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BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL

ANTROPOLOGIA SOCIAL

LUIZ CARLOS ANTUNES DA SILVA

RESENHA DO LIVRO “O QUE É CULTURA”

IGUATU-CE
2018
RESENHA DO LIVRO “O QUE É CULTURA”

SANTOS, José Luiz dos.O que é Cultura. 14 ed. - São Paulo: Brasiliense, 1994. –
(Coleção primeiros passos; 110)
Nunca foi tão importante observar a história e seus processos formativos.
Atualmente a população compreende que entender seu passado e sua construção é
na verdade a preservação de tudo aquilo que se é atualmente, e de como esta
mesma comunidade será no futuro. Tudo aquilo posto em modos de organização,
costumes, valores e tradições está perpetrado pelo resultado histórico da cultura e
ainda sobre tudo que esta sociedade atual irá construir para a futura.
Dentro desta perspectiva o professor José Luiz dos Santos discorre cultura,
sua definição, a diversidade apresentada, a concepção de cultura, como a cultura se
apresentada na sociedade e ainda as relações de poder desempenhadas. A primeira
abordagem apresenta os fatores relacionados à história, costumes de cada nação,
grupos humanos em cada sociedade, estando em plena interação, pois cultura
refere-se a tudo de forma global, mas é ao mesmo tempo, próprio de cada povo, de
cada comunidade. A cultura, portanto, está intimamente relacionada ao modo de ser,
as particularidades que são próprias de uma localidade e pertence somente a ela.
Faz-se necessário conhecer estas questões para que não se faça juízo errado sobre
as práticas de um determinado povo.
O livro faz uma abordagem para dirimir o pensamento que cultura se
vincularia a características físicas ou qualquer outra questão biológica, o que poderia
implicar na defesa de quanto mais forte um povo, mais ou menos enculturado seria.
A cultura está então relacionada à história, que foi sendo solidificada com o tempo, e
sofrendo mudanças a partir das transformações ideológicas ou comportamentais de
seus indivíduos.
Dentro desta perspectiva, ainda fica claro que não uma cultura que se
sobreponha a outra, o gosto especial de uma pessoa por uma outra cultura, está
relacionada com a sua própria cultura, ou seja, fará juízo a partir daquilo que a
mesma viveu ou vivencia dentro de sua comunidade.
Dentro de um próprio país pode haver diversidade de culturas, cada uma
com sua particularidade, o que não significa que sejam relativas, mas a própria
representação de múltiplas culturas faz com que entendamos a história de cada
lugar e como se construíram determinadas relações.
No segundo capítulo, a cultura é definida como as características da
população humana, e tudo que representam. Assim, nota-se que os componentes
de um grupo social são representações da cultura de um povo, num primeiro
momento a análise sobre a etnia, o poder de compra, o grau de conhecimento,
situam-se sobre as características sociais, que são práticas e estão presentes no
dia-a-dia da população. O outro cerne da questão, observa o domínio da vida, sendo
observado aquilo que creem, o viés religioso e as ideias que têm sobre o mundo que
está a seu redor. Ainda é importante observar que quanto maior o contato com a
comunidade estudada, mais se conseguirá observar os pontos que compõem a sua
cultura.
É importante destacar que a cultura não pode ser entendida apenas como a
representação de música, teatro, pintura. Ou ainda a representação de meios de
comunicação em massa, ou a celebração de eventos e festas tradicionais. Portanto,
o autor sugere que cultura é tudo o que foi citado, e todas as outras características
ligadas à vida do indivíduo na comunidade.
A cultura dentro de uma concepção de classe dominante ou de governo,
representa todos os ideais e proposições de um governante, que busca diferenciar-
se de outra nação, e ainda diferenciar seus hábitos dos animais. Estados Unidos e
Rússia são exemplos observados no livro, discrepantes no modelo econômico,
porém ambos influenciados pela cultura ocidental que implanta modelos e estilos de
vida que são naturalizados por seus habitantes, por mais que não tenha sido
construído por eles. Há ainda a cultura em seu aspecto ideológico que domina as
grandes massas, muitas vezes deixando de lado todo o aspecto cultural próprio,
para aderir aos novos modelos.
A cultura tida como dominante torna-se comum, popular e evidencia o
desejo ou o interesse da manutenção de poder de alguns, e a reprodução destes
valores pela maioria das pessoas. O que antes algo restrito de um grupo de poucos
estudiosos, tornou-se uma busca e estudo sistêmicos para se evidenciar a variedade
de formas de viver a mesma cultura, ou as diversas formas de cultura. É importante
destacar que a ruptura com a visão religiosa foi de extrema importância para que se
pudesse conceber cultura através de outras perspectivas mais modernas e mais
próximas da realidade das pessoas.
Um ponto pertinente dentro da formação cultural de todas as comunidades e
países, é que todos têm construções diferentes, o que os torna únicos, mas todos
possuem pontos semelhantes, como num exemplo clássico, praticamente todos os
países da América Latina que foram colonizados por Espanhóis ou Portugueses, e
tem idiomas assemelhados aos colonizadores, mas com características próprias de
seus povos.
Cultura não é um termo natural, não é algo intrínseco à natureza, pelas leis
da biologia. A cultura é histórica, é construída a partir das relações sociais dos
indivíduos. Segundo o autor, é produto coletivo da vida humana, assim, não há um
dono, um dominador ou tutor, pois é livre e pertence a todos, sendo compartilhado
por todos. Portanto, o conhecimento compartilhado neste sentido, é pleno de
múltiplas interpretações e leituras acerca do mesmo movimento, mas sempre
havendo o respeito à cultura de cada um.
A cultura como objeto social é evidenciado dentro da produção de Santos:
“Cultura é um território bem atual das lutas sociais por um destino melhor. É uma
realidade e uma concepção que precisam ser apropriadas em favor do progresso
social e da liberdade, em favor da luta contra a exploração de uma parte da
sociedade por outra, em favor da superação da opressão e da desigualdade” (pág.
45).
Ainda nesta perspectiva, ele relata que a cultura é uma dimensão do
processo social, da vida de uma sociedade. Não é uma parte da vida social, nem
está isolada das outras dimensões. Cultura diz respeito a todos os aspectos da vida
social, portanto está presente em todos os momentos. Ela é vista frequentemente
como o resto da vida social, ou ainda como atividades artísticas pontuais que nada
tem a ver com a vida da sociedade, extraindo-se dela toda a sua importância no dia-
a-dia de um povo.
No capítulo que trata sobre “A cultura em nossa sociedade”, o autor salienta
a grande diversidade cultural interna, e isso dá pelas inúmeras formas de tomar
posição de pessoas dentro de uma sociedade, ou ainda a classe social que se
dividindo entre empregadores e empregados, e ainda estes empregadores dividem-
se em donos de fábricas, fazendas, comércio, bancos e isto modifica o estilo de vida
dos mesmos e de seus empregados.
Os aspectos que interferem no modo de viver do trabalhador do campo, não
são os mesmos que estão ligados ao trabalhador da cidade, e por isso, seus
patrões, apesar de semelhantes, também tem estilos de vida diferentes. Esta
mesma diversidade, torna-se clara na paisagem dos locais, como regiões mais
populosas e grandes edifícios, ou regiões mais vulneráveis e com menos serviços
públicos.
Em um contexto concreto, o agricultor do nordeste tem um modelo de vida
muito mais difícil e com inúmeros problemas, enquanto o trabalhador do centro
urbano de São Paulo, lida com outras questões que também são problemas dentro
de seu cotidiano.
Ao observar a definição de cultura, especialmente quanto ao que é cultura
ao observar a produção artística, há um distanciamento do que lhe parece cultura
para as grandes massas. Espelhada num refinamento pessoal vindo da Europa,
alguém enculturado era vindo das classes altas, e julgavam as classes subalternas
como possuidoras de um conhecimento atrasado, inferior e já superado.
Nesta perspectiva, classificar a cultura popular, os saberes populares, e
fomenta-los é uma forma de torna-lo vivo e fazer com que as pessoas deste grupo
se sintam parte, se reconheçam e percebam as implicações que isto lhes trás. O
engajamento político, de autorreconhecimento, pertencimento, empodera os
membros da categoria, e faz com que valorizem sua história e os frutos de sua
cultura.
Ao analisar o que é popular na cultura, o autor nos remonta
questionamentos sobre o que é popular e o que é necessário possuir para que seja
considerado popular. Há uma abordagem sobre a cultura afro que é tida como
popular, trazida por negros escravos do continente africano, mas há também o
futebol vindo da Europa, trazido por ingleses da elite que conseguiu uma enorme
generalização entre todas as classes.
Ao abordar estes fatos, torna-se difícil definir sistematicamente o que é
popular na cultura, se dá-se pela origem ou pela aceitação das classes
pauperizadas, e sua consequente naturalização. Mesmo com tanta discrepância
entre as apresentações, há fatos comuns entre todos e isto é o cerne da questão,
especialmente o fato da grande massa estar na classe subalternizada.
Um outro fator dentro do processo de dominação é a produção de conteúdos
em massa para atender à necessidade de uma população anônima, ou ainda, criar
métodos de entretenimento para manter um padrão de sociabilidade aceitável e
paulatino para todos, reforçando o desejo de homogeneizar a classe popular, com
reflexos mal esmerados do que seria a cultura erudita burguesa.
Assim, o livro nos interpele a refletir sobre questões do dia-a-dia até temas
mais complexos para que se possa exemplificar a definição de cultura e o seu uso
numa perspectiva mais sistêmica. Percebeu-se a interculturalidade da cultura, sua
origem, criação e apropriação sobre a vida das pessoas, e como os próprios
indivíduos a modificaram ou assimilaram, quando vindo de classes dominantes.
Ainda se reflete sobre a ampliação do conceito de cultura, e sua dimensão prática na
vida das pessoas.
Por fim, a obra buscou suscitar a discussão do tema cultura em todas as
suas possibilidades e compreensões, porém o autor não deixa nenhuma das
abordagens claras, o que gera dúvidas e por momentos, algumas incompreensões.
A leitura é de fácil compreensão e instiga a pesquisar mais sobre o assunto.

Palavras-chaves: cultura; diversidade; sociedade; poder.

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