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SOCIOLOGIA E
ANTROPOLOGIA
CULTURA E IDENTIDADE BRASILEIRAS
AUTOR
Danilo Eustáquio de Oliveira
Filho
UNIDADE 5
Introdução da Cultura
O que você entende por cultura? Você acha que todo mundo tem cultura? Ou
cultura é só o que se aprende na escola? Você precisa compreender que a cultura
não é só o que se aprende na escola. Todo mundo tem cultura, porque a cultura
é transmitida de geração a geração, de pessoa a pessoa, como herança social.
O estudo sobre a cultura pode variar de tempos em tempos, de autor para autor,
de paradigma para paradigma. Sendo assim, podemos dizer que é por meio
desse conceito que os antropólogos estudam o “outro”.
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Ainda que os homens tenham uma configuração biológica comum, o modo como
eles acionam esses mecanismos biológicos para habitar o mundo é distinto.
Dentro das sociedades, cada um pode ocupar um papel social diferente,
determinado pelo convívio entre os membros da comunidade.
Por isso, a aprendizagem cultural não se dá como herança biológica e sim como
herança social através da imitação e reprodução, consciente e inconsciente, dos
aspectos culturais que permeiam o ambiente social no qual os indivíduos estão
mergulhados.
Um estilo de vida baseado em uma alimentação saudável pode fazer com que os
indivíduos vivam mais do que um estilo de vida de pouco sono, má alimentação,
muito trabalho. Entretanto, não nos alimentamos apenas para satisfazer as
necessidades, mas também por prazer. O que é considerado prazeroso é
construído no âmbito da cultura.
Ainda é preciso enfatizar que o que comemos não está condicionado apenas ao
desejo, mas passa pelo o que temos de acesso a alimento em nossa cultura. O
domínio da agricultura faz com que possamos ter alimentos nas diferentes
estações, mas não é em todos os países do mundo que as frutas são frescas,
acessíveis e baratas, por exemplo.
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Podemos dizer que esses rótulos são dados a partir de características as quais os
outros reconhecem em nós. Em relação a um time, a um gosto musical ou mesmo
a estilo de vestimenta, podemos tomar decisões conscientemente de como
gostaríamos de ser reconhecidos, entretanto, em relação a outras características
nossas, como a altura, a cor da pele ou mesmo condição social, talvez não
tenhamos o mesmo controle. Muitas vezes, não vamos simpatizar com os rótulos
que são identificados em nós.
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Ao mesmo tempo, a identidade pode ser partilhada com quem vive da mesma
forma que você, seja quando assume certas posições, seja por conviver em uma
mesma situação de faixa etária, de gênero, ou mesmo vivenciando a mesma
enfermidade. Essa partilha se realiza por meio dos elementos culturais que o
indivíduo divide, conscientemente ou não, com a sociedade à qual ele pertence.
Assim, a identidade individual se constrói em meio a identidade coletiva e vice-
versa.
Conceituando cada termo, podemos dizer que a identidade individual alude aos
aspectos culturais aos quais cada pessoa se reconhece como tal, seja por gosto
musical, religioso, profissional, entre outros. Esses aspectos podem ser definidos
pelas próprias pessoas ou serem percebidos pelos outros como algo que a
diferencia do restante da sociedade. Portanto, um conjunto de pessoas pode
constituir uma identidade coletiva, uma vez que se reconheçam com algo em
comum, seja por ter nascido no mesmo estado, por partilhar a mesma língua ou
por gostar do mesmo time.
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“[...] a identidade nacional precisa ser observada a partir das situações específicas
nas quais ela foi acionada como forma de escapar à naturalização e à reificação
que o conceito pode acarretar.”. Ou seja, para pensar em identidade nacional,
temos de pensar em que sentido ela foi acionada e como podemos elucidar os
componentes que identificam a nação, de modo que os membros da sociedade
em questão se reconheçam através desses elementos.
Também podemos dizer que a identidade também pode ser disputada, já que o
modo como as indivíduos e grupos são reconhecidos no mundo permitem
diferentes acessos ao que está disponível no mundo. Ou seja, ser percebido
como uma nação rica, segura e poderosa pode facilitar relações comerciais com
outros países, enquanto que, ser considerada uma nação violenta e pobre, pode
não ter a mesma facilidade.
Todavia, como a identidade não é estática, a nação rica tem que continuar se
esforçando para manter o modo como é vista, e a nação desfavorecida vai tentar
transformar a forma como é percebida pelas outras sociedades.
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Interessa para Barth (1998) pensar essas “fronteiras étnicas” de um grupo social
com o objetivo de compreender as dinâmicas do grupo que estão,
constantemente, em interação com outros grupos, pois é por meio desse contato
que a sua identidade é definida. Nesse sentido, cada grupo evidencia o que é
diferente entre eles a fim de caracterizar e explicitar a especificidade que
compartilha entre seus membros. Assim, essas características são como uma
marca que rotula o indivíduo ou grupo social.
Para além da questão econômica, há um conjunto de sentimentos que fazem com
que seus membros se identifiquem com o seu país, favorecendo a integração
nacional enquanto território reconhecido pela nação como tal. Nesse sentido, a
união das partes territoriais integradas favorece que seus habitantes tenham
consciência de unidade. Esse amálgama decorrente da convivência no mesmo
território evidencia a nação. Para Moreno (2014, p. 18), a nação seria:
Nesse sentido, o que se entende por nação não é algo homogêneo e pronto, mas
perpassa conquistas, disputas e contestações que o próprio povo vivenciou a
favor da constituição e da construção de uma identidade comum. Também não
quer dizer que todos os membros tenham uma identidade única.
Eles partilham sobre o que é seu patrimônio cultural, os seus hábitos e modos de
vida, o território em que estão aglutinados, entretanto, podem ter diferenças
claras no que refere à gênero, raça e classe. Desse modo, vemos que um povo
destaca sua semelhança quando é preciso lutar pelo bem comum, mas que os
seus membros podem ser diferentes e ocupar posições sociais desiguais.
Importa como falam de sua nação e como constroem a sua identidade nacional a
partir do que têm em comum. Dependendo do que viverem juntos, esse discurso
pode ser modificado, alterado e até mesmo corrompido.
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Entre disputas e conquistas, cada povo que firmou morada no Brasil colaborou
na conformação do que hoje é entendido como o povo brasileiro, contribuindo,
assim, com diversos elementos culturais que, atualmente, identificam a nossa
cultura e a nossa identidade.
Seja através da língua que falamos, da comida que comemos, do modo como nos
vestimos, das religiões que temos, das músicas que escutamos, dos esportes que
praticamos, partilhamos e dividimos aspectos comuns da cultura.
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“Sei, então, que sou brasileiro e não norte-americano, porque gosto de comer
feijoada e não hambúrguer; porque sou menos receptivo a coisas de outros
países, sobretudo costumes e ideias; porque tenho um agudo sentido de ridículo
para roupas, gestos e relações sociais; porque vivo no Rio de Janeiro e não em
Nova York; porque falo português e não inglês; porque, ouvindo música popular,
sei distinguir imediatamente um frevo de um samba; porque futebol para mim é
um jogo que se pratica com os pés e não com as mãos; porque vou à praia para
ver e conversar com os amigos, ver as mulheres e tomar sol, jamais para praticar
um esporte; porque sei que no carnaval trago à tona minhas fantasias sociais e
sexuais; porque sei que não existe jamais um “não” diante de situações formais e
que todas admitem um “jeitinho” pela relação pessoal e pela amizade; porque
entendo que ficar malandramente “em cima do muro” é algo honesto, necessário
e prático no caso do meu sistema; porque acredito em santos católicos e também
nos orixás africanos; porque sei que existe destino e, no entanto, tenho fé no
estudo, na instrução e no futuro do Brasil; porque sou leal a meus amigos e nada
posso negar a minha família; porque, finalmente, sei que tenho relações pessoais
que não me deixam caminhar sozinho neste mundo, como fazem os meus amigos
americanos, que sempre se veem e existem como indivíduos!”
Logo, é preciso dizer que não precisamos partilhar de todos elementos da cultura
nacional para termos uma identidade brasileira. Não é por que somos brasileiros
que gostamos de carnaval ou mesmo de futebol, mas ao compartilharmos nossa
história, nossa língua e aspectos da cultura partilhamos de um sentimento
nacional, de um discurso específico, de uma sensação comum que nos torna
pertencentes a identidade brasileira.
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“[...] criada pelo povo e apoiada em uma concepção de mundo toda específica e
na tradição, mas em permanente reelaboração mediante a redução ao seu
contexto das contribuições da cultura ‘erudita’, porém mantendo sua identidade.”
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Nesse sentido, a Carta do Folclore Brasileiro, produzida no VIII Congresso
Brasileiro de Folclore em 1995, redefiniu o que é o folclore aproximando ainda
mais do conceito de cultura popular. O objetivo principal era abranger aspectos
da identidade cultural, uma vez que a divisão desses termos mantinha cada um
relacionado a determinados grupos sociais. Assim, essa revisão questionava a
divisão e enfatizava que os diferentes grupos sociais poderiam gerar
manifestações culturais vinculadas a um saber popular, como explicita a Carta
abaixo:
Cabe dizer que tudo o que é produzido pela cultura popular é produzido pelas
pessoas para passarem mensagens significativas na sociedade em que vivem.
Assim, seja para assustar pessoas, para comemorar atos simbólicos, para impor
regras sociais, para valorizar aspectos sociais, para competir entre grupos ou
para se expressar simplesmente, misturam-se realidade e fantasia, consciente e
inconscientemente, através de fatos históricos e explicações sobrenaturais”. Logo,
a cultura popular e o folclore podem ser estudados, analisados e interpretados a
fim de compreender, por meio do modo como se dá a organização dos
elementos culturais dessas histórias, fantasias, manifestações e crenças, o que
faz sentido entre os membros de cada sociedade.
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Logo, não eram consumidos produtos em si, mas bens simbólicos representativos
de uma condição superior do indivíduo em relação ao restante da população.
Ainda que muitos não pudessem acessar esses produtos, eles se tornam objeto
de desejo de grande parte da população que veem as propagandas e são
atraídos pelo discurso expresso no seu conteúdo. A cultura de massa envolve o
oferecimento e a venda dos mesmos produtos, dos mesmos bens e dos mesmos
desejos para pessoas de culturas distintas. Assim, a difusão cultural em uma
abrangência global de um produto proposto por um grupo específico pode ser
interpretada como uma política organizada visando hegemonia de poder
econômico, sendo essa uma das consequências da indústria cultural. Podemos
dizer que a industrialização gerou um processo de homogeneização cultural
entre os países que poderiam ter uso comum de bens por parte da população,
como explica Costa (2010, p. 241, grifo nosso):
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Assim, a indústria cultural está referenciada por uma disputa por mercados e vive
seus dilemas para se manter competitiva e conquistar novos públicos.
Cada cultura tem a sua lógica própria, que revela um encadeamento de sentidos,
pensamentos e ações que conformam a especificidade das culturas em si, de
acordo com sua origem histórica e o território habitado. O que faz sentido para
os membros de uma comunidade pode não fazer sentido para outra sociedade.
Como nos diz Laraia (2001, p. 87), “A coerência de um hábito cultural somente
pode ser analisada a partir do sistema a que pertence”.
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A cultura é dinâmica
A cultura não está parada. A todo momento, diversos elementos culturais são
reavaliados, conscientemente e inconscientemente, sendo que alguns são
descartados, outros reinventados. Você pode comparar como estavam vestidas
as pessoas nas fotos antigas guardadas no fundo da gaveta do armário com as
vestimentas atuais, de quando saímos na rua.
Pode pensar nas músicas da sua infância e nas músicas que tocam nas rádios
hoje em dia. Analisar as gírias e palavras faladas pelos seus parentes mais antigos
em relação às gírias que você fala com seus colegas. Essas mudanças e
modificações se mantêm momentaneamente até que novas transformações na
cultura modifiquem-nas.
O modo exógeno se dá por meio de um contato cultural, com outros povos, que
acaba interferindo em práticas culturais estabelecidas antes do contato. As
mudanças podem ser específicas ou até mesmo modificar completamente os
elementos culturais que antes faziam sentido para aquela cultura.
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DICA DO
PROFESSOR
Neste vídeo, você vai aprofundar seus estudos e refletir a partir de exemplos
pertinentes ao tema. Sabendo que o homem é um ser social que participa de
diversos âmbitos culturais.
https://youtu.be/-864KLx-UaA
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EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO
) Nada é mais incisivo como marcador da identidade de um povo do que a cultura
em que este povo mesmo se define. Sem ela, tal identidade simplesmente
desaparece, dissolve-se, deixando ali, como consequência, uma amorfa massa
humana. Daí serem imperativos o reconhecimento, o incentivo e a preservação
da cultura popular, de forma que as gerações futuras sintam-se não só herdeiras,
mas também veladoras de gigantesco e precioso tesouro. Sobre o texto, pode-se
dizer que:
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EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO
2) Como se chama o sentimento comum entre as pessoas de um mesmo
território que partilham de língua, dança, música, alimentação, crenças, valores,
entre outros?
A) Identidade de gênero.
B) Identidade individual.
C) Identidade urbana.
D) Identidade internacional.
E) Identidade Nacional.
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EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO
3) As culturas são sistemas humanos de comportamento e pensamento,
obedecem a leis naturais, podendo, portanto, ser estudadas de modo científico.
Sobre a noção de cultura, de acordo com a obra Um espelho para a humanidade:
uma introdução à Antropologia Cultural, de C. P. Kottak, que serve de texto-base
para esta Unidade de Aprendizagem, assinale a alternativa INCORRETA:
A) A cultura contempla o conhecimento adquirido pelo homem que vive em
sociedade.
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EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO
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EXERCÍCIOS DE
FIXAÇÃO
5) A cultura é transmitida na sociedade. Ela não é um atributo de indivíduos em
si, e sim dos indivíduos como membros de grupos. Sobre isso, de acordo com a
obra Um espelho para a humanidade: uma introdução à Antropologia Cultural, de
C. P. Kottak, que serve de texto-base para esta Unidade de Aprendizagem,
marque a resposta INCORRETA:
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ANOTAÇÕES
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BALAKRISHNAN, G. (Org.). Um mapa da questão nacional. Rio de Janeiro: Contraponto,2000.
BARTH, F. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: POUTIGNAT, P. Teorias da etnicidade. Seguido
de grupos étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth, Philippe Poutignat, Jocelyne Streiff-
Fenard. São Paulo: UNESP, 1998.
COSTA, C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2010.
MORENO, J. C. Revisitando o conceito de identidade nacional. In: RODRIGUES, C. C.; LUCA, T. R.;
GUIMARÃES, V. (Org.). Identidades brasileiras: composições e recomposições. São Paulo:
UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2014.
REINHEIMER, P. Identidade nacional como estratégia política. Mana, Rio de Janeiro, v. 13, n. 1,
p. 153-179, apr. 2007.
XIDIEH, O. et al. Catálogo da feira nacional de cultura popular. São Paulo: SESC, 1976.
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GABARITO
1) B - A cultura popular reflete a identidade local de um povo, pois a identidade de um povo pode
ser expressa pelo o que entende, faz e produz a cultura popular.
2) E - Identidade é como a pessoa se reconhece, pois, para além do que dizem sobre os indivíduos e
os grupos sociais, a identidade expressa como a pessoa se reconhece no mundo.
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