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CONCEITO E JUSTIFICAÇÃO
“Direito das Sucessões é a parte especial do Direito Civil que regula a
destinação do patrimônio de uma pessoa depois de sua morte. (...) Refere-se
apenas às pessoas físicas. A extinção de uma pessoa jurídica não está no
seu âmbito, nem têm a natureza de disposições de última vontade os
preceitos estatutários que regulam a sorte do patrimônio social. Disciplina,
concisamente falando, os efeitos da morte de uma pessoa natural, na área
do Direito Privado” (Orlando Gomes)
O Direito das Sucessões é tratado no plural e não no singular como “Sucessão”,
pois traduz duas grandes espécies de sucessão:
A Sucessão Legítima (Conforme a legis - a lei);
A Sucessão por vontade (testamentária)
Esse Direito trata apenas das pessoas naturais. Quando tratamos de extinção de
Pessoa Jurídica não estamos tratando de Direito das Sucessões como no caso da cisão,
fusão ou falência de empresas.
Os efeitos da morte interessam a parte geral do Direito Civil. A morte extingue a
pessoa natural. Interessa ao Direito Contratual, pois a morte vai extinguir, de pleno
direito, algumas relações contratuais por causa do seu caráter personalíssimo. Interessa
ao Direito das Coisas, visto que, com a morte, alguns direitos reais são extintos,
notadamente, com relação àqueles que se sujeitam a tais direitos ou alguns dos seus
titulares.
O Direito das Sucessões é objeto de críticas:
(a) O Estado deveria ser o herdeiro universal das grandes fortunas (Saint Simon);
(b) Só deveriam ser admitidas transmissões de bens de consumo e não de bens de
produção (Menger);
(c) Sua manutenção dependeria de aumento das alíquotas do imposto de
transmissão;
Há uma discussão no enfoque de verificar por qual motivo temos um Direito das
Sucessões? Certamente, a discussão do Direito das Sucessões é baseada, fortemente, no
sistema capitalista. Mas não somente nele. Já no sistema feudal, haveria um “berço”
sistemático do Direito das Sucessões.
Mudança no sistema econômico não interferiu na relevância do Direito das
Sucessões. Mas após a Revolução Francesa e mais profundamente após a Revolução
Russa de 1917, as críticas ao Direito das Sucessões vêm se intensificando e se
organizando do ponto de vista teórico.
Sua manutenção se deveu, porém, às seguintes razões:
(a) Ela se manteve até mesmo em países socialistas, quanto aos bens de consumo;
(b) “A sucessão mortis causa encontra sua justificação, conforme acentua Degni,
nos mesmos princípios que explicam e justificam o direito de propriedade
individual, do qual é a expressão mais enérgica e a extrema, direta e lógica
consequência. Esse, o seu fundamento racional” (Orlando Gomes)
Segundo o professor, o Direito das Sucessões talvez seja a viga mestra do
sistema capitalista, já que ele leva a acumulação do capital a um nível de auto
justificação que de certo modo elimina os efeitos, pelo menos do ponto de vista
psicológico, da reificação do capitalista. Passa-se a encontrar uma justificativa da
própria alienação em nome da acumulação de bens que não serão fruídos pelo
capitalista, mas por alguém pelo mero fato de ser vinculado sanguíneo ou reconhecido
pelo Direito. O capitalista acumularia os bens com o objetivo de deixar protegidos e
preservados seus descendentes em razão da expectativa de deixar conforto e segurança
para terceiros. Em alguns países há também casos de sucessão de bens para entidades
filantrópicas e Universidades.
CONCEITOS BÁSICOS
Sucessão. Suceder é substituir, tornar o lugar de outrem;
Sucessão inter vivos. Substitui-se o sujeito na relação jurídica, como se dá em um
contrato.
Sucessão causa mortis. Os direitos e obrigações são transferidos do morto para seus
herdeiros e legatários.
Sucessão a título singular. A sucessão dá-se relativamente a um bem ou a um grupo
determinado de bens.
Sucessão a título universal. Ocorre a transferência da totalidade do patrimônio (entre
vivos) ou da herança (por efeito da morte).
“Quando o testamento foi aberto, Rubião quase caiu para trás. Advinhas
por quê. Era nomeado herdeiro universal do testador. Não cinco, nem dez,
nem vinte contos, mas tudo, o capital inteiro, especificados os bens, casa na
Corte, uma em Barbacena, escravos, apólices, ações do Banco do Brasil e
de outras instituições, joias, dinheiro amoedado, livros − tudo finalmente
passava às mãos do Rubião, sem desvios, sem deixas a nenhuma pessoa,
nem esmolas, nem dívidas. Uma só condição havia no testamento, a de
guardar o herdeiro consigo o seu pobre cachorro Quincas Borba, nome que
lhe deu por motivo da grande afeição que lhe tinha” (Quincas Borba -
Machado de Assis)
Conceito de herança. “É o conjunto de direitos e obrigações que se transmitem em
razão da morte, a uma pessoa, ou a um conjunto de pessoas, que sobrevivem ao
falecido” (Silvio Venosa). O Sucedido deve ser uma pessoa natural, mas o sucessor
pode ser uma pessoa natural ou jurídica.
De cujus (de cujus sucessione agitur). É o morto, o falecido, aquele de quem a
sucessão trata.
Espólio. É o conjunto de direitos e deveres pertencentes ao de cujus.
CPC
Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:
[...]
VII - o espólio, pelo inventariante;
É uma massa patrimonial que se conserva até a atribuição dos quinhões
hereditários os sucessores. É um ente despersonificado, mas possuidor de personalidade
judiciária.
O espólio é uma forma moderna que substituiu a antiga “massa” de bens,
direitos e deveres que o de cujus terminava por continuar e representava com se vivo
fosse. No Direito Moderno, optou-se por uma massa despersonificada. Irá se conservar
até o processo final de inventário e partilha (contenciosa) ou rolamento (não
contenciosa). Primeiro inventariam-se os bens (colecionam-se os bens e dívidas com um
acerto contábil de bens e dívidas) e o que sobrar da quitação é passado aos herdeiros por
meio da partilha. Há uma legitimação da transferência que começou com a morte do de
cujus. O Inventariante é o represente do espólio perante terceiros e o Poder Judiciário.
Legado. É um ou vários bens determinados, especificados no acervo hereditário e no
testamento, que se transmitem a título singular. Pode ser atribuída a um não herdeiro ou
a um herdeiro que receberá um pouco a mais que os outros herdeiros. É possível, então,
que um indivíduo seja herdeiro e, ao mesmo tempo legatário. O legado depende da
existência de testamento. Pode ser legado de coisa (Art. 1915), de crédito ou de quitação
de dívida (Art. 1918), de alimentos (Art. 1919), de usufruto (Art.1921). Pode ser
acompanhado de um modus ou uma condição.
ABERTURA DA SUCESSÃO
Art. 6° A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se
esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de
sucessão definitiva.
A morte é o momento de abertura da sucessão.
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos
herdeiros legítimos e testamentários.
A transmissão automática e sem solução de continuidade é uma forma de se
evitar a ausência de titularidade dos bens do falecido. Isso implica que há:
(a) Transmissão “desde logo” da herança aos sucessores legítimos e testamentários;
(b) Possibilidade de defesa possessória e da propriedade dos bens da herança, em
caráter imediata, pelos herdeiros. Também pelos legatários.
Pode ocorrer que alguns bens sejam de posse de algum herdeiro ou legatário.
Defesa da posse e da propriedade dos bens
“O direito hereditário é forma de aquisição da propriedade imóvel (direito de
Saisine). Aberta a sucessão, o domínio e a posse da herança transmitem-se
incontinenti aos herdeiros, podendo qualquer um dos coerdeiros reclamar bem,
integrante do acervo hereditário, de terceiro que indevidamente o possua
(CC/1916, arts. 530, IV, 1.572 e 1.580, parágrafo único; CC/2002, arts. 1.784 e
1.791, parágrafo único). Legitimidade ativa de herdeiro na ação reivindicatória
reconhecida.” (REsp 1117018/GO, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA
TURMA, julgado em 18/05/2017, DJe 14/06/2017)
O sentido da expressão “desde logo”
Automático, sem intervalo ou solução de continuidade. Os bens passam a sua
posse sem necessidade de imissão possessória (Carvalho Santos). Para a posse dos
herdeiros.
Direito de saisine
O Art. 1784 contém o direito de saisine. É o princípio de que a herança
transmite-se de pleno direito (saisine). É o direito dos herdeiros de entrarem
imediatamente na posse dos bens que constituem a herança.
Saisine e dívidas do de cujus
“A falta de inventariante judicialmente nomeado não faz dos herdeiros,
individualmente considerados, partes legítimas para responder pela obrigação
objeto da ação de cobrança, pois enquanto não há partilha, é a herança que
responde por eventual obrigação deixada pelo de cujus, cuja representação do
acervo hereditário se faz provisoriamente pelo possuidor de fato, enquanto que
o espólio, como parte formal, é quem detém legitimidade passiva ad causam
para integrar a lide” (AgInt no AREsp 1580936/ES Rel.: Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em: 29/06/2020, Dje
03/08/2020)
Recebem-se todos os bens imediatamente com a morte, mas quem responde
pelas dívidas é o espólio até o momento da partilha. Mas pode ocorrer das dívidas
superarem os créditos e não haver nada a transmitir e os herdeiros não pagarão por essas
dívidas que sobrarem.
Exceção da regra da saisine em relação aos bens jacentes
"É entendimento consolidado neste Superior Tribunal de Justiça que os bens
jacentes são transferidos ao ente público no momento da declaração da
vacância, não se aplicando, desta forma, o princípio da saisine" (AgInt no REsp
1283365/RJ, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA
TURMA, julgado em 15/04/2019, DJe 25/04/2019)
Formal de partilha e transmissão de bens
“Após a homologação da partilha e havendo mais de um herdeiro, revela-se
incabível a constrição de bem herdado por um deles para a garantia de toda a
dívida deixada pela de cujus, pois a responsabilidade do sucessor é
proporcional ao seu quinhão. Em razão do princípio da saisine, o herdeiro não
necessita proceder ao registro do formal de partilha para que os bens
herdados lhe sejam transmitidos” (REsp 1290042/SP, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 01/12/2011,
DJe 29/02/2012)
Estado de sócio e transmissão de bens
“Direito empresarial e processual civil. Inventário. Cessão de quotas causa
mortis. Estado de sócio. Administração da sociedade empresária. - A
transmissão da herança não implica a transmissão do estado de sócio. - A
solução de controvérsias a respeito dos efeitos da cessão mortis causa de quotas
na administração da sociedade empresária é matéria estranha ao Juízo do
inventário. Recurso especial conhecido e provido.” (REsp 537611/MA, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/08/2004,
DJ 23/08/2004 p. 230)
ESPÉCIE DE SUCESSÃO
(a) Por Lei ou Legítima;
Mais comum.
(b) Por disposição de última vontade ou testamentária;
Herança legítima e testamentária
I) Herança legítima ou ab intestatio
Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos
herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem
compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o
testamento caducar, ou for julgado nulo.
Dá-se quando uma pessoa morre sem testamento, o que implica a transmissão da
herança aos chamados herdeiros legítimos. Não há legatários.
II) Herança testamentária
Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade.
É a que deriva do testamento (disposição de última vontade) pelo qual o
testador, além da legítima (quota reservatária), abre espaço para sua manifestação sobre
a quota disponível. Separa-se uma quota do disponível (metade) para alguém.
É também possível que haja parte da herança ser submetida pela regra da
legítima apesar de se ter uma sucessão testamentária. Quando se tratar de bens que não
foram compreendidos no testamento. Se houver um conflito, irá prevalecer a sucessão
legítima sobre a testamentária em duas situações:
a. Quando o testamento for nulo. Sem eficácia;
b. Quando o testamento caducar nas causas de caducidade;
Herança testamentária e herdeiros necessários
Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da
metade da herança.
Herança Testamentária. É a que se rege pelas disposições testamentárias. Nesse caso,
se houver herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança.
Ressalvadas as hipóteses de deserdação (Art. 1961), o herdeiro necessário não pode ser
privado parcela hereditária que lhe é reservada legalmente.
O Art. 1789 prevê o princípio da indisponibilidade da herança dos
necessários. A quota indisponível é outro nome da “legítima” dos herdeiros
necessários.
A Herança testamentária é proveniente de uma regra criada pelo de cujus para
atribuir bens a um grupo de pessoas merecedoras da sua “bondade”.
Quem são os herdeiros necessários?
Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o
cônjuge.
Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade
dos bens da herança, constituindo a legítima.
Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na
abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral,
adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos a colação.
Art. 1.849. O herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua parte
disponível, ou algum legado, não perderá o direito à legítima.
ADMINISTRAÇÃO DA HERANÇA
Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários
sejam os herdeiros.
Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à
propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas
normas relativas ao condomínio.
Este artigo reafirma 02 princípios centrais no Direito Sucessório:
(a) Devolução unitária da herança aos herdeiros;
(b) Indivisibilidade do monte hereditário, no momento da abertura da sucessão, até a
partilha final;
A herança defere-se como um todo unitário ainda que vários sejam os herdeiros.
Uma consequência lógica do fato que, aberta a sucessão, transfere-se de imediato a
propriedade e a posse dos bens para todos os herdeiros. Até a partilha, a herança é uma
universalidade de direito. Principio da indivisibilidade do monte hereditário.
O tratamento dado ao monte, até que ocorra a partilha, será o mesmo do ponto
de vista jurídico. Mas não se impede que alguns herdeiros usem da posse individual de
alguns bens do monte. O detentor eventual de qualquer bem do monte será a possuidora
direta do bem, mas todos os outros herdeiros terão a posse indireta do mesmo bem.
Somente com o final do processo de partilha teremos a certeza do que foi atribuído
juridicamente por meio de um título publicamente oponível a terceiro, inclusive a outros
herdeiros, a cada herdeiro. Possibilidade do exercício possessório de bens do monte de
forma individual ainda que o processo de partilha não esteja finalizado.
Antes da partilha, nenhum herdeiro é proprietário exclusivo de qualquer bem.
Decidida a partilha, “fica o direito de cada uma dos herdeiros circunscrito aos bens do
seu quinhão”. São condôminos.
Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da
herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio. Perdura o
estado de indivisão até à partilha.
“Os herdeiros são condôminos e copossuidores doa bens de herança, por
cotas ideais (...)” (Caio Mário)
Somente após a partilha do quinhão hereditário é que se saberá o direito
exclusivo de cada herdeiro sobre o quinhão.
O parágrafo único do Art. 1791 contempla o “princípio da indivisibilidade da
herança”, do qual se tem por efeito que quaisquer dos herdeiros podem reivindicar de
terceiro, estranho á herança, totalidade dos bens. Essa prerrogativa não pode ser
exercida, porém, entre herdeiros. O inventariante pode acionar estranhos ou herdeiros
para a defesa da posse dos bens hereditários. Os herdeiros podem acionar terceiros na
defesa da herança.
“Aberta a sucessão, o domínio é transmitido de imediato aos herdeiros e os
direitos são indivisíveis, até a partilha, de sorte que é vedado ao viúvo-meeiro,
da mesma forma que em vida não poderia fazê-lo sem a outorga uxória, gravar
imóvel objeto do inventário já aberto com ônus hipotecário, resultando, ao
depois, na execução e penhora do bem ainda comum a todos, posto que o ato é
viciado em sua origem” (REsp 3048008/MS, Rel. Ministro ALDIR
PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 19/04/2007, DJ
28/05/2007, p.242)
Quando da morte do de cujus deve-se verificar o regime do casamento ou união
estável. Os bens comuns deixados pelo falecido serão divididos meio a meio com a
viúva. A parte que será colocada em sucessão será a segunda metade dos bens.
Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da
herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver
inventário que a escuse, demostrando o valor dos bens herdados.
Irresponsabilidade dos herdeiros por encargos superiores à herança (art. 1792).
O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança. Mas, é ônus do
herdeiro a prova do excesso, salvo se houver inventário que o libere desse ônus, por
meio da demonstração do valor dos bens herdados.
Haverá duas etapas para a colação dos bens: Uma etapa de levantamento dos
bens e levantamento da dividas. A outra etapa é a partilha tão somente dos ativos. O que
em dívidas ultrapassar o valor dos ativos, os herdeiros não serão responsáveis pelo
excesso dos débitos.
“PENHORA veículos hipóteses em que houve constrição de bens dos herdeiros
do “de cujus” devedor em razão da habilitação prematura gravame ilegítimo.
Prova d a propriedade dos bens, pertencentes aos herdeiros. Aplicação do
princípio do ‘non ultra vires hereditatis’ - Os herdeiros não respondem com
seus próprios bens por encargos superiores às forças da herança transmitida.
Decisão acertada - Recurso improvido”. (TJSP - AgIn 2216278-
51.2017.8.26.0000 -23ª Câmara de Direito Privado - j. 22/03/2018 - Des.
J.B.Franco de Godoi)
A “escusa do inventário” significa que a existência de processo de inventário e
partilha servirá para demonstrar que os ativos não superam os passivos. Desse modo,
como as dívidas são da herança, que por elas responde (Art. 1.997), só serão partilhados
os bens ou valores que remanescerem após o pagamento das dívidas.
Inventário negativo. O Art.28 da resolução 35 do CNJ expressamente admite a
existência do “inventário negativo”, por meio da escritura pública, cuja finalidade é
atestar que a pessoa falecida não deixou bens a inventariar e partilhar. Ele serve para
demonstrar a insolvência do de cujus e afastar a consequente responsabilidade dos
herdeiros quanto aos créditos em face dos sucessores. Já se sabe que o de cujus não
deixou bens suficientes para o pagamento de todas as dívidas. Torna pública a
insolvência do de cujus. Cria, contabilmente, uma segregação patrimonial. Procede-se a
um inventário extrajudicial com a finalidade de demonstração de insolvência e
incapacidade da herança de pagar todas as dívidas. Evita-se com isso o processo judicial
em si. Prova-se por certidões, em geral..
VOCAÇÃO HEREDITÁRIA
Versa sobre a decisão sobre quem pode ou não suceder.
Vocação hereditária. É a qualidade das pessoas aptas, em princípio, a
sucederem patrimonialmente o de cujus. É a convocação dos herdeiros à sucessão
(Paulo Nader).
Não se trata ainda aqui de uma procedência de grupos de pessoas em detrimento
de outros para a sucessão. Não se trata de uma questão de preferencia, mas de qualidade
de suceder. Porém, essas qualidades vão permitir a convocação dos potenciais herdeiros
à sucessão. Eles são potencialmente convocáveis. Há uma possibilidade de suceder.
Pode ser que ela ocorra ou não. Também pode ocorrer de alguém estra habilitada a
suceder, mas, por sua própria conduta ou por exigências legais, e não puder suceder.
Seja por renúncia ou mesmo de indignidade ou deserdação.
Capacidade Sucessória. É a capacidade para herdar, a qual se define pela
expressão “vocação hereditária”. Sua regra de direito intertemporal já foi dada pelo Art.
1787; ela é definida pela lei vigente a abertura da sucessão. Marcada por um marco
temporal.
Para alguns autores, a capacidade sucessória equivale à legitimidade passiva
sucessória: a regra é que todas as pessoas têm legitimação para suceder, exceto aquelas
afastadas expressamente pela lei (Carlos Roberto Gonçalves). A regra é a legitimação
para suceder preenchidos os requisitos.
É esse o sentido do Art. 1798:
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no
momento da abertura da sucessão.
Limitação da regra do art.1798. É uma norma relativa à sucessão legítima. A
norma aplicável à sucessão testamentária é a do Art. 1799 (Paulo Nader). Mas a regra
do Art. 1798 aplica-se, de forma subsidiária, a sucessão testamentária.
Se a regra da sucessão testamentária se dá com a lei vigente na data da abertura
da sucessão, então este o marco divisório para os aptos a suceder. Estar nascido ou
concebido nesta data. Lembrando que esta norma, embora seja aplicável a sucessão
legitima, e haja uma regra própria para a sucessão testamentária, será uma espécie de
“exercito de reserva” para a sucessão testamentária. Exemplo: na sucessão
testamentária, não herdaram as pessoas mortas ao tempo da abertura da sucessão.
Capacidade sucessória do nascituro. É excepcional. A concepção, quando da
abertura da sucessão, dá o direito condicional à herança, que se poderá ser confirmado
com o nascimento com vida. Se nascer com vida, terá o direito à sucessão, com frutos e
rendimentos, contados da data do falecimento. Se nascer morto, seu direito sucessório
será ineficaz (Maria Helena Diniz). O direito de suceder, casa haja nascimento com
vida, retroagirá á data da abertura da sucessão.
Embrião não implantado. O embrião, desde que identificados os doadores de
gameta, terá capacidade sucessória (Giselda Hironaka e Silmara Chinelato).
“A regra do art. 1.798 do Código Civil deve ser estendida aos embriões
formados mediante o uso de técnicas de reprodução assistida, abrangendo,
assim, a vocação hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos
patrimoniais se submetem às regras previstas para a petição da herança”
(Enunciado 267- Jornada de Direito Civil)
Há aqui, também, um marco temporal que é o tempo do congelamento e a
implantação viável dos embriões.
Obs: o embrião implantado faz surgir a figura do nascituro. É equiparado a ele.
Em contrário: Paulo Nader e Caio Mário da Silva Pereira, sob fundamento das
dificuldades de se efetivarem as partilhas em razão do surgimento extemporâneo de
novos herdeiros. Haveria dificuldades processuais para a efetivação partilha que ficaria,
eternamente, em um aspecto de expectativa extemporânea de novos herdeiros. O
professor não concorda que esta argumentação seja forte o suficiente para excluir esses
embriões, visto que se é de conhecimento a existência desses embriões, então o
inventariante pode reservar parte dos bens para eventual urgi mento desses herdeiros.
Animais? Não podem ser herdeiros legítimos. É possível, na sucessão
testamentária, instituir um encargo ao herdeiro para que cuide de um animal.
Obs: Pose ser criada uma Pessoa Jurídica cujo objeto seja cuidar do animal.
Entidades místicas? Não são herdeiros necessários. Podem ser destinados bens
a organizações religiosas via testamento.
Obs: Pode ser criada uma Fundação, via testamento, com a finalidade receber bens e
com finalidades filantrópicas.
Mortos? Morto não pode herdar. Só os vivos podem herdar. Se testamentária a
deixa, o indicado tem de estar vivo quando da abertura do testamento. Seus herdeiros só
herdarão se ele vier a falecer após a abertura da sucessão.
“Ação de cobrança da indenização do seguro obrigatório DPVAT ajuizada pelo
filho da vítima, falecida em 18 de outubro de 2005, em acidente de trânsito, que,
embora já concebido, ainda não era nascido na data do óbito de seu pai.
Cobrança da integralidade da indenização. Seguradora ré que, em contestação,
afirmou ter pago administrativamente a indenização aos avós paternos do
autor, únicos herdeiros conhecidos do segurado, na data de seu óbito. Sentença
de parcial procedência. Recurso do autor. Autor que nasceu pouco menos de
um mês depois da morte de seu pai em acidente de trânsito. Autor, nascituro
na época do falecimento do pai, que, nascido, é sucessor do pai, excluindo
seus avós paternos. Ausência, todavia, de má-fé ou desídia da seguradora, no
pagamento administrativo da indenização aos avós paternos do autor. Menção,
no atestado de óbito, exame necroscópico e no boletim de ocorrência, de que o
segurado faleceu no estado civil de solteiro. Ausência de notícia sobre filhos e
sobre a concepção do autor. Pais da vítima, avós paternos do autor, que, por
isso, eram seus únicos herdeiros conhecidos na ocasião de seu óbito. Autor que,
como único filho do segurado, tem legitimidade para cobrar, de seus avós
paternos, o valor por eles recebidos a título da indenização do seguro
obrigatório DPVAT pelo passamento de seu pai. Indenização do seguro
obrigatório DPVAT devida no valor de 40 salários mínimos, considerando-se o
valor do salário mínimo vigente na época do sinistro, 18 de outubro de 2005,
dada a proibição constitucional de adoção desse salário como fator de correção
monetária (CF, art. 7º, inc. IV, "in fine"). Herdeiro do segurado, vítima de
acidente de trânsito, que fazia jus ao recebimento de indenização no valor de R$
12.000,00. Seguradora ré que, em contestação, reconheceu ter pago aos
ascendentes do segurado, seus únicos herdeiros conhecidos na ocasião, apenas
R$ 10.300,00. Autor, único filho do segurado, que, por isso, faz jus ao
recebimento da diferença indenização do seguro obrigatório DPVAT
diretamente da seguradora, corrigido monetariamente e com acréscimo de juros
moratórios, estes desde a citação” (TJSP - Ap 0002455-70-2010.8.26.0653 -35ª
Câmara de Direito Privado - Julgado por Morais Pucci. DJe. 03/11/2014)
PESSOAS QUE NÃO PODEM SER DESIGNADAS COMO HERDEIRAS NEM LEGATÁRIAS
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou
companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver
separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem
se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento.
Rol de nomeação de herdeiros e para haja isto, é preciso estra diante de uma
hipótese de sucessão testamentário. Não tratamos aqui da sucessão legítima.
Pessoas que não podem ser designadas como herdeiras nem legatárias. São
as pessoas indicadas no Art. 1801, em razão de sua proximidade com o testador. É
norma que limita a liberdade de testar. A regra diz com a incapacidade testamentária
passiva.
Efeitos da não observância do Art. 1801. Nulidade da disposição testamentária
conforme o Art. 1802, mas não de todo o testamento (Paulo Nader). Somente desta
parte específica.
Interpretação restritiva. Deve ser interpretada restritivamente (Gavião de
Almeida). E se uma das pessoas mencionadas no Art. 1802 for herdeira legítima?
Não fica prejudicada em seus direitos nessa condição (Paulo Nader)
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou
companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
Quem ajuda o testador a elaborar o testamento a seu rogo, bem como seu
cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes ou irmãos, são legítimos para figurar
como sucessores. Quem “escreve a rogo (a seu pedido)”, é o indivíduo que escreve o
testamento a pedido, de próprio punho ou digitando o testamento. É hipótese do
testamento cerrado (que pode ter sido escrito a pedido do testador), mas não ao
particular, que poderá ser escrito pelo testador pessoalmente, sob pena de nulidade
(1.876). Não se aplica a regra aqui para o testamento particular (feito pelo próprio
testador) ou para o testamento público (feito por um tabelião).
O código de 2002 eliminou do rol do inciso I os descendentes de quem redigiu o
testamento. Essa opção deve-se que o parágrafo único do Art. 1802 declarou:
“Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o
cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder”.
“Impedimento de disposição favorável em testamento se estende ao cônjuge ou
companheiro daquele que a rogo escreveu o testamento, e não, como sustenta a
apelante, ao cônjuge ou companheiro do próprio de cujus (artigos 1.900, V, c.c.
1.801, I, CC). Não lograram os autores apelantes comprovar a alegação de que
o bem contemplado no testamento teria sido sub-rogado em lugar dos imóveis
que possuía o de cujus antes do casamento. Não se vislumbra no ato de
disposição de última vontade qualquer prejuízo à legitima dos herdeiros” (TJSP
- ApCiv 1002023-08.2014.8.26.0681-9ª Câmara de Direito Privado - j.
18/08/2020 - Des. Piva Rodrigues. DJe. 19/08/2020)
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
[...]
II - as testemunhas do testamento;
Embora se volte o inciso II para as testemunhas, por aplicação analógica ao
parágrafo único do Art. 1802, é possível entender que também são ilegítimos “os
ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado
a suceder”.
“APELAÇÃO CÍVEL. REGISTRO DE TESTAMENTO. TESTAMENTO
PARTICULAR QUE BENEFÍCIA AS TESTEMUNHAS DO ATO.
IRREGULARIDADE NÃO SUPERÁVEL PELA ALEGAÇÃO DE SITUAÇÃO
EXCEPCIONAL. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. Não se
verifica o propalado cerceamento de defesa, pois a prova testemunhal
pretendida não teria o condão de conferir validade ao testamento, que
beneficia as próprias testemunhas do ato, o que invalida a disposição de
vontade, já que, nos termos do art. 1.801, II do Código Civil, não podem ser
nomeados herdeiros nem legatários as testemunhas do testamento. Além do fato
de que o documento apresentado traz nulidades que o fulminariam como
testamento particular, pois beneficia as próprias testemunhas do ato, não há
como mitigar a forma legal e aplicar o art. 1879 do Código Civil, primeiro
porque a alegada circunstância excepcional não foi declarada no documento.
Estando o testador num leito hospitalar, qualquer enfermeiro, médico ou
outro funcionário poderia servir como testemunha do ato, nada justificando
servirem como testemunhas as filhas beneficiárias da disposição
testamentária. Não bastasse isso, o documento foi lavrado em 22 de janeiro de
2009 (fl. 04v) e o testador somente veio a óbito em 8 de junho de 2010, tempo
bastante para lavrar um novo testamento sem as irregularidades que maculam o
documento apresentado pela apelante, se assim fosse a vontade do testador.
Por esta razão não verifico o propalado cerceamento de defesa, pois a prova
testemunhal pretendida não teria o condão de conferir validade ao testamento,
que beneficia as próprias testemunhas do ato, o que invalida a disposição de
vontade, já que nos termos do art. 1.801, II do Código Civil, não podem ser
nomeados herdeiros nem legatários as testemunhas do testamento” (TJRS -
ApCiv 70050870765, 8ª Câmara Cível - J. 29/11/2012, julgado por Des: Luiz
Felipe Brasil Santos)
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
[...]
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver
separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
O concubinato é o relacionamento não eventual entre homem e mulher
impedidos de casar (Art. 1727). A restrição não alcança as relações esporádicas
(namorado ou namorada), muito menos o companheiro (Paulo Nader). Aplica-se,
portanto, apenas ao concubinato adulterino. Uma relação paralela que pré-exclui o
benefício testamentário. É de se observar a incoerência dessa norma com o fato de que,
nos termos do art. 1830, o cônjuge do falecido perde a condição de herdeiro se estiver
separado de fato há mais de dois anos. Obs: Esta norma será efetiva somente enquanto a
situação da relação poliafetiva não for legalizada, quando ocorrerá uma derrogação
desta norma.
União Estável. A vedação do Art. 1801, III, não se aplica á união estável,
independentemente do tempo de separação de fato (Art. 1723, parágrafo primeiro).
A questão da culpa. A doutrina tem entendido que a discussão sobre a culpa
está superada (Caio Mario da Silva Pereira)
“APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO DAS SUCESSÕES - AÇÃO DE ANULAÇÃO
DE TESTAMENTO - BENS DISPOSTOS EM TESTAMENTO EM FAVOR DA
CONCUBINA POR PESSOA CASADA - SEPARAÇÃO DE FATO NÃO
COMPROVADA - NULIDADE DA DISPOSIÇÃO TESTAMENTÁRIA -
RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Demanda em que se pretende a anulação de
testamento por suposto vício do ato da disposição de vontade. 2. Testador
casado, que deixa bens para a concubina. Ausência de comprovação de que o
de cujus se encontrava separado de fato da esposa, ao tempo da disposição
testamentária” (TJMG - Processo 1.0153.11.000211-7/001, 5ª Câmara Cível - J.
12/11/2015, julgado por Des: Áurea Brasil - Dje 2/11/2015)
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
[...]
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem
se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento.
Oficial do ato. O fundamento da exclusão é idêntico ao aplicável à testemunha.
Ela se aplica aos titulares e aos substitutos das serventias. Fundamentado pelo abuso de
confiança gerado por um conflito de interesses. Neste inciso se compreendem o
tabelião, o comandante do navio ou da aeronave perante quem se fez ou aprovou o
testamento e evitar suspeitas sobre a autenticidade das declarações do testador.
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não
legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato
oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os
descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a
suceder.
Simulação. A regra do Art. 1802 deve ser interpretada como espécie de
simulação (Art. 167), o que implica a nulidade dos negócios realizados por interposta
pessoa. Quem se presume interposta pessoa? Os ascendentes, os descendentes, os
irmãos e o cônjuge ou o companheiro do não legitimado a suceder. Natureza do rol do
parágrafo único. É meramente exemplificativo (Alberto Trabucchi). Dispensa de
prova em caso de interposta pessoa. É absoluta (Barros Monteiro; Carvalho Santos).
“EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE TESTAMENTO.
CONCUBINA NOMEADA LEGATÁRIA. TESTADOR CASADO. SEPARAÇÃO
DE FATO HÁ MENOS DE 5 ANOS. IMPEDIMENTO LEGAL. Configurado o
concubinato impuro, deve ser decretado nulo o testamento que nomeava a
concubina legatária da parte disponível dos bens do testador, nos termos dos
arts. 1.801, III c/c 1.802 do CC/2002. Recursos conhecidos. Provido o recurso
de apelação. Prejudicado o adesivo”. (TJMG - ApCiv 1.0342.13.010093-2/002,
3ª Câm. Cív. - julgado por Des: Albergaria Costa - Dje 15/12/2017)
Deixa ao filho do concubino
Art. 1.803. É lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do
testador.
Legitimidade do filho do testador e do concubino. Não é considerada pessoa
interposta. A intenção do legislador parece ter sido impedir que o testador casado
beneficiasse seu concubino por efeito da interposta pessoa de seu filho.
“É válida a disposição testamentária em favor de filho adulterino do
testador com sua concubina” (Súmula STF 447)
No Art.1803, o Código Civil adaptou a legislação ao entendimento da
jurisprudência. Importante: A proibição ressurge, porém, quando o filho beneficiário é
exclusivamente do concubino. Mas as pessoas que se supõem interpostas podem ser
beneficiadas se o concubino (ou concubina) já estiver morto (ou morta) na data da
abertura da sucessão. Também se for reconhecido, judicialmente ou extrajudicialmente,
a paternidade afetiva.
“Filho adulterino. Reconhecimento pelo pai na constância do casamento em
testemunho publico. e valido o ato, uma vez dissolvida a sociedade conjugal
com a morte do testador. Precedente do STJ aplicável a espécie: resp-6.821. 2.
Direito superveniente: cf/88, art. 227, paragrafo 6., lei n. 7.841/89 e lei n.
8.069/90, art. 26. Hipótese onde, em reforço, tomou-se em consideração as leis
editadas apos a propositura da ação. Cód. de pr. civil, art. 462. 3. Recurso
especial conhecido e provido para restabelecer a sentença, que julgou
improcedente a ação ordinária de nulidade de testamentos” (STJ - REsp 16827-
j. 3/11/1992 - julgado por Nilson Naves - DJ 30/11/192)
ACEITAÇÃO DA HERANÇA
Sabemos que a morte transmite a posse e a propriedade dos bens aos Herdeiros.
No Direito Brasileiro, apesar de termo uma figura atípica como o espólio, que não tem
personalidade jurídica, mas possui capacidade de postular em juízo desde que
representada pelo inventariante. O Brasil não seguiu a tradição romana, onde existi uma
ficção de supervivências do falecido até que seus bens fossem liquidados e partilhados.
O Brasil, contudo, trabalha com uma ficção que é a impossibilidade de adespotia dos
bens, significando que nem por uma fração de tempo, na passagem da morte, haverá
uma ausência da titularidade dos bens e passivos.
No entanto, há um surgimento de um problema que existe no nosso ordenamento
jurídico advinda de uma necessidade ou não da aceitação da herança. Para outros
ordenamentos só há a questão da renúncia da herança.
Aceitação ou adição da herança. “É o ato pelo qual o herdeiro concorda com a
transmissão dos bens” do falecido, ocorrida por efeito da lei com a abertura da
sucessão, “confirmando-a” (C. R. Gonçalves). Uma confirmação com efeitos retroativos
ao ato previsto em lei e independe da vontade do herdeiro de se tornar, em tese,
proprietária da parte que lhe cabe no quinhão hereditário.
O ato, em si, apenas confirma o que já ocorreu por efeito da morte do de cuiús.
A aquisição dos direitos já se deu com a abertura da sucessão. Ela reafirma um princípio
do direito sucessório: só é herdeiro (ou legatário) quem o deseja ser. Apenas conforma-
se que se quer ser herdeiro. Não se impõe o estado de herdeiro.
Como consequência, há uma necessidade de manifestação da condição de
herdeiro. A manifestação é volitiva ocorrendo por várias formas, inclusive pelo silêncio
que é juridicamente valorado na sucessão.
“A aceitação ou adição da herança dá-se quando o herdeiro anui à
delação, manifestando sua vontade de receber anui à delação,
manifestando-se sua vontade de receber a herança oferecida por força de
lei ou de testamento” (Paulo Nader).
Ela é a causa de ratificação da transmissão de bens operada com a morte. Sua
sede material é o Art. 1804, caput.
Declaração e aceitação. Com a delação, o herdeiro é chamado a suceder; com a
aceitação, ele emite sua resposta e imite-se na condição de sucessor (Paulo Nader). Para
o professor, na verdade, o herdeiro irá confirmar a sua condição como tal para ser apto a
receber o seu quinhão.
Fases do processo de transmissão do patrimônio mortis causa:
1º) Abertura da Sucessão: Como não há direito sem titularidade, a transmissão
patrimonial dá-se de modo imediato;
2º) Delação: É o momento no qual os herdeiros são chamados a se manifestar sobre
o propósito de aceitar ou não a herança;
3º) Deliberação: É a fase na qual os herdeiros procedem à aceitação ou à renúncia à
herança;
4º) Partilha dos bens: Quando a herança perde seu caráter indivisível e cada
herdeiro recebe os bens a que de direito. Cada herdeiro deixa de ser condômino
para tomar posse da parte que tem direito;
QUESTÕES LATERAIS
Aceitação da herança e outorga uxória ou marital. Independentemente do
regime de bens, é dispensada.
Pressupostos à aceitação da herança. A aceitação ocorre na fase 3
(Deliberação). É necessário que ocorram a fase 1 (Abertura da sucessão) e a fase
2 (Delação). Chegando-se à fase 3 (Deliberação), o herdeiro deverá ser capaz
civilmente (e possuir legitimação passiva sucessória) para aceitar a herança. Se o
herdeiro for incapaz, este deverá ser devidamente representado e este poderá
emitir uma declaração de vontade em seu nome.
Transmissão condicional. (Para o professor, como uma melhora da expressão,
uma transmissão mediante confirmação superveniente). A doutrina tem
considerado que a transmissão imediata dos bens por efeito da morte pode ser
desconstituída, em caráter retroativo, pela não aceitação da herança. A aceitação
“possui a função confirmatória da qualidade adquirida com a abertura da
sucessão” (José Castãn Tobeñas).
A aceitação é um dever? NÃO. No Brasil, não há “herança coativa”.
Aceitação como ato imotivado. A aceitação ou a renúncia à herança podem-se
dar sem motivação. Exceção: Se a renúncia operar-se em nome de incapaz,
hipótese na qual o representante deverá apresentar suas razões ao juiz.
Obs: Como existe a possibilidade de aceitação da herança por credores, eventualmente,
pode-se discutir o ato de renuncio, justificando uma preocupação por não prejudicar o
interesse dos credores. Uma discussão a contrário sensu, se ato teve ou não o intuito de
fraudar credores.
Características da aceitação da herança:
(a) Negócio Jurídico Unilateral: aperfeiçoamento pela mera concordância do
beneficiário;
(b) Ato inter vivos: A aceitação sempre ocorrerá inter vivos. O aceitante não realiza
um negócio com de cujus. Não existe uma aceitação de herança de natureza
causa mortis.
(c) Natureza não receptícia: Dado que produzirá efeitos independentemente de
qualquer notificação;
(d) Indivisível: Não há aceitação por parte. Aceitar parcialmente é ato nulo (Art.
1808). Exceção à indivisibilidade: Não se ofende a indivisibilidade, quando o
herdeiro assim o é a título legítimo e a título testamentário. Ele pode aceitar a
herança legítima e rejeitar a testamentária;
(e) Ato Puro e Simples: Não há aceitação condicional ou a termo e também encargo
(Art. 1808);
(f) Ato irretratável: uma vez aceita a herança, o herdeiro não se pode retratar (Art.
1812) e, se renunciar herança, “quando o herdeiro prejudicar os seus credores,
renunciando à herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceita-la em
nome do renunciante” (Art. 1813);
(g) Forma Livre (tese): Diferentemente da renúncia, a aceitação pode assumir
diferentes modalidades ou espécie. Em algumas delas, é livre a forma de sua
manifestação, desde que inequívoca. A renúncia vai exigir escritura pública ou
termo judicial.
“1. A qualidade de herdeiro legítimo ou testamentário não pode ser
compulsoriamente imposta, garantindo-se ao titular da vocação hereditária o
direito de abdicar ou declinar da herança por meio da renúncia expressa,
preferindo conservar-se completamente estranho à sucessão. 2. Ao contrário da
informalidade do ato de aceitação da herança, a renúncia exige forma
expressa, cuja solenidade deve constar de instrumento público ou por termos
nos autos (art. 1807), ocorrendo a sucessão como se o renunciante nunca
tivesse existido, acrescendo-se sua porção hereditária à dos outros herdeiros da
mesma classe. 3. A renúncia e a aceitação à herança são atos jurídicos puros
não sujeitos a elementos acidentais. Essa a regra estabelecida no caput do art.
1808 do Código Civil, segundo o qual não se pode aceitar ou renunciar a
herança em partes, sob condição (evento futuro incerto) ou termo (evento futuro
e certo). 4. No caso dos autos, a renúncia operada pelos recorrentes realizou-se
nos termos da legislação de regência, produzindo todos os seus efeitos: a)
ocorreu após a abertura da sucessão, antes que os herdeiros aceitassem a
herança, mesmo que presumidamente, nos termos do art. 1807, do CC/2002; b)
observou-se a forma por escritura pública, c) por agentes capazes, havendo de
se considerar que os efeitos advindos do ato se verificaram” (REsp
1433650/GO, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 19/11/2019, DJe 04/02/2020)
RENÚNCIA DA HERANÇA
Art. 1.806. A renúncia da herança deve constar expressamente de
instrumento público ou termo judicial.
Forma de renúncia. A renúncia deve ser expressa e formalizada por
instrumento público ou termo judicial.
Renuncia à herança. É a recusa do herdeiro legítimo ou testamentário de vir a
suceder o falecido na titularidade de seus direitos. É a perda voluntária do direito de
herdar.
Capacidade para renunciar. A renúncia pressupõe a capacidade de fato.
Incapaz não pode renunciar. Se representado, dependerá de autorização judicial,
devidamente fundada. Para o professor, a motivação será difícil pelo motivo da possível
lesão ao interesse dos incapazes. Um exemplo dado pelo professor da justificativa da
renúncia ocorreria do fato de que o incapaz ser muito rico por direito próprio, por ter
recebido já uma herança de seu avô, por exemplo, e com a renúncia irá ajudar a seus
irmãos.
Necessidade de outorga conjugal. É necessária, sob pena de invalidade (Silvio
Rodrigues, Eduardo de Oliveira Leite, Caio Mário da Silva Pereira). Ao contrário da
aceitação, pois nesta presume-se que o interesse do cônjuge foi atendido.
Renúncia à herança de pessoa viva? Não é possível.
“Não há falar em renúncia à herança pelos herdeiros quando o falecido, titular
do direito, a aceita em vida, especialmente quando se tratar de ato praticado
depois da morte do autor da herança” (REsp 1622331/SP, Rel. Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
08/11/2016, DJe 14/11/2016)
Renúncia à herança de pessoa viva, pois equivaleria, indiretamente, a um pacto
corvina.
Caracteres da renúncia à herança. Negócio jurídico unilateral, não receptício,
gratuito, irretratável e formal.
“A renúncia é negócio jurídico lateral. Se alguém, titular de um direito, ou
de direitos, quer renunciar, basta que lance a sua declaração unilateral de
vontade” (Pontes de Miranda)
É indivisível? Tanto quanto a aceitação, a renúncia é indivisível (Art. 1808). No
entanto, se houver sucessão legítima e testamentária, é possível renunciar a uma delas.
É pura simples? Sim, com base no Art. 1808.
“A renúncia e a aceitação à herança são atos jurídicos puros não sujeitos a
elementos acidentais. Essa a regra estabelecida no caput do art. 1808 do
Código Civil, segundo o qual não se pode aceitar ou renunciar a herança em
partes, sob condição (evento futuro incerto) ou termo (evento futuro e certo). No
caso dos autos, a renúncia operada pelos recorrentes realizou-se nos termos da
legislação de regência, produzindo todos os seus efeitos: a) ocorreu após a
abertura da sucessão, antes que os herdeiros aceitassem a herança, mesmo
que presumidamente, nos termos do art. 1807, do CC/2002; b) observou-se a
forma por escritura pública, c) por agentes capazes, havendo de se considerar
que os efeitos advindos do ato se verificaram” (REsp 1433650/PR, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
19/11/2019, DJe 04/02/2020)
Distinção entre renúncia da herança e doação da meação
“Embora o art. 1.806 do Código Civil admita que a renúncia à herança possa
ser efetivada por instrumento público ou termo judicial, a meação não se
confunde com a herança. A renúncia da herança pressupõe a abertura da
sucessão e só pode ser realizada por aqueles que ostentam a condição de
herdeiro. O ato de disposição patrimonial representado pela cessão gratuita da
meação em favor dos herdeiros configura uma verdadeira doação, a qual, nos
termos do art. 541 do Código Civil, far-se-á por Escritura Pública ou
instrumento particular, sendo que, na hipótese, deve ser adotado o instrumento
público, por conta do disposto no art. 108 do Código Civil” (REsp 1196992/MS,
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
06/08/2013, DJe 22/08/2013)
Renúncia tácita ou presumida? Não é possível. Deve ser expressa.
Requisitos formais do mandato para renúncia de herança. A renúncia do
mandatário só pode ocorrer se o mandato for constituído por instrumento público. O
mandato deve conter poderes específicos para tal.
“O ato de renúncia à herança deve constar expressamente de instrumento
público ou de termo nos autos, sob pena de invalidade. Daí se segue que a
constituição de mandatário para a renuncia à herança deve obedecer à mesma
forma, não tendo a validade a outorga por instrumento particular” (REsp
1236671/SP, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, Rel. p/ Acórdão Ministro
SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/10/2012, DJe
04/03/2013)
“A renúncia da herança é ato solene, exigindo o art. 1.806 do Código Civil,
para o seu reconhecimento, que conste ‘expressamente de instrumento público
ou termo judicial’, sob pena de nulidade (art. 166, IV) e de não produzir
qualquer efeito, sendo que ‘a constituição de mandatário para a renúncia à
herança deve obedecer à mesma forma, não tendo validade a outorga por
instrumento particular’” (AgInt no AREsp 1585676/PR, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 20/02/2020, DJe
03/03/2020)
Efeitos da renúncia e distribuição do quinhão do renunciante. O quinhão
correspondente, do herdeiro renunciante, será distribuído aos demais herdeiros da
mesma classe. É vedada a sucessão por representação em caso de renúncia. Se ele for o
único da classe, será devolvia a herança aos da classe seguinte.
Espécie de renúncia. Em sede de inventário, é possível identificar dois tipos de
renúncia, a denominada renúncia translativa, pela qual o herdeiro transfere bem a
determinada pessoa, a quem normalmente indica, e a renúncia abdicativa propriamente
dita, pela qual renuncia à herança em benefício de todos os coerdeiros da mesma classe
ou, na falta destes, da classe subsequente, sendo somente essa última espécie
considerada a verdadeira renúncia, como esclarece Dolor Barreira.