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O AFROFUTURISMO COMO FORMA DE REPRESENTAÇÃO CULTURAL1

Kellen Carolina Vieira Silva2


Jaqueline Carvalho Quadrado3

Resumo: O presente trabalho pretende compreender, dentro de blogs sobre o movimento


negro, o afrofuturismo como um mecanismo de representatividade da cultura negra, uma vez
que “os sistemas de representação são os sistemas de significado pelos quais nós representamos
o mundo para nós mesmos e os outros.” (HALL,2003), assim compreender, através de
bibliografias sobre o assunto, quais as consequências que tal mecanismo tem na vida do sujeito
que visa essa representatividade e qual relação no negro dentro deste contexto sociocultural
ocidental onde “A civilização branca, a cultura europeia, impuseram ao negro um desvio
existencial” (FANON, 2008).

Palavras-chave: Afrofuturismo; representatividade cultural; movimentos sociais; minorias


culturais.

Ao tratarmos de cultura devemos entender, primeiramente, de qual conceito tratamos, uma vez
que tal tema é extremamente amplo. O termo cultura passa por diversas transformações de
significados ao longo do tempo, passando a ter a significância atual e maior relevância dentro
da política no pós-modernismo. Segundo Stuart Hall “a conotação do termo cultura com o
domínio das ‘ideias’, a segunda ênfase é mais deliberadamente antropológica e enfatiza o
aspecto de ‘cultura’ que se refere às práticas sociais” (2009, p.136). Tal afirmação estabeleceu
dentro de sua literatura diversas questões críticas sobre a formação da cultura, identidade
cultural e representatividade.

Abordamos aqui a cultura como uma cultura de identidade, pois essa tipologia questiona
os padrões sociais existentes e busca a diferenciação dentro do ideal de igualdade,
universalidade e individualidade, uma vez que a “Cultura como identidade é avessa tanto à
universalidade como à individualidade; em vez disso ela valoriza a particularidade coletiva”

1
Direito, cidadania e cultura.
2
Acadêmica do curso de Ciência Política da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA).
Kellenc.vieira@gmail.com.
3
Professora Doutora do Curso de Serviço Social da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA).
Jaquelinequadrado@unipampa.edu.br.

1
(Eagleton, 2005). Deste modo, pode-se afirmar que a cultura está presente na vida cotidiana e
política dos indivíduos nos mais diversos âmbitos, criando, a identidade cultural.

Com o advento da migração, as sociedades vão se constituindo como mistas, tendo


como principal fator, o colonialismo e imperialismo. Tal evento determinou a miscigenação de
diversas sociedades durante o século XV determinando assim a constituição da sociedade
moderna e, consequentemente, da pós-moderna, porém esse processo desconsiderou a cultura
e tradição já existentes nos locais de dominação. As culturas preexistentes foram dizimadas no
processo colonial, não conseguindo se fazer incluídas a ponto de servir de base para a criação
de uma nova cultura cívica (HALL, 2003.).

Tal ocorrido também se concretizou com a globalização, um termo bastante utilizado,


que apesar de seu caráter universalista “Ele continua sendo um sistema de desigualdades e
instabilidades cada vez mais profundas” (HALL, 2003. p.59). Portanto, a globalização não é
uma constituição natural das sociedades, ela sofre resistência e variação de acordo com a sua
receptividade em cada cultura. A partir disso, há indicação do que Stuart Hall chama de
“proliferação subalterna da diferença”. A proliferação subalterna da diferença é a introdução
de mecanismos estrangeiros e dominantes dentro de padrões locais, ou seja, há uma introdução
e uma dominação de uma cultura sobre a outra, porém há uma cultura local que não permite
que outra se manifeste de forma total (HALL, 2003. p).

A ideia de identidade cultural só é estabelecida pela existência de diversas culturas que,


por serem diferentes, acabam afirmando suas particularidades através da afirmação de uma
identidade que é estruturada no contexto histórico de um determinado grupo, tendo sua
formação no campo simbólico com sua construção de significados e considerando que
“Essencialmente, presume-se que a identidade cultural seja fixada no nascimento, seja parte da
natureza, impressa através de parentesco e da linhagem dos genes, seja constitutiva de nosso
eu mais interior” (HALL, 2009. p.28) compreendendo assim a classificação do “eu” e do
“outro” nas relações sociais.

A identidade se consolida através da interpelação do sujeito e da sua representação.


Com a modernidade, as pessoas não se sentem identificadas com sua categorização por classes

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sociais e sim pelo seu individualismo. Dentro do contexto atual, onde temos a chamada pós
modernidade, observa-se a existência das sociedades multiculturais e o multiculturalismo.

Segundo Stuart Hall (2003) há diferenciação entre o multicultural e o multiculturalismo,


sendo o primeiro um termo que qualifica as características de uma determinada sociedade, e o
segundo as estratégias políticas para administrar sociedades multiculturais. Essas teorias
multiculturalistas são questionadas. Entretanto, o multiculturalismo, em essência, busca
manifestar a diversidade cultural, enfatizando sua importância (Wallace,1994).

No caso de comunidades diásporas, essas podem tornar as pessoas com identidade não
muito definida. Considerando que a manutenção da identidade é relevante à auto compreensão
de um determinado grupo étnico-racial, surgem então as questões civis sobre a multiplicidade
cultural, como a questão da igualdade que tange o direito do cidadão. Sendo a identificação
dentro da sociedade civil uma “comunidade imaginada” onde a cultura, a representatividade e
a identidade são construídas (HALL, 2003. p78).

Considerando esse conceito de comunidade imaginada, esse trabalho busca


compreender a representatividade da cultura negra através do Afrofuturismo e qual relação do
negro dentro do contexto sociocultural ocidental e pós-moderno. Ao abordarmos temáticas
como identidade cultural e representatividade, podemos concluir que se tratam de proposições
teóricas e abertas à refutação (Hall, 2009).
O presente artigo será dividido em duas seções, onde na primeira se indica o que é a
representatividade cultural, considerando a cultura e a identidade cultural expostas por Stuart
Hall em seus livros “Da diáspora”(2003) e “Identidade cultural na pós modernidade”(2009),
para assim indicar o que é o Afrofuturismo, através de sua classificação nos portais do instituto
Geledés e da organização não governamental (ONG) African Futures Institute e nesse contexto
definir de qual modo o afrofuturismo se constitui como um mecanismo de representatividade
da cultura negra.
2. REPRESENTAÇÃO CULTURAL

A cultura se constitui num padrão e no meio social, tendo uma clara associação com
termos como “civilizadora” e “idealista”, sendo constituída por identidades representadas,

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sendo que “é somente pelo modo no qual representamos e imaginamos a nós mesmos que
chegamos a saber como nos constituímos e quem somos” (HALL, 2003. p 346).

Após o período colonial, houve um forte encontro entre culturas e um movimento de


dominação, mas com o advento da chamada pós modernidade, podemos observar mais
nitidamente as mudanças na identidade (HALL, 2009).

A identidade é instável e está sempre em movimento, podendo modificar não somente


o conceito, mas também o sujeito. Ela também é múltipla, ou seja, uma única pessoa pode
conter em si várias identificações, como por exemplo a mulher negra, ela se identifica como
mulher e também como negra. No geral indica-se que transformamos a identidade que antes
era classista para uma identidade da diferença, pois o sujeito que se identifica, é uma questão
de politização, pertencimento e não mais de classificação (HALL,2009).

A migração trouxe consigo o aumento da diversificação étnica em um mesmo território


sendo que os processos que consolidaram o encontro cultural são majoritariamente
hierárquicos, deixando na marginalidade tudo aquilo que destoa dos padrões eurocêntricos.
Ao considerarmos o histórico da migração negra, que é nosso enfoque nesse artigo, não
podemos considerar uma migração voluntaria, uma vez que o povo negro foi traficado e
escravizado, sendo assim, no caso da cultura negra “A civilização branca, a cultura europeia,
impuseram ao negro um desvio existencial” (FANON, 2008). Uma vez que a população negra
foi desumanizada.

O sentimento de pertencimento a uma determinada cultura, depende da representação


que se tem daquele determinado contexto. Tal mecanismo se reflete da história, mitologia,
memoria, imagens, e tudo aquilo que faça o sujeito se identificar, com ênfase na continuidade
desse processo. A representação é uma forma de reivindicar a diferença e o pertencimento
dentro de um universo de identificações (HALL,2009).

As pessoas em diáspora enfrentam problemáticas da invisibilidade, relativas a à falta de


poder. Isso se torna um agravante presente nas sociedades que limita a aceitação e proliferação
da cultura negra. Sua marginalização através do racismo, que é tende a inferiorizar uma raça,
ou preconceito de cor. Como a cor é uma diferenciação visível, ela se tornou um critério
principal para o julgamento. Ao tratarmos do indivíduo, consideramos o meio social no qual

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ele está inserido. Segundo o autor Franz Fanon (2008) na construção social “há o “descolado”,
a corte do “descolado”, os insignificantes (os que esperam) e os humilhados. Estes últimos são
impiedosamente massacrados” (FANON, 2008. p.177)

Para combater os estereótipos degradantes e diminuir o preconceito, as pessoas negras


tentam se aproximar de pessoas não negras. Sendo assim, “aquilo que se chama de alma negra
é frequentemente uma construção do branco. ” (FANON, 2008). Quando falamos da
comunidade negra, entendemos que no meio em que ela foi inserida e considerando seu
contexto histórico, ela é considerada uma “raça inferior” e portanto o negro busca se assemelhar
a à “raça superior”. Ao nos referirmos a raça, não podemos nos basear em teorias biológicas,
pois não se trata disso, o racismo é ideológico e discursivo, ele se constrói através

“Daqueles sistemas de representação e práticas sociais


(discursos) que utilizam um conjunto frouxo, frequentemente
pouco especifico, de diferenças em características físicas – cor da
pele, textura do cabelo, características físicas e corporais, etc. –
como marcas simbólicas, a fim de diferenciar socialmente um
grupo de outro. ” (HALL, 2009. p. 63).
A ruptura com esse sistema de representação se dá com o reconhecimento da diferença
e essa operação deve acontecer entre as duas estruturas, uma vez que se ocorrer de forma
unilateral, não terá o mesmo impacto. Uma outra resposta é a luta pelo autoconhecimento, pela
representatividade e pelo reconhecimento de seu povo. Não podemos considerar, na pós-
modernidade, que exista uma forma unificada de representação de uma cultura, ainda mais se
tratando de uma formação tão ampla como a cultura negra.

O advento da pós-modernidade trouxe consigo a fascinação e o respeito pela diferença,


não se referindo apenas às diferenças étnicas, mas as sexuais, de gênero e raciais. Apesar dessa
maior aceitação, a cultura negra continua se constituindo de forma periférica, porém isso não
é sinônimo de estagnação pois a produção continua ativa através da valorização do diferente
que, a fim de intervir na cultura popular faz-se uso da estratégia política cultural. Um outro
fator que contribui para a valorização de culturas diferentes é o advento dos direitos civis, que
esteve presente principalmente nos EUA, que se constituíram como hegemonia cultural, e das
lutas sociais que pretendiam “descolonizar” e emancipar a população e a cultura negra.

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A cultura popular tende à hegemonia cultural que, através das relações de poder
cultural, se constituem pelo senso comum. Este, ao se tratar da cultura negra, induz a
estereótipos. Portanto, a introdução da cultura negra dentro do âmbito da cultura popular, se
torna um objeto de luta contra preconceitos, sendo usadas a autoconfiança, disciplina e
perseverança necessárias para a aceitação e aprovação no mainstream.
Porém a cultura negra não pode mais se constituir como unificada, isso “Significa
insistir que na cultura popular negra, estritamente falando, em termos etnográficos, não existem
formas puras” (HALL, 2003. p 343) uma vez que parte de sua população está presente em
diáspora que determinam diferentes resultados juntamente com a herança cultural.
No contexto diásporo, a constituição da diferença é importante no sentido de determinar
espaços, porém elas teriam de ser dialógicas ou até mesmo hibridas, isso “significa a lógica do
acoplamento em lugar da lógica da oposição binária” (HALL, 2003. p 345), pois a
diferenciação é comumente tratada como um espaço em que cada cultura tem sua
“autossuficiência” o que as tornam excludentes, uma vez que se entendem como opostas.

O autor Cornel West em seu artigo “the new cultural politics of difference” (1990)
demonstra como as culturas politicas produzem e constituem a diferença dentro da
representação, com a articulação que contribui com culturas “a fim de capacitar e habilitar a
ação social e, se possível, para alistar- insurgência coletiva para a expansão da liberdade , da
democracia, e individualidade.”* (WEST, 2008) Essa nova política cultural se baseia na
mudança intelectual, existencial e política do povos através das práticas de representação
histórica, cultural e social.
Ao considerarmos a democracia como meio para a constituição da cidadania, deve-
se compreender que a formação do cidadão deve respeitar as diferenças e todos devem ter
direito a à sua identidade e reconhecimento de seu povo e sua história.
A diversificação deve ser o cenário dos estudos da cultura negra, pois ela se constitui em vários
espaços e cria novas experiências, por isso o autor Cornel West diz que não é surpreendente as
constituições de diferentes formações da cultura negra. E, considerando a engenharia social
atual que faz com que negros tenham dificuldade de acesso ao poder e, consequentemente,
dificuldade de disseminar imagens positivas, contrariando, desse modo, os estereótipos
racistas. Usando uma comparação judicial, “no tribunal da vida, as pessoas de cor são culpadas
até que comprovada a inocência” (WEST,2008)

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2.1 O AFROFUTURISMO.

No início da década de 1980 surgiu a afrocentridade com a ideia de auto definição do


povo negro com critérios baseados na própria cultura africana, em resposta à supremacia
eurocêntrica. Tal supremacia se expressa para além do campo cultural, como um processo
físico, constituindo uma grande lista que vai além do extermínio e escravização dos povos.
Segundo a autora Ama Mazama:

“A Europa forjou grande parte de sua identidade moderna


à custa dos africanos, particularmente por meio da construção da
imagem do europeu como mais civilizado e do africano como seu
espelho negativo, isto é, como primitivo, supersticioso,
incivilizado, aistórico e assim por diante. ” (2009, p.112)
A cultura africana passa então a ser desvalorizada, dando espaço a uma cultura
estrangeira, sendo assim, “O que se sugere é que os africanos são deficientes e devem converte-
se aos modos europeus para atingirem o status pleno de seres humanos” (Mazama, p.113). A
afro centralidade vem para desafiar os conceitos eurocêntricos dominantes, com enfoque na
visão de mundo, cosmologia, axiologia, estética e epistemologia Africana, pois a história, a
cultura e a ancestralidade que determinam a nossa identidade (MAZAMA, 2009).

Ao fazer uso dos termos África e afro, não podemos cair no habitual, nem nos utilizar
de estereótipos, pois a África é um continente, com diversos países, tribos, etnias, ou seja,
existem diferenças. Além disso, a cultura negra vive em diáspora em continentes fora do
africano e em realidades distintas.

Durante a década de 1960, o poeta e compositor de jazz Sun Rá, após vivenciar uma
experiência extraterrestre, incluiu em suas composições elementos que remetiam ao espaço,
futuro e ao mesmo tempo à ancestralidade africana. Artistas como a Octavia Butler, Ytasha
Womack, Basquiat e Spike Lee também fizeram produções no mesmo sentido (BRASIL,
2015).

A noção do termo Afrofuturismo surgiu somente em 1994 com o cineasta Mark Dery.
Ele dirigiu o filme “Black to the future”, que questionava os padrões de estereótipos sobre os

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negros, comumente usados nas produções de Hollywood, e buscava a consolidação da
comunidade imaginária e da identidade negra. Tal consolidação também teve apelo, após o fim
da guerra civil no continente africano, através de artistas como Kia Henda e Nástio Mosquito
que acrescentaram ao debate a extinção da imagem do negro pejorativamente exotizado
(FRANK,2016).

O afrofuturismo é um movimento artístico que perpassa diferentes meios, utilizando a


música, politica, moda, entre outras disciplinas. Ele utiliza o resgate a à mitologia e histórias
africanas e se une com elementos da ciência tendo como objetivo a liberdade de expressão,
autoconfiança e empoderamento negro. Tal conceito foi concebido ao mainstream com
personalidades como Outkast e Janelle Monae (FRANK, 2016).

Os negros sempre tiveram suas próprias histórias, simbolismos e identidades do


continente africano passadas pelas gerações, e que foram silenciadas pela aculturação e
silenciamento desse povo que excluiu seu poder cultural. Portanto, mesmo sendo considerado
apenas um gênero cultural, o afrofuturismo projeta as possibilidades futurísticas de um povo,
ultrapassando o gênero cultural e influindo da vida real.

Essa influência na vida real pode ser concebida com a criação da The African Future
Institute (AFI) que foi estabelecida em 2004 com o intuito de promover o projeto African
Futures. Tal projeto, que é apoiado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas
(UNDP), pretende assistir, estudar e desenvolver as diversas comunidades africanas.

Antes de se firmar institucionalmente, o projeto desenvolveu um suporte técnico para o


desenvolvimento e implementação de vinte e cinco estudos em todo o continente, que produziu
quatro principais documentos e mobilizou a África para as diversas visões e estratégias para o
desenvolvimento e melhoria de vida.

Apesar do apoio da UNDP, a African Futures Institute mantém sua autonomia e suas
atividades focadas nos programas do instituto, que por sua vez pretende ter maior visibilidade
e independência enquanto entidade. O objetivo principal do AFI é promover atitudes que criem
condições suficientes para melhorar a realidade dos países africanos. Para tanto, são elaboradas
estratégias de iniciativas para que a África possa estrategicamente, através de estudos,

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desenvolver uma nova alternativa e consequentemente uma nova expectativa para o futuro
considerando as políticas continentais, regionais e dos países.

No continente, há uma menor aceitação da supremacia eurocêntrica, pois a população


negra tem sua história que vem sendo silenciada e “a menos que os africanos se disponham a
reexaminar o processo de sua conversão intelectual, que ocorre sob o disfarce de “educação
formal”, continuarão sendo presa fácil da supremacia branca”.

O afrofuturismo vem traçando perspectivas para um novo futuro costurando os assuntos que a
Ama Mazama (2009) identificou como cruciais para os estudos africanistas: visão de mundo,
cosmologia, axiologia, estética e epistemologia. Desse modo, não podemos desconsiderar que
a expressão presente no movimento Afrofuturista não vem com intuito de afirmar e sim de ser,
pois a comunidade negra quer e tem direito de existir.

3. CONCLUSÃO

As pessoas negras sempre tiveram sua própria história dentro de seu continente, porém
o processo de dominação do eurocentrismo silenciou uma grande parte da diversidade cultural,
principalmente porque as comunidades africanas que foram objetificadas, exotizadas e
marginalizadas. Esse processo tentou negar as diferenças étnicas, ao mesmo tempo que as
destruiu, utilizando a lógica racista. “Concluímos então que, geneticamente, não há raças; ainda
assim, a noção sociocultural e fenotípica de raças ainda define de forma decisiva a maioria das
relações humanas até hoje” (KABRAL, 2016)

O afrofuturismo vem para quebrar esse estigma racial, com ênfase no africanismo e na
afrocentridade, ele recria o passado, tenta transformar o presente e projetar um futuro,
considerando toda a realidade do povo negro. Sendo assim, no afrofuturismo “O que há são
pessoas pretas, mulheres e homens, pisando firme no mundo pelo simples direito de viver como
bem entendem, e de se expressarem para o universo da forma que bem desejam. ” (KABRAL,
2016).

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Ao tratarmos de identificação e representação, a existência da African Futures Institute
se torna um ponto crucial para o desenvolvimento dessa perspectiva que ultrapassa as barreiras
artísticas, adentrando o meio social e político, e influenciando na prática o anseio afrofuturista.

A existência do instituto Geledés que vem se constituindo desde 1988 e tem ganhado
bastante visibilidade, isso demonstra que a cultura brasileira, apesar de ter uma grande
acentuação eurocêntrica por conta da colonização, tem um grande apreço pelo africanismo, o
que podemos ver na história do movimento negro brasileiro presente na Bahia e com a recente
“geração tombamento” denominada assim pelo Geledés. Que trata de uma possível vertente
afrofuturista brasileira.

Existem poucas abordagens na academia especificamente sobre o afrofuturismo, pois


ele tem ganhado maior visibilidade há apenas alguns anos, principalmente dentro do cenário
brasileiro. Fazendo com que esse seja apenas o início de uma pesquisa ainda maior e que
abrange o contexto brasileiro, pois ainda há muito o que se estudar sobre o africanismo e o
afrofuturismo, principalmente dentro do Brasil que é o pais com a maior quantidade de negros
fora do continente africano, ou seja, é o pais que tem maior quantidade de negros em diáspora
e que desenvolve uma cultura negra própria.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Luiza. Dossiê afrofuturismo: Saiba mais sobre o movimento cultural. Geledés,
2015. Disponível em: <http://www.geledes.org.br/dossie-afrofuturismo-saiba-mais-sobre-o-
movimento-cultural/#ixzz4F6h0H69J>. Acesso em: 25 jul. 2016.
EAGLETON, Terry. A ideia de cultura. São Paulo: Editora UNESP, 2005.

FANON, Frantz. Pele negra máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

FRANK, Priscilla. Realismo mágico, história da África e ficção cientifica: conheça o


Afrofuturismo. Geledés, 2016. Disponível em: <http://www.geledes.org.br/realismo-
magico-historia-da-africa-e-ficcao-cientifica-conheca-o-afrofuturismo/#ixzz4F6zLBVTE>.
Acesso em: 25 jul. 2016.

HALL, Stuart. Da diáspora: Identidade e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora


UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003.
10
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós modernidade. 2009.

KABRAL, Fabio. [Afrofuturismo] O futuro é negro o passado e o presente tzmbém.


Geledés, 2016. Disponível em: <http://www.geledes.org.br/afrofuturismo-o-futuro-e-negro-o-
passado-e-o-presente-tambem/>. Acesso em: 25 jul. 2016.

MAZAMA, Ama. A afrocenticidade como um novo paradigma. In: Nascimento, Elisa


Larkin (org.). Afrocentricidade: uma abordagem epistemológica inovadora. São Paulo: Selo
Negro, 2009.

WEST, Cornel. The new cultural politics of difference. In: Ferguson, Russell (Org.). Out
there: Marginalization and comtemporary cultures. Cambridge: MT Press/New museum of
comtemporary arts, 1988.

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