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Curso: Direito

Carga Horária: 80 h/a


Disciplina: Direito Civil - Família
Professor: Carlos Augusto Andrade, Mestre em Direito.

14º Encontro

3. DO REGIME DE BENS – arts. 1639 a 1688, CC.


3.3. DA COMUNHÃO PARCIAL - arts. 1658 a 1666, CC.
- Como já fora dito anteriormente, é o regime que vale se o casal não fizer pacto antenupcial, ou,
em sendo feito, for nulo ou ineficaz (CC, art. 1640), daí é chamado também de supletivo ou
legal.
- Salienta-se que esse regime também é o legal no caso de união estável ( art.1.725, CC), caso os
companheiros não tenham firmado um contrato de convivência estipulando regime diverso. Veja a
decisão do STJ a seguir.
DIREITO CIVIL. UNIÃO ESTÁVEL. POSTERIOR CASAMENTO. PACTO ANTENUPCIAL.
REGIME CONVENCIONAL DA SEPARAÇÃO DE BENS EFEITOS PATRIMONIAIS. NÃO
RETROAÇÃO. PARTILHA DEVIDA QUANTO AO PERÍODO DA UNIÃO ESTÁVEL.
Provado que anteriormente ao casamento das partes, realizado com pacto antenupcial que
estabeleceu o regime da separação total de bens, o casal viveu por mais de 13 (treze) anos
em união estável, período no qual nasceram seus três filhos, reconhece-se o direito à
meação dos bens adquiridos com presunção de esforço comum. Segundo dispõe o art.
1.725 do CC, reconhecida a união estável, aplica-se às relações patrimoniais, as regras do
regime da comunhão parcial de bens. (STJ - AREsp: 459130 DF 2014/0002042-1, Relator:
Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, Data de Julgamento: 26/ 11/ 2017, Data de
Publicação: DJ 06/12/2017).

- Segundo Flávio Tartuce a regra deste regime é a seguinte: “comunicam-se os bens havidos
durante o casamento com exceção dos incomunicáveis (art. 1.658)”.1
- Diz-se que ele gera três patrimônios: os de cada cônjuge e o comum, já que podem haver
bens só de um dos cônjuges anteriores ao casamento, e outros após o casamento, pertencente
aos dois.
- O CC prevê a divisão deste regime em bens excluídos da comunhão e nos que se comunicam.
3.3.1. Bens excluídos:
- Conforme o art. 1658, os bens que não se comunicam não são somente aqueles que cada um
possuía antes do casamento, mas sim os constantes do art. 1659 em seus incisos que ora se
passa a analisar.
I – Aqueles bens recebidos de doação ou herança e os que forem substituídos (Ex. marido
vende imóvel a terceiro e com o valor da venda adquire outro bem.). Mesmo sendo muito claro o
dispositivo, o TJDF ainda decidiu em sede de apelação:

1
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito de Família. 12.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p 170.
2
“No regime de comunhão parcial, excluem-se da comunhão
que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe
sobrevierem na constância do matrimônio, por doação ou
sucessão.”
Justifica-se o dispositivo porque o direito do cônjuge foi gerado antes do casamento.
Obs.1: Se a doação ou legado for para o casal, então há comunicação dos bens.
Obs.2: Os frutos dos bens comuns ou particulares, como juros e aluguéis (art. 1660, V, CC)
entram na comunhão.
II – o raciocínio é o mesmo do anterior, mas vejamos o seguinte exemplo: mulher vende
jóia particular por R$10.000,00 e com o valor compra (já casada) um carro de R$30.000,00. O
marido não tem direito sobre os R$10.000,00 sub-rogados no carro, mas tem direito à metade dos
R$20.000,00 que foram acrescidos na compra do carro.
III – Se os bens não se comunicam, o mesmo acontece com as obrigações anteriores ao
casamento, em que se fazem alusões ao disposto nos arts. 1663, 1664 e 1666.
IV – O resultado de ato ilícito também não obriga o outro cônjuge, a não ser que tenha
também se beneficiado, tanto faz o fato ocorrido, se antes ou depois do casamento. Se não tiver
havido proveito do outro cônjuge, este ingressa com embargos de terceiro para livrar sua
meação, quando da penhora.
V – O Código menciona bens de uso pessoal como livros e instrumentos de profissão, mas
Carlos R. Gonçalves alerta que também abrange roupas, joias, celulares, computadores etc., pois
presume-se que foram adquiridos sem a participação do outro cônjuge, mas se tiver a
participação, terá direito à meação2. Além disso, ressalta-se que os livros e os instrumentos de
profissão só não entrarão na comunhão se não tiverem sido adquiridos a título oneroso com o
dinheiro comum ou se não pertencerem a fundo de comércio, patrimônio de instituição industrial
ou financeira que participa o outro cônjuge 3.
VI – Proventos é no sentido mais abrangente possível – vencimentos, salários etc.
Obs.1: O que não se comunica é o direito à percepção da remuneração, pois recebido o valor,
ele passa a integrar os bens do casal. O mesmo ocorre com os bens adquiridos com o valor
percebido da remuneração ou do salário. Ressalta-se que havendo separação judicial ou divórcio
o direito de receber a remuneração ou salário não será partilhado, mas apenas os valores que
tiverem incorporado o patrimônio comum do casal 4.
VII – Pensão – quantia recebida por alguém em dinheiro, para sua subsistência em virtude
de lei, sentença, contrato etc. Meio-soldo – metade do soldo que o Estado paga ao militar
reformado. Montepio – pensão paga pelo instituto previdenciário aos herdeiros do servidor
2
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p 471.
3
RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. In: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família.
13.ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p 471.
4
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p 471.
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3
falecido. Ressalta-se que assim como no inciso IV, o que não se comunica é o direito à
percepção destes benefícios, mas as quantias recebidas mensalmente a título destes, durante o
casamento, incorporam o patrimônio comum e se comunicam logo que percebidos.
Obs.: Se o casal se separar, o cônjuge que tem direito ao benefício continuará levantando-o e
não perderá a metade para o outro, pois o direito é incomunicável, não sendo partilhado. 5
3.3.2. Bens inclusos:
Embora não houvesse tanta necessidade, o legislador infraconstitucional achou interessante
elencar bens que poderiam gerar dúvidas que incluem nos bens, constantes no art. 1660, que se
explicam por si só, valendo algumas observações:
Obs.1: Fato eventual – inciso II – loteria, sorteio, jogo, aposta etc.
Obs.2: Benfeitorias – IV – melhoramentos que são feitos e que valorizam (na maioria das vezes)
os bens – podem ser necessárias, úteis ou voluptuárias (art. 96, CC).
- Quanto ao art. 1661, CC – ele se refere àquele cônjuge que, por exemplo, recebeu valor de uma
venda que fora iniciada anteriormente ao casamento, ou que dependa de ação ingressada
também antes do matrimônio e que após foi julgada procedente etc.

3.4. DA COMUNHÃO UNIVERSAL – arts. 1667 a 1671, CC.


Se na comunhão parcial, os bens adquiridos antes do casamento são de cada um e os adquiridos
após o casamento são dos dois, então na comunhão universal “tudo” é dos dois, obtidos antes ou
depois, com algumas observações como disposição na lei e pela vontade dos cônjuges:
Obs.1: Deve haver pacto antenupcial para valer o regime em apreço.
Obs.2: O cônjuge tem direito à meação da herança recebida pelo outro durante a constância do
matrimônio, não importando o tempo de duração deste, conforme a seguinte decisão.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. SUCESSÕES. INVENTÁRIO. POSTERIOR FALECIMENTO DE
CÔNJUGE DE HERDEIRA FILHA, QUE ERA CASADA SOB O REGIME DA COMUNHÃO
UNIVERSAL DE BENS. COMUNICAÇÃO DA HERANÇA QUE NÃO TORNA O FALECIDO
CÔNJUGE HERDEIRO DO SOGRO. DIREITO DE MEAÇÃO SOBRE O QUINHÃO
HEREDITÁRIO QUE DEVE SER PLEITEADO NO INVENTÁRIO DO GENRO DO AUTOR DA
HERANÇA. É inquestionável que, no regime da comunhão universal de bens, os bens recebidos
por um dos cônjuges a título de herança, sem a cláusula de incomunicabilidade, entram na
comunhão, tendo em vista as disposições dos arts. 1.667 e 1.668 do Código Civil. Contudo, o fato
de o cônjuge possuir direito de meação sobre a herança recebida pelo outro não torna aquele
herdeiro do sogro/sogra: o cônjuge é meeiro do quinhão hereditário, nada mais. Desse modo,
conquanto se reconheça que o cônjuge de herdeira filha, falecido posteriormente ao passamento
do autor da herança, tenha direito de meação sobre o quinhão hereditário daquela herdeira,
descabe acolher o pedido de habilitação dos sucessores do genro do inventariado, por
"representação" ao genitor, uma vez que, como dito, ele tinha apenas direito de meação sobre o
quinhão que será recebido pela herdeira filha com quem era casado - que não se confunde com
direito hereditário e,... por isso, não há falar em direito de representação. Assim, para fins de
recebimento da meação do quinhão a que o genro do inventariado faria jus, deverão os herdeiros
dele (do genro) propor o seu inventário, lá arrolando todos os bens a serem partilhados em razão
da dissolução do vínculo conjugal pela morte, inclusive o quinhão hereditário a ser recebido pela
viúva no inventário do genitor dela. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Agravo de
Instrumento Nº 70074672536, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz
Felipe Brasil Santos, Julgado em 14/12/2017).
5
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p 474.
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Obs.3: Era o regime considerado convencional desde as Ordenações Filipinas até a Lei do
Divórcio, em 1977.

3.4.1. Bens excluídos:


O art. 1668, CC, elenca, entretanto, os bens que não fazem parte deste regime, em que se
observa:
1º - No inciso I entende-se caber a cláusula de reversão – o donatário morre antes do doador, o
bem doado voltará ao patrimônio deste, não se comunicando ao cônjuge sobrevivente. Súmula
49, do STF – “A cláusula de inalienabilidade inclui a incomunicabilidade dos bens.”
2º - Fideicomisso (inciso II) é uma espécie de substituição testamentária, em que há dois
beneficiários sucessivos. Os bens ficam certo tempo ou sob certa condição em poder do
fiduciário, passando depois ao substituto (fideicomissário). Para que haja o cumprimento da
obrigação formulada pelo testador, os bens não se comunicam ao cônjuge do fiduciário.
DE POUCA PRÁTICA, PELA RARIDADE DO USO.
3º - Só o devedor titular responde pelas suas dívidas anteriores ao casamento, a não ser que
tenha sido gasto com os aprestos (são os preparativos) do casamento ou aqueles que tenham
sido em proveito de ambos, como se vê no inciso III.
4º - Durante o casamento não cabem doações de um cônjuge a outro, pois o acervo patrimonial
pertence a ambos. As doações somente poderão ser feitas caso envolvam bens excluídos da
comunhão universal. Além disso, observa-se que o cuidado que se deve ter no inciso IV é porque
pode ser utilizado para fraudar execução, ou credores 6.
5º - Obviamente, ainda tem os incisos V ao VII do art. 1659, CC.
Questão para discussão.
(Magistratura PE- FCC/2011) Sendo o casamento realizado sob o regime da comunhão
parcial de bens, entram na comunhão aqueles adquiridos na constância da sociedade
conjugal,
a) apenas a título oneroso por ambos os cônjuges.
b) considerados instrumentos de profissão pertencentes a cada um dos cônjuges.
c) pela herança recebida por qualquer dos cônjuges, salvo cláusula testamentária impondo
incomunicabilidade.
d) por doação a qualquer dos cônjuges.
e) por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior.

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GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p 480.
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