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Resumo prova
Distinção entre Fenomenologia, Existencialismo e
Humanismo
As fontes da Psicoterapia Humanista - Existencial
É preciso, primeiramente, distinguir as ideias humanistas das fenomenológicas e das existenciais
- em determinados momentos da história essas ideais se intercruzam, mas é necessário
distinguirmos suas origens.

O contexto histórico das fontes


Humanismo individual
O conceito histórico-cultural de humanismo se refere à época do Renascimento e tinha como
objetivo uma volta aos estudos dos autores clássicos greco-latinos.
O humanismo, enquanto possuidor de um significado ideal, designa uma concepção do mundo e
da existência que tem por centro o homem.
É um retorno ao estudo a experiência consciente - uma alternativa intermediária ao
Behaviorismo e à Psicanálise

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Fenomenologia
A fenomenologia é um movimento filosófico que se estruturou no início do século XX, através
de Husserl.
O termo significa “a descrição da aparência”.
No sentido Husserliano, Fenomenologia é entendia como um método para fundar a lógica pura,
e, posteriormente, pensada por Husserl para fundamentar a totalidade dos objetos possíveis.
Existe, em Husserl, duas grandes concepções de Fenomenologia:

1. Fenomenologia como uma ciência filosófica propedêutica, que tem como objeto a descrição
das essências fundamentais para uma problemática filosófica dada

2. Fenomenologia como possuidora da tarefa de redescobrir a gênese intencional da


consciência e os passos constitutivos que a consciência coloca em movimento.

Existencialismo
O existencialismo é entendido como uma doutrina filosófica sobre o homem.
Os filósofos da existência vão redirecionar as perguntas sobre o homem. Em vez de se perguntar:
o que é o homem, se perguntará: quem é o homem?
A filosofia da existência pode ser concretizada através de duas grandes características:

1. todos os filósofos e escritores procuram valorizar o homem

2. todos procuram descrever e explicitar o modo concreto do homem viver, isto é, refletindo
sobre a angústia, a liberdade.

As ideias forças de cada movimento


Auto-realização e autodesenvolvimento
A psicologia humanista procura entender a vida humana na sua totalidade e, assim, a
compreensão do homem pelos psicólogos humanistas é entendê-lo como um ser que, em
primeiro lugar, possui uma unidade.
A ênfase sobre o ciclo da vida é outra característica da Psicologia Humanista. Seus
representantes têm enfatizado que a vida humana possui uma dinâmica na qual, em cada fase da

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vida, o ser humano deve alcançar um certo grau de realização, a fim de que possa, ao longo da
vida, se estruturar como uma pessoa plena, integrada.
O homem é compreendido como processo e evolução → essa evolução não ocorre ao acaso, mas
segue uma certa direção, tem um certo fim em vista, não é um processo que ocorre somente por
acertos e erros ou por tentativas desconexas, não é um voo no escuro.
O conceito de auto-realização quer acentuar que esse processo de crescimento inerente à
dinâmica da vida deve ser entendido na sua globalidade, isto é, no desenvolvimento de todas as
dimensões humanas, sejam elas biológicas, psicológicas, espirituais e sociais.

O conceito de autodesenvolvimento nos ajuda a entender a evolução do ciclo da vida do homem


→ a vida é vivida como um todo por uma pessoa que atinge seu pleno desenvolvimento no
instante em que percorre as diversas fases, cada uma com uma conquista integrativa, retratadas
através de seus sucessos e de seus fracassos.

Teoria da Intencionalidade

A afirmação de Husserl é que a consciência é intencionalidade, isto é, que ela é sempre


consciência de alguma coisa.
Segundo Husserl, a intencionalidade vivifica a vivência, tornando-a designativa do objeto, em
virtude de um processo mais radical, inerente à própria consciência → a novidade, aqui, é que a
consciência se escora em visar algo que não é ela mesma; ela se define pelo objeto que visa.
é a intencionalidade que unifica a consciência e o objeto, o sujeito e o mundo

com a intencionalidade há o reconhecimento de que o mundo não é pura exterioridade e o


sujeito não é pura interioridade, mas a saída de si para um mundo que tem uma signifcação
para ele

O conceito de Existência

Existência não deve ser entendida no sentido trivial de ser-no-mundo, como simplesmente um
ente no meio de outros entes.
Ex-sistere deve ser compreendida como:

ex= fora de
sistere= ter sua postura.

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Existir é, pois, ter sua postura fora

1. Em primeiro lugar, existir é ir sendo, o que fará através da escolha e da decisão.

2. Em segundo lugar, é estar em conflito consigo mesmo, e uma preocupação infinita de si


próprio

3. Em terceiro lugar, ela não é definível

Impacto nas psicoterapias


Podemos dizer que, para todas as principais tendências do mesmo solo epistemológico, a
psicoterapia é entendida como um encontro interpessoal entre o cliente e o terapeuta.

A Escola Americana
PSICOTERAPIA HUMANISTA-EXISTENCIAL

1. Terapia centrada na Pessoa, de Carl Rogers


O pensamento terapêutico de Rogers passa por três grandes fases:

a não-diretiva (1940-1950) - aqui ele constrói toda a teoria a partir de sua própria
vivência

a fase reflexiva (1950-1957) - nessa e na fase seguinte ele coloca mais fundamentos e
fenomenologia

a fase experiencial (1957-1970)

Como o próprio Rogers escreve, “a identificação com a psicologia humanista está baseada
na sua advocacia pela dignidade e valor da pessoa individual na sua busca pelo
crescimento”.

O fato de Rogers ter uma confiança nas forças positivas do organismo, que são utilizadas de
forma exata, ajudará o indivíduo a ter uma vivência mais plena.

Seu posicionamento o coloca mais próximo das ideias humanistas do que das ideias
fenomenológicas
O existencialismo de Sartre é um existencialismo ateu, enquanto o pensamento de kiekgaard
e Buber coloca Deus como O grande outro, O grande Tú - Rogers se fundamenta nesses
últimos

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A relação Eu↔ Tu é uma relação de mão dupla, e é muito mais significativa que a relação
Eu → Isso, uma vez que ao contrário da última ela implica em transformação

2. Psicoterapia existencial de Whitaker e Malone

O indivíduo está inserido num meio cultural e deve ser entendido como pessoa, isto é, deve
ser percebido no dinamismo filosófico e na sua inserção como ser social

PSICOTERAPIA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL

A fenomenologia é uma filosofia potencialmente europeia que se expande aos Estados Unidos
principalmente com Rollo May

A Psicologia nos Estados Unidos era dividida em Psicologia acadêmica - dominada pelo
Behaviorismo e pelos testes psicológicos - e em Tratamento Psicológico - dominado pela
Psicanálise na versão Americana. Isso acontecia porque a Psicanálise foi a primeira compreensão
abrangente da personalidade e lhe fornecia um histórico de para onde veio e para onde vai.

Segundo a terapia humanista isso não representa o homem como um todo - no behaviorismo não
se veria o homem como um todo, apenas o comportamento, e na Psicanálise <3 o objeto de
estudo se enfocava no inconsciente. Por isso a fenomenologia surge como uma terceira força.

1. Psicoterapia Existencial de Rollo May

Rollo May não escreveu muito explicitamente sobre a conduta do terapeuta nesta
perspectiva fenomenológica. O que temos é a explicitação de conceitos centrais no livro
Existência, e retomados posteriormente, no livro A descoberta do Ser, como Ser e não-ser,
Ser-no-mundo, que servem para a fundamentação do trabalho terapêutico na linha
fenomenológico-existencial

2. Psicoterapia Existencial de Eugene Gendlin

Responsável pela reorientação da obra de Rogers, transformando-a em fenomenologia e


existência.
Criador da psicoterapia experiencial: consituti-se, basicamente, como uma fusão das terapias
centradas no cliente e existencial. Contudo, é uma fusão criativa que vai além destes dois
sistemas, invertendo as regras da Terapia centrada no cliente e ampliando a Terapia
Existencial.

Seu pensamento se traduz num esforço gigantesco de encontrar um método que fosse
adequado para estudar o fenômeno da subjetividade.

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Gendlin estrutura a terapia experiencial em torno de quatro conceitos básicos:

a) sentir experiências → descreve este contato imediato com o todo situacional, Esta
consciência pré-reflexiva é possível quando o indivíduo está, interiormente, quieto e
preparado para interagir com o próprio corpo

b) diferenças → define os elementos emergentes da informação organística e é, portanto,


uma reflexão

c) o ir adiante → indica um movimento resultante da tensão dialética que ocorre quando a


informação organística é diferenciada e cada sentimento é nomeado

d) interagir
o processo de experiências se dá através dos três primeiros conceitos

TERAPIAS EXISTENCIAIS DOS ANOS 80-90

“crise dos paradigmas” → tem surgido um novo eixo de organização da ciência, onde, para
se entender um fenômeno, não basta hipótese simplista, pois o fenômeno é extremamente
complexo.

Fala-se também que a referência não é mais a objetividade pura e simples, mas ela deve ser
compreendida a partir da intersubjetividade.

Diante desta perspectiva há dois estudos a serem destacados: a psicoterapia existencial de


Irvin Yalon e a de Salvatori Maddi
Há uma expansão muito grande do campo psicoterapêutico.

As práticas terapêuticas devem se estruturar não mais dentro do paradigma newtoniano-


cartesiano.
Com Descartes se tem a separação corpo e mente, e na física havia um reducionismo para
compreensão.

Determinismo

Reducionismo

Fragmentção e

Separação radical do sujeito-objeto

O que move o sujeito segundo Rogers é uma noção de desenvolvimento pessoal ou, como
definido por ele, autorealização.

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Com isso há um novo quadro de referencial que é:

Sistêmico

Linguístico

Fenomenológico

Existencial

Transcendental - ele não se reduz à ele mesmo. Enquanto uma cadeira não quer ser
diferente de uma cadeira, o ser humano quer ser diferente do que é.

A escola Européia
Na Europa a psicologia é derivada de uma concepção sobre o homem.
PSICOTERAPIA FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAL

1. Daseinsanalyse de Ludwig Binswanger

Podemos resumir em duas as contribuições de Binswanger para a prática clínica:


a) a primeira são os estudos fenomenológicos no campo da psicopatologia onde sua
abordagem, a partir dos estudos de Husserl, marca um passo a mais nos estudos iniciados
por Jaspers.
b) a segunda é a construção da teoria terapêutica intitulada Daseinsanalyse - Preocupação
para seu trabalho clínico → encontrar uma fundamentação “científica” para a Psiquiatria do
seu tempo.
Sua compreensão do Dasein vai além da heideggeriana no sentido que este não deve ser
entendido só como Sorge (cuidado), mas também como Liebe (amor). Estas duas dimensões
do Dasein possibilitam que ele não seja só entendido como ser-no-mundo, mas, também,
como um ser-que-ultrapasse-o-mundo

2. Análise Existencial de Medard Boss

A função da terapia seria a completa liberação do paciente através da experiência fenomenal,


à qual o terapeuta terá acesso através das análises dos sonhos que Boss desenvolveu em
alguns dos seus mais importantes escritos.

Boss funda, em Zurick, um instituto de Psicoterapia chamado Daseinsanalyse


Mesmo nome do trabalho de Binswanger

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As análises de Heidegger do ser-no-mundo o ajudarão em suas divergências com a
Psicanálise

Os conflitos do sujeito não estão na mente.


O sujeito está no mundo no tempo

PSICOTERAPIAS ANTROPOLÓGICAS
Entendemos por psicoterapias antropológicas as práticas terapêuticas que partem de uma
elaboração explícita do ser humano trabalho

1. Logoterapia de Viktor Frankl

A concepção de homem explícita de Frankl pode ser resumida no sentido de que o homem
deve ser entendido como um ser biopsicoespiritual, isto é, como uma totalidade.
Ele diz que o homem “no final das contas, o que procura mais é a felicidade em si, mais
uma razão para ser feliz. Com efeito, no dia-a-dia da clínica, vemos que é precisamente por
não contar com uma ‘razão para ser feliz’ que o neurótico sexualmente perturbado,
impotente ou frígido, encontra-se impossibilitado de obter a felicidade”.

Ele era um psiquiatra de ascendência Judaica e foi para o campo de concentração -


sobreviveu e fez uma reflexão sobre o ser humano a partir de sua experiência no campo de
concentração

Ele dirá que o que busca o homem é o meaning (sentido como semelhante a significado)
O homem deve ser entendido como um ser biopsicoespiritual, isto é, como uma totalidade
O Eu só se realiza em relação ao seu além

2. Psicoterapia Antropológico-fenomenológica
Viktor Von Weizsacker foi o responsável pela elaboração da antropologia, que desenvolveu
uma nova compreensão da relação médico-paciente, trazendo, assim, novas luzes para uma
relação terapêutica mais libertadora.

PSICOTERAPIA ANTROPOLÓGICA DOS ANOS 80-90


ideias que provaram um repensar de algumas posições defendidas pelas terapias apresentadas
anteriormente: Psicoterapia Dialytica de Luis Cencillo na Espanha; Wyss com Psicoterapia
antropológica integrativa

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Fundamentação antropológica da prática psicoterápica
Quando pensamos em prática clínica, vem-nos ao pensamento um tipo de intervenção curativa.
Esse tipo de raciocínio é sustentado pelo fato de que:

por um lado, a pessoa busca, no psicoterapeuta, uma ajuda que lhe possibilite sair do
impasse existencial em sua vida pessoal.

por outro lado, o terapeuta pensa que, com a aplicação de uma “técnica”, a demanda do
cliente será prontamente atendida e, mais do que isso, sua ação terá o efeito de provocar um
“ajustamento” na personalidade pessoal, ajustamento esse que provocará uma adaptação
quase imediata do cliente ao seu contexto social.

Convém dizer que o mais importante, no tratamento do problema apresentado pelo cliente,
mediante uma psicoterapia, será o estabelecimento de uma relação inter-humana capaz de ajudá-
lo a reestruturar sua vida.

O que é o encontro Inter-Humano?


FUNDAMENTAÇÃO ANTROPOLÓGICA DO ENCONTRO
Heidegger chama a atenção para o fato de que o homem é, na sua estrutura mais fundamental,
um ser com os outros.
A fenomenologia existencial nos ensina que o homem é um ser-no-mundo, que ele não pode ser
compreendido sem o mundo.

Essa unidade é instrumental do homem e, assim, a relação é o elemento anterior à constituição do


homem como subjetividade.
Na perspectiva existencial, o que conta, em primeiro lugar, é o tipo de relação que estabelece
entre a mãe e o seu bebê (diferente da psicanálise). A afetividade, que entendemos como um dos
eixos de organização do psiquismo humano, manifesta-se mediante a ressonância interna dos
contatos que o eu estabelece com o mundo.
O ser humano concretiza sua dimensão relacional por intermédio de três esferas:

a relação de objetividade com a Natureza, na qual ele se experimenta como sujeito situado;

a relação com os outros homens que podemos caracterizar como uma relação de
intersubjetividade;

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a relação de transcendência, que designa a forma de uma relação entre o sujeito situado
enquanto pensado no movimento da sua auto-afirmação e uma realidade da qual ele se
distingue ou que está para além da realidade que lhe é imediatamente acessível.

O eu não é uma realidade em si, mas relacional.


O homem a) não é um ser como uma mônada, que se encerra em si mesmo, muito pelo contrário;
b) é um ser que tem como traço fundamental a co-existência e c) é um indivíduo veiculado a um
semelhante.

O ENCONTRO
A palavra encontro designa uma situação em que o outro afeta de alguma maneira a minha
existência, principalmente na dimensão em que ele (o outro) me faz crescer.

O encontro humano, seja na psicoterapia ou fora dela, por um lado, fará ressurgir antigas
vivências, que serão trabalhadas ao longo do processo, e, por outro lado, provocará novas
vivências, que desencadearão uma nova reorganização da vida.

O ENCONTRO PSICOTERAPÊUTICO
A especificidade do encontro terapêutico pode ser definida como uma relação interpessoal
subjetiva, isto é, deve ser uma relação em que as veiculações do material subjetivo se fazem
necessárias. O cliente deve trazer, para esse encontro, o conteúdo significativo de suas vivências.
O terapeuta deve penetrar na esfera vital de seu cliente, mas isso deve ser feito dentro de certos
limites, isto é, de forma a respeitar o outro. O terapeuta não deve forçar o surgimento do material
nem, para tanto, desrespeitar o ritmo e o desvelamento da vida íntima de seu cliente. O que ele
pode fazer é analisar, junto com o cliente, as forças que impedem o material de se revelar, mas
nunca “agredir” o cliente com pressões psicológicas de “desmascaramentos”.
Do processo terapêutico, o cliente espera cura, e não amizade; ajuda, e não amor. O cliente pode
ter claro isso em termos de racionalidade, porém, no momento em que começar a sofrer com o
desvelamento de suas verdades, ele busca amizade e amor, para compensar a sua angústia e o seu
sofrimento.
De um modo geral, a relação entre o terapeuta e o cliente passará por várias fases, segundo o
andamento do processo terapêutico.

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Contudo, essa relação inter-humana deve compreender, em si, o cuidado, a assistência e o
tratamento.

O cuidado significa que o terapeuta deve ter uma atenção no sentido de respeitar o ritmo do
cliente, tendo sempre uma atitude de aguardar as revelações deste.

A assistência significa que o terapeuta deve estar bem preparado para entender o que se
passa na relação.

A segunda característica brota justamente do objetivo de querer levar o cliente a uma outra
norma maior. A terapia é vista como uma relação que vai auxiliar o cliente nessa busca de
autonomia. Assim, a natureza da relação implica que um dia ela terá um fim, isto é, haverá um
rompimento.
Isto quer dizer que a relação terapêutica é limitada no tempo e completamente diferente da
relação amorosa, em que os dois parceiros, mesmo que venham a se separar, no momento do
engajamento não visam a essa separação. A separação pode acontecer na relação amorosa, mas
não é planejada desde o seu ponto de partida. Aqui, a separação é colocada como sendo o
elemento essencial da relação terapêutica.

Podemos nomear a assimetria como outra condição básica para a existência de uma relação
terapêutica. É de extrema importância que, na terapia, essa assimetria seja instalada para o bom
desenvolvimento daquela, uma vez que não se trata de uma relação amorosa, em que ambos os
parceiros devem ter um posicionamento de igual para igual na construção do seu projeto comum

O existir humano na obra de Ludwig Binswanger


Para ele, a Psiquiatria vivia dentro de um dilema do qual ela deveria sair: “Ela (a Psiquiatria)
deve decidir se quer simplesmente permanecer uma ciência aplicada, um aglomerado de
Psicopatologia, de Neurologia e de Biologia, mantidas juntas simplesmente pela sua tarefa
prática, ou se quer tornar-se uma ciência psiquiátrica unitária”
Ele caracterizou a Psiquiatria de sua época como uma ciência que se encontrava diante de três
vias, as quais não poderiam dar-lhe um estatuto científico

1. O primeiro caminho segue o método naturalista. A essência da doença é apreendida no


momento em que nós detectamos as manifestações anormais, de tal sorte que elas expõem
um processo biológico determinado, no qual conseguimos perceber o começo, o
desenvolvimento e o fim. Dentro dessa perspectiva, as doenças mentais são doenças do
cérebro.

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2. O segundo caminho é aquele que utiliza a explicação psicobiológica: “A essência da doença
residiria na predisposição do organismo psíquico, predisposição que até o presente não foi
ainda elucidada”.

3. A terceira via é a tentativa de explicar a doença a partir de transformações primárias da


personalidade, isto é, o modo pelo qual a personalidade elabora psicologicamente certas
experiências vividas no seu percurso histórico. Aqui reina o modo de observação puramente
psicológico.

Todavia, para Binswanger, esse caminho é também um caminho do exterior, como os


dois outros anteriores, que buscam compreender a dimensão psicopatológica do homem
como alguma coisa que vem do exterior ao organismo, sendo o psiquismo normal. Essa
perspectiva não capta a essência da doença.

Aparecia, diante dele, a nova direção da pesquisa antropológica na Psiquiatria, que não quer
reduzir o homem a categorias biológico-naturalistas, nem a categorias tiradas das ciências do
espírito, mas quer compreender o homem a partir do seu mais íntimo - o humano - e descrever as
direções fundamentais, originais, desse Ser: “A doença mental é retirada do campo simplesmente
natural, ela é também retirada do campo de um assunto mental, para ser compreendida e descrita
a partir das possibilidades originais do ser homem.

O desenvolvimento do pensamento Binswangeriano


Queremos demarcar aqui duas fases no caminho intelectual de Binswanger.

A primeira fase é sua tentativa de trazer para a Psiquiatria algo de novo, que poderia
fazer dele uma ciência mais sólida, onde a compreensão da doença mental viria do
interior mesmo da Presença (Dasein), e não de uma construção teórica que se acrescenta
à pessoa.

A segunda fase é a construção de um método que permite uma penetração no modo de


vida do doente

Binswanger II: A construção da Daseinsanalyse


A explicitação da Daseinsanalyse, que se constitui como método de investigação, permite o
conhecimento da história existencial de uma pessoa.

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Ele quer completar a análise feita por Heidegger, pois o Dasein não deve ser só compreendido
como cuida (Sorge), mas também como amor (Liebe).
Cada vez mais definido com liberdade, autêntica ou desfalecida, o ser homem é
fundamentalmente presença, em que o ser em causa é sua própria possibilidade de ser.

A antropologia fenomenológica de L. Binswanger


Podemos perceber que o caminho para o estudo psicopatológico, para Binswanger, deve passar,
ou melhor, estruturar-se a partir de uma análise global da existência humana.

A Daseinsanalyse busca compreender a doença como um modo de expressão do ser-no-mundo.


Assim, Binswanger vai afirmar que aquilo a que se deve visar com a Daseinsanalyse não é
compreender a estrutura do delírio, mas a do homem que delira, isto é, a estrutura de seu novo
ser-no-mundo.
A Daseinsanalyse se apresenta como um esforço para melhor compreender o comportamento e a
experiência humanos. O próprio Binswanger nos diz: “A análise existencial satisfaz também
exigência psiquiátrica de uma inteligência mais profunda da essência e da origem dos sintomas
psicopatológicos”. à medida que, com esse novo método, o psiquiatra consegue “se comunicar de
maneira inesperada com seus doentes, penetrar na sua história de vida, descrever e compreender
seus projetos-de-mundo, ali onde isso pareceria, até o presente, impossível.

1. A perspectiva antropológica da Daseinsanalyse

Nós pensamos que a concepção de Binswanger de Dasein como ser tomado à maneira verbal traz
à luz o movimento como característica essencial do homem. Assim, nas suas análises
psicopatológicas, Binswanger vai procurar mostrar que é necessário compreender não as atitudes
isoladas do paciente, mas o movimento de sua vida através da captação da vivência espacial e
temporal. Para guardar a significação plena do significado de Binswanger, a tradução mais
conveviente seria Presença, como termo que captaria o movimento próprio da constituição do
homem.

2. Os principais eixos da Análise da Presença Humana

O que interessa ao analista antropólogo-fenomenólogo são os modos de ser a partir dos quais se
revela a Presença Humana, e que se exprimem, para Binswanger, através dos temas
fundamentais, denominados: dualidade, pluralidade e singularidade.
2.1 A modalidade dual

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A primeira modalidade possui duas expressões: o amor e a amizade. A questão que deve ser
posta é: como se manifestará o existir humano nessa forma de ser?
A maneira de ser a dois no mundo dual deve ser compreendida a partir do fato de que um não
está simplesmente ao lado do outro, como por exemplo, numa torcida num campo de futebol,
mas que deve existir uma relação entre eles. Essa relação deve ser de reciprocidade, tanto de
um com relação ao outro, como do outro com relação ao primeiro.

Essa maneira de ser pode ser caracterizada como uma unidade na dualidade.
Essa unidade na dualidade é possível porque o princípio organizador que rege a relação entre
um e outro é o encontro.

2.2 A modalidade plural

As manifestações da modalidade dual - o amor e a amizade - são os modos da Presença em


que se exprime o autêntico encontro interumano, ou seja, em que, de uma forma total ou
parcial, a relação entre o Eu e o Tu atingem sua plenitude.
A segunda modalidade segundo a qual se articula a presença humana, e que constitui o
segundo eixo da antropologia binswangeriana, é a modalidade plural. A pluralidade é a forma
fundamental ou o modo do ser humano em que duas ou mais pessoas estão em oposição à
dualidade do Eu e Tu. Em todas as formas da pluralidade, o Tu não se manifestará com toda a
sua autenticidade.
Se na modalidade dual é o encontro que rege todas as manifestações dessa modalidade, aqui,
é a partir do princípio de Discursividade que se articulam todas as formas da modalidade
plural. A discursividade é entendida por Binswanger como “fundamento do ser-no-mundo,
tomado principalmente como um ser determinado pela situação final. A discursividade é o
princípio organizador que se estende sobre o ser humano limitado à finitude.

A modalidade plural será percebida a partir dos diferentes modos do ser-com um outro ou
muitos outros, isto é, as relações que no cotidiano visam a desintegrar a verdadeira relação
entre o Eu e o Tu. As formas de modalidade plural podem articular-se em duas direções:
primeiro, a relação do ser humano com qualquer coisa, ou seja, com fenômenos que
constituem o mundo circundante; segundo, a relação do ser humano com os outros seres
humanos, ou seja, com fenômenos que constituem o mundo social.
2.3 A modalidade singular

Resumo prova 14
A singularidade é o terceiro eixo da antropologia binswangeriana. Ela revela o modo segundo
o qual o Dasein (Presença) está em relação consigo mesmo, ela é o ser-em-si-mesmo.
A singularidade não é um elemento numérico da pluralidade, porque a singularidade significa
postura própria no mundo, qualquer coisa de excepcional.

Podemos encontrar duas manifestações da singularidade, ou melhor, duas maneiras diferentes


de ela se explicitar.

a primeira forma é o ser-em-direção-de-si-mesmo → se refere a suas manifestações


concretas finitas, e por isso está em estreita relação com o modo da pluralidade.

A segunda forma é o ser como tendência a seu próprio fundamento

Na singularidade, esse princípio organizador é a Existência. Assim, o Dasein se refere, aqui, a


uma outra parte de si, isto é, a um outro papel que ele pode explicitar no mundo.

Questões de psicoterapia existencial


A relação terapêutica na perspectiva fenomenológico-existencial

Questões de psicoterapia existencial


A relação terapêutica na perspectiva fenomenológico-existencial
A relação entre o doente e o médico é uma questão que sempre foi problemática → Na
Psicologia clínica, a relação entre o cliente e o terapeuta é um dos pontos mais cruciais do
tratamento psicológico.
Diferentes abordagens vão valorizar diferentes aspectos desta relação, mas a
fenomenológica-existencial enfatizará a qualidade da relação como essencial para o sucesso
ou não do tratamento psicológico
Definição preliminar: a relação terapêutica é um encontro entre duas pessoas, no qual um
profissional qualificado ajuda outro ser humano a se conhecer, a se desvencilhar de suas
dificuldades e a encontrar um caminho melhor para a sua vida.
O QUE É UMA RELAÇÃO HUMANA?
De modo geral, uma relação humana, estabelecida entre dois seres livres que buscam explicitar o
específico do ser humano, pode ser definida como uma ligação em que ocorra uma troca de

Resumo prova 15
conteúdos humanos e na qual a comunicação entre essas duas pessoas possibilita o desvelamento
de significados colocados por ambas as partes
Condições prévias para que uma relação entre duas pessoas possa ser compreendida como
humana:

O conhecimento do outro como sujeito

Aceitação do outro como ele se apresenta

Na relação está presente certa mobilização dos afetos

Elementos estruturais da relação:

Encontro

O encontro se caracteriza como uma dialética entre as pessoas que compõem a relação, isto
é, que pelo menos um dos participantes se abra à experiência do outro

Diálogo
Para um diálogo acontecer é necessário que um dos sujeitos esteja aberto ao que o outro
possa trazer para essa relação

Reciprocidade
ela é a base para o diálogo, mas entendemos que reciprocidade em relação ao outro não é
estarmos somente ao lado desse outro, mas sermos envolvidos por ele. Ela se expressa no
momento que envolvemos e somos envolvidos

Reciprocidade é participar da existência do outro

Vínculo
O que caracteriza uma relação humana é o estabelecimento do vínculo como o elemento de
ligação entre dois sujeitos. A afetividade é o aspecto da vida humana que possibilita a
vinculação e a sedimentação dessa entre os parceiros

RELAÇÃO INTERPESSOAL
Na perspectiva feno-existencial, quanto maior for o envolvimento subjetivo de um dos parceiros,
isto é, do cliente, mais a relação será considerada terapêutica. Por outro lado, quanto maior for o
grau de formalidade, mais longe estaremos de uma relação terapêutica.
Embora o conteúdo subjetivo seja só de um dos membros da relação, caso haja troca em um
mesmo nível dos conteúdos subjetivos, teremos não mais uma relação propriamente

Resumo prova 16
psicoterapêutica, mas, em muitos casos, uma relação amorosa, que pode ser terapêutica, mas não
psicoterápica.
A relação mãe - bebê é muito semelhante à relação psicoterápica.

Podemos dizer que o terapeuta se posta para servir o cliente, no sentido de que vai dispor de toda
a sua inteligência e de toda a sua preparação profissional para ajudá-lo a se encontrar no seu
modo de ser. Além disso, o terapeuta se adapta às demandas do cliente e se coloca como
ambiente facilitador.

1. Acolher não é somente aceitar o outro como ele é mas também adaptar-se às necessidades
apresentadas pelo ser humano que sofre.

2. O segundo movimento para a instauração de uma relação interpessoal é possibilitar o


surgimento do vínculo → é o que poderá desencadear o processo de harmonia na relação.

3. A confiança será possibilitada pelos elementos anteriores → a experiência de que podemos


confiar em alguém, de que esse quer o nosso bem e faz tudo para que isso aconteça, coloca-
nos num estado de descontração e de despreocupação com a vida.

A ESPECIFICIDADE DA RELAÇÃO TERAPÊUTICA


Dimensões psicológicas da relação terapêutica

1. Dimensão da temporalidade → a perspectiva do rompimento está presente desde o início da


terapia.

2. O envolvimento da esfera da subjetividade é diferente → o cliente revela tudo, enquanto o


terapeuta não fala ao cliente suas questões pessoais

3. Dimensão do conteúdo psicológico → deve aparecer com abundância.

Pressupostos para o desenvolvimento da relação psicológica

Humildade → para o novo que vai surgir (ainda que as temáticas já tenham sido trabalhadas
com outros pacientes) - para o cliente a humildade é deixar repercutir para si mesmo o que
acaba de verbalizar

Respeito → mesmo que a questão trazida pareça banal, para o paciente ela apresenta uma
significação importante. É importante também não interromper a narrativa do cliente

Abertura para a mudança → principalmente no paciente

Resumo prova 17
A relação terapêutica é uma relação humana que deve ser construída no espaço específico do
encontro entre duas pessoas, no qual uma, o terapeuta, preparado profissionalmente, acolhe com
todo respeito a problemática do outro, e a outra, o cliente, entrega-se na relação, para que, por
meio dela, possa deparar-se com sua problemática e ressignificá-la, e, assim, encontrar um
caminho mais desoprimido para sua vida.

O encontro na perspectiva terapêutica existencial


REFLEXÃO FILOSÓFICA SOBRE O ENCONTRO
Entre todos os seres vivos, o homem talvez seja aquele que busca e se encontra na relação com o
outro ser.
Encontro: situação onde o OUTRO (aquele com o qual entro em relação) afeta de alguma
maneira o curso de minha existência, principalmente na dimensão em que ele me faz crescer. É
uma relação intersubjetiva onde a troca entre as pessoas - embora assimétrica - provoca uma
colocação em movimento de sua existência.

O momento físico do encontro, que me dá a real existência do outro, pode ser entendido
como a Percepção da existência do outro.

Por outro lado, a dimensão pessoal, que é a resposta à existência do outro, é o aspecto que
junto com o primeiro pólo constituirá a essência do outro.
a maneira como se dialetizam estes dois pólos será a maneira como vou vivenciar o encontro

se, com a minha resposta, o outro vai ser para mim um simples objeto de meu desejo, a
relação será objetal

se, por outro lado, com a minha resposta o outro vai ser para mim - e eu vou ser para o
outro- uma pessoa, o tipo de relação será o que chamamos de relação pessoal

ENCONTRO PSICOTERÁPICO
A relação terapêutica é, em primeiro lugar, um contato humano onde ambos os personagens
aprendem algo sobre a vida humana.
“to my patients who have paid to teach me” - Winnicot
O encontro psicoterápico se desenrolará através de uma interação, isto é, através de algo que
circula entre o psicoterapeuta e o seu paciente e, por isto, não é fundado em algo fora do comum,
mas na existência cotidiana.

Resumo prova 18
Qual deve ser a atitude do terapeuta para que esta relação possa ser interpessoal e guardar
as características terapêuticas?

Sedimentar a confiança → o terapeuta deve responder à confiança do cliente, trazendo-lhe


por sua vez o presente de uma confiança que se expressa na atitude terapêutica de acreditar
que o outro tem possibilidades de se organizar na sua existência humana.

A escuta → Diferente de ouvir.

tomar distância de si mesmo ao entrar no lugar do outro

a humildade de não-saber

renúncia de seus projetos - para o seu crescimento, convém que eu não coloque minhas
ideias sobre ele

A relação terapêutica: a abordagem existencial


As bases da abordagem
A psicoterapia existencial inicialmente se destaca das demais abordagens de psicoterapia
precisamente porque reconhece e utiliza explicitamente as suposições filosóficas que a
fundamentam, bem como o conjunto particular de suposições filosóficas que defende.
Podemos dizer que ela é melhor entendida como uma rica trama de práticas que se intersectam e
cujo foco está na análise da existência humana a partir de um conjunto de princípios básicos
compartilhados:
O PRINCÍPIO DE INTER-RELAÇÃO DA EXISTÊNCIA HUMANA
“O mundo e eu estamos contidos um no outro”
A tendência ocidental se expressa na divisão sujeito-objeto
A psicoterapia existencial dará um foco para a relação terapêutica em si que é essencial para
todo o processo terapêutico
SIGNIFICADO/SENTIDO
Seres humanos são seres criadores de sentido → interpretamos o mundo a partir do processo
de significar coisas e eventos que influenciam nossa existência. Consequentemente, somos

Resumo prova 19
afetados pela falta ou perda de sentido

Uma experiência individual não pode ser considerada isoladamente ou como aspectos
distintos de sistemas independentes. Pelo contrário, deve ser colocada num contexto inter-
relacional.
ANSIEDADE EXISTENCIAL
A ansiedade existencial pode ser definida pelo inevitável desconforto e insegurança que se
colocam quando tentamos negar ou reivindicar uma solução para tensão inter-relacional entre
as demandas de ter conhecimento da existência ao mesmo tempo que vivenciamos seu
caráter evasivo.
A teoria existencial alega que a ansiedade necessariamente permeia nossas experiências
reflexivas das nossas relações conosco mesmo, com os outros e com o mundo em geral.
O dilema da ansiedade existencial não é tanto o que ela é em si, mas sim como cada um de
nós convive com ela.

ESCOLHAS
As escolhas que somos livres para fazer surgem dentro de um contexto inter-relacional que
situa nossa liberdade de escolha - não é uma liberdade ilimitada para fazer o que quiser.
“Somos condenados a sermos livres”

O papel do terapeuta e do cliente


Sob o viés da psicoterapia existencial, o encontro terapêutico é visto como o “microcosmos” que
explora e expressa o “macrocosmos” das experiências atualmente vividas pelo cliente,
especialmente, no que diz respeito às possibilidades e limitações de sua inter-relação com o
mundo

A maneira de ser do cliente na psicoterapia


Embora as maneiras típicas de ser do cliente no início da terapia se concentrem em tornar-se
“outro diferente do que é” através de alguns meios de mudança terapêutica dirigida
externamente, as psicoterapias existenciais procuram inicialmente fazer os clientes focarem no
seu modo de ser atual como esse se revela no encontro terapêutico.

A maneira de ser do psicoterapeuta existencial na terapia


Ele é o outro na experiência de ser do cliente.

Resumo prova 20
É por meio da primeira e crucial etapa de “ficar com” e “sintonizar-se com” a forma atual de ser
do cliente, que a psicoterapia existencial, simplesmente por meio dessa presença sintonizada
com o cliente, começa a desafiar profundamente as expectativas do cliente sobre como os outros
são, com os outros esperam que o cliente seja e como o cliente esperam que os outros estejam
com ele.
Para alcançar isso é necessário inicialmente a abertura do terapeuta e a aceitação do modo de ser
apresentado pelo cliente

Para estarem dispostos e, pelo menos em parte, capazes de estarem abertos às incertezas desta
forma de encontro, psicoterapeutas existenciais devem demonstrar uma experiência de vida
adequada que infunda sua habilidade de expressar e reconhecer o humor, a tragédia, a maravilha
e o absurdo da vida. Além disso, devem adotar uma contínua abertura e tolerância para as
diferentes formas de “estar no mundo” que seus clientes expressam e personificam.

Fatores psicológicos na relação


Dinâmicas psicológicas
Quando aplicada à psicoterapia a teoria existencial aborda a questão da natureza humana
partindo do pressuposto de que ela é aberta e capaz de uma enorme gama de experiências.
Visa permanecer em um nível descritivo e aberto de análise que simultaneamente reconhece a
singularidade de cada “ser-no-mundo” e os “dados” compartilhados pela espécie humana que
estabelecem os limites invariáveis para as possibilidades da experiência de existência de cada
cliente.
Com base nisso, não é o tratamento desses sintomas que é central, mas, ao contrário, é a
reconsideração de nossas posturas defensivas em relação à ansiedade existencial que é o foco da
psicoterapia existencial.

Como a psicoterapia existencial determina a mudança


A tarefa do psicoterapeuta existencial não é a de procurar impor uma mudança diretiva no mundo
inter-relacional vivido pelo cliente. Em vez disso, ele tenta esclarecer esse mundo de modo que
suas suposições, valores e crenças explícitos, implícitos e fixos ou sedimentados possam ser
reexaminados e reconsiderados inter-relacionalmente.
Isso não deve sugerir que a psicoterapia existencial seja antagônica à possibilidades e benefícios
da mudança, De outro modo, adverte os terapeutas a ter em mente que as soluções de mudança

Resumo prova 21
que são iniciadas por ele podem gerar muito maior sofrimento e mal-estar para o cliente do que o
problema apresentado.
Paradoxalmente, a psicoterapia existencial sustenta que pode ser que, por meio do próprio
processo de ajudar os clientes a “ficarem parados”, para que possam esclarecer e desafiar sua
postura em relação à mudança, os benefícios da “mudança terapêutica” sejam mais prováveis de
ocorrer.

Intervenções terapêuticas
O encontro entre terapeuta e cliente, embora inegavelmente focado no cliente, é, no entanto,
mutuamente revelador. Tanto para o cliente quanto para o terapeuta, o encontro permite uma
reflexão consciente de “isso é o que e como é ser quem sou nesta relação”.

A tentativa de “ser-com” e “ser-para” o cliente


Em suas tentativas de ser-com o cliente, os psicoterapeutas existenciais procuram dar expressão
ao seu respeito e aceitação do modo de ser do cliente, conforme esse se apresenta em seu
encontro atual.
Em sua atitude de ser-para seus clientes, os psicoterapeutas existenciais expressam sua vontade
de tentar uma entrada sem julgamentos e descritivamente focada nessa forma de ser, a fim de
revelar, juntamente com o cliente, o que há de subjacente, muitas vezes implícito e
inadequadamente reconhecido em seus valores, crenças, suposições, posturas atitudinais e seus
componentes afetivos e comportamentais que os inspiram e mantêm.

Quatro esferas inter-relacionais


Existem várias formas estruturadas de investigação que auxiliam os psicoterapeutas existenciais
a esclarecer as formas inter-relacionais de ser de seus clientes.
Uma abordagem inter-relacional associada, e mais explícita, para tais investigações foi sugerida
e desenvolvida pelo presente autor (Spinelli) em vários artigos e textos. Essa abordagem tem
como foco quatro distintas esferas inter-relacionais:

A investigação focada no eu → considera aquelas visões, declarações, opiniões, crenças,


demandas, posturas comportamentais e sentimentos afetivos que expressam a experiência do
cliente de ser ele mesmo no encontro atual com o terapeuta.
“O que eu digo para mim mesmo acerca da minha experiência atual de ser eu mesmo nesse
encontro?”

Resumo prova 22
A investigação focada no você → considera visões, declarações, opiniões, crenças,
demandas, posturas comportamentais e sentimentos afetivos que o cliente presume existir
para o outro (o terapeuta) no encontro atual com o terapeuta
“O que eu digo pra mim mesmo acerca da experiência do outro de estar em relação comigo
em qualquer encontro?”

A investigação focada no nós → se preocupa com a explicação daquelas facetas da


experiência vivida atualmente que emergem da iminência da experiência atual entre o cliente
e o terapeuta e que passam a existir através do próprio encontro
“o que eu digo para mim mesmo sobre a experiência de ser nós em relação um ao outro
neste encontro?”

Investigação focada no eles → centra-se na experiência do cliente em relação àqueles que


compõem seu mundo mais amplo de “outros” (estendendo-se além do outro que é o
psicoterapeuta) e sua experiência de seus próprios domínios inter-relacionais em resposta ao
modo atual de ser do cliente e, também, aos novos modos de ser que surgiram como novas
possibilidades para o cliente por meio da psicoterapia.

A exploração de todas as quatro esferas do encontro por meio da própria relação terapêutica
confere a esse relacionamento o caráter de uma experiência vivida real e válida, em vez de
meramente substitutiva, simbólica ou “transferencial”. Além disso, este foco serve para destacar
o modo de ser do cliente tanto dentro da relação terapêutica, quanto no que diz respeito às suas
relações de mundo mais amplas.

O que o terapeuta existencial faz/não faz


Em vez de salientar outra técnica padrão ou conjunto de práticas, a psicoterapia existencial
argumenta que qualquer ênfase exagerada na técnica, ou na prática em geral, pode ser um dos
maiores obstáculos para a compreensão do cliente e, portanto, para qualquer resultado da terapia.
Em geral, esta postura receptiva em relação às possibilidades imprevistas de um engajamento
dialógico humano requer a abdicação de tal segurança que vem com pressupostos como “fazer
certo”, ou direcionar a mudança, ou da superioridade de conhecimento do “especialista” e seus
status. Esperançosamente, agora pode ser entendido que esta postura proposta não é uma
depreciação perversa ou rejeição de empreendimentos psicoterapêuticos mais típicos, mas sim
um constituinte necessário para a possibilidade de um diálogo verdadeiro

Resumo prova 23
Contextos culturais: como a abordagem existencial conceitua
relação no que diz respeito à cultura, poder e diversidade
Preocupados tanto com os “universais” da experiência humana quanto com a singularidade
individual, o pensamento existencial e a prática têm se mostrado de particular valor para o
esclarecimento de vários fatores psicológicos relevantes para a psicoterapia multicultural, seja
entre culturas ou no trabalho com culturas minoritárias.

Forças e fraquezas
Em geral, a psicoterapia existencial pode ser de grande benefício para os clientes que se
encontram em vários ambientes de transição e que estão abertos ao desafio de lidar com questões
complexas e paradoxais.
O psicoterapeuta existencial deve demonstrar a capacidade de reconhecer e até mesmo abraçar a
insegurança e incerteza que vem com a vontade de se envolver com o cliente no encontro atual,
ao invés de focar em quem o cliente pode ter sido no passado ou quem ele poderá ser no futuro.

Resumo prova 24

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