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Caso 1:

Ana, casada com Bento, mantinha uma relação com Carlos e pretendia deixar o marido. Mas
Carlos convenceu-a de que seria melhor arranjar alguém para matar Bento, pois assim
herdaria a sua fortuna, com que poderiam viver juntos para sempre. Ana achou a ideia boa
e, na manhã seguinte, antes de sair para o trabalho, convenceu Daniela, empregada
doméstica, a colocar na sopa que iria preparar para o jantar de Bento uma nova “especiaria”
que ela própria lhe deu. Daniela, que desconfiou logo das intenções da patroa, acedeu, uma
vez que também estava farta de Bento, que já por varias vezes tentara o que não devia.
Daniela deixou a sopa preparada quando, às 18h saiu de casa de Ana e Bento.

Perto das 22h Bento regressou a casa, levando consigo Irene, mãe de Ana. Bento foi
imediatamente para o quarto, sem jantar. Irene aqueceu a sopa e comeu-a. Pouco depois
começou a senitir-se mal e pediu ao genro que chamasse uma ambulância. Bento, que não
gostava da sogra e achava que ela tinha a mania de se queixar, julgou que a velha sehora
pretendia apenas chamar a atenção e nada fez. De manhã, encontrou Irene morta na cama.

Determine a responsabilidade criminal dos intervenientes.

Na primeira parte da hipótese verificamos que a mesma se insere num contexto de


comparticipação criminosa. Logo, vamos começar por apurar a responsabilidade criminal do
executor material. Não há dúvidas que a executora material é a Daniela. Assim, avaliando o
comportamento da Daniela, vamos aplicar-lhe todos os momentos da teoria da infração penal:
em primeiro lugar não há dúvidas que estamos perante uma ação por parte da Daniela,
indiscutivelmente o comportamento da Daniela é dominado ou dominável pela vontade, existe
portanto uma exteriorização da vontade humana. Passando para o segundo ponto, a
tipicidade. A que tipo(s) de crime legal posso subsumir o comportamento da Daniela?
Verificamos portanto que a Daniela dirige a ação a bento, coloca veneno na sopa deste, mas o
objeto de ação atinge alguém diferença. Sempre que isto aconteça estamos perante uma
haberracio itus, ou seja, um erro de execução. Importa agora assumiar o seu regime. Qual é a
responsabilidade associada ao erro de haberracio itus? Do ponto de vista da tipicidade, poderá
estar associada a possibilidade de subsunção de comportamento a dois tipos legais de crime:
tentativa de homicidio relativamente ao objeto que o agente pretendia atingir e não se chegou
a verificar, de Bento. E também o crime negligente consomado relativamente ao objeto que é
atingido sem querer, à Irene.

A hipótese diz-nos que a Irene morre, logo, por efeito da ingestão do veneno, há que colocar a
possibilidade de subsumir o comportamento da Daniela à previsão do tipo legal de crime de
homicídio negligente. Contudo, há que confirmar essa subsunção. Porque entre o
comportamento da Daniela e a morte da irene, interpom-se aqui o comportamento de Bento
porque a Irene pede ajuda e este nada faz. Se esta omissão de Bento não interromper esse
nexo de causalidade ou de interpretação objetiva, vamos responsabilizar Daniela pelo seu
comportamento, ou pode ser responsabilidade de Bento pela sua omissão.

A questão é quando é que interpondo-se sempre entre o agente e o resultado um


comportamento omissivo, quando é que esse comportamento omissivo quebra o nexo de
imputação objetiva? Ora vejamos, admitindo que Bento tem posição de garante, isto é, um
dever jurídico que pessoalmente o obrigava naquela situação de fazer tudo o que estivesse ao
seu alcance para evitar a sua morte (pai, mãe, sogra, médico), e tendo agido teria sido
verificado outro resultado, no caso de uma omissão imprópria. No fundo não há nenhuma
imposição do genro para com a sogra, no fundo não foi ele que criou a situação, ou seja, não
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se verifica uma situação de ingerência, as fontes formais estão afastadas. Analisemos então as
fontes materiais, que importa discutir aqui a estreita relação de proximidade. No caso
concreto, se cada um viver em sítios diferentes e não tiverem ligação, como as fontes
materiais (relações substantivas que permitem equiparar aquela relação às relações em que
tipicamente a lei reconhece posição de garante) nos indicam, não olhamos para os conceitos
abstratos mas sim relações substantivas, entre uma sogra e um genro não tem que haver
necessariamente nenhuma relação de proximidade do tipo daqueles que tipicamente
caracterizam que há posição de garante nessa relação de proximidade, como é o caso de entre
pais e filhos, ou marido e mulher.

Assim, verificando-se que não existe posição de garante, porque ela foi lá dormir apenas
aquela noite e nem têm nenhuma ligação, não há nenhuma quebra do nexo de causalidade, a
Daniela é punida por homicídio por omissão (preconizado no art. 10). Mas a hipótese diz-nos
também que ele nada faz porque pensou que a sogra só se estaria a queixar por birra, então
estamos perante um erro, previsto no art. 16 n. 1, primeira parte, um erro sobre os elementos
de facto do tipo legal de crime. Erro este que impede o agente de representar e vai realizar o
facto que esta descrito no tipo legal de crime. Ora, pensando ele que ela não esta em perigo
de vida, impede-o de saber que ela vai morrer, isto é, impede-o de representar o facto que
está descrito no tipo legal de crime. Erro este que tem como consequência a exclusão do dolo.
Em suma, Bento poderia ser punido por um crime de homicídio por omissão embora
negligente por força da exclusão do dolo, por força do erro previsto no art. 16 nº 1.

Se, contrariamente se verificar que Bento tem uma boa relação com a sogra, ela está ali em
casa porque tem necessidades e foi para lá para estar acompanhada porque apresenta uma
quadro de fragilidade, então Bento tem posição de garante e o não cumprimento desse dever
faz com que se transfira para si a responsabilidade do resultado que ele tinha obrigação de
evitar e não evitou.

Vamos agora debruçar-nos sobre o Carlos e a Ana. Temos de avaliar, por lógica, de quem está
mais próximo ou mais afastado do facto típico, pelos factos praticados pela Daniela. Quanto à
ana, surge agora a questão da comparticipação criminosa, porque a ana e o Carlos não
executam materialmente o facto, não são eles que poe o veneno na soupa mas contribuem
para que aquilo aconteça. Em que medida é que isso os responsabiliza do ponto de vista de
comparticipação criminosa?

Começando pela Ana, esta diz à Daniela que aquilo é uma especiaria, procurando levar a
Daniela a matar o bento. Se a Daniela não fizesse ideia que aquilo era veneno, teria induzido a
Daniela em erro, estamos perante um caso de autoria mediata, isto é, uma ação dominada
através do erro apontado à executora material. Mas a verdade é que a Daniela não agiu de
forma instrumentalizada porque no fundo sabia que aquilo era veneno, logo afasta a autoria
mediata, não domina a vontade da Daniela. Assim, não podemos punir a ana por autoria
mediata (da tentativa) porque esta não domina a vontade de Daniela nem como coautora (da
tentativa) porque não toma parte direta na execução do facto. Então, podemos apontar-lhe
aqui cumplicidade na instigação. Porque a ana, para além de lhe ordenar a morte de Bento
ainda lhe presta um auxilio material ao ceder-lhe o veneno para a Daniela praticar o facto. A
ana é, pelo menos cúmplice material na tentativa de homicio que a ana executou.

Importa agora saber se, mais do que cúmplice material, também há o necessário para a
culpabilizar como instigadora. Quando se verifique na mesma pessoa mais do que uma forma
de comparticipação relativamente ao mesmo crime, o agente é punido como instigador, isto é,
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pela forma mais grave da comparticipação. É assim punida como autor (art.º 26) enquanto que
a cumplicidade é punida como autor mas especialmente atenuada. E Portanto se, para além da
verificação dos pressupostos da cumplicidade material na pessoa da ana se verificarem
também os pressupostos da instigação, então a instigação vai consumir, isto é, prevalecer
sobre a cumplicidade material. Posto isto, a ana foi instigadora da Daniela? Não, neste caso
não se verifica porque a Daniela também estava farta de bento, a ana não interveio nos
motivos que levaram a Daniela a agir.

Em relação a Carlos, não pode ser considerado como instigador, é apenas um caso de
instigação à cumplicidade, não se considera instigador logo não é punido.

- Instigar – determinar outra pessoa, criar a vontade de outra pessoa, intervir sobre os
motivos, as razões (ex. dar dinheiro).

- Coautora, é quando a ana executa juntamente com a Daniela. Neste caso concreto é uma
execução assumida unicamente pela Daniela. Ate poderia ter ajudado e participado mas não
há execução direta na ação.

CASO 2:

Certa noite A serve a B, com quem vive em união de facto há vários anos, uma sopa
envenenada e afasta-se, momentaneamente, para atender uma chamada. Quando regressa,
constata que B dera a sopa a E, filho de A, por estar sem apetite.

Desesperada, A conta a B o que fizera e pega no telefone para chamar uma ambulância. Mas
é impedida por B, que dela se aproxima, empunhado uma faca e ameaçando-a de morte.
Assustada, A recua, tropeça numa cadeira, cai pelas escadas abaixo e morre.

Só então B dirige a sua atenção para E. julgando-o já morto, saiu de casa sem nada fazer.
Provou-se, porém, que nessa altura E ainda estava vivo. Provou-se, igualmente, que mesmo
que tivesse sida imediatamente chamada uma ambulância a mesma não chegaria a tempo
de evitar a morte de E.

Analise a responsabilidade criminal dos intervenientes.

Relativamente ao comportamente de A, a primeira coisa que a hipótese nos diz é que ela
prepara uma soupa envenenada para matar o marido mas por outras razoes quem acaba por
comer a sopa envenenada é o filho de A que acaba por morrer. Responsabilidade criminal de
A? Em primeiro lugar não há duvida nenhuma que estamos perante uma ação dominante ou
dominada pela vontade, isto é, a exteriorização de um comportamento humano. A que tipo(s)
legal (ais) de crime é que o comportamento se subsume? Neste caso é facilitado se do ponto
de vista extrutural for capaz de identificar que estamos perante um erro de execução, uma
haberracio itus. Sempre que é dirigido com a ação um objeto diferente daquele a quem a ação
foi dirigida, independentemente das razão pelas quais isso acontece. Que tipo legal de crime
estão preenchidos? Dois crimes em concurso efetivo: Tentativa relativamente ao objeto que o
agente pretende pretende atingir mas não consegue e crime negligente consumado
relativamente ao objeto que acaba por atingir sem querer.
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No caso concreto, há tentativa de homicídio do B mais um crime negligente consumado na


pessoa do filho que é quem morre. Que crime negligente consomado é que A é
responsabilizado? Para culpabilizar o A é necessário que se possa imputar a morte de E
objetivamente ao comportamento de A.

Neste caso não é obvia essa imputação porque se interpõem dois comportamentos de B, por
um lado ela quando percebe que a criança tomou o veneno procura imediatamente chamar
uma ambulância para evitar que a criança morra, por outro lado o próprio B tendo posição de
garante não desencadeia ele próprio a ação de salvamento. Ora, há que perguntar se estes
dois fatores (a circunstancia de B a ter impedido de desencadear a ação de salvamento,
chamando uma ambulância; e a circunstancia dele próprio ter o dever de desencadear a ação
de salvamento), estes fatores interferem ou não no nexo de imputação objetiva entre a ação
inicial dela e a morte da criança, ou seja, se impedem ou não que a morte da criança seja
objetivamente imputada ao comportamento dela ou se subsume ao comportamento dele.

Pode haver uma quebra do nexo de causalidade entre o comportamento inicial e o resultado.

A hipótese diz que o marido não faz nada mas mesmo que tivesse promovido imediatamente
socorro isso não teria tido nenhuma consequência do ponto de vista da morte da criança
porque o socorro não chegava a tempo. Se se mostrava em qualquer dos momentos (em que
ela tenta e no momento em que ele decide não o fazer) a ambulância não chegaria a tempo, os
comportamentos dele são irrelevantes no sentido de que não impedem a imputação objetiva
do resultado ao comportamento dela. Então não há interrupção do processo causal. Significa
portanto que se pode imputar a morte ao comportamento dela – homicídio negligente.

Eu não posso imputar a morte objetivamente a ele porque tem dois comportamentos ilícitos,
quer o comportamento de impedir a ação de salvamento dela que o comportamento de
desencadear ele próprio o salvamento por ter posição de garante mas, na medida em que se
demostra que ainda que ele tivesse desencadeado um comportamento licito e chamado a
ambulância, já nada haveria a fazer, não se pode imputar o comportamento ao B por força da
teoria do risco. Ele pensa que a criança já esta morta e acontece ai um erro do art.º 16 n. 1,
que exclui o dolo.

Assim, ele não tem nenhuma responsabilidade criminal. Ela cometeu um homicídio negligente.

A certa altura B tenta matar A por ameaça, A tropeça na cadeira e cai. Poderá B ser
responsabilizado pela morte de A? Teoria da causalidade aqueada, será que se aplica? A
pergunta a fazer será: era previsível que o resultado seja aquele com aquela ação? Ou seja
quando me dirigo a alguém com uma faca na mao para a matar, a pessoa procura fugir,
tropeçar numa cadeira, cair, bater com a cabeça e morra? Sim.

Aplicando agora a teoria de risco, B criou ou aumentou ou não diminuiu o perigo de risco? Sim,
a morte pode ser objetivamente imputada. Mas, nunca passou pela cabeça de B que A fosse
morrer daquela forma. Isto já não tem a ver com a imputação objetiva mas sim se é doloso ou
negligente. Agora aqui há duas hipóteses, se ele apenas age para a assustar, é homicídio
negligente. Se age com intenção de a matar é homicídio tentado. Allguem quer a morte
daquela pessoa, acaba por provocar a morte daquela pessoa mas de um modo diferente
daquele que representou. É um erro sobre o processo causal, e este exclui o dolo do agente.
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Erro sobre o objeto é um hipótese em que eu dirijo o objeto da ação atinge esse objeto da
ação mas confundido. Ex. ando a caçar, mas em vez de ser um coelho era o caçador.

Caso 3 (dolo e negligencia):

A apostou com B como este não seria capaz de percorrer 5km de uma auto estrada em
contra mão. B aceitou a aposta na condição de puder escolher a hora a que faria isso e nessa
noite, por volta dash da manhã, quando executava a aposta, B embateu no carro de C que
teve morte imediata.

Apure a responsabilidade criminal de B.

Esta hipótese não levanta particular dificuldades do ponto de vista de subsunção do


comportamento do agente e da imputação objetiva ao mesmo. O resultado morte é
objetivamente imputado ao comportamento do condutor que circulava na faixa errada. Não
há duvidas que houve uma ação dominada ou dominável pela vontade, isto é, uma
exteriorização da vontade humana. O que importa aqui no caso concreto apurar é se,
subjetivamente o fez com dolo ou se o fez com negligencia.

Isto é, depois de dar-mos por preenchido/verificado o elemento objetivo do tipo, nesta


hipótese importa saber se o tipo subjetivo também está preenchido. Em primeiro lugar nunca
se poderá esquecer a regra do art. 13: em principio, os factos que estão descritos/tipificados
como crime na parte especial do código penal, são factos dolosos. Em principio só há crime se
houver dolo.; em principio um facto praticado com mera negligencia não está qualificado
como crime. Para um facto ser crime na forma negligente é necessário que exista um art na
parte especial do código penal a explicitamente referir que aquele facto também é punido
como crime quando praticado com negligencia.

Começando então por clarificar, o dolo é a vontade e o conhecimento de praticar facto que
esta objetivamente descrito no tipo legal de crime. Já sabendo que o crime é constituído por
estes dois elementos – conhecimento e vontade, a verdade é que qualquer deles pode assumir
uma maior ou menos intencidade. Eu posso representar como absolutamente certo ou posso
representar apenas como uma possibilidade. Eu posso querer num sentido mais forte de
intenção, de desejo como de uma forma mais fraca “quero lá saber”. É depois em função das
diferentes intensidades do elemento intelectual e/ou do elemento volitivo que vamos
distinguie as três modalidades do dolo (art. 14). O dolo direto é aquela hipótese que o agente
age com intenção de praticar o facto, o agente dirige objetivamente a sua ação (elemento
volitivo). Já no dolo necessário, aquilo que é especialmente intenso é o elemento intelectual, o
dolo necessário carateriza-se pela circunstancia do agente representar o facto como uma
consequência certa, a conduta não é dirigida em primeira linha àquele facto/objetivo mas ele é
representado de certa forma como um dano colateral.

Tanto no dolo eventual como na negligencia consciente, o agente age com noção de que pode
acontecer. Na negligencia o agente pensa que é possível mas não vai ascontecer.

Age com dolo eventual aquele que pensa “se tiver de acontecer acontece”, age com
negligencia consciente aquele que tendo representado o resultado como uma possibilidade
abstrata acreditou que no caso concreto não ia acontecer.

É uma distinção que se passou em qualquer coisa que aconteceu na cabeça do agente. Como é
que o juiz prova? A única forma de la chegar é a partir dos elementos objetivos provados, ou
seja, o tribunal tem de partir dos elementos objetivos. A alguns elementos objetivos que o juiz
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e o tribunal deverão estar especialmente atentos, nomeadamente, o grau de probabilidade de


verificação do resultado; o ganho que o agente ganhava na pratica daquele acto, isto é, a
motivação que levou o agente atuar.

Instigação à instigação ou instigação em cadeira não são puníveis.

Mero transmissor de mensagem – Núncio- do instigador ao instigado.

Erro sobre o processo causal – o agente esta em erro sobre um elemento do tipo legal de
crime. A quer matar o B. Mata o B mas mata o B através de um processo causal, de uma
concreta forma diferente daquela que ele tinha representado. Ex. atirar da ponte Exclui o
dolo? Depende de saber se o desvio é essencial ou não. A diferença entre o processo causal
representado pelo agente e aquele que se materializa no resultado é ou não uma diferença
essencial. A atira o B da ponte. B bate com a cabeça numa parte da ponte. O erro é relevante?

Carateriza? Ter dois actos sucessivos, dois comportamentos sucessivos do agente sendo que o
agente esta convencido de que alcançou o resultado com o primeiro comportamento mas
acaba por alcança-lo sem saber com o segundo.

Caso 4:

Ana, de 16 anos, está grávida. Bento, o pai, tentou por várias vezes convencê-la a abortar
mas não conseguiu. Decidiu então pedir a Carlos, o médico de família e amigo de longa data,
que convencesse Ana de que a sua gravidez era de alto risco (o que não era verdade), sendo
o aborto o único meio de evitar a morte. Carlos acedeu ao pedido de Bento, levando dessa
forma Ana a dirigir-se à farmácia mais próxima e a comprar um medicamento supostamente
abortivo. Acontece, porém, que D, o farmacêutico, desconfiado das intenções de A, resolveu
entregar-lhe antes um medicamento perfeitamente inócuo, que Ana, convencida de que era
o medicamento abortivo solicitado, chegou efetivamente a tomar.

Determine a responsabilidade criminal dos intervenientes.

1. Apurar a responsabilidade criminal da executora material. Quanto à Ana não há duvida


nenhuma que estamos perante uma ação, existe uma exteriorização da vontade humana, há
um comportamento dominado ou dominável pela vontade. A que tipo legal de crime podemos
subsumir o comportamento de ana? A Ana representa e quer o aborto (dolo de executar o
aborto), mas o aborto não chega a acontecer. A nível de tipicidade estamos perante uma
tentativa de aborto. Ela quando toma aquele medicamento toma representando e querendo
(com dolo), através daquele medicamento provocar o aborto. Mas estamos perante uma
tentativa muito especial que a lei designa como impossível. Porque o meio que ela utiliza é um
meio à partida inidóneo a alcançar o resultado que ela pretende. O pó é inócuo, em
circunstancia nenhuma pode levar ao aborto.

Identificar o facto típico, há alguma causa de exclusão de ilicitude do aborto? Art. 142 al. A) diz
que o aborto não é ilícito, não é punível quando seja o único meio de remover um perigo para
a vida da Ana. Então, atuou ou não a ana ao abrigo desta norma? Não. Não há causa de
exclusão de ilicitude de aborto porque não trás nenhum perigo para a vida a ana. O que na
verdade existe é um erro sobre os pressupostos de facto dessa causa de exclusão de ilicitude
do aborto prevista no art. 142. Objetivamente não há perigo para a vida da ana mas ela pensa
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que sim. E se de facto houvesse estava excluída a ilicitude. Mas neste caso, olhando para o art.
16 n. 2. Sempre que o agente representa que está perante uma realidade que a existir excluía
a ilicitude do agente, ele está em erro – art. 16 n2 que exclui o dolo ao remeter para o n. 1 do
mesmo artigo. Excluindo o dolo, não há tentativa de aborto. A ana não tem nenhuma
responsabilidade criminal.

Carlos é o médico- a que tipo o Carlos pode ou não ser responsabilizado criminalmente? Autor
mediato – de que crime? Tentativa de aborto. O Carlos é o verdadeiro autor embora mediato
daquela tentativa de aborto. O facto que o Carlos praticou esta tipificado como crime, isto é, o
comportamento do Carlos resulta da conjugação do art. 22 com o art. 16, com o art. 140.

O pai da ana é o instigador do Carlos. Porque o Carlos é o verdadeiro autor.

O farmacêutico não tem qualquer responsabilidade criminal porque não presta o facto, não
presta auxilio material ao aborto, não contribui para o risco de aborto, pelo contrario, é evitar
a materialização da execução de um possível aborto. Não lhe pode ser imputado nem
objetivamente nem subjetivamente.

Instigador – não tem o domínio do facto, porque não domina a vontade do executor. O
instigador determina, convence, uma pessoa à pratica do facto típico, cria nela a vontade
criminosa mas essa pessoa tem perfeito domínio da sua vontade – executa o facto dolosa e
livremente sem qualquer dependência do instigador. Cria no instigado a vontade de cometer
o crime deixando nas suas mãos o poder de o executar ou não.

Autoria mediata – o executor não tem uma vontade livre e esclarecida; não pode decidir
livremente praticar ou não praticar o crime.

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Sempre que o executor material não tem dolo ou não tem culpa, o homem de trás é autor
mediato e não instigador.

Teoria do domínio de facto: autor é quem tem o domínio do facto, isto é, quem tem nas mãos
o poder de fazer gorar a execução do crime (domínio negativo) ou de a fazer prosseguir até à
consumação (domínio positivo).

Modalidades de autoria:

- domínio da ação: autoria singular (art. 26) – o autor domina a execução do crime através do
domínio da sua própria ação;

- domínio da vontade – autoria mediata (quem executa materialemente o facto não te em


regra o domínio dele, porque a sua vontade é dominada pelo homem de tras, o autor mediato,
que se serve do executor como se um instrumento – art. 26 por intermedio de outrem) – o
autor mediato dominaa a execução do crime através do domínio da vontade do executor do
facto;

- domínio funcional do facto – co-autoria – co-autor domina a execução do facto através do


domínio do seu próprio contributo para o facto.

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