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1. CULTURA
social etc. Neste sentido, destaca também a importância de cada um conhecer minimamente o
sistema cultural no qual está inserido, porque é a partir destes sistemas que as pessoas sabem
como agir, o que é lícito fazer ou não, de modo a se enquadrarem socialmente nos códigos
vigentes.
Ainda de acordo com Laraia (2001), a cultura:
1. Condiciona a visão de mundo do homem.
2. Interfere no plano biológico. A respeito da atuação da cultura sobre o biológico, Laraia refere-se
ao campo das doenças psicossomáticas, dizendo que estas são fortemente influenciadas pelos
padrões culturais. Se pode causar doenças, a cultura também pode curar. As curas de doenças,
reais ou imaginárias, ocorre quando o indivíduo tem fé nos remédios ou no poder dos agentes
culturais (médicos, curandeiros, benzedeiras, xamãs, médiuns, etc).
3. Tem uma lógica própria.
4. É dinâmica (Para Laraia há dois tipos de mudança cultural: uma que é interna, resultante da
dinâmica do próprio sistema cultural, e uma segunda que é o resultado do contato de um sistema
cultural com outro).
O antropólogo Clifford Geertz (1989, p. 32 -33) propõe conceber a cultura como “um
conjunto de mecanismos de controle - planos, receitas, regras, instruções (o que os engenheiros
de computação chamam “programas”) - para governar o comportamento”. Isso porque, para esse
antropólogo, o homem é o animal “mais desesperadamente dependente de tais mecanismos de
controle”, ou seja, o homem é dependente desses programas culturais para ordenar seu
comportamento.
Geertz (1989) compreende a cultura como uma "teia de significados" que o homem tece
ao seu redor e que o amarra, já que “é por intermédio dos padrões culturais – amontoados
ordenados de símbolos significativos – que o homem encontra sentido nos acontecimentos
através dos quais ele vive” (GEERTZ, 1989, p. 150). O autor ressalta que o estudo da cultura –
entendida como uma totalidade acumulada de padrões culturais – é, portanto, “o estudo da
maquinaria que os indivíduos ou grupos de indivíduos empregam para orientar a si mesmo num
mundo que de outra forma seria obscuro”. (GEERTZ, 1989, p. 150)
Uma questão muito comum quando se fala em cultura é a imposição de uma cultura sobre
as outras. Implícito a essa imposição está a ideia de que há culturas melhores do que outras,
resultante de uma concepção etnocêntrica. Um exemplo atual é a imposição da cultura norte
americana ao resto do mundo, difundida, em grande parte, pelo cinema, pela música e por suas
empresas transnacionais. Dessa forma, há uma exportação do “American Way of Life”, ou seja, do
jeito norte americano de ser.
Outra característica da cultura é a diversidade, isto é, em cada espaço a cultura irá se
desenvolver de um jeito. Está baseada em costumes, crenças, valores que são repassados de
geração para geração, mas, em contato com novos elementos (como, por exemplo, a introdução
do computador, do celular, do MSN, do Facebook, da mensagem de texto, etc). Assim, além de
ser diversa, a cultura é altamente aberta, isto é, sofre influência da tradição, mas também de
novos elementos, quando está em contato com outra cultura, é possível a absorção desses
elementos. Um exemplo? Os índios brasileiros atualmente já incorporaram muito da cultura
branca, tanto na forma de se vestir, como nos valores. E a cultura branca, por sua vez, também
incorporou elementos da cultura indígena, o que foi, inclusive, de fundamental importância para a
sobrevivência e êxito dos colonizadores europeus na América e em outras partes do mundo.
2. IDENTIDADE
3. SENSO COMUM
4. PRECONCEITO
O preconceito é, como o próprio nome indica, um pré-conceito, ou seja, é uma ideia que
se tem de algo ou alguém que se formula sem saber se, de fato, aquilo é realmente o que
pensamos/julgamos ser.
De modo geral, o ponto de partida do preconceito é o estereótipo, um tipo de
generalização superficial. Exemplos: "todos os homens são iguais", ou "todos os ingleses são
frios".
Sendo assim, o preconceito costuma indicar desconhecimento pejorativo sobre alguém,
ou sobre um grupo social, sobre um costume, tradição, crença etc, ou seja, sobre algo que lhe é
diferente, que lhe é estranho. Esse desconhecimento, com base no senso comum, na maioria das
vezes leva à discriminação, ao rebaixamento e desvalorização do outro ou de elementos de sua
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cultura. Caracteriza-se por ser um erro, que faz parte do domínio da crença e não do
conhecimento. Ou seja, o preconceito tem uma base irracional e, por isso mesmo, escapa a
qualquer questionamento fundamentado num argumento ou raciocínio.
Dessa forma, o preconceito nunca é isento ou neutro, pois costuma vir acompanhado por
uma atitude discriminatória perante pessoas, lugares ou tradições, considerados diferentes ou
estranhos.
Apesar de estar associado a uma atitude de desvalorização, o preconceito é diferente de
discriminação. A discriminação é um conceito mais amplo e dinâmico que o preconceito. Ambos
têm agentes diversos: a discriminação pode ser provocada por indivíduos e por instituições e o
preconceito, só pelo indivíduo. O preconceito pode permanecer só no aspecto interno
(permanecer no pensamento e sentimentos), sem que tenha uma correspondência na prática, isto
é, o preconceito pode não se materializar em ações, estando restrito ao pensamento e aos
sentimentos. Já a discriminação decorre do preconceito, fazendo com que determinados
segmentos, grupos ou atividades sejam socialmente prejudicados, excluídos ou estigmatizados. É
uma atitude violenta e que tem sérias consequências sociais e psicológicas para o grupo ou
pessoa que está sendo discriminado.
As formas mais comuns de preconceito são: social, étnico, racial, religioso, sexual e de
gênero. É importante destacar que, em certa medida, todos nós temos a atitude de pré-julgamento
de pessoas, elementos culturais, lugares, coisas, etc. O preconceito faz parte da sociedade e da
nossa socialização. O problema reside em não termos consciência de nossos preconceitos e, por
isso mesmo, colocamos nosso preconceito em prática e discriminamos algo ou alguém. E
fazemos isso, justificando nossa atitude em algo que, de fato, não corresponde com a verdade,
pois é um julgamento prévio e baseado na nossa ignorância ou intolerância.
5. MULTICULTURALISMO
que há grupos sociais, práticas sociais e valores que, por se diferenciarem da cultura padrão e
hegemônica (dominante), não são reconhecidos e, inclusive, são excluídos e inferiorizados.
Com isso, percebe-se que o multiculturalismo levanta questões relacionadas a: cultura,
diversidade cultural, identidade social e cultural e identidade nacional. O estranhamento que a
diferença cultural pode causar, e as consequências que isso acarreta (bullying, discriminação,
intolerância, violência física e simbólica, exclusão, etc.), muitas vezes são decorrência do
desconhecimento, do preconceito e de ideias amplamente difundidas no senso comum. Observa-
se, então, que outros conceitos se interconectam, tais como: senso comum, preconceito e
discriminação.
Andrea Semprini (1999), autor italiano, destaca que a diferença é o ponto central do
multiculturalismo, por ser, antes de tudo, um dado real, concreto: de fato, somos diferentes,
apesar de haver a igualdade formal diante da lei.
A diferença não é simplesmente, ou unicamente, um conceito filosófico, uma forma
semântica. A diferença é antes de tudo uma realidade concreta, um processo humano e social,
que os homens empregam em suas práticas cotidianas e encontra-se inserida no processo
histórico. (SEMPRINI, 1999, p. 11)
Mas, embora haja a ideia generalizada de que “somos todos iguais”, princípio do conceito
de Cidadania; a constatação de que, na prática, somos diferentes, não acarreta, automaticamente,
o respeito às diferenças, sejam elas de cunho religioso, físico, relacionada à orientação sexual, à
classe social, aos gostos e valores que se tem. Porque é relativamente novo esse discurso de que
é necessário reconhecer e promover a diversidade de ideias, culturas e valores.
Para Semprini (1999, p. 83-85) há quatro pilares que fundamentam a “epistemologia
multicultural”, a saber:
1. A realidade é uma construção, ou seja, o multiculturalismo põe em cheque a afirmação de que
a realidade existe independente do sujeito que a narra e da linguagem utilizada para tanto;
2. As interpretações da realidade são subjetivas;
3. A verdade é relativa;
4. O conhecimento é um ato político.
Do exposto, podemos concluir que: não existe “a” cultura, uma única cultura, mas sim
várias culturas. Sendo assim, um dos grandes feitos do multiculturalismo é demonstrar os vários
processos de imposição cultural e de violência que a anulação das diferenças cria. Como o
multiculturalismo é resultado dos movimentos reivindicatórios de grupos excluídos, uma de suas
premissas básicas é a necessidade de reconhecimento da diferença e do direito de ser diferente.
Mas, como nos indica a vertente crítica do multiculturalismo, não basta o reconhecimento
formal das diferenças, é preciso ir além, e efetivamente, promover políticas que promovam o
reconhecimento da diversidade cultural.
O multiculturalismo tem como base: a cultura é dinâmica, está presente em todas as
agrupações humanas. É a base de nossos valores, julgamentos, ideias, etc. Logo, se a base do
multiculturalismo é a cultura, um fato relevante é o reconhecimento e o respeito da DIVERSIDADE
CULTURAL. Ressalto que o movimento multicultural só tem sentido se há esse reconhecimento
de que não há uma cultura que deva ser seguida e imposta, mas sim, garantir meios (através de
políticas públicas, por exemplo) de que outras culturas convivem num mesmo espaço, país, etc.
Fenômenos sociais relacionados com o multiculturalismo: emergência de novos atores
sociais com demandas específicas e a emergência de um mundo cada vez mais globalizado e
interligado pela internet, que é um fio invisível e artificial que liga todas as partes do mundo.
Essa condição do momento atual permite o encontro de diferentes culturas, o que pode ser
positivo, se houver uma perspectiva intercultural, ou seja, de troca, de intercâmbio entre culturas,
com assimilação de novos elementos culturais. Porém, pode, ao contrário, gerar movimentos de
resistência e de reafirmação da identidade, baseado na discriminação e, até, eliminação do outro.
Como exemplo podemos citar o fundamentalismo islâmico e todo o problema criado em torno do
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“terrorismo” que, em nome de uma pretensa “defesa nacional”, justifica a invasão de um país (o
Paquistão) e faz com que a morte de uma pessoa (Bin Laden) seja comemorada, em público,
como se fosse uma vitória de determinados valores sobre outros.
A escola é a instituição responsável pela formação e desenvolvimento do ser humano,
logo, a escola, através, principalmente, das professoras e professores, é o espaço privilegiado
para essa prática de uma educação que reconheça a diversidade, mas que também não se
caracterize como uma educação ingênua, já que é preciso reconhecer a força da Indústria Cultural
no seu papel de massificação de valores, hábitos e comportamentos.
É cada vez mais comum nos depararmos com a necessidade de inserirmos elementos que
propiciem uma educação que considere a diversidade cultural (de valores, ideias, crenças, etc), ou
seja, uma educação que permita que as pessoas compreendam que há um núcleo de valores que
são hegemônicos, mais disseminados do que outros, mas que isso não anula a existência de
outros valores, significados, sentidos, verdades, etc.
Um exemplo desse núcleo de valores dominantes é a heteronormatividade. A
heteronormatividade tem sido denunciada por autores que trabalham com as questões de gênero
e da homossexualidade e consiste na predominância, durante séculos, de um modelo único e
legítimo de relacionamento entre pessoas: pessoas de gêneros distintos (homem e mulher).
Nota-se, então, que a prática de uma educação que considere a diversidade cultural exige
a desconstrução de valores e ideias tidas como naturais, porque “sempre foi assim”. Por isso
mesmo, constitui-se um desafio porque exige dos professores o reconhecimento, a discussão e o
enfrentamento de preconceitos, essencializações, generalizações e de “verdades absolutas”,
contidos na própria prática pedagógica e na cultura, de um modo geral.
Nesse enfrentamento em prol do avanço civilizatório da cidadania, faz-se muito importante
entender que, como bem lembrou o filósofo francês Alexis de Tocqueville, a democracia não pode
se tornar a ditadura da maioria, e que, conforme bem ressaltou o celebrado intelectual português,
Boaventura de Souza Santos: “As pessoas têm direito a serem iguais sempre que a diferença as
tornar inferiores; contudo, têm também direito a serem diferentes sempre que a igualdade colocar
em risco suas identidades.”
6. Referências Bibliográficas
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