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A definição dos herdeiros encontra previsão no
art. 1.829 do CC. Mas antes de analisarmos esse dis-
positivo e suas peculiaridades é preciso alertar que
a ordem de convocação dos herdeiros ali prevista
somente será aplicável quando o falecido não dei-
xou testamento.
Isso porque a sucessão legítima regulada no men-
cionado dispositivo é subsidiária da testamentária.
Vale dizer, se a pessoa deixou testamento englo-
bando todos os seus bens e apontado os herdeiros,
essa vontade deve ser respeitada.
Logo, apenas será aplicado o disposto no art. 1.829
quando o falecido não deixou testamento válido ou
este não abrangeu todos os seus bens.
Feitos esses esclarecimentos, vamos analisar os
principais aspectos do artigo acima referido, visando
responder uma singela pergunta: quem deve her-
dar?
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Quem deve herdar?
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ascendentes os colaterais não herdam. Na prática,
quando o cliente te procura, você precisa perguntar
quem são os parentes do falecido para fins de en-
quadrar na referida ordem e definir quem poderá
receber a herança.
A partir de agora vamos analisar os principais
pontos práticos dessa ordem de vocação sucessó-
ria.
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que faleceram antes, sejam representados por seus
filhos.
A título ilustrativo veja este exemplo: Paulo é fi-
lho de João e morre em 2010, deixando o filho Pe-
dro (neto de João). Posteriormente, João falece
deixando as filhas Maria e Joaquina. Nesse caso, os
herdeiros serão: Maria, Joaquina e Pedro. As duas
primeiras vão receber a herança por direito próprio
e Pedro representando o pai pré-morto. Essa situ-
ação inclusive consta da parte final do art. 1.833 do
CC.
Na prática, essa informação é de suma importân-
cia porque ao atender o cliente você precisa per-
guntar se o falecido possui algum filho pré-mor-
to. Havendo, precisará saber se este deixou algum
filho, pois se a resposta for afirmativa, ele irá repre-
sentar o pai na sucessão do avô.
No que se refere à partilha dos bens entre os
descendentes, é importante destacar que a heran-
ça será dividida em parte iguais, não sendo lícita
qualquer distinção quanto à origem da filiação.
A questão mais problemática do inciso I do art.
1.829 do CC se refere à possibilidade de o cônjuge/
companheiro sobrevivente concorrer com os des-
cendentes. Na prática, é isso que causa a maior con-
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fusão naqueles que não são especialistas na área.
Pela simples análise do mencionado dispositivo
é possível observar que a depender do regime de
bens do casamento, os descendentes terão que di-
vidir a herança com o cônjuge/companheiro. Trata-
-se, portanto, de uma concorrência condicionada
porque dependerá do preenchimento de uma con-
dição, referente à espécie de regime de bens.
Em síntese, a concorrência do cônjuge/com-
panheiro ocorrerá quando o casamento tiver sido
contraído pelos seguintes regimes de bens:
a) separação convencional;
b) participação final nos aquestos;
c) comunhão parcial, quando há bens parti-
culares, ou seja, bens pertencentes apenas ao fale-
cido;
Por seu turno, não haverá concorrência nos se-
guintes regimes de bens:
a) separação obrigatória (art. 1.641, CC);
b) comunhão universal;
c) comunhão parcial, quando não há bens
particulares, ou seja, o viúvo (a) tem meação sobre
todos os bens pertencentes ao falecido;
Na prática, quando você for atender um cliente,
deverá perguntar se o falecido era casado ou vivia
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em união estável, e qual o regime de bens, para fins
de verificar se haverá possibilidade de concorrência
dele com os filhos.
Certamente a situação que mais gera confusão
na prática, se refere ao regime da comunhão par-
cial de bens, pois quando o falecido era casado por
este regime, o direito do cônjuge de concorrer com
os filhos fica condicionado à existência de bens
particulares por parte do de cujus.
Nesse caso, você deverá questionar o cliente se o
falecido tinha algum bem que foi adquirido antes
do casamento ou que se enquadra em uma das hi-
póteses do art. 1.659 do CC, que prevê:
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atos ilícitos, salvo reversão em proveito
do casal;
V - os bens de uso pessoal, os livros e
instrumentos de profissão;
VI - os proventos do trabalho pessoal
de cada cônjuge;
VII - as pensões, meios-soldos, mon-
tepios e outras rendas semelhantes.
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Logo, a herança de João seria partilhada da se-
guinte maneira: 50% dos bens adquiridos após o
casamento seriam divididos entre os dois filhos e
100% dos bens adquiridos antes do casamento se-
riam divididos, em parte iguais, entre os filhos e a
esposa.
ATENÇÃO: quando for atender o cliente, é mui-
to importante que você também pergunte quando
ocorreu a aquisição dos bens que serão inventaria-
dos, inclusive solicitando os respectivos documen-
tos (exemplo: cópia da matrícula do imóvel), para
verificar se há bens particulares e definir se o côn-
juge irá herdar junto com os filhos.
Por seu turno, no que tange à partilha quando há
concorrência, o art. 1.832 do CC, assim determina:
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cônjuge/companheiro estiver concorrendo com fi-
lhos comuns, ele terá direito ao quinhão mínimo de
25%. Em termos práticos, isso equivale a dizer que
quando o cônjuge for dividir a herança com mais
de três filhos comuns, deverá ser resguardado 25%
daqueles bens para ele, dividindo-se, igualitaria-
mente, os 75% restantes aos filhos.
Um exemplo irá esclarecer a situação:
Imagine que João faleceu deixando Maria, es-
posa com quem era casado pelo regime da comu-
nhão parcial de bens, e dois filhos. Ele deixou de
patrimônio 600 mil reais, que foi adquirido antes
do casamento, motivo pelo qual não há meação de
Maria, mas apenas herança. Nesse caso, esse valor
será dividido igualitariamente entre Maria e os dois
filhos, restando a cada um o quinhão no valor de
200 mil.
Agora suponhamos que ao invés de dois, João
deixou cinco filhos. Nesse caso, você teria que re-
servar 25% do valor dos bens para herança de Maria,
ou seja, 150 mil. O restante, 450 mil, seria dividido
igualitariamente entre os cinco filhos, restando um
quinhão de 90 mil para cada um.
Por fim, é relevante destacar que essa situação
somente ocorre quando se trata de filhos comuns,
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ou seja, filhos do falecido com a esposa. Quando há
filhos unilaterais (exemplo: filho do primeiro casa-
mento do falecido), não há essa reserva de 25% para
o cônjuge/companheiro sobrevivente.
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Dito de forma diversa e para que não reste dúvi-
da sobre essa questão: se o falecido deixou apenas
ascendentes e cônjuge/companheiro, estes últimos
terão direito a concorrer com os primeiros indepen-
dentemente do regime de bens.
O alerta é importante, porque vejo muitos profis-
sionais despreparados afirmando que a esposa não
vai concorrer com os pais do falecido porque era
casada pelo regime X, Y ou Z. Esses colegas confun-
dem e acabam aplicando indevidamente a regra
do inciso I (descendentes) aos ascendentes (inciso
II).
Para que não reste qualquer dúvida, veja a litera-
lidade do 1.836, que reforça a ideia de concorrência
incondicionada prevista no inciso II, do art. 1.829:
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bens do casamento.
Por seu turno, quanto à partilha entre os ascen-
dentes, você precisará observar que toda ascen-
dência é dividida em duas linhas: a) linha paterna;
b) linha materna. Isso é muito importante porque o
CC determinou que havendo igualdade em graus,
a divisão será feita por linhas, ou seja, metade cabe
a linha paterna e metade a linha materna.
Isso significa que se a pessoa falece e deixa ape-
nas os pais vivos, a mãe terá direito a 50% da he-
rança e o pai os outros 50%. Do mesmo modo, se o
falecido não deixou pais vivos, mas deixou apenas
o avô da linha paterna e os avós da linha materna,
a herança será dividida entre essas linhas. Nesse
caso, o avô paterno terá direito a 50% da herança, e
os avós maternos irão dividir os outros 50%.
Tudo isso consta expressamente do §2º do art.
1.836 do CC:
§ 2 o Havendo igualdade em grau e
diversidade em linha, os ascendentes
da linha paterna herdam a metade, ca-
bendo a outra aos da linha materna.
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Por outro lado, quando o cônjuge concorre com
os ascendentes, a partilha será feita obedecendo as
seguintes regras:
a) sempre que o cônjuge/companheiro concorrer
com os pais do falecido, a divisão será igualitária;
b) quando a concorrência não for com pais, ele
terá direito a metade da herança, cabendo aos as-
cendentes a divisão do restante, obedecidas as re-
gras sobre a partilha entre ascendentes (divisão de
linhas).
Essa conclusão é extraída do disposto no art.
1.837 do CC:
Art. 1.837. Concorrendo com ascen-
dente em primeiro grau, ao cônjuge to-
cará um terço da herança; caber-lhe-á
a metade desta se houver um só ascen-
dente, ou se maior for aquele grau.
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terá direito ao quinhão no valor de 300 mil.
Agora imagine que o falecido deixou a esposa,
avó paterna e avós maternos. Nesse caso, metade
da herança (300 mil) será da esposa e o restante
será dividido entre os ascendentes, na proporção
de 50% para cada linha. Assim, a avó paterna rece-
berá 150 mil e os avós maternos dividirão entre eles
os outros 150 mil, ficando cada um com 75 mil.
Perceba que com esse conhecimento você já
tem condições de realizar a partilha no inventário,
com muita tranquilidade.
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possuem os mesmos direitos sucessórios atribuí-
dos aos cônjuges.
Embora a situação possa parecer mais simples,
na prática é preciso ficar atento às hipóteses em
que o cônjuge não terá legitimidade para herdar,
seja com exclusividade, seja por concorrência.
Nessa toada, o cônjuge não poderá receber he-
rança (mesmo que o falecido não tenha descen-
dentes ou ascendentes) quando:
a) estiver divorciado;
b) estiver separado judicialmente;
c) estiver separado de fato por mais de 2 anos,
salvo se a culpa pelo fim do relacionamento puder
ser imputada ao falecido;
Para que não paire dúvidas, veja-se a regra do art.
1.830 do CC:
Art. 1.830. Somente é reconhecido
direito sucessório ao cônjuge sobrevi-
vente se, ao tempo da morte do outro,
não estavam separados judicialmente,
nem separados de fato há mais de dois
anos, salvo prova, neste caso, de que
essa convivência se tornara impossível
sem culpa do sobrevivente.
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há mais nenhum vínculo que justifique o direito su-
cessório do cônjuge.
Uma situação delicada e que merece muita aten-
ção se refere ao tempo de separação de fato como
fator determinante para a definição do direito su-
cessório do cônjuge.
Isso porque, a regra acima referida dispõe que o
cônjuge, mesmo separado de fato, poderá receber
herança, desde que o tempo da separação seja in-
ferior a 2 anos ou, se superior, a culpa pelo rompi-
mento possa ser imputada ao falecido.
Diante dessa situação, o profissional precisa
questionar o cliente sobre eventual separação do
fato, o tempo e o motivo.
Veja o exemplo:
João era casado com a Maria, mas eles se separa-
ram de fato havia 1 ano e 6 meses. Maria é herdeira
de João? Sim, pois não estavam separados há mais
de 2 anos. Todavia, se a separação já tem 2 anos e
2 meses, Maria não tem teria direito a participar da
herança, a não ser que comprovasse que o rompi-
mento da relação foi causado por fato imputável ao
João, como por exemplo, uma traição.
Importante salientar que não havendo prova do-
cumental (geralmente não há!), a questão da cul-
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pa não poderá ser dirimida nos autos do inventário,
devendo ser ajuizada ação própria, como por exem-
plo uma ação probatória autônoma.
O problema mais grave que pode surgir na prá-
tica é o seguinte:
Imagine que João separou-se de fato de Maria e
após 1 ano e 2 meses conheceu Paula, com quem
passou a viver em união estável. Após 6 meses ele
falece. Quem teria direito a herança: Maria ou Pau-
la?
Nesse caso, há quem defenda a possibilidade
de concorrência entre cônjuge e companheiro. O
Enunciado 525 das Jornadas de Direito Civil é nesse
sentido. Seria o caso de divisão de cota entre espo-
sa e companheira.
Me parece que a situação não é tão simples e que
seria necessário analisar o caso concreto. Creio que
se já houve a constituição de nova família em razão
da união estável, a esposa perde o direito a herança,
pois resta nítido que, inobstante não formalizado, o
relacionamento anterior foi definitivamente encer-
rado. Mas, como dito, trata-se de tema polêmico.
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Aula 2 - Caso prático
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2) haverá reserva da quarta parte? Por quê?
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1) quem serão os herdeiros?
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@prof.roberto.ribeiro
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