UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

DISCIPLINA: CULTURA E MUDANÇA NAS ORGANIZAÇÕES
PROFESSOR: FERNANDO GOMES DE PAIVA JÚNIOR
MESTRANDA: JOICIANE RODRIGUES DE SOUSA

RESENHA CRÍTICA: IDENTIDADE E DIFERENÇA

RECIFE-PE
2023
Resenha por Joiciane Rodrigues de Sousa

Esta resenha foi feita a partir do capítulo "Identidade e diferença: uma introdução
teórica e conceitual", do livro "Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais", de
Tomaz Tadeu da Silva, no qual discorre sobre o porquê o conceito de identidade é importante,
também questiona se existem crises de identidade, como a diferença é marcada em relação à
identidade, por que investimos nas identidades, no qual ao longo do texto busca relacionar
com exemplos práticos do nosso dia a dia, o que favorece o entendimento acerca da temática.
De início traz a história sobre a guerra e conflito, em um contexto de turbulência social
e política entre dois países, Sérvia e Croácia. O povo dessas duas nações se enxerga com suas
próprias identidades. Eles compartilham diversos aspectos da cultura, mas se consideram
diferentes, até mesmo nos cigarros que fumam. A diferença é justificada pela exclusão, se é
sérvio não pode ser croata, tratando o outro como estranho. Um ponto em comum entre eles
se trata da inferioridade da sua cultura balcânica em relação à Europa sofisticada.
O tema identidade é importante de ser analisado, por buscar compreender as
preocupações contemporâneas com questões identitárias em diferentes níveis, como as
nacionais, étnicas, com as relações pessoais e com a política sexual. Com isso, é relevante
entender a formação de identidades e os processos envolvidos. Então se deve questionar se ela
é fixa ou fluída? O que influencia na sua definição? Qual a influência do ambiente local? Os
museus visitados pelos alunos do PROPAD/UFPE representam essa preocupação com a
identidade de um povo, em que o Cais do Sertão demonstra a cultura e os artefatos dos
sertanejos, já o Paço do Frevo demonstra toda a história de formação do frevo pernambucano.
O papel da cultura na produção dos significados perpassa por todas as relações sociais,
o que leva a uma preocupação com a identificação. Distintos significados são produzidos por
meio de sistemas simbólicos, em que as práticas de significação envolvem relações de poder
para definir quem é incluído e quem é excluído. Logo, a identidade é a intersecção da vida
cotidiana com as questões econômicas e políticas de subordinação e dominação. Nesse
sentido, se questiona a influência das relações de poder na construção das culturas dispostas
nos museus, será que mostra uma cultura autêntica ou houve interesses mercantis sobre elas?
Sabe-se que para um museu permanecer ativo é necessário financiamentos de
organizações que fomentam a cultura, bem como o próprio Estado. Mesmo sabendo que pode
haver influência no que deseja repassar ao público, salienta a relevância que estes museus têm
para a comunidade representada, visto que seus signos e símbolos estão sendo repassados de
geração em geração, e para outros grupos que vem fazer turismo na cidade do Recife.
O Cais do Sertão mostra como o sertanejo enfrentou dificuldades perante a falta de
água, mas demostra a identidade de um povo lutador que pode ser representada pela figura do
Lampião, em que tem sua roupa de couro exposta no museu, trazendo também a
representatividade por meio de músicas como "Asa branca" de Luiz Gonzaga. No que
concerne ao museu Paço do Frevo, demonstra outro aspecto da cultura nordestina,
especificadamente a pernambucana, retratando diversão e energia a partir da música e dança.
Desse modo, podem existir as crises de identidade, que são características das
transformações globais. As migrações impactam tanto no seu país de origem como de destino,
em que o fator de expulsão dos países pobres é mais forte do que a atração das sociedades
pós-industriais e tecnologicamente avançadas. Tanto os países colonizadores como os
colonizados tem respondido a diversidade do multiculturalismo, seja através do desejo pela
exclusividade cultural ou reação a marginalização na sociedade. O caso de Luiz Gonzaga,
homenageado no museu Cais do Sertão, este foi influenciado pela cultura do Rio de Janeiro
na produção de suas músicas, inclusive na mudança da quantidade de baixos da sua sanfona.
As representações sobre o oriente produzem um saber ocidental sobre ele, o qual
desemboca em um medo e ansiedade, que impede de conhecer como de fato funciona a vida
do oriente da África, uma vez que tem se concentrado em um fundamentalismo islâmico,
torna-se demonizado, sendo considerada a principal ameaça às tradições liberais. Têm-se as
lutas pela afirmação e manutenção de identidade, em que o mundo pós-colonial possibilitou o
colapso das velhas certezas e a liberdade para construir novas formas de posicionamento.
Laclau argumenta que não existe mais uma única força, tal como a classe do
paradigma marxista, que molde todas as relações sociais, o que existem são múltiplos centros.
Os indivíduos vivem no interior de um grande número de instituições, que Bourdieu chama de
campos sociais, como as famílias, escolas, trabalho ou partidos políticos. Cada um desses
campos possui um conjunto de símbolos. Os contextos sociais possibilita o envolvimento em
significados sociais diversos, seja em casa com os filhos ou na empresa com chefe e colegas.
É notável a emergência de novos padrões de vida doméstica, identificado pelo
crescente número de lares chefiado por pais ou mães solteiras, bem como as taxas elevadas de
divórcio. As identidades sexuais também estão mudando, tornando-se mais questionadas e
ambíguas, sugerindo mudanças e fragmentações que podem ser descritas em termos de crise
de identidade. Nesse contexto, percebe-se com a modernidade, a necessidade de assumirem-se
várias identidades, podendo estas estar em conflito, quando interfere na exigência da outra.
A política de identidade concentra em discutir a cultura das pessoas que pertencem a
um grupo oprimido e minoritário, por exemplo, o feminismo, o movimento dos direitos civis
dos negros e a política sexual. Nota-se uma luta das mulheres negras pelo reconhecimento de
sua própria pauta no interior do movimento feminista. Ainda, em uma tentativa de questionar
a afirmação da homossexualidade como anormal, apela-se a discursos científicos da biologia.
Identidade depende da diferença. Nas relações sociais, as formas de diferença social e
simbólica são estabelecidas por sistemas classificatórios. Esse sistema aplica o princípio de
diferença de uma população, capaz de dividir em pelo menos dois grupos opostos. Utilizando
a religião como modelo, de como os processos simbólicos funcionam, ver-se que as relações
simbólicas são reproduzidas e classificadas em dois grupos: as sagradas e as profanas. O
museu Cais do Sertão traga uma definição dos nordestinos no que refere a sua religiosidade,
principalmente o catolicismo, expresso em quadros e esculturas de gesso nas suas casas.
Cada cultura tem suas próprias formas de classificar o mundo, dando sentido aos seus
significados como acontece na proibição de bebidas alcoólicas e de carne de porco pelos
mulçumanos. Ademais, cada casa desenvolve um padrão regular de horários de alimentação,
além dos tipos conforme sua renda. As desigualdades de gênero têm sido tratadas na
antropologia conforme a oposição fundamental que Lévi-Strauss toma como base da vida
social, ligada a tendência de identificar as mulheres com a natureza e homens com a cultura.
Logo, as ideologias são sistemas de representação, uma complexa análise de como
funcionam e como os sujeitos são recrutados, em que a subjetividade pode ser explicada em
termos de estrutura, práticas sociais e simbólicas. O sujeito pode ser uma categoria
simbolicamente construída, o texto apresenta uma mãe que buscava a adoção de uma criança,
organizando sua casa e se comportando de acordo com o que a inspetora poderia requerer.
Diante do exposto, destaca o quão as identidades podem ser dinâmicas e se
diferenciam diante das circunstâncias do qual fazem parte. A globalização permitiu que
formas identitárias se espalhassem pelo mundo todo, contribuindo assim para que surjam os
conflitos de interesses entre grupos diversos, principalmente com a expansão da perspectiva
pós-colonial, em que grupos minoritários ganharam mais força para reivindicar o seu espaço
na sociedade. Todos os pressupostos discutidos afetam diretamente no circuito da cultura.

REFERÊNCIA

WOODWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, T.

T. da (Org). Identidade & Diferença. Petrópolis: Vozes, 2000.