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SUCESSÕES E PROCEDIMENTOS

SUCESSÓRIOS

SUCESSÃO LEGÍTIMA

De forma geral, a lei atribui a qualidade de herdeiro aos descendentes, ascendentes,


cônjuge sobrevivente e colaterais, sendo os três primeiros considerados herdeiros necessários,
que serão preservados pela legítima.

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se
casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da
separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime
da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o


cônjuge.

REGRA GERAL: sucessor mais próximo exclui o mais remoto.

Por exemplo: se A falece deixando B, seu filho (descendente), e C, seu irmão (colateral), B
herdará toda a herança de A, pois está em grau mais próximo na ordem de vocação hereditária.

Essa regra geral é mitigada quando analisamos a concorrência do cônjuge sobrevivente,


aliado ao regime de bens adotado pelo casal.

REGRA GERAL: quem herda, não meia; quem meia, não herda.

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DIREITO CIVIL – SUCESSÕES E PROCEDIMENTOS SUCESSÓRIOS
Prof.ª Aline Guimarães
SUCESSÃO DO DESCENDENTE

Está prevista no inciso I do art. 1.829, CC:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se
casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da
separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime
da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;

Pela ordem de vocação hereditária, os descendentes são os primeiros chamados a suceder,


excluindo, em regra, as demais classes. Contudo, deve-se observar a existência ou não de cônjuge
sobrevivente (viúva ou viúvo).

Neste caso, teremos o seguinte:

Se o regime de bens for de comunhão universal, separação obrigatória ou comunhão


parcial (SEM bens particulares do autor da herança), o cônjuge NÃO CONCORRE com os
descendentes.

Se o regime de bens for de separação convencional, participação final nos aquestos ou


comunhão parcial (COM bens particulares do autor da herança), o cônjuge CONCORRE com
os descendentes.

ATENÇÃO: no regime de comunhão parcial, a concorrência do cônjuge sobrevivente se limita


aos bens particulares do autor da herança, não havendo concorrência sobre o patrimônio comum,
pois sobre este há meação (Enunciado n. 270, III Jornada de Direito Civil e STJ, STJ, REsp
1.368.123/SP).

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Autor da herança: A
Esposa: B (comunhão parcial de bens)
Filhos comuns: F1, F2 e F3
Patrimônio comum: R$2 milhões
Partilha: B fica com R$1 milhão (meação) e os filhos dividem R$1 milhão (herança).

Autor da herança: A
Esposa: B (comunhão parcial de bens)
Filhos comuns: F1, F2 e F3
Patrimônio comum: R$2 milhões
Patrimônio particular: R$4 milhões
Partilha: B fica com R$1 milhão dos bens comuns (meação) + R$1 milhão (herança) dos
bens particulares. Os filhos dividem R$4 milhões (herança).

Direito de representação:

Art. 1.833. Entre os descendentes, os em grau mais próximo excluem os mais


remotos, salvo o direito de representação.
Art. 1.835. Na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os outros
descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no
mesmo grau.

Art. 1.851. Dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos


parentes do falecido a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se
vivo fosse.

Art. 1.852. O direito de representação dá-se na linha reta descendente, mas


nunca na ascendente.

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SUCESSÃO DOS ASCENDENTES

Está prevista no inciso II do art. 1.829, CC:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;

Portanto, os ascendentes concorrem com o cônjuge sobrevivente. Se concorrer com os pais


do falecido, o cônjuge receberá 1/3 da herança. Se concorrer só com um ascendente (pai ou mãe)
ou se for de maior grau (avôs), o cônjuge receberá 1/2 da herança (art. 1.837, CC).

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Vale lembrar que o cônjuge irá concorrer com o ascendente qualquer que seja o regime
de bens, pois o inciso II não traz as mesmas restrições do inciso I, que trata da concorrência com os
descendentes.

SUCESSÃO DO CÔNJUGE

Está prevista no inciso III do art. 1.829, CC:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


III - ao cônjuge sobrevivente;

Vale lembrar que, para o cônjuge ser considerado herdeiro, deve, ao tempo da morte, não
estar separado judicialmente ou de fato do autor da herança (art. 1.830, CC). Além disso, pode haver
direito real de habitação, se preencher os requisitos do art. 1.831, CC.

Atenção para a regra do art. 1.832, CC:

Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá


ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a
sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos
herdeiros com que concorrer.

Por exemplo: Cenário n. 1: A é casado com B e tem 2 filhos comuns (C e D) e 1 filho exclusivo
(E). Nesse caso, B, C, D e E herdarão 1/4 da herança cada. Cenário n. 2: Se A e B tivessem 5 filhos
ou mais, B herdaria 1/4 da herança (25%), enquanto os demais filhos dividiriam entre eles os outros
3/4 (75%). Cenário n. 3: Se A e B fossem casados, mas todos os filhos de A fossem exclusivos,
independentemente de quantos fossem, B herdaria a mesma cota que os demais descendentes (por
cabeça). Cenário n. 4: Se A tivesse 2 ou mais filhos comuns e 2 ou mais filhos exclusivos (filiação
híbrida), ultrapassando a quantidade de 3 para concorrer o cônjuge, a doutrina defende que não
haverá reserva mínima de 25% em favor de B.

Na falta de descendentes ou ascendentes do autor da herança, o cônjuge sobrevivente


será herdeiro único.

REGIME DE HÁ MEAÇÃO? HÁ HERANÇA DE BENS HÁ HERANÇA DE BENS


BENS COMUNS? PARTICULARES?

Comunhão Sim Não, pois tem meação Sim, em concorrência


parcial de bens com descendentes
Comunhão Sim, exceto bens do Não, pois tem meação Não, pois o patrimônio é
universal de art. 1.668, CC único/comum
bens
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Separação Não Não, pois não tem bens Sim, em concorrência
convencional comuns com descendentes
de bens
Separação Sim, conforme súmula Não, pois tem meação, Não, por vedação legal
obrigatória de 377, STF, salvo pacto conforme súmula 377, (art. 1.829, I + Súm. 377,
bens antenupcial a STF, salvo pacto STF)
afastando antenupcial a afastando
Participação Sim, na dissolução do Não, pois tem meação Sim, em concorrência
final nos casamento, conforme com descendentes
aquestos art. 1.672, CC

Atenção para a declaração de inconstitucionalidade do art. 1.790 do Código Civil que


trata da sucessão do companheiro, conforme RE 878.694 e 646.721.

SUCESSÃO DOS COLATERAIS

Está prevista no inciso IV do art. 1.829, CC:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


IV - aos colaterais.

São colaterais:

a) de segundo grau: irmãos;


b) de terceiro grau: tios e sobrinhos;
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c) de quarto grau: primos.

De acordo com o art. 1.839, CC, são chamados a suceder os parentes colaterais até o quarto
grau e, conforme art. 1.840, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo direito de
representação concedido aos filhos de irmãos. Este artigo deve ser lido juntamente com o art. 1.843,
que cria uma ordem de vocação hereditária entre os colaterais: irmãos, sobrinhos, depois tios.

Atenção para os art. 1.841 e 1.842, CC (sucessão de irmãos bilaterais e unilaterais):

Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos


unilaterais, cada um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar.

Art. 1.842. Não concorrendo à herança irmão bilateral, herdarão, em partes


iguais, os unilaterais.

Por exemplo: A tem dois irmãos bilaterais, B e C, e dois irmãos unilaterais, D e E e falece
deixando uma herança de R$600.000,00. Os unilaterais herdarão metade; os bilaterais herdarão o
dobro. Assim, B e C receberão R$200.000,00 cada e D e E receberão R$100.000,00 cada.

A mesma lógica se aplica aos sobrinhos de irmãos bilaterais ou unilaterais:

Art. 1.843. Na falta de irmãos, herdarão os filhos destes e, não os havendo, os


tios.
§1º: Se concorrerem à herança somente filhos de irmãos falecidos, herdarão
por cabeça.
§2º: Se concorrem filhos de irmãos bilaterais com filhos de irmãos unilaterais,
cada um destes herdará a metade do que herdar cada um daqueles.
§3º: Se todos forem filhos de irmãos bilaterais, ou todos de irmãos unilaterais,
herdarão por igual.

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EXERCITANDO O QUE APRENDEU

CASO 1

Autor da herança: A
Esposa: B (comunhão parcial de bens)
Filhos comuns: C e D
Patrimônio comum: R$2 milhões

CASO 2

Autor da herança: A
Esposa: B (comunhão universal de bens)
Filhos comuns: C e D
Patrimônio de A antes do casamento: R$1 milhão
Patrimônio adquirido durante o casamento: R$5 milhões
Herança que A recebeu durante o casamento: R$3 milhões

CASO 3

Autor da herança: A
Esposa: B (separação obrigatória de bens)
Filhos exclusivos de A: C e D
Patrimônio de A antes do casamento: R$3 milhões
Patrimônio adquirido durante o casamento: 0

CASO 4

Autor da herança: A
Esposa: B (separação convencional de bens)
Filhos comuns: C e D
Patrimônio de A antes do casamento: R$3 milhões
Patrimônio adquirido durante o casamento: R$2 milhões

CASO 5

Autor da herança: A
Esposa: B (comunhão parcial de bens)
Filhos comuns: nenhum
Ascendentes de A: pai e mãe vivos
Patrimônio adquirido durante o casamento: R$6 milhões

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