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ANTROPOLÓGICOS E DA SAÚDE
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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
4 - Relacionar os achados das Ciências Sociais com os eventos de natureza física e de saúde.
mundo do qual participamos. Não é a única forma de conhecer o mundo, nem a primeira. O homem sempre
produziu saber sobre suas experiências. Este saber reflete crenças e valores que se tem sobre os eventos. O
senso comum, a religião e a filosofia são fontes de produção de conhecimento e procuram compreender os
eventos humanos (ou supra-humanos) a partir de uma lógica que lhe é própria. Cada um do seu jeito, os diversos
Mas estamos em uma Universidade. Ainda que o senso comum, a religião e a filosofia nos forneçam respostas e
explicações sobre os problemas humanos, é para o conhecimento científico que devemos focalizar nossa atenção.
Temos claro, entretanto, que esta é uma forma possível de conceber a realidade e que estabelece relações com as
Sabemos que a lógica científica é resultado de um longo processo de transformação do pensamento humano.
Baseada em metodologias específicas (científicas), e orientada por diretrizes racionais e com pretensões à
universalização dos achados, a ciência objetiva superar outras formas de compreensão da realidade,
organização de um formigueiro, por exemplo, podemos ver que existem padrões de comportamentos (sociais)
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O ser humano também é parte do reino animal e, como tal, seu mundo também deve possuir regularidades:
respiramos, andamos de forma bípede, nos comunicamos com outros humanos, vivemos em grupo, dividimos o
trabalho etc. Parece que estas regularidades têm como objetivo aprimorar e preservar a espécie.
Se homens e animais têm em comum um repertório de regularidades que objetivam garantir sua própria
sobrevivência, por que nos tornamos tão diferentes de outras espécies? O que há de diferente em nós, ou o que
Ora, diferentemente de outros animais, nosso arsenal genético, nossa bagagem hereditária não nos garante a
sobrevivência. As formas “instintivas” dos seres humanos não são suficientes para lhes garantir a humanidade.
Outras habilidades, além daquelas herdadas, têm de ser desenvolvidas. Mais do que da genética, dependemos de
aprendizado.
que os seres humanos nascem prematuramente, em termos de habilidades e disposição para a sobrevivência .
Para sobreviver nos ambientes físicos e sociais, os indivíduos da espécie humana precisam aprender a ser
humanos.
Saiba mais
Aprender a ser humano significa entrar em contato, a partir de outros humanos, com os
elementos que nos distingue de todos os outros animais: os conhecimentos desenvolvidos por
nossos semelhantes. Através de um processo constante de aprendizado, tendo a linguagem
como elemento intermediário entre o sujeito e o mundo; vamos tomando posse dos sentidos
atribuídos às experiências cotidianas. Como principal sistema simbólico, a linguagem permite
que as experiências vividas sejam transmitidas aos outros homens de forma ordenada. “Por
isso, dizemos que o Homo sapiens é a única espécie que pensa, isto é, que é capaz de
transformar a sua experiência vivida em um discurso com significado e transmiti-la aos demais
seres de sua espécie e a seus descendentes” (COSTA, 1997, p. 2-3).
Embora algumas lendas – Rômulo e Remo, heróis míticos fundadores de Roma; Mogli etc. – falem de indivíduos
que sobreviveram em condições adversas (Rômulo e Remo teriam sido, segundo a lenda, alimentados por uma
loba) e se tornaram figuras especiais, sabemos da impossibilidade de tais feitos, salvo no âmbito da fantasia e da
ficção.
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Assim, como você viu, podemos dizer que o que distingue homem do animal é menos a organização social (que
nos animais também pode estar vinculada a sexo, faixa de idade, divisão de trabalho etc.), a sociabilidade ou
mesmo um pensamento ou a comunicação do que a troca de símbolos. O homem é o único capaz de criar
símbolos!
4 Os símbolos e as culturas
“Da mesma forma que existe um pensamento e uma linguagem nos animais (isso não é mais sequer discutido
hoje), existem sociedades animais e até formas de sociabilidade animal que podem ser regidas por modos de
interação antagônicas ou comunitárias, bem como de modos de organização complexos (em função das faixas de
Indo até mais adiante, existe o que hoje não se hesita mais em chamar de sociologia celular. Assim, o que
distingue a sociedade humana da sociedade animal, e até da sociedade celular, não é de forma alguma a
transmissão das informações, a divisão do trabalho, a especialização hierárquica das tarefas (tudo isso existe não
apenas entre os animais, mas dentro de uma única célula!), e sim essa forma de comunicação propriamente
cultural que se dá através da troca não mais de signos e sim de símbolos, e por elaboração das atividades rituais
aferentes a estes.
Pois, pelo que se sabe, se os animais são capazes de muitas coisas, nunca se viu algum soprar as velas de seu bolo
de aniversário. É a razão pela qual, se pode haver uma sociologia animal (e até, repetimo-lo, celular), a
Saiba mais
Este longo texto de Laplantine nos faz compreender a importância da construção simbólica na
“invenção da humanidade”. São os símbolos - e a linguagem é o principal sistema - que
permitem a um representante da espécie humana tornar-se homem! E através dos hábitos,
costumes, instrumentos, ideias, isto é, através da cultura nos tornamos portadores destes
símbolos e membros efetivos de uma coletividade de homens.
O homem projeta, ordena, prevê e interpreta, vive em grupo e estabelece com o mundo relações dotadas de
transforma-se em cultura.
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Saiba mais
Você sabe por que as culturas ao redor do planeta apresentam formas tão diferentes?
Como explicar as diferenças entre as culturas?
Por que um grupo humano se alimenta exclusivamente de frutos e é politeísta (acredita em
várias divindades), enquanto outro se alimenta de animais e é monoteísta?
Estamos frente a diferenças de qualidade entre os diferentes grupos?
NÃO
As formas culturais diversas não são frutos de uma estrutura genética da espécie, mas
da experiência particular de um grupo de homens.
– “Uma vez que cada cultura tem suas próprias raízes, seus próprios significados e características, todas elas são
qualitativamente comparáveis. Enquanto culturas, todas são igualmente simbólicas, fruto da capacidade criadora
do homem e adaptadas a uma vida comum em determinado espaço e tempo nesse contínuo recriar, compartilhar
“Todas as culturas apresentam padrões igualmente abstratos e significativos” (COSTA, 1977, p. 4): as culturas
humanas estão diretamente relacionadas à especificidade das condições de vida de cada grupo; assim, as
diferenças entre as culturas não são de qualidade nem de nível, mas estão relacionadas às condições particulares
que a geraram.
"E as sociedades ágrafas , elas têm cultura? Sim! Todas as sociedades humanas produzem cultura. “A capacidade
simbólica e os padrões de todas as culturas humanas são igualmente abstratos e significativos e dão respostas
com a realidade – no encontro de soluções para problemas cotidianos – para o entendimento do conhecimento
Desde a Antiguidade o homem produz saberes sobre o mundo, formulando conhecimentos sobre geometria e
filosofia. Entretanto, neste momento o conhecimento ainda está vinculado a explicações religiosas ou
sobrenaturais.
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Com os gregos, através da filosofia, o conhecimento humano se distancia do pensamento mítico-
religioso e passa a ser concebido por meio da abstração dirigida pela razão: temos aí o chamado milagre
grego.
individual e da percepção do homem como indivíduo dotado de razão e capaz de realizações próprias.
Também temos expansão comercial e colonizadora que permite o contato com outras culturas, o
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Queda do Império Romano: A Europa retorna a uma estrutura de sociedade agrária e teocrática: a
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Idade Média (da queda do Império Romano, no séc. V, até a queda de Constantinopla em 1453):
- Grande poder da Igreja Católica: a razão é um instrumento auxiliar da fé; ela é usada pela Igreja como
religiosas e mosteiros;
- A população laica (os não religiosos) não tem mais acesso a este saber.”
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artes, da arquitetura e das letras. Reorganização política e econômica da sociedade: retomada dos textos
A partir daí, e especialmente a partir do século XVII, há um grande progresso do conhecimento científico,
que objetiva descobrir as relações entre as coisas, as leis que regem o mundo natural etc.
“aparecimento da preocupação do homem com o seu mundo e a sua vida em grupo, numa nova
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perspectiva, livre das tradições morais e religiosas” (COSTA, 1977, p. 7). Como ciência, busca descobrir
as regras que organizam a vida social. Estas regras podem ser descobertas através de observações e
medidas, capazes de dar explicações plausíveis, e a razão humana é a única forma capaz de alcançar a
verdade.”
procurará então responder como e por que a vida em sociedade é possível, buscando prever e controlar
os fenômenos sociais.
discípulo de Saint-Simon, e continuado por diversos seguidores. Comte acreditava que, através do método
característico das ciências naturais (biologia, física, química, astronomia), seria possível ordenar as ciências
Ele pretende aplicar o mesmo rigor das ciências naturais experimentais aos eventos sociais. Considerado o
fundador da sociologia, Comte nomeia a nova disciplina de física social; somente mais tarde ela seria rebatizada
ciência política.
como disciplina voltada para a compreensão dos inúmeros fenômenos presentes na vida em sociedade, as
ciências sociais estabelecem relações importantes com outras ciências humanas e naturais.
Na verdade, senão a totalidade, a maioria dos fenômenos humanos é de natureza social ou, pelo menos, são
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Como veremos ao longo de nossa disciplina, sociedade e cultura estão presentes em todos os momentos de nossa
vida, e mesmo antes de nascermos. Nascemos em uma sociedade organizada de uma determinada forma, com
crenças, hábitos, costumes e valores específicos. Aprendemos a entender o mundo que os rodeia a partir do que
Saúde, cultura e sociedade estão intimamente relacionadas. Não podemos desconsiderar estas relações, ou não
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Entendeu o lugar da ciência e do pensamento científico;
• Conheceu os determinantes sócio-históricos para o surgimento das ciências sociais;
• Avaliou possíveis relações entre as ciências sociais e as demais ciências;
• Relacionou os achados das ciências sociais com os eventos de natureza física e de saúde.
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