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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA – UFRR

INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
DISCIPLINA DE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

ANÁLISE: O QUE É CULTURA


Afonso Correa Santana Neto
Amanda Bonfim de Moraes Brasil Teixeira
Camila Lima Rodrigues
Luciane Ribeiro Alvino
Neiva Nunes Costa

RESUMO

O presente paper é resultado do estudo e análise do livro “O Que é Cultura”,


de José Luiz dos Santos, publicado pela primeira vez em 1983, com o objetivo de
gerar debates sobre os conteúdos e reflexões apresentadas pelo autor. Foram
utilizados recursos bibliográficos e debates em grupo para a obtenção de resultado.
Como produto, sintetizou-se que a cultura retrata tanto a humanidade como um todo
quanto a cada um dos povos, as diferentes formas de como a cultura se apresenta e
sua relação com a diversidade e a manutenção das relações de poder.

Palavras-chave: Cultura; Diversidade; Relações de poder.

INTRODUÇÃO

José Luiz dos Santos nasceu em 1949 em Santos, São Paulo e é professor de
antropologia da Unicamp. Estudou Ciências Sociais e Antropologia nas universidades
de São Paulo, Estadual de Campinas e de Londres. Escreveu as obras “O que é
cultura” publicada em 1983 e “Espiritismo: uma religião brasileira”, em 1997.

Na obra abordada neste estudo, “O que é cultura”, o autor reflete sobre a


preocupação contemporânea com a cultura, a construção da relação entre os grupos
humanos e a perspectiva do futuro em uma sociedade cada vez mais globalizada.
Assim, o autor destaca o estudo da cultura como uma forma de combate ao
preconceito e como plataforma para garantir a dignidade e respeito nas relações
humanas, fator essencial para o estudo do Direito.
1. CULTURA E DIVERSIDADE

Ao longo do tempo, a partir da origem biológica comum, os agrupamentos


humanos se expandiram progressivamente de forma a ocupar praticamente a
totalidade dos continentes do planeta. Assim, foi permitido o isolamento e a
decorrência de histórias paralelas, o que causou o desenvolvimento cultural destes
grupos em ritmos e modalidades diferentes. Então, apesar de existirem algumas
tendencias dominantes, como a mudança do estilo de vida nômade ao sedentário,
constata-se que ela apenas se tornou viável pois os agrupamentos se reorganizaram
para tal. Portanto, não é possível estabelecer uma sequência física de fases para cada
realidade cultural.

O aceleramento do contato entre os povos é recente, o que causa a


preocupação com as diferentes formas de organizar a vida social, visto que o
desenvolvimento da humanidade é marcado por conflitos e contatos entre culturas.
Tais conflitos e contatos são maneiras de transformar a cultura e são consideradas
forças externas. Como cada realidade cultural tem sua lógica, existem também forças
internas que provocam mudanças. Logo, a cultura diz respeito tanto a cada um dos
povos quanto a humanidade em si.

O autor salienta a necessidade de entender os sentidos de uma cultura e sua


influência na realidade das pessoas que a vivenciam. É uma preocupação
conquistada pela contemporaneidade essencial para o combate ao preconceito, a
garantia da dignidade dos indivíduos e do respeito nas relações humanas. Como as
culturas interagem cada vez mais entre si no mundo globalizado, tal estudo se torna
cada vez mais necessário, além de ser uma estratégia de pensar sobre a sociedade.
O autor então se propõe a contribuir para o esclarecimento do assunto.

1.1 CULTURA E EVOLUÇÃO

No século XIX, a fim de legitimar o processo expansivo e de consolidação de


domínio europeu sobre os demais povos, surgiram estudos a fim de hierarquizar as
culturas humanas. Foi utilizada a visão europeia para descrever a “evolução cultural”
como fases e etapas em linha única por quais as sociedades vivenciariam com o
passar do tempo. Essas etapas começavam desde um estágio primordial até a
civilização tal como se conhecia na Europa.
Assim, a diversidade cultural representaria, na verdade, diferentes estágios de
desenvolvimento, que variavam entre: selvageria, como poderiam ser classificadas as
tribos indígenas, barbárie, que seria o estágio dos reinos africanos, e, por fim,
civilização seria o estágio da Europa, que teria passado pelas outras fases. Portanto,
como povos não europeus eram considerados inferiores por essa linha de
pensamento, ela também está ligada a propagação de preconceito e discriminação
racial.

1.2 CULTURA E RELATIVISMO

De acordo com esta linha de pensamento tudo é relativo. Desse modo a


avaliação de cada cultura varia de acordo com a cultura de realiza a observação ou
análise, visto que os critérios de avaliação também são aspectos culturais. Portanto,
observa-se a realidade cultural de dentro para fora.

De acordo com o autor, o relativismo é, assim como o evolucionismo, um


equívoco, pois apenas é possível estabelecer respeito pela diversidade cultural ao
entender a inserção das culturas particulares na história mundial. Logo, o pensamento
relativista recusa-se a admitir aspectos objetivos demonstrados pelo desenvolvimento
histórico e pelas relações entre os povos, que se associam de forma desigual.

1.3 CULTURA E SOCIEDADE

Também existem variações de formas culturais dentro de uma mesma nação,


principalmente em sociedades como a brasileira. As regiões, por exemplo, possuem
características bem diferentes entre si, assim como as classes e os grupos sociais,
não se aplicando apenas a sociedades indígenas isoladas. Essa diversidade deve ser
considerada, pois ela faz parte das relações sociais internas do país.

Assim, não faz sentido considerar todas as manifestações culturais de maneira


individual, pois até os agrupamentos mais isolados são afetados pelo dinamismo da
sociedade. Ademais, o autor correlaciona o relativismo dos critérios sociais como uma
forma de justificar relações de poder e imortalizar facetas culturais que fazem a
manutenção da miséria e opressão no país. De acordo com ele, a cultura também se
estimula pelas possibilidades do futuro.

2. O QUE SE ENTENDE POR CULTURA


A cultura está muito associada ao estudo, à educação e à formação escolar.
Fala-se de cultura, muitas vezes, para se referir unicamente às manifestações
artísticas, como o teatro, por exemplo. Outras vezes, ela é quase identificada com os
meios de comunicação de massa, tais como o radio ou o cinema. Para o autor, cultura
é um conceito genérico que se preocupa com tudo o que caracteriza uma população.

2.1. AS DUAS CONCEPÇÕES BÁSICAS DE CULTURA

Há, pois, duas concepções sobre o tópico: tem-se a cultura como tudo o que
carazteriza uma população, como também está relacionada aos aspectos de
costume de vida, crença e conhecimento.

2.2. DESENVOLVIMENTO DAS PREOCUPAÇÕES COM CULTURA

A constatação da variedade de modos de vida é discutida desde a antiguidade.


Com a sistematização, buscava-se interpretar a história humana, compreender a
particularidade dos costumes e das crenças e, também, entender o desenvolvimento
aos povos no contexto das condições materiais em que se encontravam. Como
consequência disso, tem-se a consolidação moderna sobre as preocupações com
cultura, procurando dar conta, sistematicamente, de uma diversidade de maneiras de
viver, algo que é motivo de reflexão por séculos.

Cultura, a partir da origem Latina, tem significado original ligado às atividades


agrícolas. Pensadores romanos antigos ampliaram esse significado e a usaram para
se referir ao refinamento pessoal. Para se chegar a uma visão moderna sobre cultura,
dois aspectos principais se destacaram: as novas preocupações de conhecimento
científico do século XIX e a expansão política e econômica das sociedades
industrializadas. Assim, essa preocupação está associada tanto às necessidades do
conhecimento quanto às realidades da dominação política.

2.3. CULTURA E NAÇÃO

A discussão está pautada com enfoques diferentes, a depender da história da


nação. Como exemplos, tem-se a Alemanha, que traz a ideia de que havia uma
cultura comum unindo as várias unidades políticas, e a América Latina, que abre
reflexões sobre a realidade desses países a partir do processo de constituição
nacional. Apesar dos enfoques divergentes, as discussões possuiam um ponto em
comum: tratavam-se de unidades políticas que queriam definir o que lhes era
próprio, específico, em relação às nações política e economicamente dominantes.
Na América Latina, as discussões sobre cultura se refiram a uma história de
contribuições culturais de múltipla origem, as quais têm por pólo de integração os
processos que são dominantes no mundo ocidental no que concerne à produção
econômica, à organização da sociedade, à estrutura da família, ao direito e às
ideias, concepções e modos de conhecimentos.

2.4. PREOCUPAÇÕES DA CULTURA

O autor informa que cultura pode, por um lado, referir-se à "alta cultura", à
cultura dominante, e, por outro, a qualquer cultura. No primeiro caso, cultura surge
em oposição à selvageria, à barbárie; cultura é, então, a própria marca da
civilização. Ao outro ente, considera-se como cultura todas as maneiras de
existência humana.
Com o passar do tempo, cultura e civilização ficaram quase sinônimas. Usa-
se cultura para falar não apenas em sociedades, mas também em grupos no seu
interior.

2.5. RELAÇÕES ENTRE AS DUAS CONCEPÇÕES BÁSICAS DE CULTURA

Tem-se, pois, as seguintes concepções: a cultura como totalidade das


características de uma realidade social e a cultura como o conhecimento que a
sociedade, povo, nação ou grupo social têm da realidade e a maneira como o
expressam. A preocupação com a totalidade sedimentou-se na concepção de cultura
da ciência do século XIX. Já a associação de cultura com conhecimento é mais antiga,
vinda da relação de cultura com refinamento pessoal.
Com a interação das nações, o sentido do conceito de totalidade está se
transformando, já que as culturas partilham características fundamentais em comum.
Ou seja, em vez de se falar em cultura como a totalidade de características, fala-se
em cultura como a totalidade de uma dimensão da sociedade. Cultura inclui, ainda, as
maneiras como esse conhecimento é expresso por uma sociedade.

2.6. ENTÃO, O QUE É CULTURA


Define-se, então, a cultura como a dimensão da sociedade que inclui todo o
conhecimento num sentido ampliado e todas as maneiras como esse conhecimento é
expresso. É uma dimensão dinâmica, criadora e em processo reflexivo. É,pois, uma
dimensão fundamental das sociedades contemporâneas.

3. A CULTURA EM NOSSA SOCIEDADE

Observa-se, como característica de várias sociedades contemporâneas, a


diversificação interna. Tem-se, pois, a cultura como dimensão do processo social, o
qual contempla, principalmente, os diferentes posicionamentos da população nos
processos de produção e nas classes sociais. Tais processos têm a luta política como
manifestações culturais e abordam conceitos como cultura popular e erudita,
comunicação de massas e o processo de formação da cultura nacional.

3.1 POPULAR x ERUDITO

A cultura, desde o fim da Idade Média, é considerada um refinamento pessoal


baseado na descrição das formas de conhecimento dominantes. Logo, o
conhecimento era objeto de uso apenas da classe elitista, sendo denominado erudito.
Este desenvolveu legitimidade própria controlada em instituições, a exemplo de
hospitais e universidades, e tem como principal consequência o controle das classes
dominadas. Em contraposição ao erudito, tem-se o conhecimento popular, que é visto
como inferior. É caracterizado por apresentar manifestações diferentes da cultura
dominante e resistência à dominação. Ainda assim, há de ser encarada como um
movimento que não depende de aspectos externos, mesmo que se oponha a estes.

Tem-se a cultura, pois, como desenvolvimento das relações de tal polarização.


Dessa forma, pode ser vista como possuidora de conteúdo transformador: a existência
da classe dominada denúncia as desigualdades sociais e a necessidade de superá-
las. Assim, ainda que os benefícios e o controle sejam repartidos desigualmente, toda
produção cultural é produto dessas relações e, salvo as especificidades, é difícil
distinguir manifestações culturais que não estejam relacionadas às classes
dominantes. A exemplo, tem-se o domínio da leitura e da escrita, outrora restrito a
setores privilegiados da sociedade.
3.2 O POPULAR NA CULTURA

Abre-se, assim, o questionamento sobre o que pode ser considerado popular


na cultura. Há, para se obter a resposta, a junção de vários aspectos importantes.
Dentre eles, tem-se, principalmente, a origem histórica de um movimento e o processo
de transformação do país. Logo, não é sobre separar o popular do erudito, mas sim
procurar manifestações nos processos culturais comuns. É preciso, ainda, diferenciar
a Cultura de Classe, que implica a relação das classes sociais entre si para entender
como se apresenta a desigualdade social, e a Cultura Popular, que é o modo de ser
e de sentir como patrimônio de um grupo.

3.3 COMUNICAÇÃO DE MASSA

A comunicação de massa é um instrumento utilizado para homogeneizar a


sociedade. Os meios de comunicação estão associados ao exercício do poder e à
organização da vida coletiva por meio da padronização de formas e controle do que é
transmitido. Ainda que seja forte meio de controle, não é absoluto: podem ser um
projeto dos interesses dominantes da sociedade, mas não são a cultura dessa
sociedade.

3.4 CULTURA NACIONAL

É notório que o confronto entre classes sociais transforma a nação e a cultura.


À primeira, dá-se o conceito de unidade política da história contemporânea. Logo,
como consequência de como a nação se produziu, tem-se a cultura como resultado
de processos seculares de trabalho e produção. Assim, devido às características
pluriétnicas do Brasil, tem-se dificuldade em resumir todos os aspectos socioculturais
na nação em um só tópico, o que acaba por legitimar as relações de poder da
sociedade, como a supervalorização do catolicismo quando comparado às religiões
de origem africana, já que a cultura não é imune às relações de dominação que a
caracteriza. Logo, é mister que a sociedade se democratize, e que a opressão política,
econômica e cultural seja eliminada.

4. CULTURA E RELAÇÕES DE PODER

Neste aspecto, entende-se que a cultura é uma dimensão do processo social, o qual
é utilizado como instrumento para compreender as sociedades contemporâneas. Além
disso, a cultura é um produto da história coletiva, cuja transformação e benefícios são
frutos de como as estruturas sociais se confrontam. Dessa forma, não se pode analisá-
la sem considerar as relações de poder existentes dentro da sociedade.

4.1 SABER E PODER

A cultura – que surgiu junto com o processo de formação das nações modernas
dominadas pelas classes sociais, acompanhando os avanços industriais, teológicos e
científicos – tem preocupações que estão associadas ao progresso da sociedade e
ao conhecimento das novas formas de dominação.

Tem-se, pois, o conhecimento como forma de domínio das consideradas


minorias sociais, tendo em vista sua forma como produto das relações de poder.
Assim, nota-se a exigência que esse setor seja expandido e democratizado como uma
das características dos movimentos sociais contemporâneos.

Dessa forma, entende-se que as preocupações com a cultura são


institucionalizadas. Isto é, fazem parte da organização social, mas são acompanhadas
das diversas mazelas sociais. A exemplo, cita-se o analfabetismo de muitos
integrantes das classes populares. Utilizando-se desse artifício, as classes
dominantes controlam o conhecimento e mantêm a população a parte dos seus
direitos e reivindicações.

4.2 CULTURA E EQUÍVOCO

Nesse sentido, constata-se que a cultura não é estática é equívoco trata-la


dessa forma. Ou seja, se não houvesse transformação na cultura, teríamos que
aceitar como naturais as suas características e as formas de dominação, além de
relativizar a opressão e o sofrimento dos povos em diferentes contextos culturais.

Conclui-se que, ao reter as comparações entre diferentes culturas e diferentes


realidades culturais, o equívoco está no modo que se trata a cultura, não nas
preocupações que o tema revela. A compreensão de que suas características não são
absolutas e não respondem às exigências naturais, mas são históricas e suscetíveis
a transformações.

4.3 CULTURA E MUDANÇA SOCIAL


Logo, tem-se a cultura como uma produção coletiva que apresenta marcas
profundas de desigualdade. Nesse contexto, enquadra-se os movimentos sociais cujo
objetivo é a universalização dos benefícios culturais, para que não se restrinjam
apenas as classes sociais detentoras do poder. Portanto, a cultura é um legado
comum a toda a humanidade e não se limita a uma minoria elitista.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse viés, nota-se que a cultura é produto das relações humanas na


sociedade. É, pois, resultado das desigualdades sociais pautadas nas relações de
poder existentes nas relações humanas. Registra, também, os conflitos da história
contemporânea e suas transformações sociais e políticas. Considera-se, assim, como
importante instrumento social na busca por universalização dos benefícios existentes
no mundo atual. Assim, é importante para o estudo do Direito pois é elemento
primordial ao entendimento da dinâmica na sociedade e à igualdade de direitos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SANTOS, José Luiz dos; O Que é Cultura. 16. Ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.
ANDRADE, Maria Margarida de; Introdução à Metodologia do Trabalho Científico.
10. Ed. São Paulo: Atlas, 2010.
MEDEIROS, Dileta Silveira; ZILBERKNOP, Lúbia Scliar. Português Instrumental:
Normas da ABNT. 25. Ed. São Paulo: Atlas, 2009.

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