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GE-JAL
SALVADOR
2019
A Psicologia Analítica foi desenvolvida por Carl Gustav Jung (1875-1961),
cidadão suíço, médico, psiquiatra, psicanalista, professor, escritor e, acima de tudo, um
homem que na sua inquietude, buscou amparar os desequilíbrios da humanidade se
dedicando com afinco ao que acreditava ser o caminho mais coerente da evolução
humana, sem desconsiderar as possibilidades que outros conhecimentos lhe
apresentavam. As teorias, conceitos e temas levantados por Jung ainda carecem, de
certo, de determinado esclarecimento, mesmo aos leitores de outras áreas da saúde,
filosofia, sociologia e das artes, assim como, principalmente aos psicólogos que
estudem e/ou trabalhem com outras abordagens teóricas.
Desde muito cedo, Jung se dedicou a estudos um tanto quanto avançados para
sua idade, mergulhando nos escritos de filósofos como Kant, Shopenhauer, Schelling,
Hegel, dentre outros pensadores que se debruçavam sobre a existência humana e suas
ramificações do existir para além da máxima cartesiana do “penso, logo existo” se
fundindo com os ideais de Nietzsche que buscava uma inversão dos valores tradicionais,
primando pelo que o próprio chamou mais tarde de valores vitais.
Podemos pensar a estruturação da obra psicológica de Jung tendo por base três
modelos: o científico em que os estudos estão voltados para um método objetivo e
diretivo em que a palavra é o elemento central do estudo, e foi quando o uso do teste de
associação de palavras tomou proporções à descoberta dos complexos e sua carga
afetiva representada pela palavra dita; o modelo estético-artístico, tendo como prisma a
imagem, o inconsciente se apresenta através do símbolo e existe um respeito maior pela
relação entre a personalidade do analista e a personalidade do analisando (relação
dialética; e por fim, o modelo místico-religioso em que o “silêncio” fala mais que a
palavra, a psique objetiva (inconsciente coletivo) ganha voz para o processo de
individuação e nós, enquanto terapeutas, somos convidados a confiar no que não
podemos controlar, algo incognoscível, da ordem do mistério; a dialética se estabelece
entre o religere (estar atento aos sinais, estar presente na ação) e o religare (vislumbrar
a reconexão com o sagrado).
Em sua teoria, Jung busca descrever a estrutura da personalidade humana. Para
tanto, ele construiu um esquema básico da constituição da personalidade dos sujeitos,
denominando a personalidade como Psique. A Psique funciona com um regulador da
adaptação humana no ambiente. Jung orientou sua teoria, determinando que a Psique se
estrutura em sistemas e níveis interatuantes, denominando estes níveis de consciência,
inconsciente pessoal, e inconsciente coletivo, se contrapondo à metodologia freudiana
que em seus achados limitava o sujeito à camada do inconsciente pessoal formado por
experiências reprimidas vividas na infância.
A consciência é marcada pelo que se vê, pelo que é percebido pelo sujeito, é a
forma de reação direta do sujeito com o meio. Em nível consciente, para regular os
conteúdos a serem exteriorizados, temos o ego que funciona como um vigia da
consciência: nada chega à consciência sem o filtro do ego que está em constante relação
com o inconsciente pessoal onde estão os conteúdos dispensados à consciência através
da regulação do ego, o que denuncia sua maior importância por concentrar esses
conteúdos e mantê-los em registro como uma espécie de memória ou banco de dados.
Um dos grandes feitos de Jung foi a identificação do aglomerado de conteúdos do
inconsciente pessoal, dispensados pelo ego, e constituindo estruturas denominadas de
complexos, consideradas como pequenas personalidades integradas e autônomas e
podem atuar de forma intensa no controle dos nossos pensamentos e comportamentos.
A prova da interatuação entre as estruturas que constituem a psique é que, sendo o
complexo um aglomerado de conteúdos do inconsciente pessoal que não atravessa o ego
para atingir a consciência, a sua base é promovida por um arquétipo, ou seja, todo
complexo possui uma base estruturada no inconsciente coletivo.
_____. Estudos sobre psicologia analítica. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1981. v. VII.
Textos: O inconsciente pessoal e o inconsciente supra pessoal ou coletivo, p. 75;
Inconsciente pessoal e inconsciente coletivo, p. 117.
_____. Aion – estudos sobre o simbolismo do si-mesmo. 4 ed. Petrópolis: Vozes, 1994.
Vol. IX/2. Textos: O eu, p. 13; A sombra, p. 19.