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Angola

Angola (do banto "n’gola", "ngolo"), oficialmente República de Angola, é um país


da costa ocidental de África, cujo território principal é limitado a norte e
a nordeste pela República Democrática do Congo, a leste pela Zâmbia,
a sul pela Namíbia e a oeste pelo Oceano Atlântico. Inclui também o exclave de Cabinda,
através do qual faz fronteira com a República do Congo, a norte. Para além dos vizinhos já
mencionados, Angola é o país mais próximo da colónia britânica de Santa Helena.
Os portugueses estiveram presentes desde o século XV em alguns pontos do que é hoje o
território de Angola, interagindo de diversas maneiras com os povos nativos,
principalmente com os habitantes do litoral. A delimitação do território apenas aconteceu
no início do século XX. O primeiro europeu a chegar a Angola foi o explorador
português Diogo Cão. Angola foi uma colónia portuguesa que apenas abrangeu o actual
território do país no século XIX e a "ocupação efectiva", como determinado
pela Conferência de Berlim em 1884, aconteceu apenas na década de 1920.
A independência do domínio português foi alcançada em 1975, depois de uma guerra de
independência. O Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência do país, ainda
em 1975.[8] Após a independência, Angola foi palco de uma longa e devastadora guerra
civil, de 1975 a 2002, sobretudo entre o MPLA e a UNITA. Apesar do conflito interno, áreas
como a Baixa de Cassanje mantiveram activos seus sistemas monárquicos regionais. No
ano de 2000 foi assinado um acordo de paz com a Frente para a Libertação do Enclave de
Cabinda, organização de guerrilha que luta pela secessão de Cabinda e que ainda se
encontra activa.[9] É da região de Cabinda que sai aproximadamente 65% do petróleo de
Angola.
O país tem vastos recursos naturais, como grande reservas de minerais e de petróleo e,
desde 1990, sua economia tem apresentado taxas de crescimento que estão entre as
maiores do mundo, especialmente depois do fim da guerra civil. No entanto, os padrões de
vida angolanos continuam baixos e cerca de 70% da população vive com menos de dois
dólares por dia,[10] enquanto as taxas de expectativa de vida e mortalidade infantil no país
continuam entre as piores do mundo, além da presença proeminente da desigualdade
económica, visto que a maioria da riqueza do país está concentrada numa parte
desproporcionalmente pequena da população.[11] Angola também é considerada um
dos países menos desenvolvidos do planeta conforme a Organização das Nações
Unidas (ONU)[12] e um dos mais corruptos do mundo pela Transparência Internacional.[10][13]

Etimologia
O nome Angola é uma derivação portuguesa do termo banto n’gola, título dos reis
do Reino do Dongo existente na altura em que os portugueses se estabeleceram
em Luanda, no século XVI. O termo tem raízes no termo ngolo que significa "força"
em quimbundo e em quicongo, línguas dos povos ambundos e congos respectivamente.
Quando os portugueses chegaram à região da província de Luanda, observaram que o
monarca local, Angola Quiluanje era assim denominado, passando a chamar o Reino
Angola-Dongo com este título.[14]

História
Ver artigo principal: História de Angola

Primeiros habitantes
Ver artigo principal: Reino do Dongo
Mapa do antigo Reino do Dongo

Encontro de portugueses com a família real do Reino do Congo

Os habitantes originais de Angola foram caçadores-colectores coissã, dispersos e pouco


numerosos. A expansão dos povos bantos, chegando do norte a partir do segundo milénio,
forçou os coissã (quando não eram absorvidos) a recuar para o sul onde grupos residuais
existem até hoje, em Angola (ver mapa étnico), na Namíbia e no Botsuana.[15]
Os bantos eram agricultores e caçadores. A sua expansão, a partir da África Centro-
Ocidental, se deu em grupos menores, que se relocalizaram de acordo com as
circunstâncias político-económicas e ecológicas. Entre os séculos XIV e XVII, uma série de
reinos foi estabelecida, sendo o principal o Reino do Congo que abrangeu o Noroeste da
Angola de hoje e uma faixa adjacente da hoje República Democrática do Congo,
da República do Congo e do Gabão; a sua capital situava-se em Mabanza Congo e o seu
apogeu se deu durante os séculos XIII e XIV.[15]
Outro reino importante foi o Reino do Dongo, constituído naquela altura a Sul/Sudeste do
Reino do Congo. No Nordeste da Angola actual, mas com o seu centro no Sul da actual
República Democrática do Congo, constituiu-se, sem contacto com os reinos atrás
referidos, o Reino de Lunda.[nota 1][15]
Em 1482 chegou na foz do rio Congo uma frota portuguesa, comandada
pelo navegador Diogo Cão que de imediato estabeleceu relações com o Reino do Congo.
Este foi o primeiro contacto de europeus com habitantes do território hoje abrangido por
Angola, contacto este que viria a ser determinante para o futuro deste território e das suas
populações.[15]

Colonização europeia
Ver artigo principal: África Ocidental Portuguesa
Ilustração da rainha Jinga em negociações de paz com o governador português em Luanda em
1657

Vista da cidade de Luanda em 1883

A partir do fim do século XV, Portugal seguiu na região uma dupla estratégia. Por um lado,
marcou continuamente presença no Reino do Congo, por intermédio de (sempre poucos,
mas influentes) padres cultos (portugueses e italianos) que promoveram uma lenta
cristianização e introduziram elementos da cultura europeia. Por outro, estabeleceu em
1575 uma feitoria em Luanda, num ponto de fácil acesso ao mar e à proximidade dos
reinos do Congo e de Dongo. Gradualmente tomaram o controle, através de uma série de
tratados e guerras, de uma faixa que se estendeu de Luanda em direcção ao Reino do
Dongo. Este território, de uma dimensão ainda bastante limitada, passou mais tarde a ser
designado como Angola. Por intermédio dos Reinos do Congo, do Dongo e da Matamba,
Luanda desenvolveu um tráfico de escravos com destino a Portugal, ao Brasil e à América
Central que passou a constituir a sua base económica.[16] Esse processo tem que ser visto
contra o pano de fundo de um sistemático tráfego de escravos a partir de Luanda.[17]
Os holandeses ocuparam Angola entre 1641 e 1648, procurando estabelecer alianças com
os estados africanos da região. Em 1648, Portugal retomou Luanda e iniciou um processo
de conquista militar dos estados do Congo e Dongo que terminou com a vitória dos
portugueses em 1671, redundando num controle sobre aqueles reinos.[18]
No entanto, Portugal tinha começado a estender a sua presença no litoral em direcção ao
Sul. Em 1657 estabeleceu uma povoação perto da actual cidade de Porto Amboim,
transferida em 1617 para a actual Benguela que se tornou numa segunda feitoria,
independente da de Luanda. Benguela assumiu aos poucos o controle sobre um pequeno
território a norte e leste, e iniciou por sua vez um tráfego de escravos, com a ajuda de
intermediários africanos radicados no Planalto Central da Angola de hoje.[15]
Embora tenha, desde o início da sua presença em Luanda e Benguela, havido ocasionais
incursões dos portugueses para lá dos pequenos territórios sob o seu controle, esforços
sérios de penetração no interior apenas começaram nas primeiras décadas do século XIX,
abrandado em meados daquele século, mas recomeçando com mais vigor nas suas
últimas décadas.[19] Estes avanços eram em parte militares, visando o estabelecimento de
um domínio duradouro sobre determinadas regiões, e tiveram geralmente que vencer,
pelas armas, uma resistência maior ou menor das respectivas populações.[20] Em outros
casos tratou-se, no entanto, apenas de criar postos avançados destinados a facilitar a
extensão de redes comerciais. Formas particulares de penetração económica foram
desenvolvidas no Sul, a partir de Moçâmedes (hoje Namibe).[21] Finalmente, houve naquele
século a implantação das primeiras missões católicas para lá dos perímetros controlados
por Luanda e Benguela.[22]

Soldados portugueses embarcando para Angola durante a Primeira Guerra Mundial

No momento em que se realizou em 1884/85 a Conferência de Berlim, destinada a acertar


a distribuição de África entre as potências coloniais, Portugal pôde fazer valer uma
presença secular em dois pontos do litoral, e uma presença mais recente
(administrativa/militar, comercial, missionária) numa série de pontos do interior, mas
estava muito longe de uma "ocupação efectiva" do território hoje abrangido por Angola.[nota 2]
Perante a ameaça das outras potências coloniais, de se apropriarem de partes do território
reclamada por Portugal, este país iniciou finalmente, na sequência da Conferência de
Berlim, um esforço que visava a ocupação de todo o território da Angola actual. Dados os
seus recursos limitados, os progressos neste sentido foram, no entanto, lentos: ainda em
1906, apenas 5% a 6% dos territórios podiam, com alguma razão, ser considerados
"efectivamente ocupados".[24] Só depois do advento da República em Portugal, em 1910, a
expansão do Estado colonial avançou de forma mais consequente. Em meados dos anos
1920 estava alcançado um domínio integral do território, muito embora houvesse ainda em
1941 um breve surto de "resistência primária", da parte da etnia vacuval.[nota 3] Embora lento,
este esforço de ocupação não deixou, porém, de provocar novas dinâmicas sociais,
económicas e políticas.[nota 4]

Processo de descolonização
Ver artigos principais: Guerra de Independência de Angola e Guerra Colonial
Portuguesa

Forças Armadas Portuguesas marchando em Luanda durante Guerra Colonial Portuguesa (1961-


74).
Soldados portugueses nas matas angolanas durante a Guerra de Independência de Angola (1961-
1974)

Alcançada a desejada "ocupação efectiva", Portugal - melhor dito: o regime ditatorial,


entretanto instaurado naquele país por António de Oliveira Salazar - concentrou-se em
Angola na consolidação do Estado colonial. Esta meta foi atingida com alguma eficácia.
Num lapso de tempo relativamente curto foi edificada uma máquina administrativa dotada
de uma capacidade não sem falhas, mas sem dúvida significativa de controle e de gestão.
Esta garantiu o funcionamento de uma economia assente em dois pilares: o de uma
imigração portuguesa que, em poucas décadas, fez subir a população europeia para mais
de 100 000, com uma forte componente empresarial, e o de uma população africana sem
direito à cidadania, na sua maioria - ou seja, com a excepção dos povos (agro-)pastores
do Sul - remetida para uma pequena agricultura orientada para os produtos exigidos pelo
colonizador (café, milho, sisal), pagando impostos e taxas de vária ordem, e muitas vezes
obrigada, por circunstâncias económicas e/ou pressão administrativa, a aceitar trabalhos
assalariados geralmente mal pagos.[nota 5]
Entre 1939 e 1943, o exército português realizou operações contra os nómadas Mucubal,
acusados de rebelião, que levaram à morte de metade de sua população. Os
sobreviventes foram encarcerados em campos de trabalho forçado, onde a grande maioria
deles pereceu devido à brutalidade do sistema de trabalho, subnutrição e execuções.[25]
Nos anos 1950 começou a articular-se uma resistência multifacetada contra a dominação
colonial, impulsionada pela descolonização que se havia iniciado no continente africano,
depois do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.[26] Esta resistência, que visava a
transformação da colónia de Angola em país independente, desembocou a partir de 1961
num combate armado contra Portugal que teve três principais protagonistas:

 o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), cuja principal base


social eram os ambundos e a população mestiça, bem como partes da
inteligência branca, e que tinha laços com partidos comunistas em Portugal e
países pertencentes ao então Pacto de Varsóvia;
 a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), com fortes raízes sociais
entre os congos e vínculos com o governo dos Estados Unidos e ao regime
de Mobutu Sese Seko no Zaire, entre outros;
 a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), socialmente
enraizada entre os ovimbundos e beneficiária de algum apoio por parte
da China.[nota 6]
Logo depois do início do conflito armado, uma "ala liberal" no seio da política portuguesa
impôs uma reorientação incisiva da política colonial. Revogando já em 1962 o Estatuto do
Indigenato e outras disposições discriminatórias, Portugal concedeu direitos de cidadão a
todos os habitantes de Angola[nota 7] que de "colónia" passou a "província" e mais tarde a
"Estado de Angola". Ao mesmo tempo, expandiu enormemente o sistema de ensino,
dando assim à população negra possibilidades inteiramente novas de mobilidade social -
pela escolarização e a seguir por empregos na função pública e na economia privada.[nota 8]
Membros do FNLA durante treinamentos em 1973

Recrutas da FNLA em um campo de refugiados angolano no Zaire em 1973

A finalidade desta reorientação foi a de ganhar "mentes e corações" das populações


angolanas para o modelo de uma Angola multi-racial que continuasse a fazer parte de
Portugal, ou ficar estreitamente ligado à "Metrópole". Essa opção foi, no entanto, rejeitada
pelos três movimentos de libertação que continuaram a sua luta. Nesta começaram,
porém, a registar-se mais retrocessos do que progressos, e nos primeiros anos 1970 as
hipóteses de conseguir a independência pelas armas tornaram-se muito fracas.
Na maior parte do território a vida continuou com a normalidade colonial. É certo que
houve uma série de medidas de segurança, das quais algumas - como controles de
circulação, ou o estabelecimento de "aldeias concentradas" em zonas como o Planalto
Central, no Cuanza Norte e no Cuanza Sul.[nota 9] - afectaram a população em grau maior ou
menor.
A situação alterou-se completamente quando em Abril de 1974 aconteceu em Portugal
a Revolução dos Cravos, um golpe militar que pôs fim à ditadura em Portugal. Os novos
detentores do poder proclamaram de imediato a sua intenção de permitir sem demora o
acesso das colónias portuguesas à independência.[27]
A perspectiva da independência provocada pela Revolução dos Cravos em Portugal, em
Abril de 1974, e a cessação imediata dos combates por parte das forças militares
portuguesas em Angola, levou a uma acirrada luta armada pelo poder entre os três
movimentos e os seus aliados.
A FNLA entrou em Angola com um exército regular, treinado e equipado pelas Forças
Armadas Zairenses, com o apoio dos EUA; o MPLA conseguiu mobilizar rapidamente a
intervenção de milhares de soldados cubanos, com o apoio logístico da União Soviética; e
a UNITA obteve o apoio das forças armadas do regime de apartheid então vigente
na África do Sul. Esforços do novo regime português para que se constituísse um governo
de unidade nacional não tiveram êxito. Entretanto, a luta da liderança do MPLA pelo poder,
antes e depois da declaração da independência, causou inúmeras vítimas.[28]
O conflito armado levou à saída - com destino a Portugal, mas também à África do Sul e
ao Brasil - da maior parte dos cerca de 350 000 portugueses que na altura estavam
radicados em Angola.[29] Em consequência da política colonial, estes constituíam a maior
parte dos quadros do território, o que levou a que a administração pública, a indústria, a
agricultura e o comércio caíssem em colapso. Por outro lado, os ovimbundos que tinham
sido recrutados pela administração colonial para trabalhar nas plantações de café e tabaco
e nas minas de diamantes do Norte, também decidiram voltar às suas terras de origem no
planalto central. A outrora próspera economia angolana caiu assim em decadência.[30]
No dia 11 de Novembro de 1975 foi proclamada a independência de Angola,[31] pelo MPLA
em Luanda, e pela FNLA e UNITA, em conjunto no Huambo. As forças armadas
Portuguesas que ainda permaneciam no território regressaram a Portugal.[32]

Independência, Guerra Civil e República


Ver também: Guerra Civil Angolana

Carro das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), o braço armado do MPLA,


em chamas após um confronto em Novo Redondo, em 1975, durante a Guerra Civil Angolana

Tanque PT-76 nas ruas de Luanda durante a intervenção cubana em Angola

Com a independência de Angola começaram dois processos que se condicionaram


mutuamente. Por um lado, o MPLA - que em 1977 adoptou o marxismo-leninismo como
doutrina - estabeleceu um regime político e económico inspirado pelo modelo então em
vigor nos países do "bloco socialista", portanto monopartidário e baseado numa economia
estatal, de planificação central.[33] Enquanto a componente política deste regime chegou a
funcionar dentro dos moldes postulados, embora com um rigor algo menor do que em
certos países "socialistas" da Europa. A componente económica foi fortemente prejudicada
pela luta armada e, no fundo, só se sustentou graças ao petróleo cuja exploração o regime
confiou a companhias petrolíferas americanas.
Por outro lado, iniciou-se logo depois da declaração da independência a Guerra Civil
Angolana entre os três movimentos, uma vez que a FNLA e, sobretudo, a UNITA não se
conformaram nem com a sua derrota militar, nem com a sua exclusão do sistema político.
Esta guerra durou até 2002 e terminou com a morte, em combate, do líder histórico da
UNITA, Jonas Savimbi. Assumindo raramente o carácter de uma guerra "regular", ela
consistiu no essencial numa guerra de guerrilha que nos anos 1990 envolveu praticamente
o país inteiro.[nota 10] Ela custou milhares de mortos e feridos e destruições de vulto em
aldeias, cidades e infraestruturas (estradas, caminhos de ferro, pontes). Uma parte
considerável da população rural, especialmente a do Planalto Central e de algumas
regiões do Leste, fugiu para as cidades ou para outras regiões, inclusive países vizinhos.
No fim dos anos 1990, o MPLA decidiu abandonar a doutrina marxista-leninista e mudar o
regime para um sistema de democracia multipartidária e uma economia de mercado.
UNITA e FNLA aceitaram participar no regime novo e concorreram às primeiras eleições
realizadas em Angola, em 1992, das quais o MPLA saiu como vencedor. Não aceitando os
resultados destas eleições, a UNITA retomou de imediato a guerra, mas participou ao
mesmo tempo no sistema político.
Logo a seguir a morte do seu líder histórico, a UNITA abandonou as armas e seu braço
armado — as Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA) — foi desmobilizado ou
integrado nas Forças Armadas Angolanas. Tal como a FNLA, passou a concentrar-se na
participação, como partido, no parlamento e outras instâncias políticas. Na situação de
paz, depois de quatro décadas de conflito armado, começou a reconstrução do país e,
graças a um notável crescimento da economia, um desenvolvimento globalmente bastante
acentuado, mas por enquanto com fortes disparidades regionais e desigualdades sociais.
A paz está também a favorecer a consolidação de uma identidade social abrangente,
"nacional", que começou a formar-se paulatinamente a partir dos anos 1950.
Politicamente, continua a ter um forte predomínio do MPLA, que obteve claras maiorias
parlamentares nas eleições realizadas em 1992, 2008 e 2012, garantindo a permanência
nas funções de Presidente do Estado, entre 1979 e 2017, de José Eduardo dos Santos.
Enquanto a FNLA desapareceu praticamente da cena, a UNITA consolidou, nas eleições
de 2012, a sua posição como principal partido de oposição. A nível económico, Angola
registou por um lado um forte crescimento, enfrentando, por outro lado, dificuldades que a
obrigaram a solicitar o apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI), não conseguindo
travar o surgimento de desigualdades económicas e sociais muito acentuadas.[34]

Geografia
Ver artigo principal: Geografia de Angola

Imagem de satélite de Angola (The Map Library)

Angola situa-se na costa atlântica Sul da África Ocidental, entre a Namíbia e a República


do Congo. Também faz fronteira com a República Democrática do Congo e a Zâmbia, a
oriente. O país está dividido entre uma faixa costeira árida, que se estende desde a
Namíbia, chegando praticamente até Luanda, um planalto interior húmido,
uma savana seca no interior sul e sudeste, e floresta tropical no norte e em Cabinda.
O rio Zambeze e vários afluentes do rio Congo têm as suas nascentes em Angola. A faixa
costeira é temperada pela corrente fria de Benguela, originando um clima semelhante ao
da costa do Peru ou da Baixa Califórnia. Existe uma estação das chuvas curta, que vai de
Fevereiro a Abril. Os Verões são quentes e secos, os Invernos são temperados.[35]
As terras altas do interior têm um clima suave com uma estação das chuvas de Novembro
a Abril, seguida por uma estação seca, mais fria, de Maio a Outubro. As altitudes variam
bastante, encontrando-se as zonas mais interiores entre os mil e os dois mil metros. As
regiões do norte e Cabinda têm chuvas ao longo de quase todo o ano. A maioria dos rios
de Angola nasce no planalto do Bié, os principais são: o Cuanza, o Cuango, o Cuando,
o Cubango e o Cunene.[35]

Clima

Angola pela classificação climática de Köppen-Geiger

Angola, apesar de se localizar numa zona tropical, tem um clima que não é caracterizado
para essa região, devido à confluência de três factores: a Corrente de Benguela, fria, ao
longo da parte sul da costa; o relevo no interior; e a influência do Deserto do Namibe, a
sudoeste.
Em consequência, o clima de Angola é caracterizado por duas estações: a das chuvas, de
Outubro a Abril e a seca, conhecida por Cacimbo, de Maio a Agosto, mais seca, como o
nome indica e com temperaturas mais baixas. Por outro lado, enquanto a orla costeira
apresenta elevados índices de pluviosidade, que vão decrescendo de Norte para Sul e dos
800 mm para os 50 mm, com temperaturas médias anuais acima dos 23 °C, a zona do
interior pode ser dividida em três áreas: Norte, com grande pluviosidade e temperaturas
altas; Planalto Central, com uma estação seca e temperaturas médias da ordem dos
19 °C; e Sul com amplitudes térmicas bastante acentuadas devido à proximidade
do Deserto do Calaari e à influência de massas de ar tropical.

Panorama do Miradouro da Lua, em Belas

Demografia
Ver artigo principal: Demografia de Angola
A população de Angola em 2014, depois do primeiro censo pós-independência e dos
resultados definitivos do Recenseamento Geral da População e Habitação 2014, é de 25
789 024 habitantes, sendo 52 por cento do sexo feminino.[36][37]
A população do país deverá crescer para mais de 47 milhões de pessoas em 2060, quase
duplicando o censo de 24,3 milhões em 2014.[38] O último censo oficial foi realizado em
1970 e mostrou que a população total era de 5,6 milhões habitantes.[39]

Cidades mais populosas


 ver
 discutir
 editar
Cidades mais populosas em Angola
Censo 2006

Posiçã Localidad Provínci Posiçã


Pop. Localidade Região Pop.
o e a o
2 776 12 Cabind
66 02
1 Luanda Luanda 11 Cabinda
5 a 0
1 204 00 60 00
2 Huambo Huambo 12 Uíge Uíge
0 8
Benguel Namib
54 65
3 Lobito 805 000 13 Tômbua
a e 7
Benguel Lunda
40 19
4 Benguela 513 000 14 Saurimo
a Sul 8
Luanda
Cuanz
33 27
5 Lubango Huíla 318 000 15 Sumbe
a Sul 8
Lunda Caluquem 30 30
6 Lucapa 125 751 16 Huíla
Norte be 5
Cuanz
29 15
7 Cuíto Bié 113 624 17 Gabela
a Sul 1
28 22
8 Malanje Malanje 87 047 18 Caxito Bengo
9
Huambo
Moçâmed Huamb 24 35
9 Namibe 80 150 19 Longonjo
es o 0
Mabanza 24 22
10 Soyo Zaire 67 553 20 Zaire
Congo 0

Composição étnica

Mulher angolana com seus filhos

A população é composta por 37% de ovimbundos (língua umbundu), 25%


de ambundos (língua quimbundo), 13% de congos e 32% de outros grupos étnicos (como
os chócues, os ovambos, os vambunda e os xindongas), bem como por cerca de 2% de
mestiços (mistura de europeus e africanos) e 1% de europeus. As etnias dos ambundos e
ovimbundos formam, combinadas, a maioria da população (62%).[40][41]
Estima-se que Angola recebeu pouco mais de doze mil refugiados e de cerca de três mil
requerentes de asilo até o final de 2007. Cerca de 11 mil desses refugiados eram
originários da República Democrática do Congo (RDC), que chegaram em 1970.[42] Em
2008, estimou-se que tinha aproximadamente 400 mil trabalhadores migrantes da RDC,
[43]
 ao menos 30 mil portugueses[44] e cerca de 259 mil chineses vivendo em Angola.[45]
Desde 2003, mais de 400 mil imigrantes congoleses foram expulsos de Angola.[46] Antes
da independência, em 1975, Angola tinha uma comunidade lusitana de cerca de 350 mil
pessoas;[47] em 2013 existiam cerca de 200 mil portugueses registados com os consulados.
[48]
 A população chinesa é de 258 920 pessoas, em sua maioria composta por migrantes
temporários.[49] A taxa de fecundidade total do país é de 5,54 filhos por mulher (estimativas
de 2012), a 11ª maior do mundo.[50]

Línguas
Ver artigos principais: Línguas de Angola e Português de Angola

Mapa etno-linguístico de Angola em 1970

O português é a língua oficial de Angola.[nota 11] Dentre as línguas africanas faladas no país,


algumas têm o estatuto de língua nacional. Essas, assim como as outras línguas africanas,
são faladas pelas respectivas etnias e têm dialectos correspondentes aos subgrupos
étnicos.[51] A língua étnica com mais falantes em Angola é o umbundo, falado
pelos ovimbundos na região centro-sul de Angola e em muitos meios urbanos. É língua
materna de cerca de um terço dos angolanos.[52]
O quimbundo (ou kimbundo) é a segunda língua étnica mais falada — por cerca da quarta
parte da população,[52] os ambundos que vivem na zona centro-norte, no eixo Luanda-
Malanje e no Cuanza Sul. É uma língua com grande relevância, por ser a língua da capital
e do antigo Reino do Dongo. Foi esta língua que deu muitos vocábulos à língua
portuguesa e vice-versa. O quicongo (ou kikongo) falado no norte, (Uíge e Zaire) tem
diversos dialectos. Era a língua do antigo Reino do Congo, e com a migração pós-colonial
dos congos para o Sul esta tem hoje uma presença significativa também em Luanda.[nota
12]
 Ainda nesta região, na província de Cabinda, fala-se o fiote ou ibinda.
O chócue (ou tchokwe) é a língua do leste, por excelência. Tem-se sobreposto a outras da
zona leste e é, sem dúvida, a que teve maior expansão pelo território da actual Angola,
desde a Lunda Norte ao Cuando-
Cubango. Cuanhama (kwanyama ou oxikwanyama), nhaneca (ou nyaneca) e sobre tudo
o umbundo são outras línguas de origem banta faladas em Angola. No sul de Angola são
ainda faladas outras línguas, algumas pertencentes ao grupo coissã, faladas por pequenos
grupos de san, também chamados bosquímanos, outras faladas por pequenas etnias
bantas.[53]
Embora as línguas étnicas sejam as habitualmente faladas pela maioria da população,
o português é a primeira língua de 40%[54][55] da população angolana — proporção que se
apresenta muito superior na capital do país —, enquanto cerca de 71% dos angolanos
afirmam usá-la como primeira ou segunda língua.[56][57][58] Seis línguas étnicas têm o estatuto
oficial de "língua nacional": por ordem de importância numérica são o umbundo, o
quimbundo, o quicongo, o chócue, o ganguela e o cuanhama. Essas línguas ocupam um
certo (limitado) espaço na comunicação social, em documentos (p.ex. avisos) exarados
por entidades oficiais e na educação.

Religiões
Ver artigo principal: Catolicismo em Angola

Religião em Angola 2015[59]

  Catolicismo romano (56.4%)
  Outros cristãos (37.0%)
  Religiões tradicionais africanas (4.4%)
  Outras religiões (1.1%)
  Sem religião (1.0%)

Em Angola existem actualmente cerca de 1000 religiões organizadas em igrejas ou formas


análogas.[60] Dados fiáveis quanto aos números dos fiéis não existem, mas a grande
maioria dos angolanos adere a uma religião cristã ou inspirada pelo cristianismo.[61] Cerca
da metade da população está ligada à Igreja Católica, cerca da quarta parte a uma das
igrejas protestantes introduzidas durante o período colonial: as baptistas, enraizadas
principalmente entre os congos, as metodistas, concentradas na área dos ambundos, e
as congregacionais, implantadas entre os ovimbundos, para além de comunidades mais
reduzidas de protestantes reformados e luteranos. A estes há de acrescentar
os adventistas, os neo-apostólicos e um grande número de igrejas pentecostais, algumas
das quais com forte influência brasileira.[nota 13] Há, finalmente, duas igrejas do tipo sincrético,
os quimbanguistas com origem no Congo-Quinxassa,[62] e os tocoistas que se constituíram
em Angola,[63][64] ambas com comunidades de dimensão bastante limitada. É significativa,
mas não passível de quantificação, a proporção de pessoas sem religião.
Igreja católica em Benguela

Os praticantes de religiões tradicionais africanas constituem uma pequena minoria, de


carácter residual, mas entre os cristãos encontram-se, com alguma frequência, crenças e
costumes herdados daquelas religiões. Há apenas 1 a 2% de muçulmanos, quase todos
imigrados de outros países (p.ex. da África Ocidental), cuja diversidade não permite que
constituam uma comunidade, apesar de serem todos sunitas[nota 14] Uma parte crescente da
população urbana não tem ou não pratica qualquer religião, o que se deve menos à
influência do Marxismo-Leninismo oficialmente professado na primeira fase pós-colonial, e
mais à tendência internacional no sentido de uma secularização. Em contrapartida, a
experiência com a Guerra Civil Angolana e com a pobreza acentuada levaram muitas
pessoas a uma maior intensidade da sua fé e prática religiosa, ou então a uma adesão a
igrejas novas onde o fervor religioso é maior. A Igreja Católica, as igrejas protestantes
tradicionais e uma ou outra das igrejas pentecostais têm obras sociais de alguma
importância, destinadas a colmatar deficiências quer da sociedade, quer do Estado. Tanto
a Igreja Católica como as igrejas protestantes tradicionais pronunciam-se ocasionalmente
sobre problemas de ordem política.[nota 15] O seu papel nas guerras anti-colonial e civil tem
dado margem a controvérsias.[67]

Governo e política
Ver artigos principais: Política de Angola e Governo da República de Angola

João Lourenço, o atual presidente do país

O Capitólio de Angola, em Luanda, sede da Assembleia Nacional

O regime político vigente em Angola é o presidencialismo, em que o Presidente da


República é igualmente chefe do Governo, que tem ainda poderes legislativos. O ramo
executivo do governo é composto pelo presidente João Lourenço, pela vice-
presidente Esperança da Costa e pelo Conselho de Ministros. Os governadores das 18
províncias são nomeados pelo presidente e executam as suas directivas. A Lei
Constitucional de 1992 estabelecia as linhas gerais da estrutura do governo e enquadra os
direitos e deveres dos cidadãos. O sistema legal baseia-se no português e direito
consuetudinário, mas é fraco e fragmentado. Existem tribunais só em 12 dos mais de
140 municípios do país.
Entre os aspectos que merecem uma atenção especial estão os decorrentes das políticas
chamadas de descentralização e desconcentração, adoptadas nos últimos anos, e que
remetem para a necessidade de analisar a realidade política a nível regional (sobe tudo
provincial) e local.[nota 16] Por outro lado, começa a fazer sentir-se um certo peso internacional
de Angola, particularmente a nível regional, devido à sua força económica e ao seu
poderia militar.[68]
O que estes mecanismos significam na prática só pode ser compreendido contra o pano
de fundo do peso esmagador, em termos de resultados eleitorais e de detenção e
exercício do poder, do partido que se impôs no processo de descolonização e na guerra
civil que se lhe seguiu, o MPLA. Com efeito, o regime acima descrito situa-se na categoria
de sistema de partido dominante que tudo faz para perpetuar-se.[69]
Em 2014, Angola subiu dois lugares no ranking mundial de governo eletrônico, de acordo
com o relatório do Índice de Desenvolvimento de e-Government publicado pela ONU, que
analisa o uso da tecnologia de informação e comunicação por parte dos governos na
divulgação de informações e serviços públicos na Internet. A média no Índice de
Desenvolvimento de E-Government em África é de 0,27. Angola encontra-se acima da
média africana com um índice de desenvolvimento de 0,3.[70][71]
Um Supremo Tribunal serve como tribunal de apelação. O Tribunal Constitucional é o
órgão supremo da jurisdição constitucional, teve a sua Lei Orgânica aprovada pela Lei n.°
2/08, de 17 de Junho, e a sua primeira tarefa foi a validação das candidaturas dos partidos
políticos às eleições legislativas de 5 de Setembro de 2008. Está previsto entrar em vigor
um novo Código Penal angolano ainda em 2014, resultado da revisão, já concluída, da
legislação em vigor. Segundo o juiz conselheiro do Tribunal Constitucional angolano,
Tomás Miguel, que coordena a Comissão de Reforma da Justiça e do Direito (CRJD), a
tipificação do crime de branqueamento de capitais é uma das novidades previstas na nova
legislação.[72]

Sistema eleitoral
Em 5 e 6 de Setembro de 2008 foram realizadas eleições legislativas, as primeiras
eleições desde 1992. As eleições decorreram sem sobressaltos e foram consideradas
válidas pela comunidade internacional, não sem antes diversas ONG e observadores
internacionais terem denunciado algumas irregularidades. O MPLA obteve mais de 80%
dos votos, a UNITA cerca de 10%, sendo os restantes votos distribuídos por uma série de
pequenos partidos, dos quais apenas um (PRS, regional da Lunda) conseguiu eleger um
deputado. O MPLA pôde, portanto, neste momento governar com uma esmagadora
maioria [nota 17]

Bandeira do MPLA, o partido dominante na política do país

De acordo com a nova Constituição, aprovada em Janeiro de 2010,[73] passam a não se


realizar eleições presidenciais, sendo o Presidente e o Vice-presidente os cabeças-de-lista
do partido que tiver a maioria nas eleições legislativas.[74][75] A nova constituição tem sido
criticada por não consolidar a democracia e usar os símbolos do MPLA como símbolos
nacionais.[76][77] [nota 18]
O regime angolano realizou as primeiras Eleições Gerais a 31 de agosto de 2012, um
modelo constitucional novo, que surge na sequência da junção das eleições legislativas
com as presidenciais,[79] respeitando pela primeira vez o prazo constitucional de 4 anos
entre eleições. Para além dos 5 partidos com assento na Assembleia Nacional - MPLA,
UNITA, PRS (Partido da Renovação Social), FNLA, ND (Nova Democracia) - existiam mais
67 partidos em princípio habilitados para concorrer.[80] José Eduardo dos Santos anunciou
em dado momento a sua intenção de não ser novamente candidato, mas acabou por
encabeçar a lista do seu partido. Como o MPLA ganhou novamente as eleições, com
cerca de 71% (175 deputados), ele foi automaticamente eleito Presidente, em
conformidade com as regras constitucionais em vigor. A UNITA aumentou a sua cota para
cerca de 18% (32 deputados), e a Convergência Ampla para a Salvação de Angola
(CASA), recentemente fundada por Abel Epalanga Chivukuvuku, obteve 6% (8 deputados).
Para além destes três partidos, conseguiram ainda entrar no parlamento, com votações
ligeiramente inferiores a 2%, o Partido da Renovação Social (PRS, 3 deputados) e a FNLA
(2 deputados).[81] São muito significativas as disparidades entre regiões, especialmente
quanto aos resultados dos partidos da oposição: nas províncias de Cabinda e de Luanda,
a oposição obteve p.ex. cerca de 40% dos votos, e a parte da UNITA foi de cerca de 30%
no Huambo e em Luanda, e de 36% no Bié.[82] A taxa de abstenção foi a mais alta
verificada desde o início das eleições multipartidárias: 37,2%, contra 12,5% em 2008.

Relações internacionais

José Eduardo dos Santos durante encontro com Vladimir Putin em 2006

A 16 de Outubro de 2014, Angola foi eleita pela segunda vez membro não permanente
do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com 190 votos favoráveis de um total de
193. O mandato teve início a 1 de Janeiro de 2015 e uma duração de dois anos.[83]
Desde Janeiro de 2014, a República de Angola ocupa a presidência da Conferência
Internacional para a Região dos Grandes Lagos (CIRGL).[84] Em 2015, o secretário
executivo da CIRGL, Ntumba Luaba, afirmou que Angola é o exemplo a ser seguido pelos
membros da organização, devido aos avanços significativos registados ao longo dos 12
anos de paz, nomeadamente ao nível da estabilidade sócio-económica e político-militar.[85]

Direitos humanos
José Eduardo dos Santos, foi presidente de Angola de 1979 a 2017

Entretanto, a guerra civil de 27 anos causou grandes danos às instituições políticas e


sociais do país. As Nações Unidas estimam em 1,8 milhão o número de pessoas
internamente deslocadas, enquanto que o número mais aceite entre as pessoas afectadas
pela guerra atinge os 4 milhões. As condições de vida quotidiana em todo o país e
especialmente em Luanda (que tem uma população de cerca de 4 milhões, embora
algumas estimativas não oficiais apontem para um número muito superior) espelham o
colapso das infraestruturas administrativas, bem como de muitas instituições sociais. A
grave situação económica do país inviabiliza um apoio governamental efectivo a muitas
instituições sociais. Existem hospitais sem medicamentos ou equipamentos básicos, há
escolas que não têm livros e é frequente que os funcionários públicos não tenham à
disposição aquilo de que necessitam para o seu trabalho. Além disso, o país foi
classificado como "não livre" pela Freedom House no seu relatório Freedom in the
World de 2013, onde a organização também observa que as eleições parlamentares de
agosto 2012, em que o Movimento Popular de Libertação de Angola ganhou mais de 70%
dos votos, teve graves falhas, como listas de eleitores desatualizadas e imprecisas.[86]
O país também é classificado como um "regime autoritário" e como uma das nações
menos democráticas do mundo, ao ficar na 133.ª posição entre os 167 países analisados
pelo Índice de Democracia de 2011, calculado pela Economist Intelligence Unit.[87] Angola
também ficou numa má posição no Índice Ibrahim de Governança Africana de 2013,
quando foi classificada na 39.ª posição entre os 52 países da África Subsaariana, com
uma avaliação particularmente má em áreas como "Participação e Direitos Humanos",
"Oportunidade Económica Sustentável" e "Desenvolvimento Humano". O Índice Ibrahim
utiliza uma série de variáveis diferentes para compilar a sua classificação, que reflete o
estado dos governos na África.[88] Angola também é considerada um dos mais corruptos do
mundo pela Transparência Internacional.[10][13]
No entanto, também teve alguns avanços. Aparentemente inspirada pelas revoltas
populares em diferentes países árabes, correram entre Fevereiro e Março de 2011
iniciativas para organizar pela Internet, em Luanda, demonstrações de protesto contra o
regime.[89][nota 19] Uma nova manifestação, visando em particular a pessoa do Presidente, teve
lugar em inícios de Setembro de 2011.[90] Em 2019, a homossexualidade foi
descriminalizada e o governo também proibiu a discriminação com base na orientação
sexual. A votação foi esmagadora: 155 a favor, 1 contra, 7 abstenções.[91]

Subdivisões
Ver artigo principal: Subdivisões de Angola
Angola tem a sua divisão administrativa composta por 18 províncias (listadas abaixo). A
divisão administrativa do território mais pequena é o bairro na cidade, enquanto que nos
meios rurais é a povoação.

1. Cabinda
2. Zaire
3. Uíge
4. Luanda
5. Bengo
6. Cuanza Norte
7. Malanje
8. Lunda Norte
9. Cuanza Sul
10. Lunda Sul
11. Benguela
12. Huambo
13. Bié
14. Moxico
15. Namibe
16. Huíla
17. Cunene
18. Cuando Cubango
As províncias estão divididas em municípios, que por sua vez se subdividem em comunas.

 Municípios de Angola por província


 Municípios de Angola por ordem alfabética

Economia
Ver artigo principal: Economia de Angola
Sede da Sonangol, a empresa estatal angolana do ramo petrolífero. Angola é o segundo maior
produtor de petróleo da África subsaariana, atrás apenas da Nigéria.[92]

A economia de Angola caracterizava-se, até à década de 1970, por ser


predominantemente agrícola, sendo o café a sua principal cultura. Seguiam-se-lhe cana-
de-açúcar, sisal, milho, óleo de coco e amendoim. Entre as culturas comerciais,
destacavam-se o algodão, o tabaco e a borracha. A produção
de batata, arroz, cacau e banana era relativamente importante. Os maiores rebanhos eram
de gado bovino, caprino e suíno.
Angola é rica em minerais, especialmente diamantes, petróleo e minério de ferro; possui
também jazidas de cobre, manganês, fosfatos, sal,
mica, chumbo, estanho, ouro, prata e platina. As minas de diamante estão localizadas
perto de Dundo, no distrito de Luanda. Importantes jazidas de petróleo foram descobertas
em 1966, ao largo de Cabinda, e mais tarde ao largo da costa até Luanda, tornando
Angola num dos importantes países produtores de petróleo, com um desenvolvimento
económico possibilitado e dominado por esta actividade. Em 1975 foram localizados
depósitos de urânio perto da fronteira com a Namíbia.
As principais indústrias do território são as de beneficiamento de oleaginosas, cereais,
carnes, algodão e tabaco. Merece destaque, também, a produção
de açúcar, cerveja, cimento e madeira, além do refino de petróleo. Entre as indústrias
destacam-se as de pneus, fertilizantes, celulose, vidro e aço. O parque fabril é alimentado
por cinco usinas hidroeléctricas, que dispõem de um potencial energético superior ao
consumo.
O sistema ferroviário de Angola compõe-se de cinco linhas que ligam o litoral ao interior. A
mais importante delas é a estrada de ferro de Benguela, que faz a conexão com as linhas
de Catanga, na fronteira com o Zaire. A rede rodoviária, na sua maioria constituída de
estradas de segunda classe, liga as principais cidades. Os portos mais movimentados são
os de Luanda, Lobito, Soyo, Namibe e Cabinda. O aeroporto de Luanda é o centro de
linhas aéreas que põem o país em contacto com outras cidades africanas, europeias e
americanas.
Banco Nacional de Angola

Principais produtos de exportação de Angola em 2019 (em inglês)

Vista aérea dos condomínios residenciais de Quilamba

Contentores no porto de Luanda

Um problema estrutural sério da economia angolana é a desigualdade muito marcada


entre as diferentes regiões, em parte causadas pela guerra civil prolongada. O dado mais
eloquente é a concentração de cerca de um terço da actividade económica em Luanda e
na província contígua do Bengo, enquanto em várias áreas do interior se verificam até
processos de regressão.[93]
Uma característica cada vez mais saliente da economia angolana é a de uma parte
substancial dos investimentos privados, tornados possíveis graças a uma acumulação
exorbitante na mão de uma pequena franja da sociedade (ver em baixo), é canalizada para
fora do país. Por agora, Portugal é o alvo preferencial destes investimentos, que se verifica
na banca, energia, telecomunicações e comunicação social, mas também na vinicultura e
fruticultura, em imóveis, bem como em empreendimentos turísticos.[94]
Angola tem feito diversos investimentos e apostas na formação de novos empreendedores
e na criação de novos negócios e subsequentes empregos,[95] bem como na formulação de
parcerias com outros países, liderando a Conferência Empresarial dos PALOPs,
[96]
 mantendo sempre uma relação mutuamente benéfica com Portugal — cujas
exportações de Angola para este totalizaram 1,127 mil milhões de euros, nos primeiros
quatro meses de 2013.[97] Os investimentos em Angola estão também em ascensão por
parte de países fora da área da lusofonia: segundo a ANIP (Associação Nacional de
Investimento Privado) o investimento em Angola tem sido crescente e muito acentuado.[98]
Os benefícios do crescimento económico de Angola chegam de maneira bastante desigual
à população. É visível o rápido enriquecimento de um segmento social ligado aos
detentores do poder político, administrativo e militar.[nota 20] Um leque de "classes médias"
encontra-se em formação nas cidades onde se concentram mais de 50% da população.
No país, grande parte da população vive em condições de pobreza relativa, com grandes
diferenças entre as cidades e o campo: um inquérito realizado em 2008 pelo Instituto
Nacional de Estatística indica que 37% da população angolana vive abaixo da linha de
pobreza, especialmente no meio rural (o índice de pobreza é de 58,3%, enquanto o do
meio urbano é de 19%).[99][nota 21] Nas cidades grande parte das famílias, além dos
classificados como pobres, está remetida para estratégias de sobrevivência.[100] Nas áreas
urbanas, também as desigualdades sociais são mais evidentes, especialmente em
Luanda.[101]
O advento da paz militar, em 2002, permitiu um balanço diferenciado dos problemas
económicos e sociais extremamente complexos que se colocavam ao país, mas também
do leque de possibilidades que se abriam.[102] Os indicadores disponíveis até à data indicam
que a lógica da economia política, seguida desde os anos 1980 e de maneira mais
manifesta na década dos anos 2000, levou a um crescimento económico notável, em
termos globais, mas, ao mesmo tempo, manteve e acentuou distorções graves, em termos
sociais e também económicos.
Convém referir que, nas listas do Índice de Desenvolvimento Humano elaboradas pela
ONU, Angola ocupa sempre um lugar entre os países mais mal colocados.[6][103][104]
Em Junho de 2014, o Brasil anunciou que apoia a candidatura de Angola a membro não
permanente do Conselho de Segurança da ONU. De acordo com a presidente do
Brasil, Dilma Rousseff, "Angola poderá oferecer um olhar atento e alternativas equilibradas
aos actuais desafios da paz e segurança internacionais".[105][106]

Boeing 737-700 operado pela empresa TAAG Linhas Aéreas de Angola

Central Hidroelétrica de Capanda, na bacia do rio Cuanza, no município de Cacuso

Com um stock de activos correspondentes a 70 mil milhões US$, (6,8 biliões Kz), Angola é
hoje o terceiro maior mercado financeiro da África subsaariana, superada apenas
pela Nigéria e África do Sul. De acordo com o Ministro da Economia angolano, Abraão
Gourgel, o mercado financeiro do país cresceu modestamente a partir de 2002 e hoje
situa-se em terceiro lugar a nível da África Subsaariana.[107]
Em 2013 Angola foi o país africano que mais investimentos realizou no estrangeiro,
especialmente em Portugal, revelou um relatório da Conferência das Nações Unidas para
o Comércio e Desenvolvimento. O facto de Angola se ter assumido como emissor de
investimento directo estrangeiro é particularmente surpreendente, tendo em conta o
grande volume de investimentos que o país recebeu nos últimos anos, principalmente ao
nível da exploração petrolífera e do gás natural, bem como de infra-estruturas rodoviárias
e ferroviárias.[108]
Globalmente os países da África Subsaariana têm vindo a conseguir melhorias
significativas ao nível do bem-estar das populações, de acordo com um relatório da Tony
Blair Africa Governance Initiative em conjunto com o The Boston Consulting Group.
[109]
 Angola tem investido em melhorar infra-estruturas em estado crítico, num investimento
possível graças aos fundos de desenvolvimento provenientes do petróleo. Segundo o
mesmo relatório, apenas 10 anos depois da Guerra Civil, os padrões de vida em Angola
melhoraram surpreendentemente. A esperança média de vida aumentou de 46 anos em
2002 para 51 em 2011. As taxas de mortalidade infantis diminuíram de 25 por cento em
2001 para 19 por cento em 2010 e o número de alunos em escolas primárias triplicou
desde 2001.[110] No entanto, as desigualdades económicas e sociais que têm vindo a ser
uma característica do país não diminuíram, mas em muitos aspectos até acentuarem-se.
O FMI prevê que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) real venha a atingir em
2014 os 3,9 por cento. O Fundo afasta assim a possibilidade de a curto prazo conceder
novos empréstimos à economia angolana, pelo facto de essa reflectir “melhorias
significativas” no ambiente macroeconómico e na gestão e transparência das contas
nacionais.[111] Em Agosto de 2014, a agência de notação financeira Moody's divulgou uma
nota aos mercados na qual previa um crescimento da economia de Angola de 7,8% em
2014.[112] No dia 19 de dezembro de 2014 foi lançada a operadora de mercado de capitais
angolanos, a Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA).[113] A operadora recebeu
inicialmente o mercado secundário de dívida pública, com o arranque do mercado de
dívida corporativa em 2018[114] e o mercado acionista em 2022.[115]

Infraestrutura
Saúde
Ver artigo principal: Saúde em Angola

Hospital Josina Machel, em Luanda

Uma pesquisa em 2007 concluiu que ter uma quantidade pequena ou deficiente
de Niacina era comum em Angola. Angola está localizada na zona endémicas de febre-
amarela. A partir de 2004, a relação dos médicos por população foi estimada em 7,7 por
100 mil pessoas. Em 2005, a expectativa de vida foi estimada em apenas 38,43 anos, uma
das mais baixas do mundo.
Hospital Nossa Senhora da Paz, no Cubal

A mortalidade infantil em 2005 foi estimada em 187,49 por 1 000 nascidos vivos, as mais
altas do mundo. A incidência de tube

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