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UPE Campus Petrolina

CURSO DE LETRAS - PORTUGUÊS


DISCIPLINA: Fundamentos Antropológicos da Educação.
PROFESSOR: Dr. Francisco Veríssimo de Souza Melo
ESTUDANTE: João Douglas Calado de Moura Silva

Atividade - 01:

As relações sociais são profundamente marcadas por sentidos e significados


que nós, ativamente, matemos e atualizamos em nossos coletivos e sociedades. Há
muito tempo tem se discutido o caráter e a natureza dessas relações no interior de
cada coletivo humano. Afinal, o que compõe a excepcionalidade humana frente aos
coletivos de outros animais? Ou melhor, o que nos torna humanos a partir de uma
excepcionalidade? Seria a cultura o nosso diferencial frente aos não humanos? Mas
como podemos definir a cultura?

Neste exercício, fui chamado ao problema da definição da cultura por meio do


livro O que é Cultura, do autor José Luiz de Santos. Um esforço reflexivo em torno
de várias outras questões que orbitam a discussão sobre a cultura que passa desde
os processos de encontros históricos entre culturas distintas, aos problemas
contemporâneos enfrentados pela nossa sociedade. As relações humanas, e
acrescento as relações entre humanos e não humanos, a materialidade e a
produção material da vida em cada existência coletiva são produtos culturais. São
eles mesmos a própria cultura. Mas a cultura é sempre plural, adverte Santos. Ao
falar em cultura, deve-se partir de algum lugar, estando em relação com
determinados grupos para que as práticas, os símbolos, a linguagem, os códigos,
tudo que for possível na composição de uma forma de existência, possam ter
sentido. A essa pluralidade, damos o nome de diversidade, ou diversidade cultural.
Santos segue adiante com mais uma advertência. Para ele, é preciso ter, e com isso
rejeitar certas posturas, alguns cuidados. A primeira delas é assumir um olhar crítico
às perspectivas evolucionista e relativista. Com o evolucionismo, a cultura perde
muito da sua própria diversidade, passando de uma cultura no plural para uma no
singular e com c maiúsculo. A postura evolucionista compreende que todas as
demais sociedades e arranjos sociais que não sejam semelhantes ao do
evolucionista estejam em escalas inferiores, partindo do princípio de que eles
podem, e devem, gradualmente, evoluir de estágios até o auge da sua civilização.
Para ela, a diversidade seria um mero detalhe histórico com seu gradual
desaparecimento/ superação em curso. A lógica dessa perspectiva é a de uma ação
que ao mesmo tempo em que exagera as qualidades de uma certa cultura o faz em
detrimento das demais, tidas sempre como “exóticas”, “primitivas” e “tradicionais”.
Como exemplo, os países europeus se desenvolveram ao longo dos séculos
partindo desse princípio de soberania frente ao encontro com os povos do
continente africano e americano. Iniciando uma série de processos violentos de
extração e produção de riqueza para além do mar, os europeus puseram sobre
coletivos distintos, não sem resistência, sua cultura. A herança evolucionista
permanece até hoje quando mantemos em nossas práticas sociais certo
estranhamento e intolerância em conviver com diferentes modos de vida na
tentativa de civilizar, modernizar ou desenvolver estes.

Já a perspectiva relativista oculta as relações conflituosas e de poder que gira


em torno dos encontros culturais. Mas essa postura não deixa de operar, de certa
forma, partindo dessas relações. O relativismo cultural, definido por Santos,
apresenta um grande problema: ao apresentar a cultura como única e plural,
variando em cada sociedade, ele deixa de fora de sua análise um fator essencial
para o autor, a ligação entre essas culturas. Na contemporaneidade as conexões
são mais rápidas e potentes, um grande impulso de imagens, vídeos, textos
codificados e áudios circulam e viajam constantemente entre cidades, estados,
países e continentes. Compreender a cultura de forma isolada parece cada vez
mais um erro analítico. Não obstante, tais trocas e conexões podem ser
assimétricas. A força impulsionadora de uma sociedade como a dos Estados
Unidos, por exemplo, dita, em diferentes partes do mundo, tendências e estilos de
vida. Uma teia se tece a partir de coletivos que se conectam, uns tecendo mais,
outros resistindo mais as tensões. O relativismo, portanto, não resolve o problema
das relações de dominação, das interferências e intercâmbios culturais.

Outro aspecto fundamental para se compreender sobre a discussão em torno


da cultura parte do seu envolvimento com a polarização erudição e cultura popular.
A associação recorrente entre cultura e conhecimento característico do elitismo
demonstra como a nossa sociedade foi construída em bases bastantes desiguais.
De acordo com isso, grupos sociais dominantes de uma sociedade são detentores
de uma erudição ausente dos grupos sociais menos favorecidos. Seguindo essa
linha, tudo que é produzido culturalmente por estes últimos é visto como inferior.
Para Santos, essa é uma falsa polarização. A cultura não é exclusiva de um grupo,
nem está envolvida unicamente com o conhecimento erudito, e também não se
pode falar em cultura partindo de classificações e hierarquias. Em constante
dinâmica, a cultura é produzida e atualizada a serviço de diferentes grupos e
contextos históricos. A história, por sua vez, deve estar também no centro dessa
discussão.

Santos compreende que os processos históricos da construção da


nacionalidade exigem uma avaliação de como as culturas que compõem essa
construção estão dispostas nesses quadros nacionais. O esporte como o futebol,
por exemplo, é um jogo coletivo que inspira e mobiliza brasileiros de todas as
partes. Outros elementos são também convocados a fazer parte desse panorama
cultural brasileiro como é o caso do carnaval. Esses elementos existem e estão
impregnados no imaginário mundial sobre o Brasil. Contudo, deve-se ter o cuidado
com eles, principalmente pelo uso impróprio que se faz para beneficiar certos
interesses dominantes de nossas sociedades. O cuidado é sempre com um uso
conservador da cultura nacional, como explica Santos. Para isso, vale ressaltar que
a indústria cultural pode se apropriar de diversas formas dos aspectos e produtos
dos grupos sociais que compõem nossa sociedade para fins comerciais. A cultura
como mercadoria é esvaziada do seu sentido interno para os coletivos humanos.
Torna-se alvo de interesses externos e conflituosos e, assim, alvo de disputa social
e política. É nesse contexto que a discussão sobre cultura se insere, para Santos,
na contemporaneidade. Pois, a definição de cultura compreende toda a produção
coletiva de modos de existências humanos e, com isso, todo os arranjos e conexões
entre esses modos culturais, partindo de uma preocupação com as relações que se
estabeleceram e estabelecem entre diversas sociedades de grupos sociais. Dessa
forma, qualquer fala sobre a(s) cultura(s) não deve ser feita sem levar em
consideração as dominações mercantilistas, coloniais, imperialistas e classistas,
bem como os seus aspectos raciais. A preocupação parte em não deixar que a
cultura seja tratada como um aparato de dominação. Seja os elementos nacionais, a
cultura de massa ou a cultura popular, todos estão vinculados aos diversos grupos
sociais e sociedades como seu legado. É preciso entender a cultura como ponto e
instrumento de crítica às relações de poder. 

No início do livro, o autor busca trazer uma breve explicação sobre cultura, tentando mostrar
a necessidade de entendermos como e de onde surge cada cultura em si. Abordando desde
os seus princípios quanto como a cultura influencia o comportamento social e diversifica a
humanidade e as suas transformações durante a história. Conflitos e entendimentos entre
os mais diversos modos de viver e de organizar as sociedades e pessoas, mostrando que
tudo isso não foi “gratuito” e que houve um longo processo para se chegar no entendimento
que se tem hoje. Ele também busca trazer à tona o processo de curiosidade ao leitor,
quando ele traz para discussão o processo de entendimento de cada cultura e costume
diferente do seu “Eu” individual conhecido, citando diversos filósofos e frases de referência
como Heródoto, considerado “Pai da História”, para ele um homem que conhecesse todos
os costumes vividos por outros ainda assim acabaria preferindo os seus próprios, pois
estará convencido que estes são melhores. Partindo nisso, no início do livro o autor traz
para discussão, questões de estereótipos culturais e nacionalistas como o “os norte-
americanos são empreendedores e interesseiros”, mas buscando trazer para discussão as
questões de como era forte a sensação de superioridade pesquisadores e pensadores do
século XIX que acabavam acreditando que só existia civilização em regiões acima da linha
do Equador por exemplo.

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