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RESUMO DE DIREITO DAS SUCESSÕES

Rafael José de Menezes, em 2003

Obs: estas aulas foram ministradas no Curso Espaço Jurídico, e foram


anotadas e digitadas por um aluno, sendo um simples resumo.

O Direito de Família no CC novo apenas se adaptou à CF. Mas o Direito


das Sucessões trouxe alterações consideráveis.

Se nos relacionamos com pessoas e coisas ao longo de nossa vida para


formar um patrimônio, com a morte, esse patrimônio será transferido a
nossos herdeiros. Dessa sucessão aos herdeiros cuida o Direito das
Sucessões.

No relacionamento das pessoas entre si para celebrar contratos (Dir das


Obrigações) e do relacionamento das pessoas com as coisas para adquirir
propriedade (Direito Real), formamos um patrimônio, por isso, o Direito
Civil é conhecido como o “direito dos ricos”.

Na CF, o direito de herança é garantido como também está garantido o


direito de propriedade. Propriedade e herança são institutos muito
próximos, se só o direito de propriedade fosse garantido, quando
estivéssemos ricos pararíamos de trabalhar e se não fosse garantido o
direito de propriedade, para que trabalhar ?

Propriedade e herança são dois direitos que estimulam a capacidade


produtiva das pessoas, em benefício direto dos familiares e indireto da
sociedade como um todo.

Quem vai primeiro se beneficiar com o nosso trabalho são os familiares.

A expressão sucessão em direito, ela pode ser tanto inter vivos, como
mortis causa.

A sucessão inter vivos interessa ao direito obrigacional/contratual.

A sucessão que nos interessa agora é a sucessão “mortis causa”, ou seja,


em decorrência da morte.

OBJETIVO DO DIR DAS SUCESSÕES :

Transferir o patrimônio do morto para os seus sucessores. É disso que


cuida o Direito das Sucessões.

Destaca-se :

*Patrimônio – corresponde ao espólio do morto : conjunto de direitos e


deveres do falecido. É o ativo e o passivo, créditos e débitos.

ESPÉCIES DE SUCESSÃO

Art. 1786 do CC – A sucessão “mortis causa” se dá 1 - por lei ou 2 - por


disposição de última vontade.

A sucessão por lei é a sucessão legal.

A sucessão por disposição de última vontade é a sucessão testamentária.

Toda sucessão ou é decorrente da lei ou do testamento, ou então


decorrente dos dois.

Na sucessão por lei quem determina para quem vão os bens é a lei: 95%
das sucessões em nosso país são legais.

Já a sucessão testamentária é exceção em nosso costume, se dá por


disposição de última vontade = testamento. Todavia, mesmo havendo
testamento, a lei vai limitar essa liberdade de testar para resguardar os
familiares mais próximos que são os filhos e o cônjuge.

Por que a sucessão testamentária é rara ?

1°) a gente nunca acha que vai morrer.

2°) Se a gente morre sem testamento, os nossos bens vão para nossos
filhos, a quem mais queremos bem, então não precisamos testar.

3°) Pela burocracia, despesa em cartórios.

Esses 3 (três) argumentos nos levam a desprezar o testamento. Mas há


um novo artigo do CC de 2002 que pode aumentar os testamentos,
porque agora, o cônjuge herda em igualdade com nossos filhos. Uma
coisa é deixar seus bens para os filhos, outra coisa é deixar para os
cônjuges em condições de igualdade com os filhos, especialmente nos
casamentos desgastados. O tempo irá dizer se agora as pessoas mal
casadas vão ter a preocupação de testar para beneficiar os filhos mais do
que o cônjuge.

Na sucessão legal, não há testamento ou ele foi anulado, teremos sempre


a figura dos herdeiros que são aqueles que sucedem a título universal,
porque tanto recebe os créditos como os débitos, até o limite da herança.

Na sucessão testamentária, deveremos encontrar herdeiros sucedendo a


título universal, mas poderemos encontrar legatários, porque estes
sucedem a título singular, ou seja, legatário não responde pelas dívidas do
falecido.

HERDEIRO x LEGATÁRIO

Com base na cláusula testamentária, se o testador deixa por exemplo 1\3


do seu patrimônio, ou 10% deste patrimônio para alguém, está testando a
título universal, mas se deixa coisas individualizadas, especificadas : casa
na praia, colar de diamantes, etc., está testando a título singular.

O herdeiro assume a posse logo, já o legatário não assume, só assume no


final do processo de inventário, quando se verificar que a herança é
solvível, ou seja, pode pagar as dívidas do falecido.

Art. 1784 do CC – Destaca-se : a herança transfere-se logo aos herdeiros,


o legado não se transfere logo. Se a herança não pagar as dívidas, o
legatário não vai receber seu colar de diamantes.

É vantagem ser legatário porque não responde pelas dívidas da herança,


em compensação só entra na posse após se verificar que a herança é
solvível; ressalto que herdeiro só paga as dívidas do falecido dentro dos
limites da herança, afinal ninguém herda só dívidas.

Parágrafo 1°, art. 1923 do CC – depende da herança ser solvível.

O CC se ocupa em 3\4 dos artigos com a sucessão testamentária, que é


mais rara do que a legítima.

Se o “de cujus” deixou testamento e parte do patrimônio não abarcado


pelo testamento, nessa parte, haverá sucessão legítima.

PRINCÍPIO DA SAISINE

O art. 1784 do CC que difere herança de legado, tem grande importância,


porque consagra um princípio francês, que adotamos no Brasil –
“Princípio da Saisine”, por este princípio, aberta a sucessão, quando a
pessoa morre, os herdeiros já se tornam proprietários dos bens, donos do
patrimônio, independente de inventário. É uma ficção jurídica importante
para evitar que os bens fiquem sem dono.

ACEITAÇÃO DA HERANÇA

Ninguém é obrigado a aceitar nada, seja por vaidade ou outro motivo, o


herdeiro pode posteriormente, aceitar ou renunciar a herança.

A regra é a aceitação, mas evidente que pode haver renúncia.

A aceitação é mais simples, o silêncio pressupõe a aceitação. Art. 1805


do CC – A simples administração dos bens do falecido já pressupõe.
Serve qualquer documento escrito.

Já a renúncia é complexa, não pode ser tácita. Art. 1806 do CC . Não é


qualquer documento escrito, a renúncia só perante o Juiz ou por escritura
pública (em Cartório de Notas).

Se o herdeiro renuncia, os bens vão para os herdeiros seguintes de acordo


com a ordem legal.

“A” morre deixando o filho “B” e “B” tem dívidas com “C”. Se “B”
renuncia a herança só para não pagar a “C”, o credor “C” pode aceitar a
herança de “A” no lugar do herdeiro. O credor só entra no inventário se é
credor do herdeiro e se este renunciou. Art. 1813 do CC.

O credor do falecido não está preocupado com a aceitação ou renúncia do


herdeiro, porque ele é credor do espólio e não do herdeiro.

Art. 1804 do CC – Se o herdeiro vinha se comportando como tal, depois


ele não pode renunciar, porque a aceitação é irrevogável. Operou-se a
sucessão.

Outra observação sobre renúncia : RENÚNCIA ‘in favorem” = é a


renúncia em favor de alguém, ex: renuncio a herança de meu pai para
meu irmão carente. Tecnicamente, isso não é renúncia e sim aceitação e
cessão gratuita (doação) dos seus direitos a pessoa especificada – irmão
pobre. § 2° do Art. 1805 do CC. Renúncia é em favor do monte, dos
herdeiros em geral, e não de herdeiro específico.
CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS

Nada impede que o herdeiro, por não querer esperar o inventário, ele
decida ceder os seus direitos (fazer uma cessão). Não pode o “Pacto
Corvina” – Art. 426 do CC – não é possível/não pode ser objeto de
contrato, herança de pessoa viva.

Por outro lado, é válida a cessão de direitos hereditários – Art. 1793 do


CC, pois o hereditando já morreu. Na cessão, vai haver dupla tributação:
na aceitação e na transmissão dos bens. Na simples renúncia aos
herdeiros em geral só há uma tributação.

EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO: INDIGNIDADE x DESERDAÇÃO

Os excluídos da sucessão são os herdeiros indignos e os herdeiros


deserdados.

Indignidade e deserdação tem esse ponto em comum, pessoas que


queriam aceitar a herança, mas não podem.

Diferenças :

Os casos de indignidade – Art. 1814 do CC . Ex.: matar o pai.

Os casos de deserdação – Art. 1692 do CC

A indignidade decorre da lei. A deserdação decorre do testamento. É este


que identifica os casos de deserdação: Ex.: calúnia, difamação do pai.
Mas por ser deserdação tem que estar em testamento. Só encontramos
deserdação na sucessão testamentária. Já a indignidade independe de
testamento, e existe também na sucessão legítima.

Para haver deserdação tem que constar expressamente no testamento.

Outra diferença é que a deserdação só atinge herdeiros necessários


(filhos, pais e cônjuges).

A indignidade atinge qualquer herdeiro, como: irmão, tios, primos.

A deserdação como é muito séria, tem que ter causa expressa . Art. 1694
do CC.

Nos casos de indignidade ou deserdação, a pessoa pode se defender, não


nos autos do inventário, mas sim em processo próprio. Questões
controvertidas não devem ser tratadas nos autos do inventário, mas em
autos próprios em apenso.

Para propor ação de exclusão da herança tem que ter interesse, ex: o
credor do herdeiro pode ajuizar, também o herdeiro subseqüente.

Em caso de deserdação, como há testamento, o MP sempre atua (art. 82


do CPC – disposição de última vontade)

HERDEIROS NECESSÁRIOS :

Os herdeiros necessários são os descendentes, ascendentes e cônjuge. A


companheira não é herdeira necessária.

Art. 1845 do CC

Art. 1846 do CC – a vantagem de ser herdeiro necessário é ter direito à


legítima. Metade de seu patrimônio pertence aos herdeiros necessários.

“A” tem 2 filhos “B” e “C” , 50% será dividido entre “B” e “C” e os
outros 50% (parte disponível) pode ficar só para 1 desses filhos, um
amigo, um aluno, um outro parente, etc. .

ORDEM DE SUCESSÃO LEGÍTIMA

Quem herda em primeiro lugar ?

Art. 1829 do CC.

Descendentes

Ascendentes

Cônjuge

Colaterais (até o 4° grau) – mais próximos excluem os mais remotos,


irmãos, tios e sobrinhos, primos.

SITUAÇÃO DO CÔNJUGE NO NOVO CC

O cônjuge continua herdando se não há descendentes e ascendentes, mas


o cônjuge passa a concorrer com os descendentes, a depender do Regime
de bens.

“A” e “B” são casados pelo regime da Comunhão parcial, têm dois filhos
C e D, e têm um patrimônio de 100. “A” morre e “B” tem 50% por
meação. Dos 50% de “A” vão 25% para “C” e 25% para “D” que são
filhos. “B” terá também direito, junto com os filhos, aos bens particulares
de “A”, ou seja, os bens que o falecido já tinha antes de casar, ou adquiriu
gratuitamente (doação e herança do pai – sogro de “B”) durante o
casamento.

Meação não é herança, mas direito próprio decorrente de condomínio .


Meação DIFERE de herança, o cônjuge tem direito a meação no regime
da comunhão parcial.

Mas em alguns regimes de bens, para evitar que o cônjuge sobrevivente


não fique com nada, para evitar essa miséria, quando não há patrimônio\
bens comuns, o CC novo incluiu o cônjuge como herdeiro necessário,
inclusive concorrendo com os filhos, a depender do regime de bens do
casamento. Vamos ver regime a regime:

1ª) Regime da Separação Obrigatória: Art 1641 do CC . – Casos.

Não vai haver meação nem vai haver herança para o cônjuge
sobrevivente, porque a lei obrigatoriamente impôs o regime da separação
obrigatória de bens.

2ª) Regime da separação convencional de bens:

O casal resolveu \decidiu optar por esse regime, os bens não se


comunicam, não formam um condomínio. Não tem meação, mas vai ter
herança. Ex.: “A” e “B” se casam, ela, rica e ele, pobre, “A” morrendo,
“B” herda juntamente com os filhos. Isso acontece para manter o padrão
de vida.Se há divórcio, “B” não recebe nada. Art. 1687 do CC – Regime
da separação convencional. Se seu cônjuge é rico, não se divorcie,
aguarde a viuvez !!!!!

3ª) Regime da Comunhão parcial : é o regime mais comum. Existe


meação apenas dos bens adquiridos onerosamente na
constituição/duração do casamento e herança dos bens anteriores ao
casamento (bens particulares), ou dos bens adquiridos gratuitamente
(doação, herança do pai – sogro do sobrevivente) durante o casamento.

Por exemplo: “A” e “B” juntaram patrimônio de 10, mas A antes de casar
tinha um patrimônio particular de 50, recebeu depois mais 20 de doação
de um tio, e de herança 50 do pai dele, sogro de B. Esses são bens
particulares de A, somando: 120.

Se “A” e “B” se divorciam, B fica com 5 e A com 5 e mais os seus bens


particulares de 120. Se A morre, B recebe 5 de meação (direito próprio) e
herda com os filhos (direito sucessório) os 120 equivalentes aos bens
particulares de A. Estão vendo que se o cônjuge é rico é melhor enviuvar
do que se divorciar?

Através de testamento, não se pode excluir o cônjuge, que é herdeiro


necessário, mas pode-se diminuir o que ele vai receber, no tocante aos
bens particulares.Art. 1658 e 1659 do CC. Assim, se o casamento está
desgastado mas A não quer se divorciar, deve testar em favor dos filhos
para diminuir o quinhão que B vai receber. É por isso que acredito que
deve ocorrer um aumento no uso dos testamentos pela população. O
tempo vai dizer!

4ª) Regime da Comunhão Universal :

Temos a meação de tudo, não precisa herdar nada, porque os bens


particulares já integram o patrimônio do casal. Art. 1667 do CC.

- casal sem descendentes:

Se o casal não tem filhos, o cônjuge sobrevivente herda sempre


concorrendo com ascendentes (sogro), independentemente do regime de
bens, isto porque a lei não faz ressalva.

Conferir arts. 1836 e 1844 do CC.

-SUCESSÃO DO COMPANHEIRO/CONVIVENTE QUE VIVE EM


UNIÃO ESTÁVEL

Companheiro não é herdeiro necessário, ao contrário do cônjuge, por isso


o hereditando pode deixar em testamento os seus bens para quem quiser.
Herdará o companheiro nos termos do art. 1790 do CC – só os bens
adquiridos onerosamente. Companheiro não herda bens particulares nem
bens adquiridos gratuitamente (doação, herança). Inciso IV – Totalidade
da herança dos bens onerosos, tendo em vista o “caput” do art. 1790 do
CC, pois todos os incisos estão sujeitos ao “caput”. Assim se A vivia em
união estável e vem a morrer, só deixando bens particulares (adquiridos
onerosamente antes da união ou gratuitamente durante a união), o
sobrevivente não ficará com nada. E se A não tem parentes, os bens vão
para o Município, aplicando-se o 1.844 e não o 1.838 que é exclusivo do
cônjuge e não do companheiro.

-Testamentos :

São 3 (três) os tipos de testamentos. Conferir art. 1862 do CC, cada um


com suas características, vantagens e desvantagens próprias.

PROCESSO DE INVENTÁRIO E ARROLAMENTO

É o nome do processo pelo qual se transfere os bens do falecido, sendo


obrigatório e muito comum, trata-se de procedimento especial, visando
identificar, avaliar os bens do falecido, pagar o imposto de transmissão,
verificar os sucessores, os credores do falecido e fazer a partilha.

Exceções – dispensa a burocracia do inventário :

1ª) Arrolamento sumário : arts. 1031 a 1035 do CPC. Cabível quando não
há herdeiros menores nem há disputas entre os herdeiros. Todos os
herdeiros devem ser maiores e capazes, e estar de acordo com uma
partilha amigável, não importando o valor da herança. É a solução mais
barata e rápida. A grande causa da demora dos inventários é a briga dos
herdeiros. Pagando o imposto de transmissão, juntando as certidões
fiscais e o plano de partilha, o Juiz homologa de plano o arrolamento.

2ª) Arrolamento Comum : Art 1036 do CPC. O que predomina é o valor.


Se os bens são de pequeno valor mesmo havendo menores e brigas é
cabível. O Ministério Público atua se houver menores. Que valor? A lei
não é precisa, algo em torno de dez mil reais.

3ª)Alvará : Quando o que ficou foi um pequeno crédito, um salário não


recebido, uma pequena poupança, um pedido de alvará judicial é
suficiente, sem inventário ou arrolamento. A Lei 6858\80 regula a
matéria.

Pode haver pedido de alvará dentro do processo de inventário ou


arrolamento para sacar valores urgentes para pagar impostos ou conservar
os bens do espólio.
INVENTÁRIO NEGATIVO

É cabível quando o falecido não deixa bens, servindo para o viúvo casar
com outra pessoa pelo regime da comunhão, sem a sanção do Art. 1523,
inc. I do CC. Vai ser declarado que o falecido não deixou bens. Ouve-se a
Fazenda Estadual e requisitam-se certidões dos Cartórios de Imóveis do
lugar onde o falecido viveu, bem como informações da Receita Federal
sobre as declarações de imposto de renda e de bens do de cujus. É raro.

Rafael de Menezes - Todos os direito reservados – 2005

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