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Revitimização e a

perpetuação da
violência contra as
mulheres
PSICÓLOGA SUELLEN ROMÃO
VIOLÊNCIA CONTRA A
MULHER E A
HISTÓRIA
A origem da violência contra a mulher está na cultura
patriarcal.
Desde os primórdios de nossa história, as mulheres
foram deixadas em uma segunda categoria, sempre
abaixo dos homens. Nós temos uma cultura
extremamente pautada em relações de poder que
privilegiam o domínio dos homens. A cultura, por si
só, é extremamente violenta contra a mulher, dela é
tolhido o direito:
• de ser quem é;
• de exercer sua liberdade;
• de expressar suas vontades, sua sexualidade e sua
individualidade.

Essa maneira de dominar a mulher sustenta,


indiretamente, a violência, pois é ela que coloca a
mulher como objeto de dominação.
VIOLÊNCIA
CONTRA A
MULHER E A
HISTÓRIA
As estruturas patriarcais também “coisificam” a
mulher colocando ela mesma e o seu corpo como
um objeto que pode ser usado pelos homens.
Essa reificação (ou coisificação) é a principal
causa da violência contra a mulher: ao
desumanizar-se uma pessoa, ao reificá-la,
permite-se o abuso contra a sua individualidade.
BRASIL COLÔNIA

01 A Lei permitia que o marido assassinasse


sua própria mulher em caso de traição ou
boatos.

AINDA
BRASIL REPÚBLICA

02
O Código Civil de 1916 dava às mulheres
casadas o status de “incapazes”. Elas só

SOBRE... podiam assinar contratos ou trabalhar fora


de casa se tivessem a autorização expressa
do marido.
BRASIL ATUAL

03 O Brasil de hoje não é o Brasil do passado,


mas o controle do homem sobre a mulher
persiste na memória social
A cada 7 horas, uma mulher é
vítima de feminicídio no Brasil.
Este dado alarmante faz parte do relatório elaborado pelo Fórum
Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com o IPEA
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). O Brasil ocupa a 5ª
posição no ranking de feminicídios no mundo e somados aos
demais índices de outras violências sofridas por mulheres
(violências sexuais, assédios, entre outros), o que se vê é um
país com políticas públicas ineficazes para combater essas
violências, punir os responsáveis por tais atos e, para acolher as
vítimas. É nesse contexto que a revitimização se faz presente.
A Lei Maria da Penha conceitua violência contra a mulher
como qualquer conduta - ação ou omissão - de
discriminação, agressão ou coerção, ocasionada pelo simples
fato da vítima ser mulher. E que lhe cause dano, morte,
constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, moral,
psicológico, social, político ou econômico ou perda
patrimonial. Essa violência pode acontecer tanto em espaços
públicos como privados.
Cinco tipos de violências

No artigo 7º, a lei tipifica os cinco tipos de violência.


Resumidamente, são eles:
I - Violência física
II - Violência psicológica
III - Violência sexual
IV - Violência patrimonial
V - Violência moral
Dinâmica- O
que eu
penso ou já
pensei?
Isso é coisa
da sua Onde você
cabeça... acha que vai
com essa
roupa... Olha as
Você não Lugar de mulher é fotos dela
tem mais em casa cuidando nas redes
ninguém no das coisas... sociais...
mundo... Você precisa agora se faz
Também de roupas de vítima...
com esse decentes. O
decote que vão
queria o pensar de
que? mim?
Essa gosta de
apanhar...
Em briga de Casa
marido e comigo,
Mano dá um mulher não cozinha e
jeito na tua Essa mulher
é louca... se mete a roupa
mulher... colher...
Coloca ela não dê lavada...
no lugar ouvidos a
dela! ela!!!
Em casa quem
Ore, para Deus mudar manda sou eu...
seu varão… seja
sábia… suporte!
Tu tem dedo
podre hein?
De novo Ainda não
essa tomou
Ocorrência- beleza... Sai para
briga de vergonha na
cara? beber, se
casal... embriaga e
Vamos dar Essa toda vem dá
um tempo se semana Hum trabalho
ligarem chama a bonita… dizendo que
novamente polícia… essa hora na foi
nós vamos... rua queria o violentada…
que?
Quantas mulheres você conhece que
passam ou passaram por violências?

Qualquer mulher pode ser vítima da violência doméstica. Não


importa se ela é rica, pobre, branca ou negra; se vive no campo
ou na cidade, se é moderna ou antiquada; católica, evangélica,
atéia ou umbandista.
A única diferença é que as mulheres com mais condições
financeiras algumas vezes conseguem esconder melhor sua
situação e têm mais recursos para tentar escapar da violência.
A Revitimização ou
vitimização secundária
É uma série de atos e questionamentos que geram
constrangimentos nas mulheres que foram vítimas de
violências de gênero. Em muitos casos, a revitimização faz
com que a mulher desista de denunciar seus agressores ou
de prosseguir com os processos criminais. Mas, como a
revitimização se manifesta?
Vídeo
Quando a mulher precisa provar que foi vítima de um crime ou quando sua
palavra é colocada em xeque não só pela sociedade como também para os
policiais que a recebem nas delegacias, juízes, promotores e demais
agentes do judiciário e da segurança pública, geralmente, homens.
Questionamentos do tipo “ah, mas você bebeu porque?” ou “com essa
roupa também, né? ou “você pediu por isso também” são algumas das
muitas formas de fazer a mulher ser vítima mais uma vez. Quando colocam
à prova a idoneidade das vítimas para justificar, normalizar ou amenizar o
ato de seus agressores também praticam a revitimização.
Questionamentos dessa natureza geram constrangimentos e faz com que
essas mulheres revivam a violência que elas tentam denunciar.
Constrangidas e sem acolhimento, muitas dessas mulheres seguem sem ter
seus direitos defendidos, além de não receber orientação adequada para
lidar com todos os males causados pelas violências. Além disso, a
revitimização gera a impunidade dos agressores e criminosos, o que faz
com que as mulheres estejam vulneráveis a estas violências.
Como proteger as vítimas dessa violência
contínua? Existe algum dispositivo legal
para isso?
Para crimes sexuais, sim. Em novembro de
2021, foi sancionada a Lei 14421/2021 que
O caso Mariana tem como objetivo coibir o desrespeito às
vítimas e também de testemunhas de
crimes sexuais.
Ferrer e a lei para A lei foi fruto de um projeto de lei e foi
baseado no caso de Mariana Ferrer, que foi
proteger as vítimas duramente humilhada e
revitimizada durante o processo que
diminuída
investigava o crime de violência sexual
praticado contra ela. Durante a audiência, a
vida íntima dela foi exposta por advogados e
promotores, além de sua idoneidade ter sido
atacada e nem mesmo seu choro foi
respeitado. Mesmo diante das provas
apresentadas, o acusado foi absolvido.
Revitimização,
feminicídio e
desrespeito ao
luto: o caso de
Daniella Perez
O documentário que está disponível na HBO
Max – Glória Perez, Raul Gazolla (viúvo de
Daniella) e outras pessoas ligadas à vítima
contam como a investigação deste crime foi
conduzida não só pelas autoridades policiais
como também pela imprensa, numa mistura da
história de Daniella com a de sua personagem
Yasmin – na novela De Corpo e Alma– que
viveu um romance com a personagem do seu
algoz, escrita pela mãe da atriz e exibida no
horário nobre da TV Globo.
Na época, vários veículos de comunicação noticiavam
o caso de maneira fantasiosa, usando cenas da novela,
de forma tendenciosa e que reforçava a alegação do
assassino de que Daniella o assediava – quando, na
verdade, era a atriz quem era constantemente
assediada a ponto de pedir para seus colegas que não a
deixassem sozinha com ele.
A ideia de que Daniella tinha um suposto caso com
seu assassino permanece viva, mesmo após 30 anos do
crime, no imaginário social e cabe aos familiares
especialmente, a mãe da atriz fazer esforços
continuados para provar que isso não é verdade.
Essa é uma das muitas formas de fazer com que
Daniella Perez e sua família sejam revitimizadas.
O que podemos
fazer?
Obrigada!

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