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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Antropologia Cultural

Estudante: Cristina Paulo Pacheleque


Código: 708224248

Curso: Licenciatura em Administração Pública

Disciplina: Antropologia Cultural

Ano de Frequência: 2º Ano

Docente: Mestre Isaque Eugénio

Nampula, Maio de 2023


Índice
Introdução..........................................................................................................................3

Objectivos Gerais..............................................................................................................4

Objectivos Específicos......................................................................................................4

Antropologia Cultural........................................................................................................5

Características da Cultura..................................................................................................5

Ramificações.....................................................................................................................6

Nós Somos Natureza.........................................................................................................7

Culturas de Desenvolvimento............................................................................................7

Mapeamento Histórico......................................................................................................7

Rede de Significados.........................................................................................................8

A Linguagem na Antropologia Cultural............................................................................8

Antropologia Cultural e Religião......................................................................................9

Antropologia Cultural e Doença......................................................................................11

Antropologia Cultural e Etnocentrismo...........................................................................14

Metodologia.....................................................................................................................15

Conclusão........................................................................................................................16

Referencias Bibliográficas...............................................................................................17
Introdução

O homem nunca parou de interrogar-se sobre si mesmo. Em todas as sociedades existiram


homens que observaram homens. A reflexão do homem sobre o homem e sua sociedade, e a
elaboração de um saber são, portanto, tão antigos quanto a humanidade, e se deram tanto na
Ásia como na África, na América, na Oceânia ou na Europa. Mas, o projecto de fundar uma
ciência do homem – uma antropologia- é, ao contrário, muito recente. De fato, apenas no final
do século XVIII é que começa a se constituir um saber científico (ou pretensamente
científico) que toma o homem como objecto de conhecimento, e não mais a natureza; apenas
nessa época é que o espírito científico pensa, pela primeira vez, em aplicar ao próprio homem
os métodos até então utilizados na área física ou da biologia. Castro, C. (2009).

As sociedades estudadas pelos primeiros antropólogos são sociedades longínquas às quais são
atribuídas as seguintes características: sociedades de dimensões restritas; que tiveram poucos
contactos com os grupos vizinhos; cuja tecnologia é pouco desenvolvida em relação à nossa; e
nas quais há uma menor especialização das actividades e funções sociais. São também
qualificadas de “simples”; em consequência , elas irão permitir a compreensão, como numa
situação de laboratório, da organização “complexa” de nossas próprias sociedades. Castro, C.
(2009).

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Objectivos Gerais

 Conceituar Antropologia Cultural;


 Conhecer dimensões culturais comuns entre diferentes sociedades humanas;
 Descrever antropologia cultural em relação a religião, doença e etnocentrismo.

Objectivos Específicos

 Definir cultura na acepção antropológica;


 Identificar os diferentes planos da cultura;
 Explicar as características da cultura;
 Reconhecer e explicitar as diversas componentes da cultura.

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Antropologia Cultural

A Antropologia Cultural é o estudo das práticas sociais, formas de expressão, e dos usos da
linguagem por intermédio dos quais se constroem significados, frequentemente invocados e
contestados nas sociedades humanas.

O termo Antropologia Cultural é geralmente associado com a tradição antropológica


americana de investigação e escrita. Por inícios do século XX, Franz Boas criticou os
pressupostos da antropologia evolucionista, dadas as implicações raciais: ao desenvolver a sua
crítica, concentrou-se nas particularidades das diferentes formas de vida, ao invés de partir de
comparações e generalizações amplas; e ao demonstrar que raça e cultura não se
consubstanciam.

Segundo estudiosos, a antropologia cultural tem o objectivo de compreender o aspecto


cultural da humanidade. Ou seja, como as pessoas desenvolvem mecanismos sociais para
interagirem entre si e o ambiente onde elas estão. Além disso, estudiosos afirmam que a
comunicação, comportamento e reacção cultural das pessoas também são estudadas nessa
disciplina.

Com essa área de estudo as pessoas compreendem melhor as muitas visões a respeito da
existência humana. Apesar de essa disciplina ser complexa, os estudiosos explicam como ela
foca no desenvolvimento do homem sem apegos à teoria. Assim, todos nós podemos entender
na prática a mudança na linguagem, sistemas e cultura que passamos.

Edward Taylor foi um dos primeiros antropólogos que se dedicou ao estudo dessa disciplina.
Para ele, a cultura é um complexo de saberes, arte, crenças, costumes, leis e capacidades que o
homem adquire na sociedade. Assim como eles, outros estudiosos indicam que a cultura não é
algo hereditário.

Características da Cultura

Muitos estudiosos afirmam que o significado de cultura na antropologia cultural é algo


bastante complexo. Tudo porque cada pessoa desenvolve uma percepção única a respeito
do significado de cultura de acordo com suas vivências pessoais.

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Entretanto, os antropólogos indicam que a cultura tem atributos que são clássicos. Assim, a
cultura é:

 Algo aprendido, não passada por genética ou nascida com cada pessoa;

 Simbólica, visto que representa símbolos que dependem do contexto da sociedade


para terem sentido;

 Integrada, pois muitos dos seus aspectos são interligados entre si. Por exemplo,
linguagem, economia e religião que não são independentes entre si, mas se conectam
como fenómenos culturais;

 Dinâmica, se comunicando por meio de símbolos e recebe influência da natureza,


pessoas e da própria cultura;

 Compartilhada, já que as pessoas percebem e reagem ao mundo de forma parecida.

Ramificações

É possível afirmar que os antropólogos culturais trabalham de forma constante com a


representação do pensamento por meio das imagens e palavras. Ou seja, os estudiosos
procuram entender o papel dos símbolos na relação entre as pessoas. Assim, é importante para
eles se concentrarem em como os símbolos influenciam a interacção humana.

A partir daqui estudiosos afirmam que a antropologia cultural vai em direcção as pesquisas
científicas. Uma forma de nós entendermos melhor é estudar as teorias de Charles Sanders
Pierce a respeito da imagem e Ferdinand Saussure da língua. Como resultado, nós percebemos
como esse encontro origina a antropologia visual e oral.

Pode-se perceber que esse encontro de teorias ajuda a exemplificar como a nossa influência
no mundo é complexa. À medida que nós tentamos nos conhecer mais perguntas surgem para
serem respondidas.

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Nós Somos Natureza

Para os especialistas no assunto, a antropologia cultural pode resolver o conflito entre


natureza e cultura. Muitas pessoas acreditam que existe uma oposição natural entre cultura e
natureza, aquilo que aprendemos e o que somos. O homem é um ser que existe em forma
natural. Logo, todos nós somos uma natureza verdadeira, justificados pelo próprio ato de
existir.

Contudo, muitos antropólogos afirmam que a cultura é um fragmento muito importante da


natureza humana. Assim, cada pessoa possui um potencial capaz de construir vivência,
transformá-las em códigos simbólicos e espalhar resultados abstractos.

Culturas de Desenvolvimento

Desde que o homem aprendeu a conviver em grupos e sociedades que ele desenvolve culturas
diferentes. Os antropólogos afirmam que essas culturas têm segmentos diferentes e a
antropologia explora outras áreas enquanto aborda essas questões. Por exemplo:

 Ciências humanas

Área de estudo que foca no indivíduo como um todo, sem desconsiderar cada parte da sua
construção. Ou seja, Ciências Humanas acompanha as nossas crenças, filosofia de vida,
linguagem, mente, ética, história e outros aspectos.

 Ciências sociais

Com as ciências sociais é possível estudar as pessoas como participantes de camadas sociais
organizadas. Não somente como indivíduos, mas como peças relevantes que um esquema de
interacções sociais complexo.

Mapeamento Histórico

Por meio da antropologia cultural as pessoas podem compreender melhor como a humanidade
se desenvolve. Com a ajuda dessa disciplina os estudiosos investigam como grupos
humanos evoluem ao redor do planeta. É um processo imprevisível, visto que nós não
somos mais quem fomos ontem e ainda não somos o amanhã.

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Além disso, todos nós podemos entender o contexto de nascimento das religiões. E também
como as pessoas interagem diante do mecanismo de formalidade social, interacção familiar e
progresso das técnicas de comunicação.

Rede de Significados

Estudiosos como Bronislaw Malinwski e Franz Boas continuaram os seus estudos para definir
o que é cultura para a antropologia. Segundo eles, a cultura observa todas as manifestações
a respeito dos hábitos sociais de um grupo. Além disso, também considera as reacções das
pessoas que são afectadas pelos hábitos da comunidade em que está.

Para Clyde Kluckhohn, teorista social e antropólogo, existe uma lista de 11 interpretações do
que é a cultura:

 A generalização comportamental das pessoas.

 A maneira como as pessoas pensam, acreditam e sentem.

 O legado social que uma pessoa recebe da comunidade.

 O modo de viver de um grupo.

 Técnicas de adaptação para as pessoas se adequarem a um ambiente social.

 Teoria ou ideia a respeito de como as pessoas se comportam em comunidade.

 Todo o comportamento que é aprendido.

 Um agrupamento de orientações organizadas para resolver problemas frequentes.

 Um espaço de aprendizagem que é compartilhado.

 Um impulso para a construção de uma história.

 Uma ferramenta para padronizar o comportamento de uma população.

A Linguagem na Antropologia Cultural

Da obsoleta definição de cultura como estática, internamente coerente e homogénea, a


antropologia passou para uma concepção que sublinha os significados heterogéneos,
implementados para diferentes propósitos. Esta nova orientação derivou do novo modo como
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se olha para a linguagem: isto é, se a preocupação boasiana e estruturalista com a linguagem
assentava teoricamente no entendimento desta como um sistema formal de categorias
culturais abstractas, a investigação posterior passou a considerar as estratégias linguísticas que
autorizam a construção e reconstrução dos estatutos, identidades e relações sociais.

A fala, segundo o argumento dos antropólogos, é sempre produzida em contextos históricos e


micropolíticos específicos, reflectindo as relações de poder existentes. E neste âmbito entra o
termo discurso, que caracteriza a linguagem como um conjunto de recursos que permite aos
actores construírem e negociarem os seus mundos sociais.

Antropologia Cultural e Religião

A Antropologia da Religião, em suas fases iniciais, dedicou-se ao estudo da mitologia dos


“povos primitivos”. Este inicio se deu através do ponto de vista do “homem civilizado”, que
entendia a si mesmo como integrante de uma cultura mais evoluída — estando os demais
povos em estado de infantilidade cultural e espiritual.

A própria designação “primitivo” já indicava esta visão depreciativa. Entretanto, com o passar
do tempo, todos os povos e religiões passaram a ser analisados e comparados pelos
antropólogos.

Antropologia da Religião é considerada por alguns como uma parte dos estudos realizados
pela Antropologia Cultural ou Social, que pretende fazer uma análise sobre o mundo
simbólico da religião.

Para se falar de Antropologia Religiosa e das Religiões, entramos em um terreno


delicado onde algumas vezes a fronteira entre o que realmente é cultural e o que
pode ser identificado como fenómeno religioso é ténue.

Procura-se analisar o sentido que o fenómeno religioso traz para o quotidiano do ser
humano, especialmente as crenças e rituais com critérios científicos.

Entende a religião como um sistema de crenças e práticas que determinam a cosmovisão de


uma sociedade ou comunidade.

A Antropologia da Religião, partindo de uma reflexão sobre a humanidade


e sobre a cultura como realidades complexas, busca compreender como o ser humano foi e

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continua sendo visto por ele mesmo e por uma das suas mais significativas e originais
manifestações – a religião.

A experiência religiosa é a experiência do transcendente e da transcendência na busca por


sentido da vida, a religiosidade é a manifestação da experiência religiosa em um determinado
grupo e a religião é a institucionalização da experiência religiosa.

Geertz define religião como “um sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosas,
penetrantes e duradouras disposições e motivações nos homens através da formulação de
conceitos de uma ordem de existência geral e vestindo essas concepções com tal aura de
factualidade que as disposições e motivações parecem singularmente realistas”.

Falando especificamente da transmissão do Evangelho para diferentes culturas, precisamos


considerar que muitos erros aconteceram no passado e ainda podemos pontuar hoje tais
situações que tem ocasionado silenciamentos culturais, colonização evangélica, sincretismo
religioso e outros.

Lê-se na história que alguns missionários não conseguiram expor a mensagem do evangelho
com uma fundamentação bíblico-teológica, e também considerar a singularidade da cultura
receptora, mas levaram seus padrões culturais e estilo de vida da cultura enviadora.

Entretanto um dos grandes perigos atuais é a contextualização baseada em uma interpretação


e avaliação sociológica e não nos conteúdos bíblicos e suas recomendações.

Portanto, o estudioso da Bíblia, especialmente o missionário, em sua comunicação com o


outro precisa lembrar constantemente a importância de buscar uma adequada interpretação
para uma boa compreensão da cultura receptora e então estabelecer pontes com ênfases
teológicas adequadas para conseguir abordagens eficazes.

Contribuições da Antropologia Religiosa

 Contribuição da cultura religiosa para uma cultura de paz – reconhecimento da


alteridade– base para o diálogo;
 Princípios bíblicos – recuperação de valores éticos na sociedade e o bem estar comum;
 Praticas missionárias descolonizadas– matriz ocidental e cultura dominante;
 Humanização da sociedade – revalorização da diversidade e pluralidade;
 Teologia inculturada – encarnar a mensagem cristã em outras culturas;

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 Sentido de vida - redescoberta da nossa participação no cumprimento dos propósitos
de Deus para o mundo.

Antropologia Cultural e Doença

A antropologia enquanto disciplina tem origem do grego “estudo do homem”. Comummente


denominada “a mais científica das humanidades e a mais humana das ciências” (HELMAN,
2003). Que busca desenvolver uma observação holística da humanidade, incluindo factores
que norteiam a sociedade.

Helman (2003) destaca que a antropologia, como espaço de análise, denomina-se a partir de
vários campos: A antropologia física que trabalha as questões relativas à evolução humana,
com inquietações em esclarecer as razões das contradições das populações humanas. A
antropologia social que destaca as dimensões sociais da vida humana. O ser humano é um ser
social, que integra uma sociedade e estrutura seu olhar de mundo. É a antropologia cultural
que enfatiza uma ordem de símbolos, ideias e significados que constrói uma cultura.

Estes campos que concretizam a Antropologia social e cultural, originam a antropologia


médica que direcciona-se para a medicina e em outras ciências naturais, preocupando-se com
as manifestações biológicas principalmente associada à saúde e à doença. (HELMAN, 2003)

A antropologia da doença abandona muitas vezes a compreensão que pode estar contida no
campo da saúde. Da mesma forma, a antropologia médica envolve a submissão do seu objecto
ao paradigma biomédico, pois não congrega integralmente a pluralidade, diversidades e a
interligação de todas as feições da vida humana.

Os antropólogos trabalham com aspectos relacionados à alimentação, cuidados corporais,


morte, concepções, doenças e plantas medicinais.

Assim pensando exclusivamente na doença, Minayo (1991,p.233) comenta que “a doença


exprime hoje e sempre um acontecimento biológico e individual e uma angustia que pregava
o corpo social, confrontando com as turbulências do homem enquanto ser total”.

A doença remete-se à maneira que as pessoas situam-se diante ou assumem a situação de


enfermidade. Os problemas que emergem da doença constituem-se socialmente e reportam-se
a um mundo, compartilhando crenças, práticas e valores. Quando se pensa em doença, é

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fundamental pensar em cultura e sociedade, analisando o significado atribuído pelo próprio
doente e para as pessoas que o rodeiam.

A cultura é expressa na interacção social, na qual os atores comunicam e negociam os


significados aplicados na saúde, este sistema é também um sistema cultural, um sistema
ancorado em arranjos particulares de instituições e padrões de interacções interpessoais
(LAGDON, 1995). O mesmo autor salienta, ainda, que a cultura não é mais uma unidade
estanque de valores, crenças, e normas, mas uma expressão humana frente à realidade, é uma
construção simbólica do mundo sempre em transformação. Também central neste conceito da
cultura é o enfoque no indivíduo como um ser consciente que percebe e age, a doença é vista
dentro desta perspectiva, como uma construção sociocultural.

A antropologia tem buscado demonstrar que a doença e o corpo são condições reais e imersas
nos âmbitos culturais e contextos sociais, contrariando o que se estabeleceu até então, na qual
a doença liga-se à mera condição biológica e pertence ao reino animal (SOUZA, 1999).

A doença não é um evento primariamente biológico, mas é concebida em primeiro lugar como
um processo experienciado cujo significado é elaborado através de episódios culturais e
sociais, e em segundo lugar como um evento biológico. A doença não é um estado estático,
mas um processo que requer interpretação e acção no meio sociocultural, o que implica numa
negociação de significados em busca da cura (LAGDON, 1995).

Canesqui (2003) relata que a sensação da doença é percebida através de alguns sinais,
demonstrando que algo não está bem, impedindo o funcionamento do corpo. Sendo que as
actividades quotidianas e de trabalho acabam por tornar inviável sua realização.

A doença neste sentido remete-se à significação de ordem social, atingindo tanto a estrutura
biológica do indivíduo quanto o social.

Num significado mais aprofundado, refere-se à doença como edificação cultural, ou seja, a
doença é acção social, e a cultura, com significações somente tem vigor se partilhada no
grupo social (CANESQUI, 2003). A mesma autora salienta que a dor é influenciada por
inúmeros rudimentos, assim constituídos “vivências culturais do doente, o seu repertório
linguístico, o seu domínio ou não dos termos médicos, suas crenças e representações sobre o
corpo e a doença”.

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A doença como processo não é um momento único nem uma categoria fixa, mas uma
sequência de eventos que têm o objectivo de entender o sofrimento no sentido de organizar a
experiência vivida e se possível aliviar o sofrimento. Lagdon (1995) refere que a doença como
processo caracteriza-se nos seguintes passos: reconhecimento dos sintomas, diagnóstico e
escolha do tratamento e avaliação. O reconhecimento da doença baseia-se nos sinais que
indicam que o todo não vai bem. Quais sinais são reconhecidos como indicadores de doença,
depende da cultura, não são universais como pensado no modelo biomédico. Cada cultura
reconhece sinais diferentes que indicam a presença de doença, o prognóstico, e possíveis
causas, e estes sinais, em várias culturas, não são restringidos ao corpo ou sintomas corporais,
à situação ambiental, seja do grupo ou da natureza, fazem parte também das possíveis fontes
de sinais a serem considerados na tentativa de identificação da doença.

O diagnóstico e a escolha do tratamento inicialmente acontecem dentro do contexto familiar,


onde os membros da família negociam entre eles para chegar a um diagnóstico que indicaria
qual tratamento deve ser escolhido. No caso de se tratar de uma doença leve e conhecida, a
cura pode ser um chá ou uma visita ao posto de saúde. No caso de uma doença séria com
sintomas não-usuais, ou interpretada como resultante de conflito nas relações sociais ou
espirituais, talvez o xamã ou outro especialista em acertar relações sociais seria escolhido
primeiro. Não é possível predizer a escolha, pois esta vai ser determinada pela leitura dos
sinais da doença negociada pelos participantes.

O que se observa actualmente é que a maioria dos programas de saúde partem do pressuposto
de que a informação gera uma transformação automática dos comportamentos das populações
frente às doenças, desconsiderando os diferentes factores sociais e culturais que interferem
nas condutas das pessoas.

Desta forma Uchoa e Vidal (1994) referem a necessidade de os programas de educação e


planeamento em saúde possuírem um conhecimento prévio das formas de pensar e agir das
populações nas quais se quer intervir, para que se possa estar desenvolvendo acções que
venham ao encontro dos aspectos sociais e culturais das comunidades.

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Antropologia Cultural e Etnocentrismo

Segundo Everardo Rocha o outro conceito, o qual dialoga com o de cultura e é fundamental
para o desenvolvimento da ciência antropológica é o de etnocentrismo. Pois é justamente o
contacto com a diferença cultural que provoca em nós sentimentos os mais diversos: de
fascínio, de rejeição, de estranhamento, de curiosidade.

Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como
centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores,
nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser
visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afectivo, como sentimentos de
estranheza, medo, hostilidade. Perguntar sobre o que é etnocentrismo é, pois, indagar sobre
um fenómeno onde se misturam tanto elementos intelectuais e racionais quanto elementos
emocionais e afectivos. No etnocentrismo, estes dois planos do espírito humano – sentimento
e pensamento – vão juntos compondo um fenómeno não apenas fortemente arraigado na
história das sociedades como também facilmente encontrável no dia-a-dia das nossas vidas.

Sem dúvida, a experiência do confronto com uma forma de viver diferente da nossa – o
choque cultural – é desencadeadora de um julgamento de valor que impede o
reconhecimento da diferença sem que esta seja enquadrada em estereótipos e valorações
negativas e mesmo pejorativas. O etnocentrismo demonstra a incapacidade de se compreender
a cultura do outro a partir de parâmetros estranhos à nossa. Este impulso etnocêntrico é
comum a todas as culturas, não está localizado em períodos nem em sociedades específicas.

Segundo Everardo Rocha, o contacto com a diferença é sempre ameaçador, pois fere a nossa
própria identidade cultural. Pode-se dizer mesmo que um certo grau de etnocentrismo é
necessário para a preservação das formas culturais dos grupos sociais. Se por um lado a
atitude etnocêntrica reforça e enfatiza a legitimidade e coerência da nossa própria forma de
viver, por outro ela pode assumir uma face violenta e autoritária quando nega ao outro o
direito de falar sobre si próprio. O grande problema é quando o pensamento etnocêntrico é a
base que edifica a criação de políticas públicas ou de doutrinas e teorias científicas sobre a
alteridade. Podemos encontrar facilmente exemplos na política, na ciência e na educação.

O esquema de pensamento dos evolucionistas culturais, por exemplo, tomava como ápice do
desenvolvimento humano, a própria sociedade dos pesquisadores.

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A civilização não era apenas o topo desta escala evolutiva, era também o centro a partir do
qual se estabeleciam os critérios de evolução das sociedades. As doutrinas deterministas
também eram fortemente etnocêntricas, pois de modo geral consideravam a raça branca como
superior às demais.

Nas pesquisas antropológicas modernas e contemporâneas, a superação do etnocentrismo é


uma regra metodológica para a construção do conhecimento. Não é possível realizar uma
pesquisa sobre um grupo diferente do meu se permaneço arraigado aos valores, crenças e
formas de pensar da minha sociedade. A atitude relativista, ou seja, de buscar compreender
uma cultura de acordo com suas próprias lógicas, torna-se para o antropólogo um princípio
metodológico para a investigação social.

Metodologia

O objectivo deste trabalho foi alcançado à proporção em que foi desenvolvida a pesquisa
académica, através de pesquisas bibliográficas, sendo descritiva e explicativa, possuindo
como bases teóricas artigos e livros publicados por renomados autores da área.

Na concepção de Gil (2002) pesquisa é um procedimento racional e sistemático que tem como
objectivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos e exigindo que as acções
desenvolvidas ao longo de seu processo sejam efectivamente planejadas. Assim, através
dessas pesquisas, objectiva-se elucidar a problemática inicial proposta.

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Conclusão

Com a ajuda da antropologia cultural nós compreendemos melhor o que a cultura significa
para a humanidade. Mesmo que os antropólogos culturais não tenham um consenso, é
possível afirmar que cultura é algo aprendido. Logo, as pessoas não aprendem de forma igual
o seu significado ou nascem com ela no sangue. Castro, C. (2009).

Além disso, é importante saber que a cultura não é homogénea, atemporal e não está imune às
críticas. Nós devemos pensar a respeito de como muitos dos hábitos que aprendemos podem
fazer mal para muitas pessoas. Assim, é importante que nós questionemos com frequência se
estamos avançando ou regredindo como pessoas e sociedade.

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Referencias Bibliográficas

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Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 25, n. 3.
2. Silveira, M.L. (2000). O nervo cala, o nervo fala: a linguagem da doença. Rio de
Janeiro, Fiocruz.
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doença mental. In: Experiência de Doença e Narrativa.
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metodológicos para uma abordagem da saúde e da doença. Cad. Saúde Pública. Rio de
Janeiro, v.10.n. 4, p. 497- 504.
5. Rocha, E.P.G. (1984). O que é etnocentrismo. São Paulo, Brasiliense, pp 7-22.
6. Boas, F. (2004). “As limitações do método comparativo em Antropologia” in
Antropologia Cultural. Organizado, apresentado e traduzido por Celso Castro. Rio de
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7. Castro, C. (2009). Evolucionismo Cultural. Textos de Morgan, Tylor e Frazer. 2ªed.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
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9. Laraia, R. (2006). Cultura – um conceito antropológico. 19ª edição. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor.
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11. Mello, L.G. (1982). Antropologia Cultural. Petrópolis: Vozes.
12. Weber, M. (1979). A “Objetividade” do Conhecimento nas Ciências Sociais. In: Max
Weber: Sociologia. São Paulo: Ática, V. 13.
13. Laplantine, F. (2003). Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense.
14. Gil, A.M. (2008). Métodos e técnicas de pesquisa social- 6. ed. - São Paulo: Atlas.
15. Canesqui, A, M. (2003) Os estudos e antropologia da saúde/doença no Brasil na
década de 1990. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.8, n.1.
16. HELMAN, C. Cultura, saúde e doença. Trd. Claudia Buchweitz e Pedro M. Gaaz. 4ea,
Porto Alegre: Artmed, 2003.
17. LAGDON, E.J. A doença como experiência: a construção da doença e seu desafio
para a prática médica. Palestra oferecida na Conferência 30 anos Xingu, Escola
Paulista de Medicina, São Paulo, 1995.
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