas as culturas ali

existentes.

Com base na lista acima, percebemos que os vários tipos de multiculturalismo podem ser

divididos em duas categorias: a) prática ou inclinação a homogeneização cultural – crítico,


conservador e liberal; b) prática ou inclinação a interculturalidade: corporativo, comercial e pluralista.

A interculturalidade surge por meio das relações entre as culturas e seus membros, os quais
mantêm seus próprios contextos culturais. Por isso é fundamental conhecer e preservar as

manifestações culturais distintas, para impedir que uma pessoa ou grupo cultural determine a

identidade cultural de outro indivíduo. Nesse cenário, percebe-se a importância da adoção de


medidas a favor da manutenção histórica da identidade dos povos e nações. O rompimento dos

vínculos com as gerações anteriores é, historicamente, uma medida que levará as gerações futuras a

sofrerem com os mesmos erros continuamente.

TEMA 5 – GLOBALIZAÇÃO E IDENTIDADE CULTURAL

Nos últimos 70 anos, o papel do Estado-nação como regulador e/ou incentivador da economia

nacional foi enfraquecido por causa da globalização. O termo globalização surgiu nos Estados Unidos
da América na década de 1980 para se referir à produção e comercialização global de produtos e

serviços, ou seja, um viés totalmente econômico.

A globalização surgiu principalmente por dois motivos: abrir novos mercados de consumo e

baixar os custos de produção. Após o grande crescimento econômico entre anos 1950 a 1970,

principalmente nos países com forte parque industrial, o consumo nos países desenvolvidos
diminuiu. Assim, as empresas precisavam “entrar” em novos mercados para vender e continuar o

crescimento econômico, ou seja, precisavam tornar a oferta global. Ao mesmo tempo, as indústrias

buscavam novas fontes de recursos naturais e mão de obra mais barata, itens que não encontravam

no país de origem, para serem mais competitivas no mercado nacional e internacional.

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Com o início da globalização da economia, a oferta de bens duráveis (carros, computadores,


roupas etc.) pelos países industrialmente desenvolvidos “abriu” caminho para a oferta de seus outros

produtos culturais, como idioma, música, alimentação e costumes. Para vários países do oriente, por

exemplo, globalização significa ocidentalização ou americanização.

A globalização enfraqueceu o Estado-nação no controle econômico (a abertura de empresas

estrangeiras, as migrações a trabalho) e incrementou os avanços tecnológicos na comunicação. Por


isso, ela foi responsável por importantes mudanças sociais, dependendo do contexto local:

Sociedade com uma única cultura: a identidade cultural era bem estabelecida, e a
globalização surgiu como uma oportunidade de tornar a cultura local conhecida aos outros

países e a descoberta de outras culturas pela população local.

Sociedade multicultural: os diversos grupos culturais, principalmente os marginalizados,


passaram a ter a oportunidade de se expor, de valorizar e reafirmar sua própria identidade

cultural, principalmente quando, por pressões internas e externas, o Estado-nação eliminou os

impedimentos legais que promoviam o preconceito e a segregação.

Muitas pessoas consideram que a globalização destrói a cultura local e/ou favorece que o

indivíduo (ou o grupo) perca a sua identidade cultural devido à oferta e consumo de cultura

estrangeira massificada, como ciência, tecnologia, bens duráveis e não duráveis, serviços,
procedimentos, ideologias política, econômica e religiosa, literatura, música, cinema etc.

No entanto, devemos ter em mente que a base da globalização é o viés econômico e não a

valorização de uma cultura em específico. Não importa qual é a cultura que gerou o produto, mas a

aceitação e consumo global, como por exemplo, o k-pop.

A globalização é um processo complexo e, por vezes, contraditório. Para muitas pessoas,

globalização significa ocidentalização e massificação de produtos (bens e serviços). No entanto,


temos exemplos da cultura oriental, como música e cinema, sendo consumidos globalmente; assim

como há casos de vários produtos globais sendo modificados para atender aos consumidores locais,

como o hambúrguer do McDonald’s, que usa carne kosher em Israel (Dias, 2004).

Através das inúmeras cargas culturais presentes na sociedade contemporânea representadas por

imagens, sons, características ou crenças, o ser humano é moldado por todos os lados e identifica

múltiplas facetas comportamentais a serem seguidas. Por meio desse novo processo de

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transformação, rápido, constante, simultâneo e desuniforme, não há como se estabelecer uma única

identidade cultural global.

O que sabemos, pelos últimos anos, é que não existe a aceitação passiva de influências externas
em um grupo cultural. Ou há resistência ou há a integração mediante alterações locais, ambos em

diversos níveis, conforme a cultura local. Além disso, há a reação de volta, quando a cultura local

influencia e modifica a cultura externa. Dias (2004) chama esse movimento de interações de mão

dupla de transculturação.

Na transculturação, as manifestações culturais não se baseiam em herança cultural, mas nas


interconexões culturais contemporâneas, na apropriação de elementos externo à cultura, para o

contexto local, à sua conveniência e realidade. É como diria qualquer designer nos últimos 100 anos:

“vamos oferecer cultura conforme a necessidade e a expectativa do cliente”.

TROCANDO IDEIAS

Foi comentado no Tema 4 sobre a Espanha, com várias nações juntas sob o mesmo Estado, e o

caso dos curdos, que são uma nação e não têm território. Pesquise outros casos de Estado-
multinacional e nações sem Estado. Compartilhe a sua pesquisa com seus colegas no fórum de seu

ambiente virtual.

NA PRÁTICA

Vamos exercitar relatividade cultural? Siga o passo a passo:

1. Escolha uma cultura que você gosta ou tem interesse em conhecer, bem distante

geograficamente, como a cultura alemã ou chinesa ou árabe.

2. Escolha um tema entre estes: religião dominante e religiões minoritárias, alimentação,

classes sociais, idioma (s), regime político, regime econômico, etnia(s), papel da mulher na
sociedade.

3. Pesquise o tema escolhido, na cultura escolhida: como é hoje e a sua evolução histórica.

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4. Depois crie um texto de 500 palavras dizendo por que esta cultura age desta forma em

relação ao tema que você pesquisou.

FINALIZANDO

Nesta aula apresentamos, pelo olhar da sociologia, o conceito de cultura, suas manifestações e
ambiente. Sabemos que todas as produções humanas são cultura, como ciência, tecnologia,

produção de bens, ideologias, comportamento individual e coletivo, relações interpessoais,

linguagem etc. e não apenas aspectos específicos como música, dança, arte ou moda.

Também conversamos sobre globalização e as possibilidades de criar uma cultura global ou da

manutenção da diversidade.

REFERÊNCIAS

AQUINO, R. S. L. et al. História das sociedades: das sociedades modernas às sociedades atuais.
Rio de Janeiro: Record, 2001.

DIAS, R. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson, 2004.

FARIA, G. G. M. et al. Patrimônio histórico: como e por que preservar. Bauru: Canal 6, 2008.

JOHNSON, G. A. Dicionário de sociologia, guia prático da linguagem sociológica. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

LOPES, R. J. Civilização Amazônica. Povos Indígenas no Brasil, 3 dez. 2015. Disponível em:
<https://pib.socioambiental.org/pt/Not%C3%ADcias?id="158003">. Acesso em: 25 ago. 2020.

NETO, E. S.; MALANSKI, L. M. Território, cultura e representação. Curitiba: Intersaberes. 2016.

PENA, R. F. A. Diferenças entre Estado, País, Nação e Território. Mundo Educação, 15 jan. 2015.
Disponível em: <https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/diferencas-entre-estado-pais-nacao-

territorio.htm>. Acesso em: 25 ago. 2020.

PLÜMER, E. et al. Sociedade e contemporaneidade. Curitiba: Intersaberes, 2018.

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17/10/2022 16:05 UNINTER

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SALAINI, C. J. et al. Globalização, cultura e identidade. Curitiba: Intersaberes, 2012.

SOBRAL, G. Linguagem, sociedade e discurso. São Paulo: Edgard Blücher, 2015.

[1] Este programa acontecia a mais de 40 anos - se hoje existem similares, nosso exemplo é pura

coincidência.

[2] Em aspectos sociais, econômicos, ideológicos e/ou militares.

[3] Saber empírico: é aquele conhecimento adquirido durante toda a vida, no dia a dia.

[4] Dicotomia: oposição entre duas coisas, geralmente entre dois conceitos.

[5] Genocídio: extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial

ou religioso.

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