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SEBENTA
DE
DOCENTE
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LUANDA/2021
NOTA PRÉVIA
A história de cada um, a história da família ajuda a compreender quem somos, ajuda a
criar uma identidade pessoal. Ela estabelece laços com os que vivem próximo, ajuda
também a desenvolver uma identidade comunitária e social. Essa identidade social vai-
se alargando com a percepção de pertença a várias comunidades locais, mas não outras.
O desenvolvimento de uma dimensão de identidade regional e nacional, a percepção de
se pertencer a uma comunidade que engloba várias outras comunidades com
semelhanças e diferenças faz também parte do conhecimento de nós próprios. A
História também ajuda a criar laços com uma comunidade mais alargada; a comunidade
Africana e Universal. A história pode assim contribuir para desenvolver uma identidade
multidimensional, promoção do patriotismo, e ao mesmo tempo, proporcionar o
desenvolvimento da capacidade de aceitar perspectivas.
Por carência de obras ligadas a disciplina em causa, resolvemos elaborar esse meio
didáctico, muito usual nas universidades, isto é, nos dias de hoje, pois, os professores de
cada disciplina reúnem fotocópias de trechos e capítulos de diferentes livros, muitas
vezas acompanhados também de resumos, esquemas de aulas e textos suplementares de
apoio aos discentes.
Esperemos que esta SEBENTA venha colmatar a falta de obras académicas nas
bibliotecas do ensino superior, bem como nas bibliotecas públicas. Se eventualmente ao
longo do nosso estudo surgirem outras obras que possam enriquecer o estudo do nosso
programa serão bem-vindas, pois, em ciências nada é acabado, a todo instante a
dinâmica da ciência como tal, nos proporciona novas informações relativos ao saber.
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INDICE
Conceito de Cultura
Arte Rupestre
Cultura Angolense
Geração da Luz
O Teatro
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ORIGEM DA PALAVRA CULTURA
O termo cultura provém do termo francês, culture, cultivar ou instruir, cultus, cultivo,
instrução. O vocábulo francês culture é oriundo da palavra latina, cultura significa os
cuidados prestados aos campos e ao gado, na França surge para designar uma parcela de
terra cultivada.
É a cultura que distingue o homem dos outros animais: por maia perfeito que os animais
façam o ninho… A diferença está na consciência presente no acto humano.
A cultura é algo que transcende o ser humano, porque nenhum indivíduo pode viver
todos os elementos de uma determinada cultura.
Muitas vezes ouvimos falar que uma determinada pessoa tem cultura por ter lido muitos
livros ou por ter conhecimento apurado na área artística. Também já ouvimos falar de
manifestações culturais que são relacionadas ao folclore, crenças, danças, lendas de uma
determinada região. É um termo muito difundido actualmente é o de cultura de massa
que faz referência ao cinema, televisão, rádio etc.
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Franz BOAS (1858-1942) entende cultura como “a totalidade das reacções e actividades
mentais e físicas que caracterizam o comportamento dos indivíduos que compõem um
grupo social (…)” (BOAS, 1964, p. 166).
Como vimos, são várias definições acerca da cultura, e podemos perceber que elas
variam com o passar do tempo, para Tylor, Linton, Boas e Malinowski cultura é o
conjunto de ideias; para Kroeber e Kluckhon, Beals e Hoijer cultura é abstracção do
comportamento; para Keesing e Foster cultura é o comportamento apreendido. Leslie A.
White apresenta uma abordagem diferenciada: cultura, segundo ele, deve ser vista não
como comportamento, mas em si mesma, fora do organismo social. White, Foster e
outros entendem cultura como elementos materiais e não matérias e não materiais. A
definição de Geertz propõe a cultura como um “mecanismo de controlo” do
comportamento (MARCONI; PRESSOTO, 1989, p. 42-43).
Embora existam varias definições para o termo cultura, duas concepções são discutidas
e aceites.
Vamos englobar essas duas concepções para definir qual conceito de cultura iremos
utilizar ao longo do nosso estudo. Cultura, portanto, será entendida por nós como a
variedade de modos de vida, crenças, hábitos, valores e práticas de diversos povos.
Assim, o termo cultura também pode ser entendido como modo de produção já que
ambos significam o jeito de ser de uma determinada sociedade e o que ela produz.
Aprendemos que o ser humano é colectivo e que necessita do grupo para dar início ao
seu processo de humanização e que, por meio do trabalho e da sua capacidade d pensar
modifica a natureza para sanar as suas necessidades. Além disso, cria códigos de
comunicação que são utilizados pelo grupo ao qual pertence.
Não podemos julgar culturas, pois cada grupo social constrói seu jeito de viver de
acordo com o que acha certo, assim devemos apenas buscar compreender as
diversidades culturais e respeitá-las acima de tudo. Portanto, somente através da
tolerância pode construir um mundo melhor onde todos terão direito de expressar suas
verdades.
A cultura, portanto, pode ser analisada, ao mesmo tempo, sob vários enfoques: ideias
(conhecimento e filosofia), crenças (religião e superstição), valores (ideologias e moral),
normas (costumes e leis), atitudes (preconceitos e respeito ao próximo), padrões de
conduta (monogamia, tabu), abstracção do conhecimento (símbolos e compromissos),
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instituições (família e sistemas económicos), técnicas (artes e habilidades) e artefactos
(machado de pedra, telefone), (MARCONI;PRESSOTO. 1989, p. 44).
AQUISIÇÂO Ninguém nasce com cultura, todos nós passamos num processo de
aquisição da nossa cultura.
CULTURA MATERIAL São coisas materiais que foram criadas pelo ser humano
com uma finalidade. São, por exemplo, vestuários, arco, flechas, vasos, talheres,
alimentos, habitações e outros materiais.
FEMINISMO Pode ser definido como um longo processo com raízes que se estendem
desde o passado remoto até o presente.
Por outro lado, o feminismo também pode ser apresentado como o discurso de busca de
igualdade entre os sexos. Todavia, se queremos definir o feminismo como movimento
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de massas, ele é um movimento de massas, ele é um fenómeno bastante
contemporâneo , que pode ser datado em torno das décadas de 1960-1970, no mundo
ocidental.
Cada vez mais esses grupos foram percebendo que suas vidas estavam carregadas de
estigmas preconceitos, bem como que seus objectivos políticos nem sempre se
confundiam com os objectivos do operariado, então considerado a classe social que
seria a vanguarda de uma nova forma de organização social, o socialismo. Foi nesse
contexto que as mulheres começaram a perceber que o sexo é político, ou seja, que é
permeado por relações de poder e de hierarquia, essa situação (marcada pela
desigualdade continuaria a existir mesmo em um regime no qual inixistisse a luta de
classes. Com o afloramento dessa consciência a partir dos anos 1960, nos Estados
Unidos, surgiu o movimento feminista que assumiu e criou uma identidade colectiva de
mulheres bem como, indivíduos do sexo feminino, possuidoras de interesses
compartilhados: o fim da subordinação aos homens da invisibilidade e da importância, a
defesa do direito de igualdade e do controle sobre seu corpo e sobre sua vida.
FOLCLORE Termo cunhado em inglês a partir das palavras folk (povo), e lore (saber).
A palavra folclore foi usada pela primeira vez pelo arqueólogo inglês Willian John
Thoms, o folclore é o conjunto de ritos, crenças religiosas, danças linguagem, música,
artesanato etc. Folclore, portanto, vai muito além da ideia de tradição popular; ele está
associado à vida do povo, à sua disposição de criar e recriar algo. Não somente as
celebrações populares, mas o lastro da vida quotodiana de um determinado grupo.
GÊNERO É uma categoria relacional ou seja, género é entendido como estudo das
relações sociais entre homens e mulheres, e como essas relações são organizadas em
diferentes sociedades, épocas e culturas.
Os pesquisadores que utilizam essa categoria de análise fazem questão de frisar que no
campo das relações entre homens e mulheres há uma distinção entre a esfera biológica,
que é o sexo propriamente dito e suas características físicas, e a esfera social e cultural,
que é identidade do género. Assim não há uma essência feminina imutáveis e
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determinadas por características biológicas. O que há são construções sociais e culturais
que fazem que homens e mulheres sejam educados e socializados para ocupar posições
políticas e sociais distintas normalmente cabendo aos homens as posições hierárquicas
mais elevadas, enquanto às mulheres são reservadas as posições menos privilegiadas.
Deste modo, o conceito de género tem muito a ver com a forma como são percebidas as
relações de poder entre homens e mulheres.
As identidades masculinas e femininas são construções sociais e culturais que impõe aos
sexos condutas, práticas, espaços de poder e anseios diferentes.
Tudo isso baseado nas instituições que a própria sociedade constrói para o feminino e o
masculino e não em diferenças naturalmente predeterminadas entre homens e mulheres.
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RAÇA A palavra raça foi introduzida há aproximadamente a 200 anos nos estudos
científicos. No entanto, pouco se sabe sobre a sua origem. Etimologicamente a palavra
raça viria de “radix”, palavra latina que quer dizer raiz ou tronco.
Raça é uma categoria das espécies de seres vivos, utilizada pela biologia como forma de
classificação. Em termos sociais, o uso do termo raça é usado enquanto senso comum
para determinar grupos étnicos a partir de suas características genéticas.
As” raças humanas” seriam determinadas pela cor da pele e características físicas,
associadas a origem social dos indivíduos, mas que caiu em desuso pela comunidade
científica.
Estudos genéticos já provaram que não existem subgrupos de humanos, sendo errado
classificar, negros, asiáticos, indígenas ou outros grupos enquanto diferentes raças. A
abordagem antropológica e sociológica da questão estabelece que os diferentes grupos
entre humanos são etnias, e apresentam diferenças fenotípicas, como a cor de pele.
MITO São narrativas utilizadas pelos povos antigos para explicar factos de realidades e
fenómenos da natureza, as origens do mundo e do homem, que não eram
compreendidos por eles. Os mitos se utilizam de muita simbologia, personagens
sobrenaturais, deuses e heróis. Todos estes componentes são misturados a factos reais,
características humanas e pessoas que realmente existiram.
LENDA É uma narrativa fantasiosa pela tradição oral através dos tempos. De carácter
fantástico ou fictício, pois as lendas combinam factos reais e históricos com factos
irreais que são meramente produto da imaginação de uma aventura humana. Uma lenda
pode ser também verdadeira, o que é muito importante. Como exemplos bem definidos
em todos os países do mundo, as lendas geralmente fornecem explicações plausíveis e
até certo ponto aceitáveis, para coisas que não têm explicações científicas comprovadas,
como acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Podemos entender que a lenda é
uma degeneração do mito. Como diz o dito popular; “quem conta um conto aumenta um
ponto”. As lendas, pelo facto de serem repassadas oralmente de geração a geração
sofrem alterações à medida que são contadas.
Um dos objectos do mito era transmitir conhecimentos e explicar factos que a ciência
ainda não havia explicado, através de rituais em cerimónias, danças, sacrifícios e
orações. Um mito também pode ter a função de manifestar alguma coisa de forma forte
ou de explicar os temas desconhecidos e tornar o mundo conhecido ao homem.
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Identidade Cultural é um conceito muito abordado nas últimas décadas, no entanto, ela
sempre existiu, ou seja, desde os primórdios os homens se organizavam em grupos
sociais, os quais compartilhavam informações sobre identidade, com os seus membros.
O sentimento de pertença, surge então, a partir das experiências que os seres humanos
desenvolvem durante sua vida social.
Assim, fica claro que existem várias identidades culturais no mundo e em particular em
Angola onde há um mosaico cultural de várias etnias, raças, línguas heterogéneas.
Para justificar os seus argumentos sobre a pretensão colonial, Portugal realizou várias
exposições e conferências internacionais onde aludiam de uma forma «científica» a
inferioridade do negro, tais como a Exposição Industrial do Cabo de Boa Esperança
(Africa do Sul) de 1904, e na Exposição Colonial de París (França) de 1906, e que foi
promovido pela Sociedade de Geografia onde foram abordados os mais variados temas
da problemática colonial, como por exemplo, “classificar os povos e estabelecer
tipologias raciais e culturais.
OS POVOS DE ANGOLA
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Os Povos não Bantu ou Khoisan são povos que habitaram as zonas mais longínquas do
actual território angolano, antes da chegada dos Bantu, o que aconteceu a partir do
século XIII. Estes comportam os grupos, Ovakwis, Ovakwepe e Nkung.
A partir do século XIII, foram empurrados para zonas mais afastadas ou inóspitas pelos
Bantu, que começaram a chegar ao território no mesmo século.
Hoje em dia, habitam nas províncias do Kunene, Huíla (Wila), Kuango Kubango
(Kwango Kuvango) e Namibe.
KOISAN
Acreditam num grande deus muitas vezes identificado por N!dii que também pode
significar céu nalgumas línguas do Kalahari Central. Muitas vezes deus é chamado pelo
seu nome N!dade, Ga//ua ou Hishe. Acreditam ter sido ele o criador do universo.
Esse ser não afecta significativamente a actividade diária dos Khoisan, embora seja
identificado como aquele que faz crescer as plantas ou quem possibilita a um casal ter
filhos.
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A dança e a música têm um significado muito particular na vida dos Kung.
Eventualmente um ou mais homens entram gradualmente em transe. Na crença Kung
têm entra no corpo do homem curandeiro e tornam-se num só. O homem é o
instrumento utilizado pelo espírito ancestral para que se estabeleça o contacto entre as
duas instâncias. Os Kung têm critérios únicos de introspecção. A sua educação em
relação ao transcendente é gradual e passa ultimamente pela aceitação individual de
todo um processo que envolve a sua prática. Acreditam que a possibilidade de viver a
transcendência, conduz a uma vivência superior como o objectivo de elevar o espírito.
Este grupo sociocultural está em vias de extinção, por razões intrínsecas (um número
reduzido de filhos, geralmente não mais que dois, e por não se cruzarem com outros
grupos), e extrínsecas à sua filosofia de vida, que perigam de forma incisiva a sua
existência.
São de cor acastanhadas, estatura baixa, tez clara, nariz largo e achatado, olhos claros e
cabelo muito enroscado, possuem características físicas próprias não falam uma língua
bantu, mas sim por estalidos da língua, os conhecidos “clicks” que se produzem na
região dental, labial, palatal ou gutural e de forma mono ou dupla, consoante o grupo
sociolinguístico a que pertencem. Graficamente representam-se por um ponto de
exclamação (!) ou traço duplo (//).
Em relação aos Khoisan, Pedro de Castro Maria, na sua obra intitulada Minoria Étnicas
de Angola o caso dos San, afirma que os Khoisan não existem, “foi uma imaginação do
colonialismo, fundindo indevidamente vários grupos para satisfazer os seus propósitos
políticos administrativos”. Mais adiante o autor assevera que os “os Khoisan tratam-se
de uma junção forçada de dois povos, os San e os Khoi-Khoi, sem se ter em conta o
facto mais relevante de classificação étnica, que é a identidade”.
ARTE
(Introdução)
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A arte é um produto humano, que popularmente se chama de imaginação ou fantasia,
uma actividade espiritual, inata, faz a síntese das experiências sensoriais.
A arte é uma criação humana com valores estéticos, como a beleza e o equilíbrio,
harmonia, que representam um conjunto de procedimentos utilizados para realizar
obras.
A arte é o reflexo do ser humano e muitas vezes representa a sua condição social e
essência do ser pensante.
ARTE RUPESTRE
Por tudo isso, muitos estudiosos atribuem à arte pré-histórica funções e características
comparáveis às da arte como hoje é largamente entendida, embora haja uma tendência
recente de substituir a denominação “arte” rupestre por “registro” rupestre,
considerando a incerteza em torno do seu significado. Permanece de todo modo, como
testemunho precioso de culturas que exercem grande fascino contemporaneamente, mas
são ainda pouco conhecidas.
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desenhos, representações de pequenos animais, como os desenhos esquematizados de
Tchitundo-hulo.
MIGRAÇÕES BANTU
Daí provém o mais antigo grupo entre aqueles que, em Angola, têm origem
etnolinguística Bantu, os Bakongo. Eram caçadores e agricultores que habitavam no
Norte de Angola, nas províncias do Uíge, Cabinda e Zaire.
CLASSIFICAÇÃO BANTU
BAKONGO
Os Bakongo que falam a língua Kikongo, desde o século XIII até à chegada dos
europeus no século XV viveram num espaço que assumiu características de estado,
sendo designado por Kongo.
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Os Bakongo de Angola são formados por catorze subgrupos Bayombe, Bavili, Basundi,
Balwango, Balinji, Bakongo, Bawoyo, Basolongo, Bachikongo, Bazombo, Bakano,
Basoso, Bayaka e Basuku. Encontram-se nas actuais províncias de Cabinda, Zaire,
Uíge, na parte nordeste da província do Bengo e no Kwanza-Norte.
Na organização social tem evidência o Kanda ou clã. Muito ligado ao terreno agrário
sob protecção dos antepassados, aos quais pertencem. Resta aos vivos o direito de
usufruto do mesmo, apesar de o princípio das terras clânicas apresentar sempre
implicações de vária ordem, como é o regime de concessão sob orientações do Mfumo a
Ntoto (donos ou senhores das terras).
AMBUNDU
Estão repartidos numa grande extensão entre o mar e o rio Kwanza, e que envolve as
províncias de Luanda, Bengo, Kwanza-Norte, Malanje e partes de Kwanza-Sul.
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O rei Ngola foi um magnata, um dos patriarcas, um caçador profissional e dono de
terras e gente. Assenhorando-se da faixa entre os rios Dange e Kwanza, ali estabeleceu-
se uma monarquia absoluta. O comércio de escravos via reino do Kongo, com o
governo português era uma das actividades mais rendosas que, associados à sua bravura
e opulência real, o tornaram muito famoso. Ngola era tão falado em Portugal que,
quando as caravelas se preparavam para viajar de Lisboa para essas paragens, os
portugueses diziam “vamos à Ngola” ou “vamos para Ngola”.
SAIBA MAIS
NJINGA
Era filha de Njinga a Mbandi Ngola Kiluanji e de Guenguela Cakambe, e irmã de Ngola
Mbandi, que se revelou contra o domínio português
Conhecida por rainha Njinga ou Dona Ana de Sousa, foi rainha dos reinos do Ndongo e
de Matamba no século XVII.
O IMPÉRIO LUNDA
O império Lunda, também conhecido por Estado do Mwatianvwa, tinha como capital
Mussunda. Foi fundado no século XVI, por volta do ano de 1550, por Mwata Yala
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Maku, e ocupou, no território angolano, uma região que abrangia territórios da actual
Lunda (Norte e Sul), a sul do Moxico e Kuando- Kubango.
As maiores concentrações deste povo deram-se no século XIX. Hoje, os povos Lunda
de origem bantu que falam as línguas lunda, kioko ou tuchokwe e suas variantes (luvale,
mbunda, lutchazi) localizam-se na região que compreende as províncias de Lunda-
Norte, Lunda-Sul, um terço do nordeste de Moxico, parte nordeste da província do Bié e
uma larga faixa no sentido norte-sul da província de Kuando - Kubango. São, ao todo,
seis grupos que se identificam pelos respectivos nomes linguísticos: Tulunda,
Tuminungo, Tutchokwe, Tukongo, Tumatapa e Tuxinji.
A partir da segunda metade do século XVI, surgiu a vasta confederação Lunda, irmã dos
povos Luba, cujos chefes se ligaram por juramento de amizade, elegendo um deles,
Mwata Yala Makwu, como figura principal.
Descontente com a decisão do seu pai, por este ter entre o trono a Lueji, Tchinguri
juntou-se a Ndumba Watembo, outro dos irmãos de Lueji, retirou-se do reino e formou
os grupos Imbangala e Lwena do Alto - Zambeze. Tchinguri estendeu o poder do reino
Lunda, tornando-o numa das potências da África Central. As suas conquistas
estenderam-se ao Shaba (Congo), às bacias do Zambeze (a sul) e do Kasai (a nordeste) e
ainda aos rios Kwangu, Kwanza e Kamweji.
Os cultos à caça e aos antigos caçadores, seus padroeiros por excelência, predominam.
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escultura, a arte de construção de habitações, o fabrico de móveis (bancos, troncos,
mesas), para além da técnica dos entretecidos com fabrico de cestos e esteiras.
Nos dias de hoje, a agricultura, a extracção artesanal de diamantes, a pesca na época das
chuvas e a caça são as suas principais actividades.
SAIBA MAIS
OVIMBUNDU
SAIBA MAIS
NGANGELA
Os Gangela que falam a língua tchingangela são constituídos por doze subgrupos:
Valuimbi, Tulwena ou Baluvale, Balutchazi, Balunda, Vakangala, vamachi
(Akuakwando), Vayauma e Valunyo.
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Estes povos estão concentrados na região leste do país, mais concretamente nas
províncias do Moxico, metade norte de Kuando – Kubango, parte ocidental do Bié e
uma parte da província da Huíla.
Oriundos dos antigos caçadores, os Ngangela têm hoje a agricultura na estação chuvosa
e a pecuária como principais actividades económicas. A extracção do mel, a cera e a
pesca lacustre e fluvial fazem igualmente parte da sua economia. Os Ngangela são
hábeis na fundição de ferro e na confecção de admirável cerâmica negra, polida e, às
vezes, modelada artisticamente.
NYANEKA
O poder político entre o Nyaneka é feito de uma forma tradicional, pois as autoridades
derivam de sistemas de legitimidade diferentes dos actores estatais modernos.
Cada grupo tem as suas características próprias e não se consideram como fazendo parte
de um conjunto abrangente. Uma parte significativa dos Nyaneka passou a viver nas
zonas urbanas abandonando em parte o seu modo de vida tradicional.
São hábeis nas artes e ofícios e têm uma filosofia que lhes permite combinar a natureza
com a sua própria vida. O barro, os animais, as plantas e as aves confundem-se no dia-a-
dia dos Nyaneka.
São práticos, um pouco reservados, mas peritos em transmitir tudo pelo processo de
repetição e memorização.
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A mulher mumuila, cuja estética natural do seu busto sempre se apresenta parcialmente
nua, é um real deslumbre e encanto para os olhos dos visitantes daquela zona sul de
Angola.
HELELO
O povo Helelo que falava a língua herero é de origem Bantu. Está dividido em Ndimba,
Huimba, Kavicua, Kwanyoka, Kuvale e Kwendelengo. Vive na zona que desenha o
extremo sudoeste de Angola, precisamente na orla do deserto do Namibe, parte do
território de Huíla, e também na província do Kunene, com grande extensão para a
República da Namíbia, com quem partilha características sociolinguísticas, assim como
semelhanças históricas e antropológicas.
AMBÓ
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No Sul de Angola os subgrupos são: os Kwanyama, os Kwamatu, os Ndombola, os
Evale, os Kafina e os Ambó.
Os Kwanyama destacam-se por uma resistência tenaz à ocupação colonial dos alemães,
dos sul-africanos mentores do apartheid (regime de segregação racial implementado na
África do Sul em 1948-1994).
RITUAIS DE INICIAÇÃO
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A gravidez inicía o momento, «rito de passagem», no qual uma pessoa entra no mundo
e na comunidade. Não pode dar-se nenhum «rito de passagem» sem a influência
decisiva das forças mágicas benévolas que foram propiciadas ou manipuladas. Como a
gestação escapa a qualquer manipulação material, os tabus preservam a mulher de
frustrar a «passagem»; os amuletos e talismãs defendem-na de influência mágica
nefastas.
Mas, a mulher grávida não altera a sua vida. Continua o ritmo de trabalho agrícola e
doméstico. As ideias diárias às culturas e ao trabalho facilitam o parto, que costuma
chegar sem complicações.
É crença comum que o adultério cometido durante este período por algum dos
progenitores, pode trazer taras e até a morte da criança. As dificuldades no parto
costumam atribuir-se, quase sempre, a relações sexuais proibidas. Por isso, a mulher se
costuma submeter, a partir do terceiro ou quarto mês de gestação, a ritos purificatórios
perante o adivinho.
A morte de uma grávida pode ser causada por uma maldição. Às vezes, é enterrada nua,
no meio da selva, e sem ritos fúnebres. Culpam-na da morte do feto.
O parto deve dar-se fora de casa, ao ar livre, e, se possível, num lugar sacralizado por
alguma presença tutelar no mundo invisível. Assistem a parteira, a mãe e a tia materna.
Dão à luz sobre a terra de cócoras. A parteira, sentada em frente, faz força com os pés
encaixados entre as partes superiores das pernas da parturiente, que deve aguentar
impávida as dores. A criatura cai ao chão, onde às vezes colocam esteiras.
Se o parto se dá durante a noite, em muitos grupos dão à luz na cozinha, não no quarto
de dormir. O marido deve sair de casa. Se tarda a expelição da placenta, queimam, às
vezes, gindungo, para que a parturiente espirre.
Depois do parto levam a mulher-mãe ao rio para que se lave. Recebe massagens da
parteira que lhe põe cataplasmas de argila e ervas. Em geral, no dia seguinte, continua
os seus trabalhos domésticos.
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usá--lo durante toda a vida, e os homens substituem-no por uma correia. Às crianças,
em lugar dele, atam-lhes um cinturão de fibras vegetais ou de missanga.
A mulher, até passarem alguns dias, não pode tocar no fogo nem moer farinha. Lava-se
com frequência e faz irrigações que têm, provavelmente, mais um simbolismo mágico
que um fim higiénico. Os mesmos fazem à criança.
A mulher fica impura, pelo menos durante 20 dias. Não pode coabitar com o marido. Os
tabus e purificações são quase tão variados como grupos.
Quando o menino traz algum defeito físico ou o seu nascimento foi precedido de algum
fenómeno extranormal, consideram o sucesso extraordinário e misterioso. Exige que se
ponham em marcha os mecanismos mágico-defensivos da comunidade. É bastante
comum a crença de que, se a concepção se deu sem menstruação anterior normal, a
criança pode prejudicar o grupo.
Detectam, nestes casos, sintomas de influências mágicas perigosas, que devem ser
contrafeitas com rapidez. Em alguns grupos, suprimem simplesmente tais crianças.
(Hoje, muitos destes costumes estão paliados pela cristianização, progresso e vigilância
das autoridades; isto não impede que, na intimidade inviolável dos segredos
comunitários, continuem certas práticas condenáveis.) boom dia
A culpa da deformidade pode ser imputada à mãe que não se comportou bem, quebrou
algum tabu ou não foi bem vista pelos habitantes do mundo invisível. Deve sofrer duras
provas purificatórias sob a direcção do especialista e retirar-se da vida social. Reintegra-
se passados alguns meses. De outra forma, toda a comunidade poderia sofrer as
consequências do contacto com este ser impuro.
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Consideram muito nefasta a criança que, no parto, aparece pelos pés. O mesmo, se lhe
aparecem primeiro os dentes incisivos superiores ou nasce com algum dente.
A mãe amamenta o menino. Se lhe falta o leite, deve intervir o curandeiro ou adivinho
que, com massagens, ervas e palavras rituais, lhes restituem o leite. Conhecem plantas
que provocam esta secreção.
Certos grupos bakongo asseguram que alguns génios, cujo habitat é a água, podem
introduzir-se no corpo do banhista. Pela cópula encarnam e originam filhos anormais,
como os albinos e gémeos. Outras vezes, atribuem o nascimento anormal à infidelidade
materna, pois que um só pai não pode gerar dois filhos.
Os nomes dos gémeos são invariáveis em cada grupo. Levam os mesmos nomes, o que
nasceu primeiro, um, e outro, o segundo. Consideram-nos estreitamente unidos e não
fazem nada a um que não façam ao outro. Devem passar juntos os momentos mais
importantes da vida.
Ritos de Puberdade
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humano não se vai fazendo, completando, realizando. Só ela a situa no lugar religioso,
social e ético exacto, a torna apta para os seus direitos e responsabilidades e lhe permite
movimentar-se sem traumas e com eficácia na pirâmide vital interactiva.
Cada especialização, ofício ou cargo exige também uma iniciação, por exemplo a
chefia, especialista da magia, forjador, guerreiro, pastor, oleira, ou ingresso numa
sociedade secreta.
Os ritos bantu e negro-africanos de iniciação ainda não são bem conhecidos, não se
chegou a descobrir a sua complexidade. O negro guarda no maior sigílo o que neles
viveu; há referências mítico-místicas que desconhecemos e utilizam linguagem e nomes
cifrados, esotéricos, que nunca revelam ao profano [ao estranho]. Entre os segredos
familiares, clânicos e étnicos que o bantu guarda zelosamente, os segredos sobre a
iniciação ocupam lugar à parte. É nosso intento explicar o significado dos ritos de
iniciação na puberdade do homem e da mulher bantu. Não podemos duvidar de que, na
mentalidade bantu, o ser humano nunca aparece acabada. Os diversos ritos de passagem
só são momentos decisivamente modificantes de um período da vida. O pensamento
bantu concebe a iniciação como um processo nunca consumado na vida humana. O
homem pode penetrar sempre mais no mistério da vida participa e nunca pode chegar a
conhecer, manejar ou dominar por completo as enormes possibilidades da interacção
entre os dois mundos, muito fecundos em potencialidades. Além disso, o Criador, Deus,
permanece sempre como o «Outro» misterioso. O bantu tem consciência de que nunca
esgotará o mistério da participação vital, e ainda menos conhecerá ou poderá prever as
incessantes e imprevistas acções do dinamismo vital dependente de tantas forças
diferenciadas.” A iniciação converte-se numa operação de longa duração, num
enfrentamento do homem consigo mesmo que não cessa senão com a morte; converte-se
numa experiência que se enriquece dia a dia».
Há que advertir que nem todos os grupos bantu realizam estes ritos de iniciação. Mesmo
em Angola, há grupos que a desconhecem e outros que a praticam parcialmente. Por
isso, as nossas afirmações referem-se só aos grupos que exigem os ritos de iniciação.
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INICIAÇÃO MASCULINA NA PUBERDADE
CIRCUNCISÃO
Apesar da circuncisão ser uma prática quase universal, espalhada sobretudo pela África,
Oceânia e América, a sua origem perde-se nos tempos. As crianças bantu são
circuncidadas com pequenas lâminas de pederneira, se bem que já começaram a usar
facas e até bisturis. Muitos costumam ficar defeituosos e a ausência de assepsia acarreta
graves infecções que causam, por vezes, a morte.
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Laye, quando descreve estes ritos na África Ocidental, insiste em que recordam
com nitidez um sacrifício que através do sangue, consegue o estado de homem.
Outros vêem no sangue derramado uma aliança com a terra. «Opinamos que o rito da
circuncisão oferece a ocasião de deixar correr um pouco de sangue sobre a terra que,
segundo a maioria das sociedades africanas, origina ao mesmo tempo a vida e a criança.
Como a terra é também residência de mortos… os pais animam o jovem a restituir uma
parte da própria vida à fonte da qual deriva… O jovem estabelece assim uma aliança».
Seja como for, não pomos de parte a hipótese que exista um substrato religioso, isto é,
que o sangue derramado redima a criança da sua vida passada e lhe proporcione uma
nova existência, um novo modo de ser. Pode-se admitir este simbolismo: a criança
abandona, juntamente com o prepúcio, a meninice, para poder assumir, nos ritos
seguintes, uma personalidade nova. A circuncisão pode acontecer que tenha sido sangue
sacrificial.
Outros opinam que o corte do prepúcio simboliza a ruptura definitiva com a mãe e com
estado infantil. O jovem, assim mutilado, prova, definitiva e visivelmente, a sua
transformação radical em adulto, sexualmente diferenciado, apto para procriar. «Pelo
mistério do sangue, tem acesso à sexualidade». Daqui a repulsa da mulher por contactos
sexuais com os homens incircuncisos do seu grupo.
Apontamos também algumas explicações que alguns psicanalistas têm dado das
mutilações sexuais masculinas. B. J. F. Laubsher, depois de analisar estes ritos entre os
grupos Fingu e Tembu (sudeste do Cabo), afirma que «a mutilação cirúrgica ou
circuncisão deve ser considerada não só como uma prova de aptidão para o estado
27
adulto e como uma iniciação a este estado, mas também como uma forma de
sacrifícios».
O horror, o profundo desgosto que os pagãos sentem pelos contactos sexuais entre uma
mulher casada e um jovem incircunciso, deixam transparecer o significado incestuoso
atribuído a tal acto. Com efeito, a expressão “mulher casada” indica a classe das mães.
«Ao nível das relações de geração, os pais, ao projectar a sua própria agressão,
tornaram-se temerosos da hostilidade e capacidade agressiva dos filhos adolescentes,
mas, ao criar a disciplina sangrenta dos rituais da iniciação, puseram em evidencia as
suas tendências tanatofilias mais reprimidas, as que foram dirigidas selectivamente
contra a genitalidade da geração filial».
Para Freud, a circuncisão substitui a contracção. Supõe que, nas origens da família
humana, um pai cruel e ciumento castrou os adolescentes; a circuncisão é um vestígio
claro dessa crueldade e um substituto da castração, «expressão da submissão ao pai».
Pela qual o jovem se compromete a respeitar o tabu do incesto. Tenhamos em conta
que, para Freud, a proibição do incesto é o fundamento das estruturas sociais
organizadas.
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Na sua dimensão pessoal, é um conjunto de ritos e técnicas que transformam o jovem.
Só por eles, as crianças se transformam social, política e religiosamente, em homens.
Iniciaram na validade. A criança deixa, definitiva e irremediavelmente, a infância, para
passar à plenitude de homem. Com eles finaliza uma fase da vida e começa a definitiva,
que se fundamenta numa renovação interior e na aquisição de nova quantidade de vida,
modificante do ser, conseguidas pelo drama vivido de morte-ressurreição.
Intenta e consegue converter-se num eficaz «rito de passagem», termina uma situação
existencial, sociológica e religiosa porque renasce outra.
A SEPARAÇÃO
«Já nesta, aparece um símbolo da Morte: a floresta, a selva, as trevas, são o símbolo do
mais além, dos “Infernos”. Em certos lugares, pensa-se que um tigre leva sobre o seu
dorso os aspirantes à selva; a fera incarna o antepassado mítico, o Mestre da iniciação
que leva os adolescentes ao Inferno. Noutros lugares, quer-se que o neófito seja
engolido por um monstro: no ventre do monstro reina a Noite cósmica; é o mundo
embrionário da existência, tanto no plano cósmico como no da vida humana».
RECLUSÃO E MARGINALIZAÇÃO
«Este período “simboliza a vida” do cadáver no túmulo e também a espera do feto seio
materno».
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A morte simbólica parece que tem uma «valência cosmológica». «O mundo inteiro,
simbolicamente, regressa, com o neófito, à Noite cósmica, para poder ser gerado… É
necessário abolir a obra do tempo, reintegrar o instante matinal anterior à Criação: no
plano humano isto equivale a dizer que é preciso voltar à “página em branco” da
existência, ao começo absoluto, quando ainda nada estava manchado, deformado.»
As representações mímicas da morte enchem este período. Frobenius opina que têm um
significado mais religioso do que social. Procuram tornar o rapaz semelhante ao espírito
para que participe do seu poder e, assim, garanta a solução das necessidades sociais. Por
isso, se fazem «semelhantes aos mortos», «semelhantes aos espíritos», na tentativa
mágica de se apropriar da sua potência. Outros opinam que a representação intenta tirar
a alma do jovem para a transferir para o totem. Imaginam «matar» o jovem ou, pelo
menos, pô-lo em estado de alienação ou de êxtase físico, semelhante à morte e que com
dificuldade distinguem da morte verdadeira. A ressurreição deve-se à nova vida
recebida do totem.
Por isso, andam completamente nus, pintados com argila branca, silenciosos, fingem ter
esquecido tudo, não estendem nem conhecem nada, passam horas ao sol para cicatrizar
as feridas, copiam a posição do feto no seio materno, que nada sabe nem conhece,
imitam os antepassados, já que estes vivificam os ritos, ou fingem-se «devorados» por
eles.
Em muitas regiões, existe na selva uma cubata para a iniciação. É ali que os jovens se
submetem a uma parte das provas e são instruídos nas tradições secretas do grupo. A
cubata da iniciação é o símbolo do ventre materno.
RESSURREIÇÃO - RENASCIMENTO
«As iniciações africanas são uma educação para a unificação interior, isto é, para a
vitória humana da vida sobre a morte… Aparecem como uma celebração simbólica e
um certo modo sacramental do grande drama da vida sobre a morte. O homem aprende
a morrer para reencontrar a verdadeira vida…. É como uma revelação do mistério da
vida ao jovem que sai da infância.»
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O triunfo da vida sobre a morte, o culto duma vida pujante, o gozo do homem realizado
religiosamente como participante-comungante-interactivo, a responsabilidade adquirida
comunitária são em definitivo as conquistas da iniciação bantu e aquilo que lhe outorga
a sua riqueza.
Estes ritos realizam a passagem eficaz duma morte simbólica para uma ressurreição e
uma vida. Actuam como um «sacramento» que, pelo despojamento do homem velho,
consegue convertê-lo em homem novo.
Mas a transformação mais profunda deve expressar-se pela realidade dum renascimento.
O tempo que passa, breve em comparação da duração da aprendizagem, entre a morte
simbólica e a nova vida, expressa-se melhor por «tempo fetal», isto é, o tempo não para,
mas corre, realiza, amadurece. O feto vai-se formando. Assim, parece que o simbolismo
de nascimento ganha mais exactidão e realismo. O jovem renasce porque durante o
tempo marginal, fetal, se foi transformando.
A partir deste momento, recebem outro nome que corresponde à sua nova personalidade
e que ninguém conhecerá fora dos seus companheiros. Aprendem uma linguagem
convencional, figurada e esotérica que só os iniciados do grupo falam. Também as
tatuagens, mutilações dentárias e escoriações permanecem como testemunho da
transformação alcançada.
REINTEGRAÇÃO
Aproximam-se da aldeia. É comovente ver as suas mães, inquietas, ofegantes, até ver os
filhos, para os quais preparam vestidos novos e alguma prenda especial. Elas
desconhecem tudo o que se passou e, se uma criança morre no acampamento, não lho
comunicam. Enterram-na em segredo. Por isso, as mães esperam ansiosas o regresso
dos filhos.
Na aldeia faz-se grande festa. A carne e a bebida abundam e os tambores animam uma
noite de dança. Os mascarados aparecem pelos caminhos, dançando e gesticulando, com
o halo do mistério para as mulheres e para os não-iniciados, toda comunidade goza com
a sua renovação-continuidade e com o enriquecimento que os novos iniciados lhe
trazem. Estes têm de fingir que desconhecem tudo e que esqueceram a sua vida anterior
porque na realidade são homens novos.
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SIMBOLISMO EFICAZ DA INICIAÇÃO
Nenhum dos seus gestos será estranho aos mundos visível e invisível.
Por outras palavras, o primitivo põe o seu ideal de humanidade num plano sobre-
humano. No seu entender: primeiro, não chega a homem completo senão depois de ter
superado, e, em certo modo, abolido a humanidade «natural»; segundo, os ritos
iniciatórios que comportam provas, a morte e ressurreição simbólicas, foram fundados
pelos deuses, pelos heróis civilizadores ou pelos antepassados míticos: estes ritos têm
pois uma origem sobre-humana e, ao cumpri-los, o neófito imita um comportamento
sobre-humano, divino… O homem religioso «quer ser outro», diferente daquilo que é a
nível «natural», e esforça-se por se «fazer» segundo a imagem ideal que foi revelada
pelos mitos.
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Estes ritos são religiosos porque põem o neófito em ligação com potências propícias do
mundo invisível e, sobretudo, porque se gesta dentro da essência religiosa bantu, tocam
o fundamental e o absorvem.
O culto à vida, essência da Religião Tradicional, talvez consiga nestes ritos o seu maior
esplendor, simbolismo e realização. A iniciação na vida sagrada, possuída em plenitude
depois dos ritos de ressurreição-renascimento, incorpora na corrente vital, fundamenta a
vida religiosa individual e comunitária, reactualiza o ancestralismo fundante e dinâmico,
assegura a solidariedade, a paz e a harmonia, já que os novos membros se alimentam da
ortodoxia tradicional e da seiva pura duma vida nova.
«Pela iniciação dos rapazes e das raparigas, a existência colectiva da nação vivifica-se,
o seu ritmo acelera-se e a sua vitalidade renova-se… Esta cerimónia tem um carácter
profundamente sagrado, porque sobre ela repousa a continuidade da nação. É a
dramatização solene e religiosa da conquista do homem sobre a morte e o
aniquilamento».
Além da primordial função transformadora, estes ritos intentam dar à criança uma
formação completa para que cumpra o seu papel na comunidade. Constituem a principal
instituição social destes povos, porque iniciam na vida do grupo, descobrem os
mistérios ocultos e intentam conservar a classe dos homens como guardiã da tradição,
da região e da ética. Antes, também preparavam a classe dos guerreiros. Por isso, podem
ser o primeiro estádio duma sociedade secreta mais especializada.
O iniciado deve ser preparado para a sua função de homem, pois que a mutação operada
o transformara em pessoa nova, com direitos e deveres sociais. Esta escola, por outra
parte, delimita a liberdade que esteve incontrolada e anárquica durante a infância.
Senghor chama-lhe «escola da vida».
A iniciação adquire um valor educativo eficaz, estrutura a personalidade para toda vida.
Os mestres ensinam o que o homem deve saber para cumprir com perfeição os seus
compromissos sócio-politico-religiosos. Têm em conta as funções que cada um deve
desempenhar no grupo, preparam e proporcionam os meios para a sua realização. Por
isso, empregam diversos processos mágicos que conseguem as virtudes sociais mais
valiosas. Os neófitos chegam a conhecer os segredos tribais através da recitação da
tradição oral repetida e acompanhada de danças e cantos.
O ensino não é só teórico, mas vivo e experimental, pois devem praticar na selva, rio e
acampamento todo o ensino explicado pelos mestres. Esta pedagogia, baseada em teoria
e prática, foi experimentada durante séculos. É comunitária, o grupo ouve, comprova e
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realiza as práticas e experiências. A escola dos ritos de puberdade concretiza uma das
experiências pedagógicas mais interessantes.
É também iniciação religiosa. A criança, num ambiente ascético por vezes terroroso,
prática gestos e cerimónias, aprende o significado dos antepassados, a teodiceia, as
relações que deve observar com o mundo invisível e as normas éticas.
Não é uma escola erótica, visto que o realismo do ensino fica suavizado pela intenção
vitalista-natalista. Certas danças estão carregadas de simbolismo erótico, embora não
nos devamos esquecer que a expressividade e mentalidade bantu restringem o erotismo
que aparece ao observador.
Como no lado visível o bantu descobre o invisível, a crueza desta iniciação sexual fica
mitigada pelo ambiente e pela finalidade que preside e que a criança descobre como um
dos valores básicos da vida.
O sexo toma «carácter sagrado a seus olhos, aos olhos dos espíritos, dos antepassados e
da comunidade». Desde esse instante, o sexo fica, em certo aspecto, entendido e
dirigido à fecundidade, não se reduz a erótico-pornográfico.
A iniciação sexual cumpre uma missão ritual de preparação para o casamento, para a
procriação. Por isso, os não-iniciados não se podem casar. A sexualidade põe-se ao
serviço da participação vital. O iniciado fica declarado apto para procriar, continuador
responsável da vida.
Pela revelação dos mitos, dos segredos sagrados, narrações etiológicas, genealogias,
gestos dos epónimos e significado das instituições sociais, políticas e religiosas,
chegada a ser um «homem culto». «O neófito renasce para um modo de ser que
possibilita o conhecimento, a ciência …É um homem que sabe, conhece os mistérios,
recebeu revelações de ordem metafisica… A iniciação equivale a maturidade espiritual,
e em toda história religiosa da humanidade encontramos sempre este tema: o iniciado,
aquele que reconheceu os mistérios, é aquele que sabe».
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Conhecem as palavras rituais, o significado de muitos gestos e símbolos e da
solidariedade, as relações com o mundo invisível, o perigo da interacção desvirtuada, o
significado dos mercados, São formados para obedecer à autoridade e aos anciãos,
guardar fidelidade aos ritos e costumes, comportar-se com independência da autoridade
materna e para a liberalidade e serviço da comunidade.
Como escola preparatória para a luta pela vida, o ensino ministrado submete a vontade a
duras provas. O regime de vida é duríssimo, esparto. A disciplina e as provas que devem
superar intentam mudar o seu comportamento, endurecê-los para vida e preparar os
homens aguerridos e bem-dotados que assegurem o bem-estar do grupo. Aceitando tudo
isso sem queixas, demostram que nasceram de novo e que abandonaram a debilidade
infantil.
Suportam a dor sem lagrimas, a contentar-se com pouco alimento e a dormir nus ao ar
livre sobre a terra. Abandonaram as vestes que lhes poderiam recordar a sua anterior
condição, e cobrem-se apenas com uma tanga de fibras vegetais que eles próprios
fabricam. Todos os dias, ao amanhecer, se banham nas águas frias do rio. Não se podem
deixar ofender pelos insultos e reprimendas propositadamente lesivos e exagerados.
Obrigam-nos a exercícios físicos violentos, como saltar sobre o fogo e sobre valas
profundas. Aprendem a nadar. Também devem flagelar-se e picar o corpo.
Esta escola marca a pessoa para sempre. Graças a ela, a criança se fez homem, pode
alterar com os homens, as mulheres admiram-no e aceitam-no e fica preparado para
apoiar a comunidade, ser útil à solidariedade comunitária e assegurar a continuidade
vital fecunda entre o mundo invisível e o visível. A mutação-crescimento da sua força
vital entusiasma o iniciado.
Durante a iniciação não podem ver nenhuma mulher. Quando saem pela floresta, dão
assobios para que as mulheres se retirem. Talvez manifestem assim a independência de
suas mães, conseguida pelo abandono definitivo do estado infantil. Parece também que
a mulher, nesse período, pode trazer-lhe consequências mágicas nefastas.
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Este regime hermético consegue que todos os iniciados formem uma sociedade fechada,
cujos segredos as mulheres ou os não-iniciados nunca conhecerão. Integram-se na
sociedade dos homens. Origina grupos de idade mais restritos que podem desembocar
em sociedades secretas.
O grande rito termina por juramentos solenes: «Nem à mulher com quem dormires
poderás contar o que fizestes na muhanda; esconde, nega, desfigura, senão morrerás».
Não há dúvida que o segredo hermético que envolve estes ritos intenta fortalecer a
gerontocracia e o poder dos chefes e prestigiar e proteger os iniciados. Além disso, nas
manifestações da religião tradicional, o ministério-esotérico decorre do componente
mágico-místico vital. Não há um facto social que se concretize sem sacralidade, nem
esta sem mistério, nem este sem segredo.
INICIAÇÃO E A COMUNIDADE
A comunidade não só se torna responsável pela iniciação dos jovens, embora delegue
nos mestres, mas também sabe que possui um instrumento eficaz para tomar
consciência de si mesma e afirmar os princípios da sua razão de ser e da sua
continuidade.
INCONVENIENTES DA INICIAÇÃO
A iniciação converte-se numa demora para a evolução destes povos. Em meios rurais
retirados, esta escola costuma fixar os neófitos na tradição, e mentaliza-os para a
guardar e defender contra qualquer investida inovadora. Sobre os infractores pesa a
ameaça de severas sanções podendo chegar à própria morte.
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A iniciação está ao serviço do conservadorismo e integrismo familiar e étnico e do
poder dos homens, sobretudo dos chefes e da gerontocracia. O etnocentrismo, que
inculca a todo o custo, pode impedir a normal convivência e obstaculizar a unidade
nacional, além de fechar a capacidade de abertura a outros valores e outros estilos de
vida, visto que os próprios do grupo foram postos como salvadores, sacralizados
também pelos antepassados e pelos ritos religiosos mais solenes.
O autoritarismo dos mestres consegue modelar a vontade dos jovens, que costumam
ficar submissos e dóceis aos poderes políticos, sociais e mágicos para o resto da vida.
INICIAÇÃO FEMENINA
Os ritos de passagem e iniciação da rapariga púbre não têm quase relevo nas sociedades
matrilineares. Ou desapareceram ou ficaram reduzidos a insignificantes ritos
simbólicos.
A rapariga deve ser iniciada quando lhe aparece a primeira menstruação. Nalguns
grupos, iniciam-nas antes e, noutros, depois de passar dois anos ou mais, ou associam-
na ao contrato matrimonial.
Nalguns grupos, estes ritos duravam meses e até anos. Assim as instruíam e preparavam
para todas as funções femininas. Normalmente duram poucos dias, apenas tr~es ou
quatro. Reduziram-se a uma cerimónia única, e realizam-se nas aldeias e na casa
paterna.
A rapariga deve apresentar-se virgem a estes ritos, de contrário sofre vexações e paga
uma indemnização, além de atrair a vergonha para ela e para a sua mãe, responsável
pela sua educação. Antes, podiam ser mortas com uma lança.
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Embora menos conhecidos e bastante menos espectaculares, elaborados e simbólicos
que os ritos masculinos visto que duram poucos dias e se realizam com a participação
de mulheres familiares, encerram o simbolismo eficaz dos ritos de passagem.
A rapariga morre e ressuscita, renasce para uma condição nova com a personalidade
modificada. O isolamento-separação, embora muito breve, encerra o simbolismo de
morte-marginalização.
Por isso, muitos grupos conservam gestos mágicos que devem proporcionar à neófita a
desejada fecundidade.
No «olufuko» dos kuamatos, a mesma anciã prepara uma cerveja com drogas da qual
retira uma porção numa taça; nela, um circunciso lava o seu membro viril três vezes. A
rapariga, que desconhece estas práticas, bebe um gole. O resto, a mãe vai-lho
derramando pelo baixo ventre até correr por uma enxada, que lhe colocaram debaixo
dos membros inferiores.
O mistério do parto, isto é, a descoberta da mulher como criadora de vida, constitui uma
experiêencia religiosa que não se pode traduzir em termos masculinos. É por isso que o
parto originou rituais secretos femininos que, por vezes, constituem verdadeiros
mistérios».
A rapariga fica apta para o casamento, para a sua missão fundamental: ser mãe. Os ritos
de puberdade definem, oficial e publicamente, a sua capacidade, valor e estima como
procriadora-vivificadora. Porque se transformou, também ontologicamente, recebe o
estatuto social, jurídico e religioso de mulher adulta em e para comunidade.
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Podem se chamar «ritos de nublidade» visto que procuram sobretudo a preparação e
disponibilidade imediata para o casamento.
Durante os ritos, são tatuadas no ventre e região púbica. Atribuem à tatuagem um poder
fecundante e sobretudo afrodisíaco. Por isso, muitas mulheres, onde esta iniciação não
existe, também são tatuadas.
A rapariga «aprende durante a sua iniciação que ela é, antes de mais, um “campo
vaginal” destinado a ser fecundado pelo homem».
MUTILAÇÕES SEXUAIS
Numa operação dolorosa e cruel extirpam o clitóris com uma faca cadente, com pedaços
de vidro, com uma lâmina de barbear, com uma faca de sílex ou com um tição
incandescente. Muitas vezes também cortam os lábios pequenos e grandes da vavula. A
operação é feita por mulheres especializadas, que nalguns lugares, aplicam urtigas como
dolorosa anestesia. Costumam fazê-la quando a jovem chega à puberdade e, nalguns
grupos, longo que chega aos oito ou nove anos.
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laboratório de filhos, sem afectividade nem carinho de esposa. O traumatismo é
irreparável.
Entre os Nandis, «a crença geral é que, se as jovens não são iniciadas, o seu clitóris se
alongará e ramificará, e que os seus filhos serão anormais. Nestas condições, é fácil de
compreender a importância psicológica da iniciação. Se uma mulher não passa por ela,
não chega a ser “pessoa”, fica incompleta e permanece “criança”…
A iniciação feminina nandi… tem o mesmo significado profundo que a dos outros
povos. É um rito de maturidade, uma dramatização da ruptura com a infância e
incorporação no estado adulto. O órgão sexual é o simbolo da vida: cortá-lo é como
abrir as comportas da vida para que o seu caudal possa ter livre curso».
Noutros lugares, como a Etiópia, pensam que é uma medida higiénica com
consequências morais positivas que garante a feminilidade. Na Côte d`Ivoire,
convencem-nas de que doutra forma não terão filhos.
Esta prática vergonhosa já foi denunciada pela ONU (Organização das Nações Unidas),
que avalia em 70 milhões as mulheres mutiladas.
A ruptura do hímen é mecânica e é feita por uma mulher idosa com os dedos ou
utilizando um pequeno instrumento. «Na Costa ocidental da África, as jovens são
desfloradas com a ajuda dum bambu, que conservam dependurado da vagina cerca de
três meses. À volta da vulva colocam formigas que devoram as ninfas e o clitóris».
Ao que parece, pensam que assim se previne qualquer oclusão vaginal na menstruação.
Alguns etnólogos vêem nesta prática um presságio de fecundidade, pois que este rito, na
iniciação, significaria a penetração do sol na terra para a fertilizar. Também é certo que
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alguns povos pensam que o marido pode sofrer consequências nefastas se for ele a
desflorar a sua mulher. Esta já deve estar livre de lhe acarretar este perigo.
SAIBA MAIS
A mutilação genital feminina vem sendo ilegalizada ou restingida em grande parte dos
países onde é comum, embora haja grandes dificuldades em fazer cumprir a lei.
O matrimónio é o drama em que cada um participa como actor ou como actriz e não
como mero espectador. Por isso, é um dever, uma experiência fixada pela comunidade e
um ritmo de vida em que cada um deve tomar parte. Quem não participa é uma
maldição para a comunidade, é um rebelde: não só é um anormal como chega a um
nível inferior ao humano. Em geral, se um individuo não casa, significa que rejeitou a
sociedade e que a sociedade o rejeitou a ele».
O casamento bantu sistematiza e controla a vida social, visto que organiza as relações
entre parentelas e vai fixando a filiação. «O matrimónio em África é muito mais
englobante que na Europa, e a nossa polarização ocidental sobre a dimensão sexual e
conjugal do matrimónio resulta sempre um motivo de surpresa para o africano».
«Os caminhos do casamento» são diversos, na África negra, tal como os usos e
costumes matrimoniais ou o valor da virgindade. Mas, em todos os grupos bantus
aparecem algumas constantes uniformes, uma base originante comum. Recordamos
mais uma vez a essencial unidade cultural negro-africana com quase tantas
concretizações acidentais na sua expressão como etnias existentes. Poor isso, se torna
possível descrever os traços fundamentais do casamento tradicional.
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O CASAMENTO FUNDAMENTA UMA ALIANÇA ENTRE GRUPOS
Primeiramente, o matrimónio bantu é uma aliança que legitima uma nova família
enriquecedora e une linhagens sem a intervenção de autoridades políticas. Os dois
grupos, baseando-se na união, firmam um contrato. «O matrimónio não diz só respeito a
uma pessoa, o rapaz ou a rapariga. Os dois grupos a que pertencem estão ali
comprometidos.
Dois jovens que casam… fazem-no enquanto membros de duas famílias, de dois clãs, e,
deste facto, nasce a sua dimensão comunitária e social».
Origina uma nova forma-instituição social com relações, que antes não existam, entre
um homem e uma mulher e as suas respectivas parentelas, embora nunca seja
independente nem autónoma, porque deve ficar imersa nas instituições comunitárias
mais amplas e prevalescentes.
As alianças matrimoniais têm servido para consolidar o poder político e dissipar perigos
golpistas entre linhagens rivais. O chefe tradicional não só teme os seus parentes
próximos, mas também outras linhagens que se julgam dignas e com direito ao poder.
Como a poligamia permite tomar esposas de linhagens rivais, que assim se sentem
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honradas e privilegiadas, os chefes conseguem, com estas alianças, a neutralidade ou o
apoio.
A esposa, que deve enriquecer a corrente vital do seu grupo, integral-se no novo ao qual
dá a facundidade, o dom mais apreciado. Este laço transcende outros graus de amizade e
aliança, já quem entra nas profundidades do religioso. Nela e por ela, os antepassados
dos dois grupos convergem, simpatizam-se e fortalecem-se. Esta aliança deve ser
entendida dentro do contexto cultural de outras, por exemplo, os «pactos de sangue».
«O jovem casal não forma uma célula nova: converte-se num elemento novo de uma
família. Sentimentalmente, a mulher fica muito presa ao seu grupo e recebe a influência
dos seus, que visita com frequência . Muitas querelas nascem da complicação de
relações, quer porque um dos esposos se aborrece ao ver o consorte ligar pouca atenção
à sua família, quer porque as visitas e viagens são em demasias».
Dentro da aliança, cada grupo mantém a sua independência e liberdade, embora surjam
formas novas de cooperação.
A plena integração social do homem e da mulher, iniciados nos ritos da puberdade, está
condicionada ao matrimónio. Ambos se realizam e adquirem o pleno estatuto social
quando se tornam progenitores.
Viver em comunidade exige, sem desculpas, prolongar a vida recebida. Por isso, o
casamento realiza socialmente os esposos e prova a sua responsabilidade social e ética.
Pelo matrimónio fecundo integram-se plenamente na ordem social estabelecida pela
tradição e exigida pelos antepassados, pois se convertem em participantes-vitalizantes.
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grupos que de indivíduos, um facto social que compromete sobretudo duas
comunidades. É a parentela (agregado familiar) que explica o casamento, e não são os
casamentos que, pela sua multiplicação, explicam a parentela.
Esta dimensão familiar social cria, pela aliança, uma afinidade entre dois grupos
amplos. A solidariedade cresce; (pagina304)
Estima-se que estas religiões sejam seguidas actualmente por aproximadamente 100
milhões de pessoas em todo território africano.
As religiões tradicionais africanas são definidas em grande parte por linhagens étnicas e
tribais, como a religião yoruba e outras.
A maior parte das regiões tradicionais africanas tem, na sua existência transmitidas
oralmente.
A religião acredita nos orixás como espíritos ancestrais, que se comunicam com a terra
por meio da incorporação.
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O Candomblé e a Umbanda, apesar de suas semelhanças, apresentam muitas diferenças
entre si, como a origem, a relação com os orixás, rituais, o fenómeno da incorporação,
entre outros.
Dona Beatriz Kimpa Vita, também conhecida como Beatrice de São Salvador do
Congo, nasceu a 2 de Julho de 1684-1706, perto de Monte Kimbangu, no reino que faz
parte da actual República de Angola.
Kimpa Vita foi uma profetiza e líder política do reino do Congo, sendo também líder
política da capital congolesa, durante uma brevidade de tempo.
O Movimento Antoniano, iniciado por Kimpa Vita, sobreviveu a ela, O rei do Congo
Pedro IV, utilizou-o para unificar e renovar o seu reino. As ideias de Kimpa Vita
perduraram entre os camponeses, aparecendo em diversos cultos messiânicos até que,
forma na pregação de Simon Kimbangu. Kimpa Vita baptizado com o nome de Beatriz
e popularmente conhecida como Dona Beatriz foi uma profetisa religiosa congolês e
líder do Movimento Cristão conhecido como Antonianismo Seus princípios e
ensinamentos religiosos surgiram principalmente, da igreja.
Kimpa Vita foi executada no dia 2 de Julho de 1706, ela foi queimada e no mesmo
espaço surgiu uma grande estrela. Circulam rumores de que Kimpa Vita foi reencarnada
poucos dias depois de sua execução, alguém disse que tinha visto Kimpa Vita na região
de Mbanza Kongo.
É imperioso restaurar a figura desta heroína, pois, ela entregou-se de corpo e alma
fazendo resistência a dominação colonial europeia e conhecida como figura dos
Movimentos modernos de democracia, autodeterminação e nacionalismo africano.
Dona Beatriz é uma figura venerada nos dois Congos, pois os seus ensinamentos deram
origem aos Movimentos religiosos tais como: M’peve a Longo Ma’ndona, Bundu Dia
Kongo, a Igreja Negra Ie noir de Simão Mpadi, da Igreja do Nosso Senhor Jesus Cristo
no Mundo de Simão Toco, Kimbanguista, e outras igrejas, todas acreditadas em Angola.
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TOKOISMO
Tokoismo é o nome dado aos seguidores do profeta angolano Simão Gonçalves Toko
(1918-1984). Actualmente estão constituídos eclesiasticamente sob a dominação Igreja
do Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo.
Em 1946, ao trabalho que fora reconhecido no âmbito da missão Baptista e do coro, foi
convidado, junto com outros dois compatriotas (Gaspar de Almeida e José Chipenda
Chiúla) para intervir nos trabalhos da Conferência Missionária Internacional
Protestante, realizada de 15 ao 21 de Julho de 1946, na localidade de Kalimá em
Leopoldville (actual República Democrática do Congo). Nesse momento, dirige uma
prece (oração) onde pede para o Espírito Santo descer em África. A prece é atendida a
25 de Julho de 1949 Quando após um desentendimento com a Missão Baptista de
Leopoldville, decide convocar uma vigília de oração na sua residência (rua de Mayenge,
número 195). Naquele momento, segundo contam os presentes, sentiram um vento e
começaram a tremer, realizando milagres invocando algumas passagens bíblicas. Este
momento é assumido pelo tokoísmo como momento que o Espírito Santo desceu em
África e a igreja cristã foi relembrada de forma a retomar o caminho da igreja original
do tempo dos Apóstolos. É portanto, a data fundacional do Movimento Tokoísta.
Após estes acontecimentos, Simão Gonçalves Toko e muitos dos seus seguidores foram
presos pelas autoridades “belgas”, sob a acusação de alterar a ordem pública. Em
Janeiro de 1950, são deportados do ex-Congo Belga e entregues no posto fronteiriço de
Nóqui (município da província do Zaire) as autoridades portuguesas.
Estes procuraram dar por terminado o Movimento daquilo que consideram ser uma seita
perigosa, dividindo o grupo em pequenos grupos que serão dispersos, no âmbito da
política de povoamento colonial vigente à época, em distintos colonatos e campos de
trabalho forçado por toda colónia. O líder é enviado numa primeira instância pelo Vale
do Loge e, após passagens por Luanda, Caconda e é enviado para Baía dos Tigres, na
província de Moçâmedes (hoje Namibe). Pouco tempo depois é enviado para trabalhar
como assistente num farol em Ponta Albina, na mesma região.
47
Em 1961, quando tem início as campanhas de Libertação Nacional no norte do país, as
autoridades portuguesas, conhecedoras da capacidade de mobilização do profeta,
ordenam a sua ida para o Uíge e a região fronteiriça como Congo para chamar as
pessoas que tinham fugido para as matas na sequência das acções militares. Simão Toko
consegue mobilizar milhares de conterrâneos, mas a desconfiança das autoridades
portuguesas relativamente às suas intenções faz com que se decidam por enviá-los para
um segundo período para a ilha portuguesa de São Miguel, nos Açores, onde trabalhará
como assistente faroleiro na localidade de Ginetes. A sua permanência neste país
demorará onze anos. No entanto, não esmorecerá o seguimento da sua missão. Ao longo
deste período, o dirigente intercambiará milhares de cartas com seus seguidores em
Angola, com quem construirá um Movimento de carácter Nacional. Em 1974, na
véspera da saída de Portugal do território angolano, Toko e finalmente, autorizado a
regressar ao seu país, o que acontece a 31 de Agosto desse mesmo ano. Vê finalmente a
liberdade de expressão e de culto do seu Movimento.
KIMBANGUISMO
Igreja de Jesus Cristo Sobre a Terra (Igreja Kimbanguista) foi fundada no dia 6 de Abril
de 1921, no ex-Congo Belga, pelo seu enviado especial Simon Kimbangu,
autodeclarado profeta de Deus.
48
Simon Kimbangu nasceu no dia 12 de Setembro de 1887, em Nkamba. Começou com a
sua missão, que lhe foi incumbida pelo Jesus Cristo ao 6 de Abril de 1921, em Nkamba,
por curar uma mulher que vivia anos com dor de cabeça, que se chamava Kiantondu.
Simon Kimbangu foi julgado e condenado injustamente a prisão perpétua onde cumpriu
trinta anos de prisão.
49
sapateiro, alfaiate ou carpinteiro – pressupunham sempre o ensino da leitura e da escrita
e do catecismo, através da retroversão dos textos sagrados da língua portuguesa para o
Kimbundu. Ainda que a missão tenha sido encerrada em 1760, com a expulsão da
Companhia de Jesus, o conhecimento da escrita foi sendo transmitido de pais para filhos
(SANTOS, 1997, p.351-359). Daí que, em pleno século XIX, se encontrem textos de
autores coevos (antigos) descrevendo os ambaquistas a percorrer o território angolano
vestidos à europeia, munidos de tinteiro, pena de pato e folhas de papel, acompanhados
de ajudantes, jovens que lhes eram confiados para aprender o oficio, sempre prontos a
pôr ao serviço de alguém a arte da escrita (HENRIQUES, 1997, p. 119).
Além de cortarem o cabelo à maneira europeia, por contraposição a outros povos das
margens do Kwanza e do Lukala, como os mbondo e os songo, os ambaquistas, no que
dizia respeito ao vestuário, revelavam preferências por tecidos pretos, sendo a
indumentária por eles usada no quotidiano constituída imprescindivelmente por camisa
branca e fato preto, com calças compridas, casaco e chapéu alto de abas largas. Nos
50
meios não urbanos, o casaco e a camisa podiam combinar, em alternativa às calças
compridas, com um pano comprido de algodão atado à cintura. Do mesmo modo que,
nesses mesmos meios, era frequente serem os próprios ambaquistas a confeccionarem a
sua roupa a partir de fibras de ráfia (mabela) e o seu calçado com couro e algodão,
tingido artesanalmente, e com solas de madeira (HEINTZE, 2004, P. 229-259).
51
aqueles que progressivamente foram afluindo às cidades coloniais do litoral e nelas se
fixando para servir o colonizador.
52
Mas uma outra camada de população africana, esta essencialmente de origem rural,
começa a crescer sobretudo em Luanda em meados do século XIX, alargando
sobremaneira os musseques (do Kimbundu seke, areia), bairros periféricos, mercê das
transformações da política colonial que conduziriam à Conferência de Berlim de 1884-
1885. Durante a primeira metade do século, num tempo em que se dá a independência
do Brasil e em que o tráfico de escravos e a escravatura eram perseguidos pela recém-
industrializada Grã-Bretanha, a necessidade sentida pelos portugueses de procurar em
África novas fontes de matérias primas para o mercado mundial, e não já a mão-de-obra
escrava para o continente americano, levou à substituição das lavras tradicionais
africanas por grandes unidades produtivas agrícolas e acelerou o processo de exportação
e ocupação de terras do interior pertencentes a agricultores angolanos, os quais,
desapossados, se viram na necessidade de se refugiar na capital.
É à medida que aumenta este êxodo para o litoral e que se assiste ao enfraquecimento
das autoridades africanas do interior que o prestígio dos ambaquistas entra em declínio.
53
e votados ao descrédito nos musseques de Luanda, tidos pelos seus habitantes, na
maioria oriundos do meio rural como eles, por “feiticeiros”. Em 1880, um ambaquista,
natural do Golungo Alto mas residente junto ao Kassai com a família, terá confessado
ao viajante alemão Paul Pogge que, se no interior de Angola, por saber ler e escrever e
prosperar com agricultura, era considerado “português”, no litoral, pelo mesmo motivo,
seria visto como “feiticeiro” (HEINTZ, 2004, p. 254). Ou seja, se a escrita entre os
africanos era encarada como uma “magia” ou uma ciência benéfica de quimbanda, à
medida que o poder colonial alastra do litoral para o interior e se assiste, com migrações
para as cidades, à desculturação dos habitantes do musseque, vai-se transformando no
inverso, isto é, num maleficio de mulóji, uma uanga, e utilizá-la é sinónimo de acto
perverso de “feiticeiro”.
Ao longo de todo o século, XIX e do primeiro quartel do século XX, conviveram com
os ambaquistas todos os europeus que se embrenharam (penetrar) pelos sertões
angolanos, de que destacamos os comerciantes, na maioria portugueses degredados por
delito comum, e os exploradores que empreenderam viagens científicas ao serviço dos
seus países. Seria fastidioso enumerar os depoimentos acerca dos ambaquistas contidos
em relatos de viagens de diversas proveniências, tais como os alemães Schutt e Pogge,
os britânicos Livingstone e Cameron ou os portugueses Henrique de Carvalho, capelo e
Ivens ou Serpa Pinto. Todos, contudo, coincidem no ponto de considerarem os
ambaquistas, à semelhança aliás do que acontece com os mestiços (ou mulatos),
indivíduos perigosos devido ao seu “hibridismo”. Frequentemente manifestam
repugnância pela sua falsa “subserviência” aliada ao “descarregamento”, classificando-
os como ladrões e mentirosos e desconfiando da sua autenticidade na fé cristã, mesmo
em relação àqueles que, como era o caso da maioria, eram baptizados, acusando-os de
poligamia e “fetichismo” (HEINTZ, 2004, p. 234-236).
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Angola e do Congo, uma intitulada Geografia física e botânica, a outra Geografia
zoológica e ética, este autor procede a uma descrição assaz depreciativa e enseivajadora
do comerciante e proprietário de terras ambaquista Manuel da Conceição Mendes
Machado.
“[…] tive ainda de arcar com o potentado de Ambaca, o preto Manuel Mendes
Machado, que por esse tempo fazia deputados em Angola, e criou, com 12 mil votos,
que duma vez mandou para Luanda numa situação difícil, a palavra ambacada,
consagrada para exprimir na província o processo eleitoral das grandes influências […]
Este desditoso (desgraçado) povo poderia ser hoje um bonito espécimen (amostra) da
civilização portuguesa em África, se não tivesse sido assolado pelo preto Mendes
Machado, e outros a quem o governo entregou poder, de que não sabem senão abusar”
(PINTO, 1888, p. 5 e p. 128).
“Melhor seria deixar os pretos de Angola para sempre analfabetos, do que criar aquele
híbrido degenerado a que se deu o nome de “ambaquistas”, e cujas principais
características são o desprezo pelo trabalho manual e a não sujeição, a que obriga a
moral e a civilização ocidental, que declaravam, em português mascavado, ser a sua”
(MATOS, 1944, 3º VOL., p. 302).
55
O segundo como é o do romance de Arnaldo Santos A Casa Velha das Margens, onde
se assiste, quer à redacção de mucandas (cartas) reivindicativas dos direitos dos
camponeses espoliados, quer à situação posterior de declínio e desterro dos ambaquistas
na periferia de Luanda, sendo aqui os ambaquistas mostrados como arautos de uma
identidade angolana silenciada ou, no dizer de uma personagem, os kabokos da escrita
(PINTO, 2003, p. 30-36 e p. 46-51).
Nesta época a população europeia era bastante reduzida comparada com a africana e,
dado esse número bastante reduzido de mulheres da sua raça e sua capacidade de
convivência com os outros povos, aproximou-se intimamente do agregado africano.
É nessa sociedade que se gera a primeira elite angolense, (negros, mestiços civilizados)
que desenvolvendo a sua actividade profissional no comércio, no funcionalismo
público, encontra no jornalismo florescente pelo decreto que torna extensiva às colónias
a liberdade de imprensa, da autoria do Marquês de Sá da Bandeira.
A geração de 1890 produziu uma imensa literatura periódica (jornais), que pode ser
encontrada na biblioteca do governo provincial de Luanda.
(sátira - poesia em que o autor mete a ridículo os vícios ou defeitos de uma época ou
pessoa; discurso, texto ou obra que critica pessoas, entidades, costumes, vícios, etc., em
tom jocoso ou sarcástico; censura jocosa).
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Quartel do século XIX poemas e literaturas em prosa, foi também linguista, historiador,
poeta, jornalista, ensaísta filólogo, filósofo e foi autor de uma cartilha para se aprender a
língua Kimbundu.
No Pharol do povo, Cordeiro da Mata assinava uma rubrica com o nome de jeremiadas
históricas, onde ele tentava retractar factos ou temas importantes da história de Angola e
dos seus heróis tais como: a Njinga Mbandi, a sua visão histórica sobre as coisas de
Angola, opunha-se a visão dos teóricos portugueses racistas da época como: Oliveira
Martins e António Enes.
Cordeiro da Mata publicou alguns poemas nos últimos anos XIX sendo que a negra o
poema mais relevante, onde ele retracta a beleza da mulher negra angolana chocando
assim com os princípios estéticos da cultura, divulgada pelos portugueses.
José de Fontes Pereira foi o integrante mais lúcido dessa geração com ideias muito
avançadas, suportados sobretudo pelas ideias da grande revolução francesa: igualdade,
liberdade, fraternidade.
No entanto a crença nos dias mais iluminados de uma sociedade com luz prevalêcia, daí
o título do periódico se chamar, Luz e Crença.
Tal como a geração anterior, esta também foi republicana, pois lutava pela queda da
monarquia em Portugal, combateu o racismo, defendia igualmente para Angola uma
maior descentralização, e autonomia. O tráfico transatlântico de escravos e o trabalho
forçado ou trabalho indígena também eram criticados no periódico a Luz e Crença.
A Geração de 1902 criou o periódico Luz e Crença com objectivo de criar em Angola
uma nova sociedade com um conhecimento, o saber (luz) em vez de obscurantismo,
ignorância, e o analfabetismo.
O conceito Luz vem do Iluminismo (século das luzes), um termo bastante caro aos
enciclopedistas ou teóricos da grande Revolução Francesa de 1789, entre os quais
Jean Jacque Rosseau, Montesquiau o homem da separação dos três poderes: legislativo,
Executivo, Judiciário.
Era uma geração guiada pelas ideias da grande Revolução Francesa de 1789 que
defendiam como lema: liberdade, igualdade e fraternidade.
57
Lutava igualmente por uma maior instrução no seio dos indígenas (autóctones)
angolanos, pela abertura de mais escolas, mais estradas que podiam tirar os angolanos
do atraso em que se encontravam relativamente a metrópole colonial e até mesmo a
outras colónias inglesas e francesas.
Por volta de 1902 os integrantes dessa geração fizeram sair a obra intitulada “A Voz de
Angola Clamando no Deserto” que é um testemunho contra o racismo e práticas
discriminatórias, essa foi publicada em várias edições pela União dos Escritores
Angolanos.
De um modo geral essa geração ainda não defendia a independência para Angola, o que
fazia dela uma geração entalada entre a espada e a parede. É de realçar que as fronteiras
de Angola ainda não estavam completamente consolidadas.
A crença numa sociedade iluminada era tanta que essa geração defendia abertamente: a
Liberdade, Igualdade, Justiça, Razão, Progresso e instrução, temas essências de
reflexão de 1890 princípios fundamentais do liberalismo, esses princípios entraram por
via do Brasil, depois de extravasarem do contexto europeu. Era uma geração de
intelectuais autodidactas que tinham nas prateleiras de suas casas autores e lutadores
como: Garibald, Victor Hugo Guerras Junqueiras, entre outros.
Paixão Franco alertava os homens das emboscadas na noite da ignorância, para que se
convençam uma vez para sempre que o rebanho de carneiro vai desaparecer.
As autoridades coloniais por sua vez designaram como Movimento Nativista, todo tipo
de acções políticas de iniciativas de angolenses que pretendiam defender os direitos dos
africanos (negros e mestiços), sobretudo com base na interpretação da lei e ainda
qualquer aspiração a autonomia ou a administração e governo de Angola pelos seus
naturais.
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Criaram-se Associações como: a Liga Angolana e o Grémio Africano e tinham os
seguintes objectivos:
- Denuncia dos mitos que circulavam sobre o negro (selvagem, bárbaro, e outros nomes
pejorativos);
Lutavam também pelo papel da imprensa como veículo de esclarecimento e difusora das
luzes da civilização e do progresso.
A existência dessas gerações será condicionada pela constante vigilância policial sobre
os nativistas mais reivindicativos acusados de estarem associados a grupos de
resistências no interior (revoltas de Catete, do Celes e Amboim 1917, como sucedeu em
1914 e 1917 quando a Liga Angolana foi acusada de conspirar com os gentios rebeldes
(camponeses), levando até muitos europeus hostis designarem-nas de ASSOCIAÇOES
DE MATA BRANCOS, forjando o clima de suspensão que levou a sua extinção em
1922, isto é, no segundo mandato de Norton de Matos.
Jovens negros, mestiços e brancos que eram filhos da terra, filhos do país, iniciavam em
Luanda em 1948, o Movimento Cultural Vamos Descobrir Angola, com o objectivo de
estudar a terra que lhes fora berço, aquela terra que eles tanto amavam e mal conheciam.
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Este Movimento teve como nomes cimeiros os de António Agostinho Neto (1922-
1979), Viriato Clemente da Cruz (1928-1973), António Jacinto de Amaral (1924-1991)
e Mário António (1934-1989), entre outros.
Este grupo de intelectuais sentia uma forte necessidade de destruir a reinante literatura
colonial que falseava a realidade vivencial em Angola e que não entrava no âmago das
realidades e sentimentos do africano.
Em 1948, Viriato da Cruz lançou o mote (desafio): Vamos Descobrir Angola. A frase
tornou-se lema para os intelectuais angolanos que dois anos depois, fundaram o
Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, com Viriato da Cruz como um dos
elementos mais activos. Esse Movimento foi responsável pela publicação da revista
Mensagem, onde o grupo exprimiu o seu entusiasmo pela redescoberta da História e
Arte popular africanas, como contraponto a uma colonização que é fruto do endurecer
da repressão por parte do regime ditatorial de Salazar, estava a sofrer uma contestação
cada vez mais exacerbada. Nessa revista foram publicados alguns dos mais conhecidos
poemas de Viriato da Cruz, tais como, Makèzù ou mamã negra.
O GRUPO NZAJI
Nzaji, termo kimbundu que em português significa faísca era um agrupamento musical
que desempenhou papel muito importante, na motivação dos guerrilheiros do
Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Nesse agrupamento integrava
homens, mulheres e destacados militantes, tais como, Pedro de Castro Van-Dúnem
“Loy”, José Eduardo dos Santo (ex-presidente da República de Angola e do partido
MPLA) e Maria Mambo Café e outros.
60
mais forte é o Kaputo termo kimbundu que em português significa colono, um grito de
revolta.
Carlos Aniceto Vieira Dias “Liceu” é considerado como fundador da música popular
angolana.
Outros membros do grupo eram Domingos Van-Dúnem, Mário da Silva Araújo, Manuel
dos Passos e Nino Ndongo. Na década de 1950, a Banda era composta por “Liceu”,
Nino, Amadeu Amorim, José Maria dos Santos, Euclides Fontes Pereira, José Cordeiro,
Lurdes Van-Dúnem e Belita Palma.
Vieira Dias transformou as práticas musicais locais em estilo que era semelhante ao das
músicas estrangeiras tocadas nas rádios e festas, mas com sabor de Angola e cantada em
Kimbundu, durante um período em que as línguas locais eram minimizadas e chamas
de “língua de cão”, pelos colonialistas portugueses. Algumas canções foram baseadas
em músicas tradicionais de diferentes partes do país, incluindo canções adaptadas do
carnaval, que se adaptaram para versões mais dançantes, apreciadas em festas e
facilmente aceites nas estações de rádios. Muitas músicas do Ngola Ritmos tornaram-se
padrões da música angolana.
61
Apesar de alguns esforços, os colonialistas travavam as iniciativas, pois estes tinham
que passar licença para que o conjunto efectuasse qualquer espectáculo.
Todavia, podemos analisar como exemplo o lado popular da canção para despertar a
angolanidade;
Este trecho em português significa «não queremos convivência com os sapos», uma
referência aos colonialistas. A outra parte do verso ressalta que «não esqueçam que o
esperto só almoça, mas não janta» (dito popular).
62
A dada altura, a canção refere que uma mãe estava embalando o filho no quarto: «Ó
meu filho, não chores, porque o teu pai é uma ave, deixou-te ficar aqui e foi-se embora.
E o vizinho do lado responde: O oh Samba Utanga Makuto Samba, não mintas para teu
filho, diz a verdade, diz que morrias de fome e que foste ao comerciante e trocaste
alimento pelo teu corpo; o teu filho é fruto dessa situação. A PIDE, não deixou passar
esta canção.
“Muxima” termo kimbundu que em português significa coração era como se fosse o
hino da nação, esta canção evoca o meio rural da década de 1950 e hoje quando uma
banda toca essa música todo público canta e se movimenta em conjunto. Os que não
sabem toda letra da canção pelo menos sabem o refrão. Mais do que qualquer outra
canção “Muxima” não tem um só autor, mas está associado com o trabalho dos Ngola
Ritmos e é um exemplo da maneira como eles recreavam as canções locais. Neste caso,
eles não visavam torná-la dançante, mas sim audível em salas de concerto e nas rádios.
“Muxima” é também o nome de uma cidade construída nas margens do rio Kwanza,
cerca de sessenta quilómetros ao sul de Luanda, onde está situada uma igreja católica
associada com benefícios espirituais. Peregrinos de todo país, particularmente de
Luanda, viajam para igreja em busca de bênçãos.
A Santa padroeira da Igreja é Santa Ana, mãe da virgem Maria e padroeira das mulheres
em trabalho de parto.
Apesar de toda popularidade alcançada, gravações originais do Ngola Ritmos são raras.
Suas músicas são reproduzidas por muitos outros grupos e músicos que vieram depois
deles. Quando Liceu, Amadeu Amorim e José Maria foram enviados para prisão, o
grupo não terminou pois, os outros membros, liderados por Nino Ndongo, mantiveram a
produção do seu estilo característico, mas com um sabor mais comercial. Zé Cordeiro
Gégé e Xodó juntaram-se ao grupo nessa época.
63
Em 1960 o grupo seguiu à Lisboa onde gravaram dois discos e um show de televisão
para a RTP.
Quando saíram da cadeia, no início dos anos 1970, Liceu, Amadeu Amorim e José
Maria dos Santos foram obrigados a apresentar-se à PIDE a cada duas semanas e foram
proibidos de efectuar qualquer apresentação pública ou actividade política. Após a
independência do país em 1975, veio a guerra civil e registou-se um grande declínio na
produção musical em Angola. O grupo se tornou decadente e perdeu a energia que tinha
décadas antes. Argumenta-se que Ngola Ritmos tenha enfraquecido muito antes de seus
limites, mas seu trabalho influenciou as gerações seguintes de músicos tais como, Elias
Dia Kimuezo, grupo musical os Kiezos, Jovens do Prenda e outros.
Em 1978 o produtor de cinema António Ole fez um filme com Ngola Ritmos, e foi a
última vez que o grupo apareceu em público com todos os seus membros. Incluiu a
actuação de Rui Mingas, que é sobrinho do Liceu Vieira Dias. Em 2009/2010, inspirado
no livro “Estórias para Histórias da Música Angolana”, escrito por Mário Rui e Jorge
António produziram um filme documentário em três partes sobre a história da música
angolana, onde se destacou o trabalho de Liceu e Ngola Ritmos incluindo partes do
documentário de António Ole de 1978. E os depoimentos dos dois únicos membros de
sobreviventes.
TEATRO
A palavra teatro provém da palavra grega Theuslatron, onde Theus, significa Deus, e
Latron significa originalmente um lugar onde se é curado mediante o encontro com o
divino. Ainda o termo teatro também vem do termo Theaomai, que significa: Ver ou
Assistir (BRANDÃO, 1992, P. 9).
Assim sendo, o teatro nasceu no período do paleolítico médio, estava ligado as forças da
natureza por intermédio dos espíritos com objectivo de atrair estas mesmas forças por
intermédio da magia simpática. Desta feita os lugares onde eram executadas práticas
eram totalmente arenas, como na antiguidade média porque muitos desses lugares eram
totalmente sagrados.
Há que fazer referência à máscara, elemento importante do teatro primitivo, que para os
povos africanos significa presença divina, o instrumento que domina os espíritos
malignos, também é usado como disfarce do caçador (NUNES, 1994, P. 43).
Podemos afirmar que o teatro sob forma de imitações e mimetismo existiu sempre para
todos os povos e em todas as épocas.
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Tais ritos existem ainda em algumas regiões de África, se apresentam como uma parte
religiosa, plástica, poética, dramática, rítmica, e tem por base a literatura oral tradicional
e a música instrumentada.
O Teatro como forma de expressão literária sempre tem uma relação, com a sociedade
onde surgiu. O teatro é, antes de qualquer coisa, uma arte. Mas é uma arte que se
associa à história do homem e à própria história da comunicação humana, uma vez que
se configura uma arte híbrida, envolvendo literatura e encenação.
No contexto da colonização em Angola essa arte poderia ter contribuído para denunciar
a realidade que se vivia de modo a libertarem-se de uma determinada opressão.
Para contrapor o regime colonial surgiu no seio dos angolanos funcionários públicos, a
necessidade de se criar um grupo teatral, com objectivo de despertar as consciências dos
menos esclarecidos, sobre a dominação colonial e a aculturação que o regime colonial
imprimia.
Daí o aparecimento dos primeiros grupos teatrais, tais como: o Grupo Experimental de
Teatro – Gexto, foi criado nos anos 50 do século XX à imagem do Projecto brasileiro
teatro experimental do negro, de que Abdias do Nascimento foi o líder e o jornal
Kilombo o órgão divulgador e, entre os seus animadores, António Van-Dúnem, Higino
Aires e ainda Gabriel Leitão, tido como um humorista de grandes potencialidades
impares.
Sendo Gabriel Leitão, in O Ritmo do Ngola Ritmos, afirmava que: “no princípio era o
ritmo e o ritmo era clandestino. Então o ritmo fez-se Gexto (Grupo Experimental de
Teatro). As raízes no bem fundo do povo, os ritmos rebentam por todo o lado. Ganha
novas formas, teatro também. Do silêncio, ao Gexto. É o mesmo ritmo de teia de
aranha, construído pacientemente por cima da cabeça colonial. O Gexto foi fundado
para conservarmos o nosso património cultural. Também foi impulsionador da formação
do grupo o Higino Aires, um elemento do processo dos 50, que faleceu aqui em Luanda
depois de ter cumprido dez anos de prisão no Tarrafal. As peças que nós levámos à cena
foram todas escritas por António Van-Dúnem, com minha colaboração.
65
Cultural Músico – Teatral Ngongo e a sua estreia ocorreu em Agosto de 1962 na festa
de aniversário da cidade de Luanda, no nacional Cine – Teatro, com a peça em três
actos intitulada: Muhongo – a – Kassule, adaptada de um conto extraído na obra Ecos
da Minha Terra, de Óscar Ribas (ABRANTES, 2005, P. 147), poetas, autores,
declamadores, dançarinos, vocalistas e arranjadores, o que lhe permitiu explorar vias
originais e tradicional, da musica popular urbana, do teatro da dança da poesia e da
declamação, O grupo Ngongo realizou centenas de espectáculos diversificados, com
uma sucessão regular de temporadas artísticas que chegavam a durar vários meses, tanto
na capital como no resto do pais e até mesmo no exterior. Foi considerado em Portugal,
o melhor grupo de África em 1956 (ABRANTES, 2005, P.149).
A principal característica deste grupo foi concentrar no seu seio um grande número de
compositores, músicos, coreógrafos.
Neste sentido, para (Freire 1970, p. 22), “os homens, empenhando-se na luta por sua
libertação: É preciso que o próprio oprimido tenha senso critico, onde a representação
teatral desempenhada uma grande função”.
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O teatro angolano durante a luta anticolonial, teve um carácter revolucionário, popular e
realista. Foi, um teatro preocupado em intervir, despertar e denunciar de forma real, os
problemas criados pela dominação colonial portuguesa.
GLOSSÁRIO DE HISTÓRIA
Animismo – Doutrina religiosa que considera que a vida do Homem tem uma origem,
uma essência: a alma dos seus antepassados.
Abrange os territórios de países como Níger, Senegal, Mauritânia, Ghana (Gana), Cabo-
Verde, Guiné-Bissau, Serra Leoa, entre outros.
ÁFRICA ORIENTAL – É a parte da África banhada pelo oceano Indico e inclui, não
só os países costeiros e insulares, Comores, Djibouti, Eritreia, Etiópia, Kénia (Quénia),
Seychelles, Moçambique, Somália e Tanzânia, mas também, alguns do interior como
Burundi, Ruanda e Uganda, além de Zimbabwe, Zâmbia e Malawi.
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Antropologia - É a ciência que tem como objecto o estudo sobre o ser humano e a
humanidade de maneira totalizante, ou seja abrangendo todas as suas dimensões.
Argonautas – Na mitologia grega eram tripulantes da nau, segundo a lenda grega, foi
até a Coloquia (actual Geórgia) em busca ao Velo de ouro (ou velório de outro).
Armadas – Frotas.
Artilharia - Ramo do exército que utiliza canhões, obuses e outras armas e poderosas.
Aportar – Atracar.
Autónomo – Independente.
68
Bárbaros – Povos oriundos da Escandinava, assim designados por um suposto atraso
no seu estado civilizacional quando comparados com Roma.
Brado – Grito; voz propagada de modo intenso e forte, pode ser ocorrida a uma longa
distância; clamor, acção de reclamar ou suplicar em voz alta; o governo não ouve os
brados do povo.
Capital – Dinheiro. Riquezas acumuladas que têm por objectivo a criação de novos
valores.
Casa Real – Conjunto de funcionários (servidores do rei e da família real) que participa
na administração e funcionamento da referida casa. Palácio onde mora o rei.
Civilizar – Melhorar, sob o ponto de vista intelectuale industrial. Tornar civil, cortês,
polido.
Calhaus – cascalhos.
69
Cláusula – Cada uma das disposições de um contrato, testamento ou outro documento
similar.
Coacção – Imposição.
Companhias – Associações.
Contratado - No contexto histórico colonial, contrato era uma forma subtil do trabalho
forçado (diretamente ou indirectamente) chamavam de «contrtato» é ser recrutado para
o trabalho nas fazendas agrícolas, obras públicas e outras actividades, com obrigação de
permanecer durante um ano.
Colonos- Pessoas que se estabelecem numa região estrangeira para a povoar ou dela
tirarem proveito.
Coligação – Aliança.
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Degredados – Desterrados, Expatriado.
Desacordos – Divergências.
Detrimento – Prejuízo.
Dimensão – Amplitude.
Escudo – É uma arma defensiva que consiste essencialmente numa chapa metal,
madeira ou coro usada para se proteger de golpes inimigos.
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Esclavagismo – Sistema baseado no trabalho escravo, na exploração do homem pelo
homem. Aromáticas utilizadas como condimento.
Extermínio – Destruição.
Especiarias – Substâncias.
FOLCLORE – Termo cunhado em inglês a partir das palavras folk, povo, e lore, saber.
Uma área do conhecimento muito prezada pelo turismo cultural e pela Antropologia.
Definindo inicialmente no século XIX, pelo arqueólogo inglês Willian Thoms, o
folclore designava então uma ciência cujo objecto de estudo eram as antiguidades.
GRIOTS- JALI OU JELI – É o individuo que na África Central, tem por vocação
preservar e transmitir as histórias, acontecimentos, canções e mitos do seu povo.
Existem GRIOTS músicos e GRIOTS contadores de história. Ensinam a arte, o
72
conhecimento de plantas tradições, histórias e aconselhavam membros das famílias
reais.
Império – Estado cuja influência politica, económica e cultural se estende para além
das suas fronteiras.
Incursões – Invasões.
Indigente – Pessoa que não tem condições financeiras para suprir ou sasfazer as suas
próprias necessidades; miserável.
Introspecção – Análise intima e reflexiva que alguém faz sobre si mesmo; exame
profundo sobre as próprias experiências ou sobre o que ocorre de mais intimo em si
próprio, introversão.
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Instituições – Organizações.
Inata – Que faz parte do indivíduo desde o seu nascimento; que nasce com o indivíduo;
inerente, congénito.
Legítimo – Legal.
Messiânico – do Messias.
Minas – Espaço natural subterrâneo de onde são extraídos diversos recursos naturais
(neste caso em particular, o ouro).
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Moluscos – Animais invertebrados de corpo mole.
Motivo – Causa.
Ornamentados – Decorados.
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Potencialidades – Conjunto de qualidades naturais de alguém ou de alguma coisa.
Poliandria – Organização familiar em que uma esposa tem, legalmente, vários maridos
ao mesmo tempo.
Presídio – Prisão.
Preto ou Negro – Individuo que pertence à raça negra. Termos usados na época
colonial para inferiorizar e vilipendiar o negro.
Raça – Conjunto de características físicas (cor da pele, estatura, cabelo, etc.) que
explicam a origem de determinada família humana.
Roda de oleiro – Disco achatado movido por um pedal. O movimento rotativo permite
trabalhar o barro, modelando-o até ser possível obter o objecto desejado.
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Sine qua non – Indispensável.
Subordinação – Submissão.
Subjugação - Submissão
Toponímia – Área da Linguística que estuda os nomes dos lugares, a sua origem e
evolução.
Tribos – Agrupamentos mais organizados do que os clãs. Cada tribo era formada por
um conjunto de clãs e liderada por um chefe cuja autoridade se apoiava na força.
Troar – Estrondo.
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Vassalo – Tributário.
BIBLIOGRAFIA
ALTUNA, PE. Raul Ruiz de Asúa, Cultura Tradicional Bantu, Edição, Paulinas.
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BARBEITOS, Arlindo, Portugal-Representações de si e de outem ou jogo equivoco das
identidades, Edição, Kilombelombe, Angola, 2011.
FREITAS, Maria Luísa, Solé, Glória Santos, Pereira Sara, Metodologia de História,
Editores, Plural, Luanda, 2010.
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