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Período colonial

Ver artigo principal: África Ocidental Portuguesa

Ilustração da rainha Jinga em negociações de paz com o governador português em Luanda em 1657

Vista da cidade de Luanda em 1883


A partir do fim do século XV, Portugal seguiu na região uma dupla estratégia.
Por um lado, marcou continuamente presença no Reino do Congo, por
intermédio de (sempre poucos, mas influentes) padres cultos (portugueses e
italianos) que promoveram uma lenta cristianização e introduziram elementos
da cultura europeia. Por outro, estabeleceu em 1575 uma feitoria em Luanda,
num ponto de fácil acesso ao mar e à proximidade dos reinos do Congo e de
Dongo. Gradualmente tomaram o controle, através de uma série de tratados
e guerras, de uma faixa que se estendeu de Luanda em direcção ao Reino do
Dongo. Este território, de uma dimensão ainda bastante limitada, passou
mais tarde a ser designado como Angola. Por intermédio dos Reinos do
Congo, do Dongo e da Matamba, Luanda desenvolveu um tráfico de
escravos com destino a Portugal, ao Brasil e à América Central que passou a
constituir a sua base económica.[16] Este processo tem que ser visto contra o
pano de fundo de um sistemático tráfego de escravos a partir de Luanda. [17]
Os holandeses ocuparam Angola entre 1641 e 1648, procurando estabelecer
alianças com os estados africanos da região. Em 1648, Portugal retomou
Luanda e iniciou um processo de conquista militar dos estados do Congo e
Dongo que terminou com a vitória dos portugueses em 1671, redundando
num controle sobre aqueles reinos.[18]
Entretanto, Portugal tinha começado a estender a sua presença no litoral em
direcção ao Sul. Em 1657 estabeleceu uma povoação perto da actual cidade
de Porto Amboim, transferida em 1617 para a actual Benguela que se tornou
numa segunda feitoria, independente da de Luanda. Benguela assumiu aos
poucos o controle sobre um pequeno território a norte e leste, e iniciou por
sua vez um tráfego de escravos, com a ajuda de intermediários africanos
radicados no Planalto Central da Angola de hoje. [15]
Embora tenha, desde o início da sua presença em Luanda e Benguela,
havido ocasionais incursões dos portugueses para lá dos pequenos territórios
sob o seu controle, esforços sérios de penetração no interior apenas
começaram nas primeiras décadas do século XIX, abrandado em meados
daquele século, mas recomeçando com mais vigor nas suas últimas décadas.
[19] Estes avanços eram em parte militares, visando o estabelecimento de um
domínio duradouro sobre determinadas regiões, e tiveram geralmente que
vencer, pelas armas, uma resistência maior ou menor das respectivas
populações.[20] Em outros casos tratou-se, no entanto, apenas de criar postos
avançados destinados a facilitar a extensão de redes comerciais. Formas
particulares de penetração económica foram desenvolvidas no Sul, a partir de
Moçâmedes (hoje Namibe).[21] Finalmente, houve naquele século a
implantação das primeiras missões católicas para lá dos perímetros
controlados por Luanda e Benguela.[22]

Soldados portugueses embarcando para Angola durante a Primeira Guerra Mundial


No momento em que se realizou em 1884/85 a Conferência de Berlim,
destinada a acertar a distribuição de África entre as potências coloniais,
Portugal pode portanto fazer valer uma presença secular em dois pontos do
litoral, e uma presença mais recente (administrativa/militar, comercial,
missionária) numa série de pontos do interior, mas estava muito longe de
uma "ocupação efectiva" do território hoje abrangido por Angola. [nota 2]
Perante a ameaça das outras potências coloniais, de se apropriarem de
partes do território reclamada por Portugal, este país iniciou finalmente, na
sequência da Conferência de Berlim, um esforço que visava a ocupação de
todo o território da Angola actual. Dados os seus recursos limitados, os
progressos neste sentido foram, no entanto, lentos: ainda em 1906, apenas
5% a 6% dos territórios podiam, com alguma razão, ser considerados
"efectivamente ocupados".[24] Só depois do advento da República em
Portugal, em 1910, a expansão do Estado colonial avançou de forma mais
consequente. Em meados dos anos 1920 estava alcançado um domínio
integral do território, muito embora houvesse ainda em 1941 um breve surto
de "resistência primária", da parte da etnia vacuval. [nota 3] Embora lento, este
esforço de ocupação não deixou, porém, de provocar novas dinâmicas
sociais, económicas e políticas.[nota 4]
Processo de descolonização
Ver artigos principais: Guerra de Independência de Angola e Guerra
Colonial Portuguesa
Forças Armadas Portuguesas marchando em Luanda durante Guerra Colonial Portuguesa (1961-
74).

Soldados portugueses nas matas angolanas durante a Guerra de Independência de Angola (1961-


1974)
Alcançada a desejada "ocupação efectiva", Portugal - melhor dito: o regime
ditatorial entretanto instaurado naquele país por António de Oliveira Salazar -
concentrou-se em Angola na consolidação do Estado colonial. Esta meta foi
atingida com alguma eficácia. Num lapso de tempo relativamente curto foi
edificada uma máquina administrativa dotada de uma capacidade não sem
falhas, mas sem dúvida significativa de controle e de gestão. Esta garantiu o
funcionamento de uma economia assente em dois pilares: o de uma
imigração portuguesa que, em poucas décadas, fez subir a população
europeia para mais de 100 000, com uma forte componente empresarial, e o
de uma população africana sem direito à cidadania, na sua maioria - ou seja,
com a excepção dos povos (agro-)pastores do Sul - remetida para uma
pequena agricultura orientada para os produtos exigidos pelo colonizador
(café, milho, sisal), pagando impostos e taxas de vária ordem, e muitas vezes
obrigada, por circunstâncias económicas e/ou pressão administrativa, a
aceitar trabalhos assalariados geralmente mal pagos. [nota 5]
Nos anos 1950 começou a articular-se uma resistência multifacetada contra a
dominação colonial, impulsionada pela descolonização que se havia iniciado
no continente africano, depois do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
[25] Esta resistência, que visava a transformação da colónia de Angola em
país independente, desembocou a partir de 1961 num combate armado
contra Portugal que teve três principais protagonistas:

 o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), cuja principal base social


eram os ambundos e a população mestiça bem como partes da inteligência branca, e que
tinha laços com partidos comunistas em Portugal e países pertencentes ao então Pacto de
Varsóvia;
 a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), com fortes raízes sociais entre
os congos e vínculos com o governo dos Estados Unidos e ao regime de Mobutu Sese
Seko no Zaire, entre outros;
 a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), socialmente
enraizada entre os ovimbundos e beneficiária de algum apoio por parte da China.[nota 6]
Logo depois do início do conflito armado, uma "ala liberal" no seio da política
portuguesa impôs uma reorientação incisiva da política colonial. Revogando
já em 1962 o Estatuto do Indigenato e outras disposições discriminatórias,
Portugal concedeu direitos de cidadão a todos os habitantes de Angola [nota
7] que de "colónia" passou a "província" e mais tarde a "Estado de Angola".
Ao mesmo tempo expandiu enormemente o sistema de ensino, dando assim
à população negra possibilidades inteiramente novas de mobilidade social -
pela escolarização e a seguir por empregos na função pública e na economia
privada.[nota 8]

Membros do FNLA durante treinamentos em 1973

Recrutas da FNLA em um campo de refugiados angolano no Zaire em 1973


A finalidade desta reorientação foi a de ganhar "mentes e corações" das
populações angolanas para o modelo de uma Angola multi-racial que
continuasse a fazer parte de Portugal, ou ficar estreitamente ligado à
"Metrópole".Esta opção foi, no entanto, rejeitada pelos três movimentos de
libertação que continuaram a sua luta. Nesta começaram, porém, a registar-
se mais retrocessos do que progressos, e nos primeiros anos 1970 as
hipóteses de conseguir a independência pelas armas tornaram-se muito
fracas.
Na maior parte do território a vida continuou com a normalidade colonial. É
certo que houve uma série de medidas de segurança, das quais algumas -
como controles de circulação, ou o estabelecimento de "aldeias
concentradas" em zonas como o Planalto Central, no Cuanza Norte e no
Cuanza Sul.[nota 9] - afectaram a população em grau maior ou menor.
A situação alterou-se completamente quando em Abril de 1974 aconteceu em
Portugal a Revolução dos Cravos, um golpe militar que pôs fim à ditadura em
Portugal. Os novos detentores do poder proclamaram de imediato a sua
intenção de permitir sem demora o acesso das colónias portuguesas à
independência.[26]
A perspectiva da independência provocada pela Revolução dos Cravos em
Portugal, em Abril de 1974, e a cessação imediata dos combates por parte
das forças militares portuguesas em Angola, levou a uma acirrada luta
armada pelo poder entre os três movimentos e os seus aliados.
A FNLA entrou em Angola com um exército regular, treinado e equipado
pelas forças armadas do Zaire, com o apoio dos EUA; o MPLA conseguiu
mobilizar rapidamente a intervenção de milhares de soldados cubanos, com o
apoio logístico da União Soviética; e a UNITA obteve o apoio das forças
armadas do regime de apartheid então reinante na África do Sul. Esforços do
novo regime português para que se constituísse um governo de unidade
nacional não tiveram êxito. Entretanto, a luta da liderança do MPLA pelo
poder, antes e depois da declaração da independência, causou inúmeras
vítimas.[27]
O conflito armado levou à saída - com destino a Portugal, mas também à
África do Sul e ao Brasil - da maior parte dos cerca de 350 000 portugueses
que na altura estavam radicados em Angola.[28] Em consequência da política
colonial, estes constituíam a maior parte dos quadros do território, o que
levou a que a administração pública, a indústria, a agricultura e o comércio
caíssem em colapso. Por outro lado os ovimbundos que tinham sido
recrutados pela administração colonial para trabalhar nas plantações de café
e tabaco e nas minas de diamantes do Norte, também decidiram voltar às
suas terras de origem no planalto central. A outrora próspera economia
angolana caiu assim em decadência.[29]
No dia 11 de Novembro de 1975 foi proclamada a independência de Angola,
[30] pelo MPLA em Luanda, e pela FNLA e UNITA, em conjunto no Huambo.
As forças armadas Portuguesas que ainda permaneciam no território
regressaram a Portugal.[31]
Independência, Guerra Civil e República
Ver também: Guerra Civil Angolana
Carro do MPLA em chamas após um confronto em Novo Redondo, em 1975, durante a Guerra Civil
Angolana

Tanque PT-76 nas ruas de Luanda durante a intervenção cubana em Angola


Com a independência de Angola começaram dois processos que se
condicionaram mutuamente. Por um lado, o MPLA - que em 1977 adoptou
o marxismo-leninismo como doutrina - estabeleceu um regime político e
económico inspirado pelo modelo então em vigor nos países do "bloco
socialista", portanto monopartidário e baseado numa economia estatal, de
planificação central. Enquanto a componente política deste regime chegou a
funcionar dentro dos moldes postulados, embora com um rigor algo menor do
que em certos países "socialistas" da Europa. A componente económica foi
fortemente prejudicada pela luta armada e no fundo só se sustentou graças
ao petróleo cuja exploração o regime confiou a companhias petrolíferas
americanas.
Por outro lado, iniciou-se logo depois da declaração da independência
a Guerra Civil Angolana entre os três movimentos, uma vez que a FNLA e,
sobretudo, a UNITA não se conformaram nem com a sua derrota militar nem
com a sua exclusão do sistema político. Esta guerra durou até 2002 e
terminou com a morte, em combate, do líder histórico da UNITA, Jonas
Savimbi. Assumindo raramente o carácter de uma guerra "regular", ela
consistiu no essencial numa guerra de guerrilha que nos anos 1990 envolveu
praticamente o país inteiro.[nota 10] Ela custou milhares de mortos e feridos e
destruições de vulto em aldeias, cidades e infraestruturas (estradas,
caminhos de ferro, pontes). Uma parte considerável da população rural,
especialmente a do Planalto Central e de algumas regiões do Leste, fugiu
para as cidades ou para outras regiões, inclusive países vizinhos.
No fim dos anos 1990, o MPLA decidiu abandonar a doutrina marxista-
leninista e mudar o regime para um sistema de democracia multipartidária e
uma economia de mercado. UNITA e FNLA aceitaram participar no regime
novo e concorreram às primeiras eleições realizadas em Angola, em 1992,
das quais o MPLA saiu como vencedor. Não aceitando os resultados destas
eleições, a UNITA retomou de imediato a guerra, mas participou ao mesmo
tempo no sistema político.
Logo a seguir a morte do seu líder histórico, a UNITA abandonou as armas,
sendo os seus militares desmobilizados ou integrados nas Forças Armadas
Angolanas. Tal como a FNLA, passou a concentrar-se na participação, como
partido, no parlamento e outras instâncias políticas. Na situação de paz,
depois de quatro décadas de conflito armado, começou a reconstrução do
país e, graças a um notável crescimento da economia, um desenvolvimento
globalmente bastante acentuado, mas por enquanto com fortes disparidades
regionais e desigualdades sociais. A paz está também a favorecer a
consolidação de uma identidade social abrangente, "nacional", que começou
a formar-se paulatinamente a partir dos anos 1950.
Politicamente, continua a haver um forte predomínio do MPLA, que obteve
claras maiorias parlamentares nas eleições realizadas em 1992, 2008 e
2012, garantindo a permanência nas funções de Presidente do Estado, desde
1979, do presidente do partido, José Eduardo dos Santos. Enquanto a FNLA
desapareceu praticamente da cena, a UNITA consolidou, nas eleições de
2012, a sua posição como principal partido de oposição. A nível económico,
Angola registou por um lado um forte crescimento, enfrentando, por outro
lado, dificuldades que a obrigaram a solicitar o apoio do FMI, não
conseguindo travar o surgimento de desigualdades económicas e sociais
muito acentuadas.[32]
Geografia
Ver artigo principal: Geografia de Angola

Imagem de satélite de Angola (The Map Library)


Angola situa-se na costa atlântica Sul da África Ocidental, entre a Namíbia e
a República do Congo. Também faz fronteira com a República Democrática
do Congo e a Zâmbia, a oriente. O país está dividido entre uma faixa costeira
árida, que se estende desde a Namíbia chegando praticamente até Luanda,
um planalto interior húmido, uma savana seca no interior sul e sudeste, e
floresta tropical no norte e em Cabinda.
O rio Zambeze e vários afluentes do rio Congo têm as suas nascentes em
Angola. A faixa costeira é temperada pela corrente fria de Benguela,
originando um clima semelhante ao da costa do Peru ou da Baixa Califórnia.
Existe uma estação das chuvas curta, que vai de Fevereiro a Abril. Os
Verões são quentes e secos, os Invernos são temperados. [33]
As terras altas do interior têm um clima suave com uma estação das chuvas
de Novembro a Abril, seguida por uma estação seca, mais fria, de Maio a
Outubro. As altitudes variam bastante, encontrando-se as zonas mais
interiores entre os mil e os dois mil metros. As regiões do norte e Cabinda
têm chuvas ao longo de quase todo o ano. A maioria dos rios de Angola
nasce no planalto do Bié, os principais são: o Cuanza, o Cuango, o Cuando,
o Cubango e o Cunene.[33]
Clima

Angola pela classificação climática de Köppen-Geiger


Angola, apesar de se localizar numa zona tropical, tem um clima que não é
caracterizado para essa região, devido à confluência de três factores:
a Corrente de Benguela, fria, ao longo da parte sul da costa; o relevo no
interior; e a influência do Deserto do Namibe, a sudoeste.
Em consequência, o clima de Angola é caracterizado por duas estações: a
das chuvas, de Outubro a Abril e a seca, conhecida por Cacimbo, de Maio a
Agosto, mais seca, como o nome indica e com temperaturas mais baixas. Por
outro lado, enquanto a orla costeira apresenta elevados índices de
pluviosidade, que vão decrescendo de Norte para Sul e dos 800 mm para os
50 mm, com temperaturas médias anuais acima dos 23 °C, a zona do interior
pode ser dividida em três áreas: Norte, com grande pluviosidade e
temperaturas altas; Planalto Central, com uma estação seca e temperaturas
médias da ordem dos 19 °C; e Sul com amplitudes térmicas bastante
acentuadas devido à proximidade do Deserto do Calaari e à influência de
massas de ar tropical.
Panorama do Miradouro da Lua, em Belas

Demografia
Ver artigo principal: Demografia de Angola
A população de Angola em 2014, depois do primeiro censo pós-
independência e dos resultados definitivos do Recenseamento Geral da
População e Habitação 2014, é de 25 789 024 habitantes, sendo 52 por
cento do sexo feminino.[34][35]
A população do país deverá crescer para mais de 47 milhões de pessoas em
2060, quase duplicando o censo de 24,3 milhões em 2014. [36] O último censo
oficial foi realizado em 1970 e mostrou que a população total era de 5,6
milhões habitantes.[37]

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