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Claudia Botelho
Mestranda no PPGA/UFES
Ainda no primeiro capítulo, o autor chama a atenção para como alguns processos de
mudanças, como a “globalização” podem gerar impacto sobre as identidades
culturais. As sociedades modernas realizaram mudanças constantes, rápidas e
permanentes. Essas sociedades tiveram uma transformação do tempo e do espaço,
um desalojamento do sistema social, evidenciaram a extração das relações sociais
dos contextos locais e sua reestruturação ao longo do tempo-espaço.
Stuart Hall apresenta as principais ideias que contribuíram para essa mudança das
identidades. Essas ideias são compreendidas entre a tradição do pensamento
marxista, o seu ressurgimento nos anos de 1960, traz o sujeito para dentro das
relações sociais, tirando-o do afastamento que vinha habitando como um ser único e
centrado. A teoria do inconsciente de Freud, que mostra nossas identidades
formadas com base em processos psíquicos e simbólicos do inconsciente, que
funciona com uma lógica muito diferente com aquela da razão, isso prejudica o
conceito de sujeito racional provido de uma identidade fixa e unificada. Já linguística
estrutural de Fernando Saussure aponta para a língua como um sistema social e
não um sistema individual. A fala não significa expressar pensamentos interiores e
originais, ela ativa significados que estão embutidos na língua e nos sistemas
culturais. Os significados das palavras surgem nas relações de similaridades e
diferenças que existem entre elas.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANS E NATURAIS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
Outra teoria moderna que teria influenciado o descentramento do sujeito foi a
Filosofia de Foucault. O poder da disciplina, a regulação, a vigilância, o governo da
espécie humana, os lugares que policiam e disciplinam individualizam ainda mais o
sujeito, tornam maior o isolamento e a vigilância. Também o surgimento de novos
movimentos sociais, nos anos de 1960, tiveram impactos diretos no fortalecimento
de identidades fragmentadas. Cada movimento apelava para a identidade social de
seus sustentadores, uma política de identidades. O feminismo esteve ligado ao
descentramento do sujeito ao contribuir para a expansão da formação das
identidades sexuais e de gênero.
No capítulo 4, ele nos chama a atenção para a criação nas Culturas nacionais como
comunidades imaginadas. A transformação do sujeito pós-moderno não tem suas
responsabilidades apenas naquilo que lhe foi ocorrendo individualmente, as
identidades culturais também foram se modificando, e assim, agindo sobre o
individuo.
O autor se preocupa em deixar claro que, “... As nações modernas são, todas,
híbridos culturais.” (2011, p. 63), não são compostas apenas de um único povo, uma
única cultura ou etnia.
Para nos mostrar como esse conceito de nação fechada e pura não serviria mais
para explicar o sujeito pós-moderno, Stuart Hall dedica o capítulo 4 ao fenômeno da
Globalização.
Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos,
lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e
pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mas as
identidades se tornam desvinculadas- desalojadas- de tempos, lugares,
histórias e tradições especificas e parecem “flutuar livremente”. Somos
confrontados por uma gama de diferentes identidades (cada qual fazendo
apelos, ou melhor, fazendo apelos a diferentes partes de nós), dentre as
quais parece possível fazer uma escolha... (HALL, 2011, p.75).
Assim, tornasse irreversível o processo de descentralização do sujeito diante das
novas identidades culturais. Em meio a globalização, um mesmo sujeito pode
identificasse com culturas diferentes não importando o local que habita, e não se
trata de uma identidade deslocada apenas, mas na maioria das vezes, isso resulta
em uma identidade hibrida.
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Stuart Hall também analisa que em decorrência da globalização se gerou uma
tensão entre o “global” e o “local”. Assunto que se dedicou no capítulo 5 do livro. De
acordo com o autor, ainda, não é possível determinar que a globalização vá destruir
as identidades das culturas nacionais. No entanto, ele apresenta como diferentes
autores possuem divergentes pontos de vista a esse respeito.
Hall utiliza-se de Kevin Robin para defender que ao lado da tendência em direção a
homogeneização global, há também a fascinação com a diferença e com a
mercantilização da etnia e da “alteridade”. Ou seja, juntamente com o impacto do
global existe um novo interesse pelo local. Já para Doreen Massey, a globalização é
desigualmente distribuída ao redor do globo, é desigualmente distribuída entre as
regiões e entre diferentes estratos da população dentro das regiões. O que Massey
chama de “geometria do poder” da globalização. E ainda de acordo com Robin,
existe uma desigualdade do poder que afeta de forma diferente as partes do globo.
Existem relações desiguais de poder cultural entre o “Ocidente” e o “Resto”, que
apesar de ser por definição algo que afeta o globo inteiro, ela é essencialmente um
fenômeno ocidental.
Diante dessas ideias Stuart Hall analisa que a globalização caminha em paralelo
com um reforçamento das identidades locais, embora isso ainda esteja dentro da
lógica da compressão espaço-tempo. É um processo desigual e tem sua própria
“geometria”, ou dir-se-ia, “geografia” de poder. Por fim, a globalização retém alguns
aspectos da dominação global ocidental, mas as identidades culturais estão em toda
parte, sendo relativizadas pelo impacto da compressão espaço-tempo. Esses fatos
geram um novo movimento contraditório entre Tradição e Tradução.
... Em toda parte, estão emergindo identidades culturais que não são fixas,
mas que estão suspensas, em transição, entre diferentes posições; que
retiram seus recursos, ao mesmo tempo, de diferentes tradições culturais; e
que são o produto desses complicados cruzamentos e misturas culturais
que são cada vez mais comuns num mundo globalizado... (HALL, 2011, p.
88).
O conceito de Tradução é utilizado para definir a formação de identidades que
atravessam e intersectam as fronteiras naturais, compostas por pessoas que foram
dispersas para sempre de sua terra natal. Essas pessoas retêm fortes vínculos com
seus lugares de origem e suas tradições, mas sem a ilusão de um retorno ao
passado. Vivem sem serem assimiladas pelas novas culturas e sem perder
completamente suas identidades. Elas carregam traços culturais, das tradições, das
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linguagens de sua cultura original, porém não são unificadas, estão entre varias
histórias e culturas diferentes, marcadas por todas ao mesmo tempo.
Para tratar desse assunto Stuart Hall dedicou o último capítulo (capítulo 6) as
questões do Fundamentalismo, da Diáspora e do Hibridismo.
O que parece ser preocupante nesse contexto é o fato desse movimento em direção
à homogeneização global ter influencia direta no retorno da valorização da etnia
pura e soberana, e que pode gerar identidades exclusivas ou essencialistas.
Stuart Hall finaliza seu texto apontando para as implicações que a globalização pode
gerar sobre o nacionalismo. Segundo o autor, o nacionalismo ocorre ao lado da
globalização e estar intimamente ligado a ela, constitui uma reversão.
... a globalização não parece estar produzindo nem o triunfo do “global” nem
a persistência, em sua velha forma nacionalista, do “local”. Os
deslocamentos ou os desvios da globalização mostram-se, afinal, mais
variados e mais contraditórios do que sugerem seus protagonistas ou seus
oponentes (HALL, 2011, p. 97 e 98).
E assim conclui, a globalização tende a torna-se um processo lento, desigual e
contínuo do deslocamento do Ocidente.