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Ouriço-terrestre

Descrição
Os ouriços-cacheiros são facilmente reconhecíveis pelos seus espinhos, que
revestem todo o corpo exceto o focinho e ventre. O ouriço-cacheiro tem cerca
de seis mil espinhos aguçados de 2 a 3 centímetros, que cobrem o dorso e os
flancos do seu corpo. Os espinhos são pêlos modificados cuja mobilidade é
controlada pelos músculos. Os espinhos são eriçados, de cor castanha
matizada com tons mais ou menos escuros, porém o pêlo da barriga é creme
ou esbranquiçado.
Quando se sente ameaçado, o ouriço-cacheiro enrola-se sobre si próprio,
ocultando as partes expostas do seu corpo, como o ventre, os membros e a
cabeça, transformando-se numa “bola com picos”, bastante difícil de penetrar.
A cabeça distingue-se facilmente do resto do corpo, os olhos são grandes, as
orelhas são relativamente pequenas e pontiagudas e possui uma cauda
rudimentar.[6]

esqueleto em relação ao corpo

Não existe dimorfismo sexual, isto é, não existem características evidentes que
diferenciem machos e fêmeas. No entanto, a principal diferença é que os
machos possuem testículos intra-abdominais e o pénis bastante desenvolvido,
enquanto a fêmea possui uma vagina perto do ânus e têm cinco pares de
mamilos ou têtas: um par na zona peitoral, dois pares na zona abdominal e
dois pares na zona inguinal.[7] O comprimento do corpo varia entre 20 e 35
centímetros e a cauda entre 10 e 20 centímetros. Os animais adultos pesam
em média 700 gramas, podendo este valor variar entre 400 e 1200 gramas. Um
animal que não possua, pelo menos, entre 500 e as 600 gramas terá
dificuldade em sobreviver ao período de hibernação.[8] Geneticamente são
seres diplóides (2n) com 48 cromossomas.[8] A longevidade média é de 3 anos
mas podem viver até os 10 anos.

Distribuição geográfica
Wikimedia | © OpenStreetMap

Mapa do Atlas de Mamíferos de Portugal, 2ª edição (2019)

O ouriço-cacheiro distribui-se por quase toda a Europa Ocidental e central,


[9]

incluindo as ilhas Britânicas, áreas costeiras e meridionais da Escandinávia,


estendendo-se aos Países Bálticos como a Finlândia, Estónia e partes
ocidentais da Carélia, na Rússia. A sua fronteira leste atinge a porção ocidental
da Polónia, Áustria, República Checa e Eslovénia. Pode ser encontrada em
quase toda a Península Ibérica. No Mediterrâneo, apenas ocorre nas ilhas
da Córsega (França), Sardenha e Sicília (Itália).[5]
Não ocorre nas ilhas Baleares, Canárias, Chipre, Madeira, Malta, Balcãs ou
Grécia.[6] Foi introduzido artificialmente nalgumas ilhas dos Açores,
nomeadamente em São Miguel, Santa Maria, Terceira, São Jorge, Pico e Faial.

Ecologia e comportamento
Na Península Ibérica possui uma vasta gama de meios naturais, desde zonas
abertas a áreas mais arborizadas, esta última é a mais procurada pelos
ouriços-cacheiros pois oferece abrigo e protecção. Na área do Mediterrâneo
preferem áreas mais húmidas, como florestas. Habitam também zonas semi-
urbanas, como jardins.
O ouriço-cacheiro é um animal activo, principalmente ao crepúsculo e durante a
noite. O ouriço-cacheiro é insectívoro, isto é, o seu regime alimentar passa
sobretudo por pequenos insectos. No entanto, também come frutos silvestres,
sementes, minhocas, caracóis, ovos de aves (de ninhos que são construídos
no solo) ou ainda pequenas rãs e répteis que encontre pelo seu caminho.
Apesar das pequenas pernas, o ouriço-cacheiro pode percorrer um a três
quilómetros numa noite à procura de alimentação.[10]
Ouriços-cacheiros também consomem frutos

Como se alimenta em poucas porções e tem uma taxa metabólica muito alta,
os ouriços-cacheiros procuram alimento também durante o dia, em especial as
fêmeas durante o período de amamentação e os jovens, pois têm maiores
necessidades energéticas.[10]
Os ouriços-cacheiros são animais solitários, não sendo contudo animais
territoriais. A sua área territorial varia entre 20 a 30 hectares para os machos e
cerca de 10 hectares para as fêmeas.[6]
Não são animais agressivos, mas há registo de lutas principalmente entre os
machos, para estabelecer domínio entre eles. São mamíferos noctívagos e
hibernam, usando uma toca que cavam no solo. A hibernação do ouriço ocorre
de Novembro a Março normalmente, havendo uma alta taxa de mortalidade
nos ouriços durante a primeira hibernação.[6]
Os ouriços-cacheiros constroem tocas para hibernar e terem as crias. Durante
os meses mais quentes do ano, refugiam-se em locais com vegetação densa,
mudando muitas vezes de abrigo. Em Portugal, a hibernação acontece nos
ouriços-cacheiros que habitam regiões de elevadas altitudes, como a Serra da
Estrela e planaltos do distrito de Bragança, onde o frio é muito acentuado.[11]

Reprodução
Por terem o corpo coberto de espinhos, é difícil pensar como os ouriços-
cacheiros se reproduzem. Porém os espinhos são manobráveis e, na época de
reprodução, quando o macho faz uma “dança” à volta da fêmea, esta baixa os
espinhos de forma a que os espinhos fiquem deitados sobre o seu corpo,
permitindo o acasalamento.[10]

Ouriço-cacheiro bebé

Em Portugal, os ouriços podem acasalar entre Janeiro/Fevereiro e Agosto/


Setembro, sendo que na maior parte das vezes, acasalam apenas uma vez por
ano. A fêmea constrói um ninho com penas e palhas onde criará sozinha, a sua
ninhada.
O período de gestação tem a duração de 35 dias, nascendo 2 a 6 crias. As
crias nascem cegas, de cor branca e com peso relativo de 10 a 25 g. As crias
não nascem com os picos aguçados e o seu corpo está envolto numa camada
gelatinosa espessa. Deste modo, ao nascer, as crias não ferem a mãe. Mas no
interior dos espinhos há um líquido que horas após o nascimento, secará
levando a que estes rapidamente fiquem eriçados e fortes. A abertura dos
olhos ocorre após duas semanas e as crias começam a sair do ninho na
terceira semana. A amamentação dura cerca de um mês. Após esse período, a
cria alimenta-se sem qualquer auxílio dos progenitores.[12]
Até ao primeiro ano de vida, a mortalidade é bastante elevada (até 70%).
Passado esse ano, os ouriços conseguem viver até cinco anos. A maturidade
sexual é atingida ao primeiro ano de vida. As crias, desde a nascença enrolam-
se sobre si mesmas, pois são deixadas sozinhas no ninho pela progenitora que
necessita de se alimentar. Embora as crias sejam mais vulneráveis, pois os
seus espinhos são menos duros, os predadores não são a principal ameaça
dos ouriços.[13]

Fatores de ameaça
Por serem animais relativamente lentos, são um dos vertebrados mais
susceptíveis de ser atropelados.[14] Em Portugal não são uma espécie de risco.
Noutras regiões, por exemplo, na província de Leão (Espanha) são atropelados
em média de 1,7 indivíduos por quilómetro.[14] No que diz respeito a relações
bióticas, existem registos de o ouriço-cacheiro ser predado pelo Bufo-
real [15](Bubo bubo), raposas (Vulpes vulpes), texugos (Meles meles) e mesmo
cães (Canis familiaris).

Parasitas
São animais que apresentam diversas patologias, sendo parasitados por
trematódes, nematodes, sifonápteros e acarinos, entre os quais alguns
parasitas exclusivos, como o trematóde Brachylaemus erinacei e a
pulga Archaeopsylla erinacei.[16]

Fatores de conservação

O ouriço-cacheiro está classificado como espécie com estatuto de conservação


pouco preocupante (LC), segundo a Lista Vermelha da IUCN[5].
Apesar de a sua principal ameaça ser os atropelamentos, não estão sujeitos a
nenhuma tendência regressiva e são relativamente abundantes [17] na sua área
de distribuição. O ouriço-cacheiro é uma das espécies que está listada no
Anexo III da Convenção de Berna. Ocorre em várias áreas protegidas dentro
da sua área geográfica.

Importância cultural e económica


A Lebre e o Ouriço-cacheiro (ilustração de Otto Ubbelohde), lenda dos Irmãos Grimm

Tradicionalmente, não tem particular interesse económico especial pelo seu


uso. Em certas regiões Europeias são animais por vezes perseguidos pelo
homem, pois alimentam-se de ovos de aves cinegéticas que têm ninho no
solo.[12]
No País Basco e em Portugal no passado era uma espécie capturada com fins
gastronómicos. O ouriço-cacheiro era considerado um petisco no sul de
Portugal, tendo o prato nome de «leitão da serra». Actualmente, não é
permitida a captura destes animais selvagens.[7] Regra geral, hoje têm a estima
humana pela sua morfologia única e natureza inofensiva. São parte do
imaginário infantil, com personagens comuns em literatura (contos) e
programas infantis em muitos Países.[18][19][20]

Informações taxonómicas
Estudos genéticos recentes apoiam a distinção duma nova subespécie E.
europaeus hispanicus, endémica à Península Ibérica, mas serão necessários
estudos adicionais a fim de confirmar esta possibilidade.[6]

Referências
1. ↑ «Dicionário Priberam»
2. ↑ «Dicionário Aulete»
3. ↑ «Dicionário Estraviz»
4. ↑ «Dicionário Priberam»
5. ↑ Ir para:a b c Amori, G., Hutterer, R., Kryštufek, B., Yigit, N., Mitsain, G. & Palomo, L.J.
2008. Erinaceus europaeus. In: IUCN 2013. IUCN Red List of Threatened Species.
Version 2013.2. <www.iucnredlist.org>.
6. ↑ Ir para:a b c d e Palomo, L. J., Gisbert , J. y Blanco, J. C. (2007). Atlas de los
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7. ↑ Ir para:a b Mitchell-Jones, A., & Amori, G. (1999). The atlas of European mammals.
Wageningen UR, Library (Netherlands) WURL, 1, 12. Retrieved
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search/search/display.do?f=2012/NL/NL201233744074.xml;NL2012033807
8. ↑ Ir para:a b alomo, L. J., Gisbert , J. y Blanco, J. C. (2007). Atlas de los mamíferos
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9. ↑ Joana Bencatel, Helena Sabino-Marques, Francisco Álvares, André E. Moura &
A. Márcia Barbosa (eds.). Atlas de Mamíferos de Portugal – uma recolha do
conhecimento disponível sobre a distribuição dos mamíferos no nosso país. [S.l.:
s.n.] ISBN 978-989-8550-80-4. Consultado em 4 de junho de 2020
10. ↑ Ir para:a b c Sharp, L. (1985). British Hedgehog Preservation Society. Environmental
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12. ↑ Ir para:a b Bunnell, T. (2002). The assessment of British hedgehog (Erinaceus
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13. ↑ Blanco, J. (1998). Mamíferos de España II. Cetáceos, Artiodáctilos, Roedores y.
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14. ↑ Ir para:a b Huijser, M., & Bergers, P. (2000). The effect of roads and traffic on
hedgehog ( Erinaceus europaeus) populations. Biological Conservation. Retrieved
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15. ↑ http://www.avesdeportugal.info/bubbub.html
16. ↑ Morris, P., & English, M. (1969). Trichophyton mentagrophytes var. erinacei in
British hedgehogs. Medical Mycology. Retrieved
from http://informahealthcare.com/doi/abs/10.1080/00362177085190221
17. ↑ https://www.iucnredlist.org/species/29650/2791303
18. ↑ https://books.google.co.uk/books?id=BZU6DwAAQBAJ&pg=PA28&lpg=PA28&dq
=o+carinho+pelos+ouricos+cacheiros&source=bl&ots=-
qRBq0Tvd0&sig=ACfU3U3qWrW-
_HD97fN2Lkrc0IFRIt01ng&hl=en&sa=X&ved=2ahUKEwiwgpyB39LoAhXAXhUIHd
wtCgoQ6AEwEnoECBYQLA#v=onepage&q=o%20carinho%20pelos%20ouricos%
20cacheiros&f=false
19. ↑ https://www.fnac.pt/Noronha-o-Ourico-com-Vergonha-Sofia-Isabel-
Vieira/a6577701
20. ↑ https://rujokinggrandad.co.uk/4-childrens-books-with-hedgehogs-as-main-
character

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• Espécies pouco preocupantes
• Erinaceidae
• Mamíferos descritos em 1758
• Esta página foi editada pela última vez às 21h25min de 24 de outubro de 2021.
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