Arquétipos e Símbolos, Processo De Individuação) Membros do Grupo: Adelaide Paula Teodósio da Trindade Basílio Carlos Docente: Guida de Miranda INTRODUÇÃO A tarefa maior da psicologia analítica, como ficou conhecida a psicologia de Carl Gustav Jung, é, precisamente, incentivar o indivíduo a percorrer o mundo desconhecido do inconsciente e, lá estando, reconhecer aquilo com que se depara, na busca de integrar tais conteúdos à consciência e se tornar um ser mais completo e auto-consciente. Segundo a concepção junguiana, por mais que nos esforcemos em viver superficial e alienadamente o nosso ser e estar de cada dia, acomodados na segurança do mundo habitual, a psique por diversos momentos evoca o ego a um processo de interiorização, momento de confrontação e chamamento, vasculhando-se o interior à procura das verdades até então buscadas fora. A partir de tamanho confronto com o inconsciente, novos horizontes se abrem para a realização pessoal e para toda uma nova tomada de consciência do si-mesmo. Segundo a psicologia analítica de Jung, a personalidade do indivíduo somente venha a se completar quando o consciente e o inconsciente se organizarem em torno do self, aí formando o centro total da personalidade (Silveira, 1997). Num certo sentido, o conceito de individuação de Jung pode ser essencialmente entendido como a tendência instintiva, à realização plena de potencialidades inatas (Hall et. al. 2000). TEORIAS DOS ARQUÉTIPOS SEGUNDO CARL GUSTAV JUNG Arquétipo é o padrão original que abarca o que existe em comum nas pessoas, objectos ou conceitos, que pode ser copiado, moldado, padronizado ou estimulado para ser seguido e vivido. O conceito de arquétipos surgiu em 1919 com o psicanalista suíço Carl Gustav Jung, discípulo de Freud. Carl Gustav Jung investigou até concluir que os fenómenos que nossos antepassados viveram, a um nível colectivo e em diferentes épocas, culturas e sociedades, modelam a nossa maneira de ser. Ele conceituou isso como arquétipo. Jung chegou à conclusão que os arquétipos são conjuntos de imagens primordiais, provenientes de uma sucessão de repetições progressivas de uma mesma experiência durante muitas gerações que ficaram armazenadas no inconsciente colectivo. (JUNG, C. G, 1975) Segundo ele, os arquétipos são míticos personagens universais que residem no inconsciente colectivo das pessoas. Os arquétipos representam as motivações humanas que vão traçando nossas experiências e desencadeando emoções profundas e se somatizando de geração em geração. Os arquétipos definidos por Jung representam padrões de imagens e símbolos que aparecem de forma recorrente de diferentes formas em todas as culturas e que passam de geração em geração. A NOÇÃO DO SELF SEGUNDO CARL GUSTAV JUNG “O Self é o dado existente a priori do qual nasce o“ eu ”. De certa forma, ele pré-forma o “eu”. Não sou eu quem me crio: prefiro voltar a mim mesmo. “ O Self é um conceito limite que combina em um só conjunto o consciente e o inconsciente : o inconsciente pessoal e o inconsciente colectivo . Traduz a experiência da totalidade, a capacidade de representação da totalidade, bem como o processo psíquico que vai na direcção de uma consciência que inclui cada vez mais elementos inconscientes. O Self intervém no processo de individuação: é o motor, o organizador e, em certa medida, a meta. O Self é, portanto, o arquétipo da consciência e do ego . A relação do eu com o Self é descrita por Jung como a da Terra girando em torno do Sol, ou como a de um círculo incluído em outro círculo de diâmetro maior, ou mesmo como o filho em relação ao pai. Neste último caso, a imagem só é completa quando consideramos que o Eu só vem à consciência por meio de um trabalho de confronto do Ego com seus outros arquétipos, um trabalho de "fixação" de o Ego: o Si Mesmo, ou pelo menos a consciência que se adquire de Si Mesmo, é portanto também, no final do processo de individuação , de certa forma, o filho do Ego. (CG Jung, 1971, p. 281) Como totalidade, o Eu é necessariamente paradoxal: qualquer qualidade a ele atribuída vem acompanhada de seu oposto: só a capacidade de direcção da consciência do Ego permite a diferenciação entre os opostos e, portanto, revela este aspecto paradoxal do eu. , mais precisamente da consciência que se pode ter dele. A função desse Arquétipo de extrema importância consiste na organização e na unificação, pois ele tem a poderosa missão de atrair e harmonizar os demais arquétipos. A NOÇÃO DO SELF SEGUNDO CARL GUSTAV JUNG A função desse Arquétipo de extrema importância consiste na organização e na unificação, pois ele tem a poderosa missão de atrair e harmonizar os demais arquétipos. Quando uma pessoa relata estar de bem com a vida e em paz com o mundo a sua volta, podemos afirmar que o Self está cumprindo o seu papel. No entanto, quando uma pessoa sente que está tudo fora do lugar e tem a impressão de que o mundo irá desabar, podemos afirmar que o Self não está actuando de forma clara na vida dela. O principal objectivo de toda Personalidade, seja ela qual for, é chegar à auto-realização e conhecimento do próprio Self. A busca pelo autoconhecimento é o único caminho para tal realização. Esta é a tarefa mais difícil que o homem pode encontrar durante toda a sua existência. O Self tem a capacidade de ser o regulador e o governante de nossa personalidade. Através do desenvolvimento desse arquétipo, o homem fica motivado e impulsionado a uma ampliação da consciência e começa a perceber o rumo de sua própria vida. O homem só poderá viver em harmonia com a própria natureza a partir do momento em que tornar consciente aquilo que é inconsciente. “O Self é a meta da nossa existência, por ser ele a mais completa expressão da combinação a que estamos fadados e que denominamos individualidade.” Jung nos revela que “o si-mesmo não é apenas o ponto central, mas também a circunferência que engloba tanto a consciência como o inconsciente. Ele é o centro desta totalidade, do mesmo modo que o eu [ou ego] é o centro da consciência” (Jung, 1990, p. 51). ARQUÉTIPOS E SÍMBOLOS DE JUNG Para que possamos falar de símbolos e arquétipos é necessário explicar o conceito de inconsciente colectivo. De maneira simples, inconsciente colectivo é a parte do inconsciente individual que resulta da experiência ancestral da espécie, ou seja, ele contém material psíquico que não provém da experiência pessoal. Jung compara o inconsciente colectivo ao ar, que é o mesmo em todo lugar, é respirado por todos e não pertence a ninguém. (SILVEIRA, Nilse da. 1997). O conteúdo psíquico do inconsciente colectivo são os arquétipos. Que são uma forma de pensamento universal com carga afectiva, que é herdada. Os arquétipos são como diferentes ‘formas de bolo’ que dão características ao bolo. Eles dão origem às fantasias individuais e também às mitologias de todas as épocas. Por exemplo, todo mundo quer encontrar seu ‘par perfeito’ ou alma gémea. Podese dizer que isto se resulta de um arquétipo, da figura de Adão e Eva ou de outra, pois em todas as religiões existe uma história que ilustra a união entre as ‘polaridades’. Este conceito se propaga e por mais que qualquer pessoa negue, sempre existe um desejo ainda que inconsciente de se encontrar alguém muito especial que corresponda ao que esperamos. Esta é uma fantasia individual resultante de um mito. Jung nos diz que o conceito de arquétipo é muito mal compreendido, pois não expressa uma imagem ou conteúdo definido, mas sim uma variação de detalhes e um motivo, mas nunca perdendo a configuração original. (SILVEIRA, Nilse da. 1997). Estes arquétipos e muitos outros presentes em nós, como a figura materna, a figura do irmão ou da irmã, entre outros, não podem ser destruídos e permanecerão em nós por toda a nossa existência, mas necessitam ser constantemente trabalhados. As principais estruturas formadoras de nossa personalidade são arquétipos. ARQUÉTIPOS E SÍMBOLOS DE JUNG É importante salientar que, segundo Jung (1949/1991), o símbolo é a melhor expressão possível de algo relativamente desconhecido, pois ele representa por imagens, experiências e vivências que incluem aspectos conscientes e inconscientes, isto é, desconhecidas da consciência. Como tal, o símbolo participa e existe sob a forma vivencial e experiencial, sendo impossível de ter seu significado esgotado ou determinado, possibilitando estabelecer múltiplas relações e analogias. Se um símbolo perde seu carácter “mágico”, isto é, de atrair a atenção psíquica, pode-se dizer que não é mais um símbolo. A utilização excessiva do símbolo tende a reduzi-lo o indicador de um conceito ou de uma realidade material e este indicador não opera mais como símbolo e sim como signo. Os símbolos não podem ser comparados aos arquétipos, já que os arquétipos não têm um conteúdo definido. Nosso inconsciente se expressa basicamente pelos símbolos. Os símbolos podem ser individuais ou colectivos Jung se interessou mais pelos colectivos universais , como a estrela de Davi , a Cruz , entre outros , em sua grande maioria , religiosos. Os símbolos podem ser nomes, imagens familiares entre outros. Eles possuem um significado óbvio , mas também trazem conotações específicas A imagem, o nome ou outra coisa, só pode ser considerada símbolo quando evoca algo mais que seu simples significado. Por exemplo, o nome de Jesus não é apenas um nome. Tornou - se símbolo porque traz consigo muitas outras coisas. mesmo para quem não é Cristão. O nome de Jesus traz um aspecto inconsciente, que não pode ser definido ou explicado plenamente, assim são os símbolos. PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO Na segunda parte de seu livro O Eu e o Inconsciente (1982), intitulada Individuação, Jung assim define o conceito: Individuação significa tornar-se um ser único, na medida em que por individualidade entendermos nossa singularidade mais íntima, última e incomparável, significando também que nos tornamos o nosso próprio si- mesmo. Podemos pois traduzir “individuação” como “tornar-se si-mesmo ou “o realizar-se do si mesmo” . (Jung, 1982, p. 49). Nascemos, atravessamos nossa infância, puberdade, juventude e avançamos pela vida adulta questionando nossos valores e conquistas, no fundo sempre em busca de nós mesmos, desenvolvendo o self e objectivando a união da consciência com o inconsciente (Fadiman & Frager, 1986), conforme postulado pela psicologia junguiana. Em seu livro A experiência Junguiana – análise e individuação, James Hall (1988, p. 62) nos recorda que “a individuação é a manifestação, na vida, do potencial inato e congénito da pessoa”, reiterando que “nem todas as possibilidades podem ser realizadas, de modo que a individuação jamais se completa”, muito em função de se constituir como um processo de desenvolvimento da totalidade, embora tal totalidade não seja nunca atingida (Nagy, 2003). A individuação é um processo autónomo de realização da totalidade individual experimentada como uma completude psicológica. Nos termos de Jung, a individuação significa a realização do Si-mesmo, ou Self. Jung bem destacou: “O processo psicológico da individuação está intimamente vinculado à assim chamada função transcendente. E esta função resulta da união dos conteúdos conscientes e inconscientes. PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO Primeira Fase: Conscientização da Persona Ela é uma máscara que oculta o Si-mesmo e o inconsciente, apesar dela ter a sua relevância dentro da adaptação social, em outras palavras, não tem como sermos totalmente desprovido dela, todavia, estar consciente que a persona não engloba a personalidade como um todo. O indivíduo na sua essência não é essa máscara em si. Seu uso é voltado ao convívio social e a forte identificação com a persona, distancia o sujeito de quem ele realmente é. Segunda Fase: Assimilação da Sombra Na psicologia de Jung, a sombra representa os aspectos éticos que são rejeitados pelo ego e que são projectados em outras pessoas como pertencentes a eles. O ego entende esses aspectos como negativo, embora os conteúdos sombrios não seja necessariamente negativos. A assimilação da sombra significa o reconhecimento dessas deficiências morais como parte de nossa própria personalidade. A sombra pode aparecer em sonhos na forma de pessoas próximas - amigos, parentes e colegas de trabalho - que exibem traços de comportamento imoral do nosso ponto de vista. Sua presença em nosso sonho nos deixa desconfortáveis e nós automaticamente o rejeitamos como indesejável. A individuação é o caminho que nos leva ao nosso ser completo, contudo isso não implica um ser iluminado, perfeito e salvo de qualquer sofrimento. PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO Terceira Fase: Confronto Com Anima Ou Animus Anima é a feminino inconsciente do homem e, de um modo geral, seu lado emocional. O animus, ao contrário, é o masculino inconsciente da mulher, seu lado mais racional e pragmático. O arquétipo da anima controla o relacionamento entre homem e mulher em diferentes estágios, desde o relacionamento mãe-filho até o casamento. A anima pode simbolizar experiências diferentes, desde a mulher que desperta o Eros do homem, até a guia espiritual ou a deusa suprema (Ísis, para os egípcios, Virgem Maria para os cristãos). Quarta Fase: Conexão com o si-mesmo Conteúdos conscientes e inconscientes são integrados, formando uma unidade psíquica. O centro da psique é actualizado e esse centro é o Self e não o ego como antes era percebido. O ego é o centro da consciência e sua tarefa é importantíssima, pois ele trabalha para o Si-mesmo seguir no seu caminho de auto realização. E nessa relação dinâmica e harmoniosa, assim sermos sujeitos diferenciados, únicos e dentro de uma colectividade. E destacando algumas ressalvas, o processo de individuação geralmente não é um processo que pode ser concluído em um determinado período de tempo. O inconsciente não pode ser completamente assimilado - é praticamente infinito em sua manifestação. Esta é a razão pela qual o processo pode levar uma vida inteira. O caminho que nos leva à realização da individuação não é directo, mas com desvios e extremos (enantiodromia) que colocam o indivíduo em posições contraditórias e muitas vezes causam sofrimentos morais insuportáveis. CONCLUSÃO Os arquétipos são figuras que se instalaram em nosso imaginário desde a infância. Independente do país, cultura, religião e costumes, essas imagens são muito parecidas para todos nós. Os arquétipos estão presentes nos mitos, fábulas, lendas, contos de fadas, histórias que foram criadas para externalizar o inconsciente colectivo. São eles que fazem parte dos marcos e grandes acontecimento da história humana e vivem a se repetir, sendo bons ou ruins, mudam os cenários, a roupagem, mas os personagens (arquétipos) são os mesmos. (HANNAH, Bárbara. 2003). Na actualidade os arquétipos são representados e vistos nos filmes, na publicidade, nas séries, nas novelas, nos reality-show, na internet e em quase tudo em nossa existência. Os arquétipos são mecanismos que utilizamos para satisfazer nossas necessidades, tais como: realização, pertencimento, independência, segurança e estabilidade, entre outras. O importante é nos darmos conta de que forma os arquétipos atuam em nós e como se formaram, os alimentamos e somos influenciados por eles. Dentro de cada um de nós moram muitos arquétipos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS JUNG, C. G. (1971) Psicologia do inconsciente. Obras completas de C.G.Jung Vol VII/1. Petrópolis: Vozes. JUNG, C. G. (1972). O desenvolvimento da personalidade. Obras completas de C.G.Jung Vol XVII, Petrópolis: Vozes. JUNG, C. G. (1975). Memórias, Sonhos e Reflexões. Reunidas e editadas por Aniela Jaffé. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. JUNG, C. G. (1982). O eu e o inconsciente. Obras completas de C.G.Jung Vol VII/2. Petrópolis: Vozes. JUNG, C. G. (1990). Psicologia e alquimia. Obras completas de C.G.Jung Vol XII. Petrópolis: Vozes. JUNG, C. G. (1995). Símbolos da Transformação. Obras completas de C.G.Jung Vol V, Petrópolis: Vozes. JUNG, C. G. (1996). O homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira (14ª Ed.) JUNG, C. G. (2003). Tipos Psicológicos. Obras completas de C.G.Jung Vol VI, Petrópolis: Vozes. HALL, S. Calvin & NORDBY Vernon. (1986). Introdução à Psicologia Junguiana. São Paulo: Cultrix. HANNAH, Bárbara. (2003). Jung: Vida e Obra – uma memória biográfica. São Paulo: Artmed. FIM