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um dado complexo formado primeiramente por uma percepção geral do nosso corpo
e existência e, a seguir, pelos registros de nossa memória. Todos temos uma certa
ideia de já termos existido, quer dizer, de nossa vida em épocas passadas. Todos
acumulamos uma longa série de recordações. Esses dois fatores são os principais
componentes do ego, que nos possibilitam considerá-lo como um complexo de fatos
psíquicos. A força de atração desse complexo é poderosa como a de um imã: é ele
que atrai os conteúdos do inconsciente, daquela região obscura sobre a qual nada
se conhece. Ele também chama a si impressões do exterior que se tornam
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conscientes ao seu contacto. Caso não haja esse contacto, tais impressões
permanecerão inconscientes. (JUNG, 1983, §18)
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as imagens arquetípicas, que podem ser observadas em projeções e personificações
encontradas nos sonhos, nos mitos, nos contos de fadas, nas religiões, nas artes
dramáticas, plásticas e esculturais, nas peças publicitárias e nos relacionamentos
humanos.
A relação ego-self, então, expressa o seguinte: uma unidade que cada vez que
se manifesta, se parte, se divide, se expressa por meio de polaridades e, como
consequência, a nossa busca seria a união dos polos novamente. Crescer é
perceber que esses polos são complementares. O ego só trabalha em um dos polos,
ou em um ou em outro, o que faz com que o trabalho da consciência seja
discriminar. Um trabalho que é redutivo por si só, mas necessário, o que resulta
na base do trabalho terapêutico que é levar o indivíduo a buscar encontrar todas
as suas possíveis potencialidades que possam ser expressas. O caminho da
individuação, isto é, da evolução da consciência, de sua harmonização com o
inconsciente, implica no reencontro do ego com o Self, ou seja, do sujeito com suas
raízes.
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recebe a denominação de Jung de complexo autônomo. O complexo autônomo é
dotado de energia.
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É o princípio de compensação que indica a própria auto regulação da psique.
Essa busca pelo equilíbrio pode ser compreendia como uma entropia, um princípio
complementar a conservação de energia. O inconsciente, com objetivo de manter a
homeostase psíquica, busca compensar a atitude unilateral do ego. Essa busca
pode ativar no inconsciente o princípio contrário, a enantiodromia, um processo
inconsciente de mudança de perspectiva onde o conteúdo oposto negado emerge se
opondo ao conteúdo da consciência1. E é também pelo sistema de compensação
que podemos integrar os conteúdos do inconsciente à consciência. Aqui teremos
mais um conceito importante para a psicologia junguiana, a metanóia, uma
mudança de caminho, que para Jung, embora seja o mesmo movimento da
enantiodromia, a primeira possui a participação da consciência e por isso é de
fundamental importância no processo de individuação.
Jung observou que há um sentido final para a energia psíquica, um objetivo
a ser alcançado, diferenciado e integrado. Da energia mais instintiva e primitiva,
para a espiritualidade e transcendência, observaremos um constante confronto
entre natureza e psiquismo, que se desdobrará em crescimento, auto regulação e
equilíbrio psíquico.
Toda e qualquer doença é um símbolo, o qual revela uma disfunção no eixo
ego-Self, provocada por um complexo, que aponta para a correção a ser feita; qual
conteúdo deve ser integrado na consciência. Mais importante que a
causalidade, precisamos entender a finalidade de tal disfunção.
A psicoterapia profunda ativa as imagens incipientes da psique, mantendo, a
seguir, diálogo com elas. Jung descreveu esse processo como a função
transcendente, através da qual, o Si-mesmo procura transcender as barreiras
existentes entre a consciência e o inconsciente. Em outras palavras, a psique
procura curar a si própria. Essa ideia da cura é, por conseguinte, mais homeopática
do que alopática; o semelhante cura o semelhante. A cura tem origem na
ressonância, na repercussão ou no reconhecimento da semelhança. (...) A cura
pessoal, a cura da alma, tem lugar através da evocação de imagens ou atos
simbólicos que ressoam e mediam a divisão. (HOLLIS, 1997, p.153).
A produção com argila, por exemplo, nos revela a importância das imagens na
estruturação da psique. O uso da técnica visa facilitar e promover a elaboração da
emoção oculta na imagem realizada. A argila é um material concreto, que auxilia
na construção do real, na materialização do subjetivo. Por ser um material
maleável, que proporciona fluidez entre sujeito e peça, possui uma plasticidade que
permite trabalhar a complexidade subjetiva. O trabalho com a argila é visceral, e
sua manipulação, o toque na terra, o frio e quente, possibilita a transformação,
assim como dar forma às imagens, sentimentos e emoções - um encontro consigo
mesmo, em que se estimula o potencial criativo para a transformação de energias
bloqueadas. Ao transformar as coisas em terra, possibilitamos a concretização das
energias vitais, da ação, da práxis, o tornar matéria, ligar-se ao ego.
Essa transformação se dá por meio dos símbolos. O símbolo (Sim + balai,
significa colocar junto) é uma função integradora e reveladora do eixo ego e si-
mesmo; entre o que é desconhecido –inconsciente pessoal e coletivo – e a
consciência. O símbolo tem vida, alcança dimensões que o conhecimento racional
não consegue, é uma experiência de imagens e por imagens.
A argila é barro, elemento terra; com o uso do fogo, temos a cerâmica; a
modelagem pede o uso da água, e a secagem necessita do ar. No processo de
trabalho com argila, portanto, temos envolvidos o contato com os quarto elementos.
E mais, com a secagem, experimentamos um trabalho de desapego, que ajuda o
paciente a colocar ênfase no processo e não no produto.
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Para o primeiro contato com a argila é importante amassá-la bem. Isso permite
não só prepará-la para uso, retirando as bolhas de ar, tornando-a mais plástica
para o trabalho, tornando-a mais homogênea, mas também proporcionar ao sujeito
um contato inicial para que ele se acostumar bem ao material
Além da manipulação para o conhecimento do material, o sujeito naturalmente
inicia um arredondamento da massa, formando com isso bolas e vasilhas,
primeiras construções que, em geral, observamos no primeiro contato.
Referências:
HOLLIS, James. Sob a sombra de Saturno: a ferida e a cura dos homens. São Paulo:
Paulus, 1997.
JUNG, CG. A natureza da psique. Petrópolis,RJ: Vozes, 1984.
______ . Energia Psíquica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
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______. Fundamentos da Psicologia Analítica. Petrópolis, RJ: Vozes, 1983.