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Uíge (por vezes erroneamente grafada como Uíje) é uma das 18 províncias de Angola,
localizada na região norte do país. Sua capital está na cidade e município de Uíge.
Uíge
Localidade de Angola
(Província)
Dados gerais
Fundada em 31 de maio de 1887 (134 anos)
Gentílico uigino[1]
Província Uíge
Características geográficas
Área 58 698 km²
Densidade 23 hab./km²
Altitude 883 m
Clima Aw/As
Dados adicionais
Prefixo telefónico +244
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É constituída por 16 municípios: Uíge, Alto Cauale, Ambuíla, Bembe, Buengas, Bungo,
Milunga, Damba, Maquela do Zombo, Mucaba, Negage, Puri, Quimbele, Quitexe, Sanza
Pombo e Songo.
Etimologia
O nome da província deriva da localidade do Uíge, onde foi fundado um posto militar pelos
portugueses em 1917, que viria a ser a sede da circunscrição do Bembe a partir de 1923 e
posteriormente sede do concelho do mesmo nome.[4]
Há várias explicações para o nome Uíge, que comporta também as grafias Uíje (arcaica) e
Wizi (quicongo), onde a principal vertente diz vir de uma expressão da língua quicongo
"wizidi", que significa "chegada", em alusão aos primeiros portugueses que se fixaram na
região. Outra vertente correlaciona o nome ao rio Uíge.[4]
História
Durante a Idade Média, a província do Uíge foi uma das áreas vitais do reino do Congo, uma
entidade nacional dos povos congos localizada a norte e a sul do rio Congo, e também, em
determinados períodos, pelos ambundos, localizado mais para o sul. Os monarcas do Reino
do Congo viviam na cidade de Mabanza Congo, governando com grande autoridade, por
vários séculos, toda a região. O seu reinado foi reforçado pela chegada de padres
portugueses que viviam na corte do rei e ensinavam religião, bem como promoviam a
alfabetização. A interacção com o domínio português sobre Luanda foi durante um longo
período de tempo bastante marginal. A mudança ocorreu quando, no início do século XIX, os
portugueses iniciaram a conquista e ocupação do território que actualmente constitui
Angola. No início do século XX, o Reino do Congo ainda existia "no papel", assim como o
tribunal de Mabanza Congo, mas tinha perdido qualquer poder efectivo.[6]
Uma máscara Hemba, no Museu do Brooklyn (2012), cultura pré-colonial dos povos basucos, que desenvolveu-se na
província do Uíge.
Os contactos com os portugueses permitiram aos congos a abertura ao Atlântico e com isso
desenvolveu-se o tráfico de escravos. Porém, as boas relações com Portugal foram muitas
vezes dificultadas por tensões resultantes do tráfico de escravos. Por sua vez, as influências
de missionários católicos manteve-se até ao século XVII, mas a sua actividade conheceu um
grande declínio até à segunda metade do século XIX, e, quando foi reactivada, passou a ter
concorrência dos protestantes da Igreja Baptista, que passaram a ter grande influência na
formação de elites letradas e líderes comunitários.
Após a Conferência de Berlim Portugal apressou-se para criar o "distrito do Congo", em ato
no dia 31 de maio de 1887, cuja primeira capital foi a cidade de Cabinda.[10] Anteriormente
os lusitanos já haviam buscado firmar o protetorado do Congo Português,[11][12] criando o
distrito como entidade administrativa.[5]
Em 1914 o governador colonial José Norton de Matos decide por dar início a reestruturação
da vila de Maquela do Zombo para fazê-la capital do distrito do Congo, no intuito de rivalizar
com Quinxassa e Brazavile. Maquela do Zombo torna-se capital em 1917, porém a saída de
Norton de Matos da função de governador colonial fez o projeto de construção de
infraestruturas naquela localidade declinar, mantendo-se precariamente como capital do
distrito do Congo até 1946.[13]
No local onde hoje se encontra a cidade do Uíge, foi criado, pela portaria nº 60, de 6 de abril
de 1917, um posto militar. Em 1923, o posto passou a sede da circunscrição e, mais tarde, ao
de conselho do Bembe. A importância crescente da cultura do café e a subida do seu preço
no mercado internacional, provocaram alterações radicais na economia do distrito do Congo,
como por exemplo a estruturação da via de escoamento Estrada Uíge-Luanda (atual EN-
120).[6]
Em 1919 ocorre a primeira perda territorial do distrito do Congo, com a criação do distrito de
Cabinda, no extremo-norte, e; 1922 o distrito do Congo divide-se em dois para dar origem ao
distrito do Zaire. Esse quadro permanece até 1930, quando o Congo passa a tutelar a
"Intendência-Geral de Zaire e Cabinda".[10][5]
A cultura do café passou então a marcar a história de quase toda a região. Porém, factos
como a usurpação de terras férteis, o trabalho forçado nas plantações dos colonos, o
pagamento de impostos injustos, a obrigatoriedade da cultura do café e prejuízo a
alimentares, contribuíram para a revolta popular em 1961 que abrangeu praticamente todo o
noroeste de Angola. A revolta foi violenta e os portugueses responderam com uma violência
que atingiu inocentes.[6]
Rodovia EN-120, a antiga Estrada do Café, que liga a província do Uíge às províncias do Bengo e Luanda.
A revolta provocou importantes mudanças na política colonial portuguesa. Uma delas foi a
reforma legislativa que abrangeu a concessão de terras, o trabalho forçado, a organização
administrativa, o poder tradicional, os impostos e os mercados rurais. A contraofensiva
portuguesa, aliada a intensa propaganda psicológica, provocou o regresso de grande parte
da população que se havia refugiado nas matas ao convívio com os portugueses. Foram
criadas as aldeias da paz em pontos estratégicos e teve início um novo tipo de
relacionamento com os cafeicultores nativos, que representou um importante incentivo à
produção de café e contribuía para atenuar a ação dos nacionalistas. A estratégia deu
alguns resultados, pois ainda hoje muitas populações valorizam a melhoria da sua condição
económica e social na altura.[6]
Por ser zona onde havia muitos fazendeiros brancos e trabalhadores bailundos ao seu
serviço, foi um dos locais escolhidos pela União das Populações de Angola (UPA;
posteriormente tornou-se FNLA) para começar os massacres em março de 1961 no
município de Quitexe.
Mesmo com a guerra em curso, a região do Uíge chegou a produzir 74 mil toneladas de café
comercial nos primeiros anos da década de 1970 quando a produção nacional havia atingido
o máximo de 180 mil toneladas.[15][16]
Uíge foi a província mais castigada durante a Guerra Civil Angolana (1975-2002), que durou
26 anos. Suas casas foram destruídas e suas infraestruturas foram seriamente abaladas,
fazendo, do Uíge, uma das províncias mais pobres de Angola.
Se não bastasse a própria guerra civil, o território provincial uigino chegou a sofrer as
consequências da Segunda Guerra do Congo, no episódio que ficou conhecido como a
Operação Kitona, onde tropas estrangeiras a invadiram.[17]
Pós-guerra
Geografia
A província faz fronteira a oeste com a província do Zaire, a norte e a leste com a República
Democrática do Congo, a sudeste com a província de Malanje, e a sul com as províncias do
Cuanza Norte e do Bengo.[18]
Clima
Hidrografia
Os seus rios principais são: Cuango, Zadi, Dange, Lúria, Lucala e Luvulu. A principal bacia de
irrigação é a do rio Congo.[20]
Patrimônio natural
Relevo e geomorfologia
A província do Uíge é uma região bastante acidentada, constituída por 3 grandes zonas:[22]
Planáltica: constituída maioritariamente pela bacia dos sub-afluentes do rio Zaire. Esta
zona é ondulada, mas, com ravinas fundas, principalmente nos rios de maior caudal.[5]
Montanhosa: abrange o interior da província, sobretudo dos rios Loge e Dange, assim
como as bacias dos afluentes.[5]
Subdivisões
Administrativamente, a província está dividida em 31 comunas,[26][27], que inserem-se em 16
municípios, a saber: Uíge, Uíge, Alto Cauale, Ambuíla, Bembe, Buengas, Bungo, Milunga,
Damba, Maquela do Zombo, Mucaba, Negage, Puri, Quimbele, Quitexe, Sanza Pombo e
Songo.[5]
Economia
Agropecuária e extrativismo
Também está incluída a criação de gado bovino, suíno e caprino, exercida em todo o
território, tanto para corte quanto para leite, havendo também relevante número de
galináceas para carne e ovos. A actividade piscatória, majoritariamente extrativista, é
desenvolvida nas diversas lagoas e rios.[6]
Somente na atividade cafeeira[3] estão registados cerca de 10 mil agricultores familiares, nos
municípios de Negage, Dange, Songo, Damba, Mucaba, Pombo e Uíge. O café tinha, em 2011,
uma área de 177.000 hectares em para sua destinação, dos quais se estima estarem
plantados com café apenas 29.800 hectares.[6]
Indústria e mineração
No setor mineral, a província têm um subsolo muito rico, mas pouco explorado, com
destaque para mineração industrial de cobre, cobalto, calcário, dolomite, enxofre, talco e
zinco.[30]
Comércio e serviços
O comércio formal é exercido por micro e pequenas empresas e por operadores informais,
existindo armazéns, minimercados, lojas, cantinas, lanchonetes, boutiques, tabacarias,
farmácias, casas de fotografia, agências de telefonia móvel, mercados oficiais, etc..
Normalmente o comércio formal predomina no centro das cidades do Uíge, Maquela do
Zombo, Quibele e Negage, enquanto que os outros municípios geralmente são receptores de
mercadorias advindas desses quatro.[6]
A atividade informal que lidera a massa financeira do comércio provincial uigino, onde vê-se
principalmente a venda ambulante, nas ruas, de porta em porta e nos mercados
municipais.[6]
A prática do escambo da produção de café por óleo, sabão, sal, utensílios domésticos,
mandioca, feijão e amendoim ainda subsiste. O escambo pode ser feito nos mercados ou
diretamente com o produtor.[6]
Em matéria de serviços, é na capital que assenta-se a maioria deles, havendo grande oferta
em áreas administrativas e financeiras, ocorrendo também serviços de entretenimento,
saúde e educação.[30]
Cultura e lazer
A província do Uíge tem um acervo histórico-cultural rico, assentado nas construções pré e
pós coloniais, de onde destacam-se o Fortim de Maquela, o Forte de São José do Encoje, a
Fortaleza do Bembe, o Palácio da Administração do Concelho, a Igreja de São José, as
figuras rupestres de Quisadi e da Cabala e a Pedra do Tunda.[31]
Já nos pontos de interesse natural, a província do Uíge têm como destaque as quedas do
Bombo, do Massau e de Camulungo, as lagoas do Feitiço, Luzamba, Mavoio e Sacapete,
além do Vale do Loge e dos Morros do Alto Caual.[18]
Referências
1. Uíge (https://medicareclub.ao/index.php?route=club/guide/province&province_id=23) .
Medicare Club Angola. 2018.
2. Schmitt, Aurelio. Município de Angola: Censo 2014 e Estimativa de 2018. Revista Conexão
Emancipacionista. 3 de fevereiro de 2018.
4. Tomás, Jaques Mpova Nzuze. Harmonização gráfica da toponímia da província do Uíje (htt
ps://run.unl.pt/handle/10362/16167) . Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 2015.
10. Pinto, Carlos Rodolfo. Pobreza no meio rural em Angola : contribuição para a sua
caracterização no município do Negage. Luanda: CEIC, Centro de Estudos e Investigação
Científica, Universidade Católica de Angola, Julho de 2011.
11. Cabinda (http://www.angolaconsulate-tx.org/categorias/houston) . Consulado Geral de
Angola em Houston - Texas. 2015.
12. Balza, Guilherme. Pesquisadora da USP descarta que ataque na África afetará Copa de
2010 (https://noticias.uol.com.br/ultnot/internacional/2010/01/12/ult1859u2175.jhtm) .
UOL Notícias. 12/01/2010.
15. Instituto de Investigação Científica de Angola, Luanda e Granado, António Coxito (1949)
17. «Rwanda's Gen Kabareebe will always be remembered for Operation Kitona» (http://archiv
e.fo/OhL6s) . Daily Monitor. 11 de março de 2018
Ligações Externas
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title=Uíge_(província)&oldid=62458983"