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CURSO DE DIREITO DAS SUCESSÕES

CADERNO FEITO POR GERARDO DE MAGELA DA CUNHA COUTINHO FILHO


(TURMA 190) NO SEGUNDO SEMESTRE DE 2020. PARA SUA CONSTITUIÇAO
FORAM UTILIZADAS AS AULAS DO PROFESSOR ASSOCIADO OTÁVIO LUIZ
RODRIGUES JUNIOR.

O Direito das Sucessões é um dos mais importantes do Direito Civil. Tratar de


sucessões é tratar da morte. E em certos países a tratativa da morte é algo natural e em
outros não.

CONCEITO E JUSTIFICAÇÃO
“Direito das Sucessões é a parte especial do Direito Civil que regula a
destinação do patrimônio de uma pessoa depois de sua morte. (...) Refere-se
apenas às pessoas físicas. A extinção de uma pessoa jurídica não está no
seu âmbito, nem têm a natureza de disposições de última vontade os
preceitos estatutários que regulam a sorte do patrimônio social. Disciplina,
concisamente falando, os efeitos da morte de uma pessoa natural, na área
do Direito Privado” (Orlando Gomes)
O Direito das Sucessões é tratado no plural e não no singular como “Sucessão”,
pois traduz duas grandes espécies de sucessão:
 A Sucessão Legítima (Conforme a legis - a lei);
 A Sucessão por vontade (testamentária)
Esse Direito trata apenas das pessoas naturais. Quando tratamos de extinção de
Pessoa Jurídica não estamos tratando de Direito das Sucessões como no caso da cisão,
fusão ou falência de empresas.
Os efeitos da morte interessam a parte geral do Direito Civil. A morte extingue a
pessoa natural. Interessa ao Direito Contratual, pois a morte vai extinguir, de pleno
direito, algumas relações contratuais por causa do seu caráter personalíssimo. Interessa
ao Direito das Coisas, visto que, com a morte, alguns direitos reais são extintos,
notadamente, com relação àqueles que se sujeitam a tais direitos ou alguns dos seus
titulares.
O Direito das Sucessões é objeto de críticas:
(a) O Estado deveria ser o herdeiro universal das grandes fortunas (Saint Simon);
(b) Só deveriam ser admitidas transmissões de bens de consumo e não de bens de
produção (Menger);
(c) Sua manutenção dependeria de aumento das alíquotas do imposto de
transmissão;
Há uma discussão no enfoque de verificar por qual motivo temos um Direito das
Sucessões? Certamente, a discussão do Direito das Sucessões é baseada, fortemente, no
sistema capitalista. Mas não somente nele. Já no sistema feudal, haveria um “berço”
sistemático do Direito das Sucessões.
Mudança no sistema econômico não interferiu na relevância do Direito das
Sucessões. Mas após a Revolução Francesa e mais profundamente após a Revolução
Russa de 1917, as críticas ao Direito das Sucessões vêm se intensificando e se
organizando do ponto de vista teórico.
Sua manutenção se deveu, porém, às seguintes razões:
(a) Ela se manteve até mesmo em países socialistas, quanto aos bens de consumo;
(b) “A sucessão mortis causa encontra sua justificação, conforme acentua Degni,
nos mesmos princípios que explicam e justificam o direito de propriedade
individual, do qual é a expressão mais enérgica e a extrema, direta e lógica
consequência. Esse, o seu fundamento racional” (Orlando Gomes)
Segundo o professor, o Direito das Sucessões talvez seja a viga mestra do
sistema capitalista, já que ele leva a acumulação do capital a um nível de auto
justificação que de certo modo elimina os efeitos, pelo menos do ponto de vista
psicológico, da reificação do capitalista. Passa-se a encontrar uma justificativa da
própria alienação em nome da acumulação de bens que não serão fruídos pelo
capitalista, mas por alguém pelo mero fato de ser vinculado sanguíneo ou reconhecido
pelo Direito. O capitalista acumularia os bens com o objetivo de deixar protegidos e
preservados seus descendentes em razão da expectativa de deixar conforto e segurança
para terceiros. Em alguns países há também casos de sucessão de bens para entidades
filantrópicas e Universidades.

CONCEITOS BÁSICOS
Sucessão. Suceder é substituir, tornar o lugar de outrem;
Sucessão inter vivos. Substitui-se o sujeito na relação jurídica, como se dá em um
contrato.
Sucessão causa mortis. Os direitos e obrigações são transferidos do morto para seus
herdeiros e legatários.
Sucessão a título singular. A sucessão dá-se relativamente a um bem ou a um grupo
determinado de bens.
Sucessão a título universal. Ocorre a transferência da totalidade do patrimônio (entre
vivos) ou da herança (por efeito da morte).
“Quando o testamento foi aberto, Rubião quase caiu para trás. Advinhas
por quê. Era nomeado herdeiro universal do testador. Não cinco, nem dez,
nem vinte contos, mas tudo, o capital inteiro, especificados os bens, casa na
Corte, uma em Barbacena, escravos, apólices, ações do Banco do Brasil e
de outras instituições, joias, dinheiro amoedado, livros − tudo finalmente
passava às mãos do Rubião, sem desvios, sem deixas a nenhuma pessoa,
nem esmolas, nem dívidas. Uma só condição havia no testamento, a de
guardar o herdeiro consigo o seu pobre cachorro Quincas Borba, nome que
lhe deu por motivo da grande afeição que lhe tinha” (Quincas Borba -
Machado de Assis)
Conceito de herança. “É o conjunto de direitos e obrigações que se transmitem em
razão da morte, a uma pessoa, ou a um conjunto de pessoas, que sobrevivem ao
falecido” (Silvio Venosa). O Sucedido deve ser uma pessoa natural, mas o sucessor
pode ser uma pessoa natural ou jurídica.
De cujus (de cujus sucessione agitur). É o morto, o falecido, aquele de quem a
sucessão trata.
Espólio. É o conjunto de direitos e deveres pertencentes ao de cujus.
CPC
Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:
[...]
VII - o espólio, pelo inventariante;
É uma massa patrimonial que se conserva até a atribuição dos quinhões
hereditários os sucessores. É um ente despersonificado, mas possuidor de personalidade
judiciária.
O espólio é uma forma moderna que substituiu a antiga “massa” de bens,
direitos e deveres que o de cujus terminava por continuar e representava com se vivo
fosse. No Direito Moderno, optou-se por uma massa despersonificada. Irá se conservar
até o processo final de inventário e partilha (contenciosa) ou rolamento (não
contenciosa). Primeiro inventariam-se os bens (colecionam-se os bens e dívidas com um
acerto contábil de bens e dívidas) e o que sobrar da quitação é passado aos herdeiros por
meio da partilha. Há uma legitimação da transferência que começou com a morte do de
cujus. O Inventariante é o represente do espólio perante terceiros e o Poder Judiciário.
Legado. É um ou vários bens determinados, especificados no acervo hereditário e no
testamento, que se transmitem a título singular. Pode ser atribuída a um não herdeiro ou
a um herdeiro que receberá um pouco a mais que os outros herdeiros. É possível, então,
que um indivíduo seja herdeiro e, ao mesmo tempo legatário. O legado depende da
existência de testamento. Pode ser legado de coisa (Art. 1915), de crédito ou de quitação
de dívida (Art. 1918), de alimentos (Art. 1919), de usufruto (Art.1921). Pode ser
acompanhado de um modus ou uma condição.

ABERTURA DA SUCESSÃO
Art. 6° A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se
esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de
sucessão definitiva.
A morte é o momento de abertura da sucessão.
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos
herdeiros legítimos e testamentários.
A transmissão automática e sem solução de continuidade é uma forma de se
evitar a ausência de titularidade dos bens do falecido. Isso implica que há:
(a) Transmissão “desde logo” da herança aos sucessores legítimos e testamentários;
(b) Possibilidade de defesa possessória e da propriedade dos bens da herança, em
caráter imediata, pelos herdeiros. Também pelos legatários.
Pode ocorrer que alguns bens sejam de posse de algum herdeiro ou legatário.
Defesa da posse e da propriedade dos bens
 “O direito hereditário é forma de aquisição da propriedade imóvel (direito de
Saisine). Aberta a sucessão, o domínio e a posse da herança transmitem-se
incontinenti aos herdeiros, podendo qualquer um dos coerdeiros reclamar bem,
integrante do acervo hereditário, de terceiro que indevidamente o possua
(CC/1916, arts. 530, IV, 1.572 e 1.580, parágrafo único; CC/2002, arts. 1.784 e
1.791, parágrafo único). Legitimidade ativa de herdeiro na ação reivindicatória
reconhecida.” (REsp 1117018/GO, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA
TURMA, julgado em 18/05/2017, DJe 14/06/2017)
O sentido da expressão “desde logo”
Automático, sem intervalo ou solução de continuidade. Os bens passam a sua
posse sem necessidade de imissão possessória (Carvalho Santos). Para a posse dos
herdeiros.
Direito de saisine
O Art. 1784 contém o direito de saisine. É o princípio de que a herança
transmite-se de pleno direito (saisine). É o direito dos herdeiros de entrarem
imediatamente na posse dos bens que constituem a herança.
Saisine e dívidas do de cujus
 “A falta de inventariante judicialmente nomeado não faz dos herdeiros,
individualmente considerados, partes legítimas para responder pela obrigação
objeto da ação de cobrança, pois enquanto não há partilha, é a herança que
responde por eventual obrigação deixada pelo de cujus, cuja representação do
acervo hereditário se faz provisoriamente pelo possuidor de fato, enquanto que
o espólio, como parte formal, é quem detém legitimidade passiva ad causam
para integrar a lide” (AgInt no AREsp 1580936/ES Rel.: Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em: 29/06/2020, Dje
03/08/2020)
Recebem-se todos os bens imediatamente com a morte, mas quem responde
pelas dívidas é o espólio até o momento da partilha. Mas pode ocorrer das dívidas
superarem os créditos e não haver nada a transmitir e os herdeiros não pagarão por essas
dívidas que sobrarem.
Exceção da regra da saisine em relação aos bens jacentes
 "É entendimento consolidado neste Superior Tribunal de Justiça que os bens
jacentes são transferidos ao ente público no momento da declaração da
vacância, não se aplicando, desta forma, o princípio da saisine" (AgInt no REsp
1283365/RJ, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA
TURMA, julgado em 15/04/2019, DJe 25/04/2019)
Formal de partilha e transmissão de bens
 “Após a homologação da partilha e havendo mais de um herdeiro, revela-se
incabível a constrição de bem herdado por um deles para a garantia de toda a
dívida deixada pela de cujus, pois a responsabilidade do sucessor é
proporcional ao seu quinhão. Em razão do princípio da saisine, o herdeiro não
necessita proceder ao registro do formal de partilha para que os bens
herdados lhe sejam transmitidos” (REsp 1290042/SP, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 01/12/2011,
DJe 29/02/2012)
Estado de sócio e transmissão de bens
 “Direito empresarial e processual civil. Inventário. Cessão de quotas causa
mortis. Estado de sócio. Administração da sociedade empresária. - A
transmissão da herança não implica a transmissão do estado de sócio. - A
solução de controvérsias a respeito dos efeitos da cessão mortis causa de quotas
na administração da sociedade empresária é matéria estranha ao Juízo do
inventário. Recurso especial conhecido e provido.” (REsp 537611/MA, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/08/2004,
DJ 23/08/2004 p. 230)

LOCAL DE ABERTURA DA SUCESSÃO


Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido.
O falecido pode ter domicilio em Brasília, por exemplo, e mudar-se para São
Paulo e instalando-se nesta cidade, o domicílio será São Paulo.
Sucessão de filhos incapazes
Abre-se no lugar onde os pais forem domiciliados (domicílio necessário)
(Orlando Gomes). Chamado de domicílio de origem.
De cujus sem domicílio certo
Prevalece a regra do Art. 48, §ú, CPC/15:
CPC
Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente
para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições
de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e
para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha
ocorrido no estrangeiro.
Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é
competente:
I - o foro de situação dos bens imóveis;
II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;
III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do
espólio.
No inciso III, onde for aberto o processo de inventário, este juízo será prevento
em relação aos demais bens.
De cujus estrangeiro
CPC
Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de
qualquer outra:
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de
testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no
Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou
tenha domicílio fora do território nacional;
III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável,
proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de
nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.
Em se tratando de sucessão hereditária que se exija a confirmação de testamento
particular, no inventário que ocorra de bens situados no Brasil, ainda que o de cujus
tenha nacionalidade estrangeira ou domicílio no exterior, prevalece o principio da
reserva de jurisdição nacional.
De cujus servidor público
O servidor público possui domicílio necessário que é onde ele está matriculado.
 “Competência. Conflito positivo. Sucessão. Inventário. Competência fixada pelo
domicílio do autor da herança. Funcionário público. - A competência para o
inventário é definida em razão do domicílio do autor da herança. - Sendo o
autor da herança servidor público, seu domicílio, por força de lei, é o do local
onde presta serviços ao Estado” (CC 40717/RS, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/05/2004, DJ 31/05/2004
p.170)

ESPÉCIE DE SUCESSÃO
(a) Por Lei ou Legítima;
Mais comum.
(b) Por disposição de última vontade ou testamentária;
Herança legítima e testamentária
I) Herança legítima ou ab intestatio
Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos
herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem
compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o
testamento caducar, ou for julgado nulo.
Dá-se quando uma pessoa morre sem testamento, o que implica a transmissão da
herança aos chamados herdeiros legítimos. Não há legatários.
II) Herança testamentária
Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade.
É a que deriva do testamento (disposição de última vontade) pelo qual o
testador, além da legítima (quota reservatária), abre espaço para sua manifestação sobre
a quota disponível. Separa-se uma quota do disponível (metade) para alguém.
É também possível que haja parte da herança ser submetida pela regra da
legítima apesar de se ter uma sucessão testamentária. Quando se tratar de bens que não
foram compreendidos no testamento. Se houver um conflito, irá prevalecer a sucessão
legítima sobre a testamentária em duas situações:
a. Quando o testamento for nulo. Sem eficácia;
b. Quando o testamento caducar nas causas de caducidade;
Herança testamentária e herdeiros necessários
Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da
metade da herança.
Herança Testamentária. É a que se rege pelas disposições testamentárias. Nesse caso,
se houver herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança.
Ressalvadas as hipóteses de deserdação (Art. 1961), o herdeiro necessário não pode ser
privado parcela hereditária que lhe é reservada legalmente.
O Art. 1789 prevê o princípio da indisponibilidade da herança dos
necessários. A quota indisponível é outro nome da “legítima” dos herdeiros
necessários.
A Herança testamentária é proveniente de uma regra criada pelo de cujus para
atribuir bens a um grupo de pessoas merecedoras da sua “bondade”.
Quem são os herdeiros necessários?
Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o
cônjuge.
Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade
dos bens da herança, constituindo a legítima.
Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na
abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral,
adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos a colação.
Art. 1.849. O herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua parte
disponível, ou algum legado, não perderá o direito à legítima.

DIREITO INTERTEMPORAL NAS SUCESSÕES


Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao
tempo da abertura daquela.
Lei aplicável ou da regência da sucessão e da legitimação sucessória. Momento
da abertura da sucessão (morte do de cujus).
Lei aplicável e sucessão testamentária
Submete-se à regra vigente na abertura da sucessão em face de sua forma
intrínseca (conteúdo e capacidade testamentária passiva).
Obs: Antes da Constituição de 88, tratavam-se os filhos de maneira desigual. Após a
Constituição de 88, os filhos foram tratados igualmente. Legítimos ou não
Posição do STF em face da CF 1988 e a igualação dos direitos entre os filhos
 “A sucessão regula-se por lei vigente à data de sua abertura, não se aplicando a
sucessões verificadas antes do seu advento a norma do art. 227, § 6º, da Carta
de 1988, que eliminou a distinção, até então estabelecida pelo Código Civil (art.
1.605 e § 2º), entre filhos legítimos e filhos adotivos, para esse efeito.
Discriminação que, de resto, se assentava em situações desiguais, não afetando,
portanto, o princípio da isonomia. Recurso não conhecido” (RE 163167, Relator
(a). Min. ILMAR GALVÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 05/08/1997, DJ
31/10/1997 PP-55560 EMENT VOL-01889-03 PP-00452)
Posição do STJ
 “A adoção simples realizada sob o manto do CC/1916, cujas características
marcantes eram a de estabelecer parentesco somente entre adotante e adotado e
de vedar o estabelecimento de direito de sucessão entre o adotado e os parentes
do adotante, é um ato jurídico perfeito e consumado, sendo insuscetível de
violação por regra de natureza constitucional ou legal superveniente. O ato
jurídico perfeito e o direito adquirido, porém, são institutos jurídicos
conceitualmente distintos, inclusive porque atos jurídicos perfeitos possuem
aptidão para gerar meras expectativas de direito e não somente direitos
subjetivos ao titular. O ato de adoção simples realizado em observância aos
critérios e pressupostos vigentes à época de sua consumação confere direito de
filiação, mas não gera o direito adquirido ao regime sucessório então vigente,
que somente será aplicado se houver a efetiva abertura da sucessão hereditária
na vigência do mesmo diploma legal. O ato jurídico perfeito de adoção simples
praticado sob a égide do CC/1916, quando se permitia a distinção das relações
familiares a partir de sua origem, permanece intacto quando sobrevém uma
nova ordem constitucional que iguala os direitos e qualificações dos filhos e
impede discriminações, na medida em que o direito sucessório, que é distinto do
direito de filiação, reger-se-á pela lei vigente ao momento de sua abertura,
momento em que já vigorava o art. 227, §6º, da CF/88” (REsp 1503922/MG,
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
24/04/2018, DJe 30/04/2018)
Não foi possível uma retroatividade do texto constitucional de 88.

ADMINISTRAÇÃO DA HERANÇA
Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários
sejam os herdeiros.
Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à
propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas
normas relativas ao condomínio.
Este artigo reafirma 02 princípios centrais no Direito Sucessório:
(a) Devolução unitária da herança aos herdeiros;
(b) Indivisibilidade do monte hereditário, no momento da abertura da sucessão, até a
partilha final;
A herança defere-se como um todo unitário ainda que vários sejam os herdeiros.
Uma consequência lógica do fato que, aberta a sucessão, transfere-se de imediato a
propriedade e a posse dos bens para todos os herdeiros. Até a partilha, a herança é uma
universalidade de direito. Principio da indivisibilidade do monte hereditário.
O tratamento dado ao monte, até que ocorra a partilha, será o mesmo do ponto
de vista jurídico. Mas não se impede que alguns herdeiros usem da posse individual de
alguns bens do monte. O detentor eventual de qualquer bem do monte será a possuidora
direta do bem, mas todos os outros herdeiros terão a posse indireta do mesmo bem.
Somente com o final do processo de partilha teremos a certeza do que foi atribuído
juridicamente por meio de um título publicamente oponível a terceiro, inclusive a outros
herdeiros, a cada herdeiro. Possibilidade do exercício possessório de bens do monte de
forma individual ainda que o processo de partilha não esteja finalizado.
Antes da partilha, nenhum herdeiro é proprietário exclusivo de qualquer bem.
Decidida a partilha, “fica o direito de cada uma dos herdeiros circunscrito aos bens do
seu quinhão”. São condôminos.
Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da
herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio. Perdura o
estado de indivisão até à partilha.
“Os herdeiros são condôminos e copossuidores doa bens de herança, por
cotas ideais (...)” (Caio Mário)
Somente após a partilha do quinhão hereditário é que se saberá o direito
exclusivo de cada herdeiro sobre o quinhão.
O parágrafo único do Art. 1791 contempla o “princípio da indivisibilidade da
herança”, do qual se tem por efeito que quaisquer dos herdeiros podem reivindicar de
terceiro, estranho á herança, totalidade dos bens. Essa prerrogativa não pode ser
exercida, porém, entre herdeiros. O inventariante pode acionar estranhos ou herdeiros
para a defesa da posse dos bens hereditários. Os herdeiros podem acionar terceiros na
defesa da herança.
 “Aberta a sucessão, o domínio é transmitido de imediato aos herdeiros e os
direitos são indivisíveis, até a partilha, de sorte que é vedado ao viúvo-meeiro,
da mesma forma que em vida não poderia fazê-lo sem a outorga uxória, gravar
imóvel objeto do inventário já aberto com ônus hipotecário, resultando, ao
depois, na execução e penhora do bem ainda comum a todos, posto que o ato é
viciado em sua origem” (REsp 3048008/MS, Rel. Ministro ALDIR
PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 19/04/2007, DJ
28/05/2007, p.242)
Quando da morte do de cujus deve-se verificar o regime do casamento ou união
estável. Os bens comuns deixados pelo falecido serão divididos meio a meio com a
viúva. A parte que será colocada em sucessão será a segunda metade dos bens.
Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da
herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver
inventário que a escuse, demostrando o valor dos bens herdados.
Irresponsabilidade dos herdeiros por encargos superiores à herança (art. 1792).
O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança. Mas, é ônus do
herdeiro a prova do excesso, salvo se houver inventário que o libere desse ônus, por
meio da demonstração do valor dos bens herdados.
Haverá duas etapas para a colação dos bens: Uma etapa de levantamento dos
bens e levantamento da dividas. A outra etapa é a partilha tão somente dos ativos. O que
em dívidas ultrapassar o valor dos ativos, os herdeiros não serão responsáveis pelo
excesso dos débitos.
 “PENHORA veículos hipóteses em que houve constrição de bens dos herdeiros
do “de cujus” devedor em razão da habilitação prematura gravame ilegítimo.
Prova d a propriedade dos bens, pertencentes aos herdeiros. Aplicação do
princípio do ‘non ultra vires hereditatis’ - Os herdeiros não respondem com
seus próprios bens por encargos superiores às forças da herança transmitida.
Decisão acertada - Recurso improvido”. (TJSP - AgIn 2216278-
51.2017.8.26.0000 -23ª Câmara de Direito Privado - j. 22/03/2018 - Des.
J.B.Franco de Godoi)
A “escusa do inventário” significa que a existência de processo de inventário e
partilha servirá para demonstrar que os ativos não superam os passivos. Desse modo,
como as dívidas são da herança, que por elas responde (Art. 1.997), só serão partilhados
os bens ou valores que remanescerem após o pagamento das dívidas.
Inventário negativo. O Art.28 da resolução 35 do CNJ expressamente admite a
existência do “inventário negativo”, por meio da escritura pública, cuja finalidade é
atestar que a pessoa falecida não deixou bens a inventariar e partilhar. Ele serve para
demonstrar a insolvência do de cujus e afastar a consequente responsabilidade dos
herdeiros quanto aos créditos em face dos sucessores. Já se sabe que o de cujus não
deixou bens suficientes para o pagamento de todas as dívidas. Torna pública a
insolvência do de cujus. Cria, contabilmente, uma segregação patrimonial. Procede-se a
um inventário extrajudicial com a finalidade de demonstração de insolvência e
incapacidade da herança de pagar todas as dívidas. Evita-se com isso o processo judicial
em si. Prova-se por certidões, em geral..

TRANSMISSÃO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR


No caso de eventualmente o de cujus tenha uma filho de casamento anterior ou
fora dele. Este filho pode se habilitar à herança.
“A transmissão da obrigação alimentar é limitada às forças da herança”
(Enunciado 343, Jornadas de Direito Civil)
 “Nos termos do artigo 943 do Código Civil de 2002: "o direito de exigir
reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança." Todavia, o
artigo 1.792 do referido diploma legal preceitua que "o herdeiro não responde
por encargos superiores às forças da herança". No caso dos autos, o ilícito
penal que fundamentou a pretensão indenizatória foi praticado somente pelo
cônjuge varão, marido da primeira recorrente e atualmente falecido. Na
execução da sentença condenatória, porém, foi arrestada a totalidade do bem
imóvel de propriedade originária do casal, doado aos filhos após o crime, com
reserva de usufruto vitalício para os doadores, sem observância da meação do
cônjuge virago. Somente a parte do imóvel doado que cabia ao cônjuge varão,
50% (cinquenta por cento), pode ser constrita para pagamento da obrigação
contraída exclusivamente pelo autor do homicídio, porquanto o dever de
reparação que transmite a seus herdeiros com a herança diz respeito ao ilícito
praticado unicamente pelo genitor dos donatários. A meação a que tinha direito
o cônjuge virago sobre o imóvel foi transferida aos filhos na doação sem
nenhum encargo ou gravame, além do usufruto vitalício a ser respeitado, e,
portanto, não pode ser atingida pela execução da sentença que condenou
somente o marido ao pagamento de indenização pela prática do crime” (REsp
857557/RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em
15/09/2016, DJe 18/10/2016)

FORÇA DA HERANÇA E HONORÁRIOS


 “EXECUÇÃO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS. HONORÁRIOS.
TÍTULO EXECUTIVO. AÇÃO MOVIDA EM FACE DO ÚNICO HERDEIRO
DO CONTRATANTE. - O sucessor hereditário responde por honorários
advocatícios devidos pelo autor da herança. O limite de tal responsabilidade é
o valor do quinhão por ele adquirido. - Condenação em honorários de
sucumbência, fixados em 20% sobre o valor da execução” (REsp 437272/RJ,
Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA,
julgado em 21/08/2018, DJ 08/05/2006, P.194)
Os advogados poderão pleitear seus honorários contra o espólio ao limite do
quinhão. Honorários são uma espécie de obrigação alimentar.
CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS
Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que
disponha o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.
§ 1° Os direitos, conferidos ao herdeiro em conseqüência de substituição ou
de direito de acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão feita
anteriormente.
§ 2° É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre
qualquer bem da herança considerado singularmente.
§ 3° Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da sucessão,
por qualquer herdeiro, de bem componente do acervo hereditário, pendente
a indivisibilidade.
Os direitos de sucessão aberta, em geral, correspondem a uma expectativa de
recebimento ao final do inventário da partilha de recebimento de bens contidos a certo
quinhão hereditário. Mas este direito poderia nunca a se realizar. A possibilidade da
partilha pode não ocorrer.
São susceptíveis de cessão, por meio de escritura pública:
a) O direito à sucessão aberta;
Transmite-se a expectativa.
b) O quinhão do herdeiro;
Transmite-se um direito constituído e de quase liquidez.
A cessão aqui é um negócio jurídico, oneroso ou não. Negócio de um direito
ainda em formação ou aquilo que já foi concretizado. O herdeiro cede o direito a
terceiros.
 “A cessão de direitos hereditários deve ser formalizada por escritura pública,
consoante determina o artigo 1.793 do Código Civil de 2002” (REsp
1027884/SC, Rel. Ministro FERNADO GONÇALVES, QUARTA TURMA,
julgado em 06/08/2009, DJe 24/08/2009) No mesmo sentido: (AgInt nos EDcl
no AREsp 947.708/PR, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 21/08/2018, DJ 27/08/2018)
Segundo Arnaldo Rizzardo: a cessão não transfere bem individualizado, mas o
quinhão.
 “EMENTA: EMENTA: PROCESSO DE INVENTÁRIO - ARROLAMENTO DE
BENS - CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS REALIZADOS POR
ESCRITURA PÚBLICA - ORDEM DE REGISTRO DA ESCRITURA DE
CESSÃO DE DIREITOS- TRANSMISSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS -
NECESSIDADE DE REGISTRO - INEXISTÊNCIA - AUSÊNCIA DE PREVISÃO
LEGAL - RECURSO PROVIDO. 1. Nos termos do art. 1793 do Código Civil é
permitida a cessão de direitos hereditários, desde que realizada por escritura
pública, abranja todos os bens e seja revertida para o monte mor. 2. A escritura
pública de cessão de direitos hereditários comprova a mera transmissão de
futuros direitos provenientes da herança, não havendo que se falar em
transferência da propriedade dos bens partilháveis, razão pela qual não está
sujeita a registro imobiliário, mormente a se considerar a ausência de previsão
na Lei de Registros Públicos. 3. Recurso provido”. (TJMG - Processo
1.0407.13.002889-4/001 -6ª CÂMARA CÍVEL, j. 14/07/2015 julgado por
Des.(a) Sandra Fonseca)
A segurança do cessionário não é tão grande.
 “PROCESSO CIVIL. PENHORA NO ROSTO DOS AUTOS. INVENTÁRIO.
EMBARGOS DE TERCEIRO. HERDEIRO. CESSÃO DE DIREITOS
HEREDITÁRIOS. AUSÊNCIA DE REGISTRO. INOPONIBILIDADE A
TERCEIROS. 1. Os arts. 129, nº 9, e 130 da Lei de Registros Públicos exige o
registro de qualquer ato de cessão de direitos em Cartório de Títulos e
Documentos da residência de todas as partes envolvidas no negócio jurídico,
para sua validade perante terceiros. 2. A mera lavratura de escritura de cessão
de direitos hereditários, em comarca diversa da do domicílio das partes ou do
processamento do inventário, não supre o requisito de publicidade do ato. 3.
Recurso especial improvido”. (REsp 1102437/MS, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/10/2010, DJe 15/02/2011)
O Cartório de Títulos e Documentos não se confunde com a figura do
Tabelionato de Notas.
Necessidade de outorga uxória. O direito à sucessão aberta é bem imóvel (Art.
80, II) e necessita a cessão desse direito da outorga conjugal (Art. 1.648, I), salvo no
regime de separação absoluta e no regime da participação final dos aquestos. Para o
STJ:
 “A ausência de outorga uxória na cessão de direitos hereditários de bem imóvel
inventariado acarreta a invalidade do ato em relação à alienação da parte dos
esposos e a ineficácia quanto à meação de suas esposas, casadas pelo regime
da comunhão universal. Vício, contudo, que não atinge a mesma cessão feita
pela viúva meeira, cujo patrimônio é apartado dos demais herdeiros”. (REsp
274432/PR, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA
TURMA, julgado em 12/02/2007, DJ 12/02/2007, p.262)
 “1. OUTORGA UXORIA. ANULAÇÃO. INEFICACIA. CESSÃO DE DIREITOS
HEREDITARIOS. 2. SEPARAÇÃO DE FATO. BENS ADQUIRIDOS APOS A
SEPARAÇÃO. ALIENAÇÃO. 3. RECURSO NÃO CONHECIDO. 1. A CESSÃO
DE DIREITOS HEREDITARIOS, SEM OUTORGA UXORIA, PELO MARIDO
CASADO EM REGIME DE COMUM DE BENS, E INEFICAZ EM RELAÇÃO A
METADE DA MULHER. 2. OS BENS ADQUIRIDOS PELO MARIDO APOS 30
ANOS DA SEPARAÇÃO DE FATO NÃO INTEGRAM A MEAÇÃO. 3.
RESGUARDADA PELO ACORDÃO RECORRIDO A MEAÇÃO DA MULHER,
EM RELAÇÃO A QUAL FOI RECONHECIDA A INEFICACIA DO ATO DA
CESSÃO, - O QUE LHE GARANTIU MAIS DIREITO DO QUE LHE
RECONHECE A DOUTRINA, - INEXISTE RAZÃO PARA SER DECLARADA A
INVALIDADE DE TODO O ATO. RECURSO NÃO CONHECIDO”. (REsp
60820/RJ, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA,
julgado em 21/06/1995, DJ 14/08/1995, p.24032)
É necessária a outorga uxória.
Pacto post mortem. É nula a cessão de direitos hereditários de pessoa viva
(pacta corvina), conforme o art.426, CC (Euclides de Oliveira). Ceder direito
hereditários pressupõe um de cujus. Se não há um, é causa de nulidade.
 “APELAÇÃO - Embargos à execução - Imóvel pertencente aos pais do
recorrente dado em garantia por dívida de empresa pertencente a si e sua mãe -
Proprietários do bem que figuraram na escritura de constituição da hipoteca -
Pacto averbado na matrícula do imóvel - inexistência de necessidade de
consentimento de herdeiro, pois não há herança, tratando-se de patrimônio de
pessoas vivas, maiores e capazes que pactuaram a avença - Impossibilidade de
defesa de direito alheio em nome próprio - Decisão mantida - Recurso
desprovido”. (TJSP - Ap 0005235-70.2013.8.26.0008-15ª Câmara de Direito
Privado - j. 6/6/2016 - julgado por Des. Carlos Alberto de Campos Mendes
Pereira)
 “O autor ingressou com ação de investigação de paternidade e antes do
julgamento de mérito da questão celebrou contrato de cessão onerosa de
direitos hereditários em favor dos demais herdeiros, por escritura pública, nos
termos do artigo 1.793 do Código Civil, que possui presunção de veracidade e
validade, a qual somente pode ser afastada por meio processual próprio em que
perquirida a sua nulidade/anulabilidade. Ainda que o cedente, ao tempo da
celebração do referido negócio jurídico, não fosse considerado herdeiro
propriamente dito, nada o impedia de ceder pretensos direitos hereditários,
inexistindo, pois, relação entre o caso dos autos e a hipótese vedada pelo art.
426 do Código Civil, de negociar herança de pessoa viva. Ademais, ante a
natureza declaratória do reconhecimento de filiação, os efeitos que produz são
ex tunc, motivo pelo qual não há falar em ilegitimidade/incapacidade para
transacionar sobre os pretensos direitos hereditários de cunho patrimonial”.
(REsp 1671141/MS, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA,
julgado em 28/05/2019, DJ 03/06/2019)
Não seria um exemplo de pacta corvina.
A herança de bens exclusivamente móveis demanda escritura pública (Orlando
Gomes). Pode ser feia por meio extrajudicial.
Na cessão onerosa a descendentes, aplica-se por analogia o Art. 496 do CC:
Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os
outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem
consentido.
Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do
cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória.
Desde que se tratar de um regime de separação parcial ou de comunhão
universal.
O cessionário não se trona herdeiro (Maria Helena Diniz). É credor da massa. A
condição de herdeiro é personalíssima. O cessionário receberá o que restar. É negócio
aleatório (Caio Mário). O cedente não responde por evicção, mas poderá responder se
for excluído da sucessão. Pode ser um caso de enganação ao cessionário.

PENHORA DOS BENS HEREDITÁRIOS


Os direitos hereditários podem ser penhoráveis. O arrematante pode ser credor
do quinhão hereditário se a penhora avançar.
 “EXECUÇÃO. DIREITOS HEREDITÁRIOS. PENHORA. PRECLUSÃO.
OCORRÊNCIA. I - Os direitos hereditários integram o patrimônio do herdeiro.
São, por isso, disponíveis e penhoráveis. II - Arrematados os direitos
hereditários, o herdeiro respectivo é sucedido no inventário, pelos
arrematantes. III - A preclusão vincula o juiz, impedindo-o de reexaminar
decisão consolidada pela ausência de recurso”. (REsp 999348/RS, Rel.
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado
em 18/12/2007, DJ 08/02/2008., p. 686)
 “A proteção instituída pela Lei nº 8.009/1990 impede a penhora sobre direitos
hereditários no rosto do inventário do único bem de família que compõe o
acervo sucessório. 2. A garantia constitucional de moradia realiza o princípio
da dignidade da pessoa humana (arts. 1º, III, e 6º da Constituição Federal). 3.A
morte do devedor não faz cessar automaticamente a impenhorabilidade do
imóvel caracterizado como bem de família nem o torna apto a ser penhorado
para garantir pagamento futuro de seus credores”. (REsp 1271277/MG, Rel.
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado
em 15/03/2016, DJe 28/03/2016)
Uma inclusão no Direito Privado do Direito à moradia.
 “1.-São penhoráveis os direitos hereditários de cunho patrimonial. 2.- Não há
necessidade de ajuizamento de ação própria para desconstituir a sentença
homologatória de partilha, pois o reconhecimento da ocorrência de fraude nos
autos da execução não implica sua desconstituição, mas, tão-somente, a
ineficácia das cessões efetuadas pelos herdeiros em relação ao
credor/exequente. 3.- Recurso Especial conhecido e provido, reconhecida a
ineficácia das doações referentes aos direitos hereditários e admitido o registro
da penhora”. (REsp 1105951/MG, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 04/10/2011, DJe 14/10/2011)

ABRANGÊNCIA DA CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS


Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que
disponha o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.
§ 1° Os direitos, conferidos ao herdeiro em conseqüência de substituição ou
de direito de acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão feita
anteriormente.
A regra do parágrafo primeiro decorre do princípio da indivisibilidade da
herança. Há uma espécie de marco cronológico de definição do objeto do acervo cedido
a terceiros.
A cessão abrange, em tese, apenas os direitos hereditários existentes à data de
sua realização. Até a data respectiva. Isso quer dizer que a cessão não abrange hipóteses
posteriores de substituição ou de favorecimento com o direito de acrescer em relação o
cedente, como se dá na renúncia de co-herdeiro (Art. 1810). Esses bens decorrentes da
substituição ou do acréscimo pertencerão exclusivamente ao cedente. O cessionário não
fará jus, tanto que obtenha a herança por meio gratuito ou oneroso. Admite parte da
doutrina que, no negócio jurídico da cessão, as partes estabeleçam regra em contrário
(Eduardo de Oliveira Leite).
Direito de acrescer. Sendo vários os herdeiros ou legatários nomeados pelo
testador, na falta de um deles, por renúncia ou por incapacidade, seu quinhão acrescerá
aos outros. Exemplo: A (25%), B (25%), C (25%) e D (25%) são herdeiros de W. B
renúncia à herança. Seu quinhão será acrescido aos quinhões de A (25%+12,5%) e C
(25% + 12,5%).
No caso acima, os 25% acrescidos não seriam atribuídos ao cessionário por
conta da vedação do Art. 1793, §1°. Para o professor, a ressalva da doutrina é passível
de dúvida, pois em sendo aplicada de maneira irrestrita, na prática, será uma cláusula de
estilo. Todo negócio jurídico deverá ter essa prática e o disposto na lei será inócuo.
Art. 1.810. Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos
outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos
da subseqüente.
Art. 1.947. O testador pode substituir outra pessoa ao herdeiro ou ao
legatário nomeado, para o caso de um ou outro não querer ou não poder
aceitar a herança ou o legado, presumindo-se que a substituição foi
determinada para as duas alternativas, ainda que o testador só a uma se
refira.
O administrador já trabalha com a hipótese de que se houver renuncia, ele deixa
um testamentário ou legatário de reserva para que haja a substituição e isso implica um
acréscimo a ser recebido.

INEFICÁCIA DA CESSÃO DE DIREITO HEREDITÁRIO SOBRE BEM DA HERANÇA


CONSIDERADO SINGULARMENTE (ART. 1793, §2°)
Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que
disponha o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.
[...]
§ 2° É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre
qualquer bem da herança considerado singularmente.
Decorrente do princípio da indivisibilidade da herança.
O co-herdeiro só pode ceder quota-parte ou parcela de quota-parte de seus bens.
A ele nunca será admitido ceder um ou mais bens “considerados singularmente” = bens
determinados. Este é um efeito do princípio da indivisibilidade da herança. Eventual
infração a esse princípio é ineficaz em relação aos demais co-herdeiros.
Tal ato só será considerado eficaz se contar com a anuência (por mera cortesia)
dos demais herdeiros (Giselda Hironaka). Esse é entendimento doutrinário.

INEFICÁCIA DA CESSÃO, SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DO JUÍZO SUCESSÓRIO, DE


BEM INDIVISÍVEL (ART. 1793, §3°)
Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que
disponha o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.
[...]
§ 3° Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da sucessão,
por qualquer herdeiro, de bem componente do acervo hereditário,
pendente a indivisibilidade.
Uma possibilidade que enseja a necessidade de venda de bens que integram ao
espólio pode ocorrer no caso de bens com alta taxa de depreciação. Também no caso de
inicio do procedimento de inventário devido à ação de credores ou também ao seu final.

DIREITO DE PREFERÊNCIA DOS CO-HERDEIROS NA CESSÃO DE QUOTA


HEREDITÁRIA (ART. 1794-1795)
Art. 1.794. O co-herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a
pessoa estranha à sucessão, se outro co-herdeiro a quiser, tanto por tanto.
Saudado pela doutrina como um avanço de sanar dúvidas em relação ao regime
anterior de sucessão.
O Código de 2002 equiparou os co-herdeiros a condôminos e conferiu-lhes o
direito de preferência, à semelhança do que ocorre na compra e venda.
Caso nenhum herdeiro tenha capital para a comora, a venda será a terceiros.
“Só haverá preferência se a cessão for onerosa” (Sílvio Rodrigues; Carlos
Roberto Gonçalves)
“Quando se tratar de cessão gratuita, os coerdeiros permanecem
protegidos pelo dispositivo por meio da expressão a pessoa estranha à
sucessão, que merece, ademais, uma interpretação elástica. Dessa forma,
pessoa estranha à sucessão seria toda pessoa que não tem nem terá
qualquer direito hereditário sobre a herança, o que garantiria ao herdeiro
desejoso de beneficiar um parente distante do morto ceder seus direitos
hereditários a uma colateral do defunto, a um ascendente deste” (Giselda
Hironaka)
Duas posições antagônicas.
 “É permitido ao herdeiro capaz ceder a terceiro, no todo ou em parte, os
direitos que lhe assistem em sucessão aberta. A alienação de direitos
hereditários a pessoa estranha à sucessão exige, por força do que dispõem os
arts. 1.794 e 1.795 do Código Civil, que o herdeiro cedente tenha oferecido aos
coerdeiros sua quota parte, possibilitando a qualquer um deles o exercício do
direito de preferência na aquisição, "tanto por tanto", ou seja, por valor
idêntico e pelas mesmas condições de pagamento concedidas ao eventual
terceiro estranho interessado na cessão. À luz do que dispõe o art. 1.795 do
Código Civil e em atenção ao princípio da boa-fé objetiva, o coerdeiro, a quem
não se der conhecimento da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a
quota cedida a estranho, se o requerer até 180 (cento e oitenta) dias após ter
sido cientificado da transmissão. No caso, apesar de o recorrente ter sido
chamado a se manifestar a respeito de eventual interesse na aquisição da quota
hereditária de seu irmão, não foi naquele ato cientificado a respeito do preço e
das condições de pagamento que foram avençadas entre este e terceiro estranho
à sucessão, situação que revela a deficiência de sua notificação por obstar o
exercício do direito de preferência do coerdeiro na aquisição, tanto por tanto,
do objeto da cessão” (REsp 1620705/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS
BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/11/2017, DJe
30/11/2017)
Art. 1.795. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão,
poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o
requerer até cento e oitenta dias após a transmissão.
Regra parecida no contrato de compra e venda de bem condominial. Importante
acrescentar que não basta o conhecimento da intenção da venda, mas sim conhecimento
de suas condições de maneira certa.
Efeitos da não observância do direito de preferência (Art. 1795). Se a cessão
for realizada sem que o co-herdeiro dê conhecimento aos demais, qualquer co-herdeiros
poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até
cento e oitenta dias após a transmissão.
Como se exerce o direito de preferência? O co-herdeiro preterido poderá
exercer esse direito por meio do depósito, nos próprios autos do inventário, do preço
convencionado entre o cedente e o cessionário.
Se houver necessidade de dilação probatória? Deve ser resolvida nas
instâncias ordinárias, fora do inventário. Em ação própria e em juízo próprio apartado
do inventário.
A cessão feita deve ser comunicada ao juízo do inventário, pois este determinará
a anotação para fins de inclusão do terceiro adquirente como novo co-herdeiro.

PLURALIDADE DE CO-HERDEIROS NO EXERCÍCIO DO DIREITO DE PREFERÊNCIA


(ART. 1795, §ú)
Art. 1.795. [...]
Parágrafo único. Sendo vários os co-herdeiros a exercer a preferência,
entre eles se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das respectivas
quotas hereditárias.
Sendo vários os co-herdeiros a exercer a preferência entre eles se distribuirá o
quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas hereditárias.

PRAZO DE ABERTURA DO INVENTÁRIO (ART. 1796)


A sucessão é aberta com a morte do sucedido. Mas o tempo decorrente de ato até
a abertura do inventário e partilha pode acontecer um bom tempo. Por várias razões,
desde sentimentais, de levantamento de bens ou até dos pormenores do inventário.
Art. 1.796. No prazo de trinta dias, a contar da abertura da sucessão,
instaurar-se-á inventário do patrimônio hereditário, perante o juízo
competente no lugar da sucessão, para fins de liquidação e, quando for o
caso, de partilha da herança.
Prazo dado pelo Código Civil. Mas o Código de Processo Civil dá outro prazo.
CPC
Art. 611. O processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro
de 2 (dois) meses, a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12
(doze) meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar esses prazos, de ofício
ou a requerimento de parte.
Seja pelo critério cronológico ou da especialidade, o prazo do CPC/15 prevalece.
Lei 14010/20
Dispõe sobre o Regime Jurídico Emergencial e Transitório das relações
jurídicas de Direito Privado (RJET) no período da pandemia do
coronavírus (Covid-19).
Art. 16. O prazo do art. 611 do Código de Processo Civil para sucessões
abertas a partir de 1º de fevereiro de 2020 terá seu termo inicial dilatado
para 30 de outubro de 2020.
Parágrafo único. O prazo de 12 (doze) meses do art. 611 do Código de
Processo Civil, para que seja ultimado o processo de inventário e de
partilha, caso iniciado antes de 1º de fevereiro de 2020, ficará suspenso a
partir da entrada em vigor desta Lei até 30 de outubro de 2020.
A não observância do prazo de abertura do inventário implicará sanções de
natureza fiscal.
“Não é inconstitucional multa instituída pelo Estado-membro, como sanção
pelo retardamento do início ou da ultimação do inventário” (Súmula STF
542)
No Estado de São Paulo a multa é de 10% para inventários não abertos em 60
dias e de 20% para inventários não abertos em 180 dias. Se ninguém requerer a
abertura, poderá o juízo fazê-lo de ofício. Há interesses do Estado para a tramitação dos
inventários.

LOCAL DE ABERTURA DO INVENTÁRIO (ART. 1796)


Art. 1.796. No prazo de trinta dias, a contar da abertura da sucessão,
instaurar-se-á inventário do patrimônio hereditário, perante o juízo
competente no lugar da sucessão, para fins de liquidação e, quando for o
caso, de partilha da herança.
O “lugar da sucessão” é o local de abertura do inventário, no entanto:
Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente
para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições
de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e
para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha
ocorrido no estrangeiro.
Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é
competente:
I - o foro de situação dos bens imóveis;
II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;
III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do
espólio.

ADMINISTRAÇÃO DA HERANÇA (ART. 1797)


Administração da herança em sua funcionalidade.
Art. 1.797. Até o compromisso do inventariante, a administração da
herança caberá, sucessivamente:
I - ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da
abertura da sucessão;
II - ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver
mais de um nessas condições, ao mais velho;
III - ao testamenteiro;
IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos
incisos antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave
levado ao conhecimento do juiz.
Os incisos deste artigo estão superados pelo Código de Processo Civil de 2015.
Administrador provisório. É diferente do inventariante. O “administrador
provisório” atua até quando não for nomeado o inventariante. Essa é uma distinção
inexistente no código revogado (Gavião de Almeida).
Até o compromisso do inventariante:
 “Apesar de a herança ser transmitida ao tempo da morte do de cujus (princípio
da saisine), os herdeiros ficarão apenas com a posse indireta dos bens, pois a
administração da massa hereditária restará, inicialmente, a cargo do
administrador provisório, que representará o espólio judicial e
extrajudicialmente, até ser aberto o inventário, com a nomeação do
inventariante, a quem incumbirá representar definitivamente o espólio (art. 12,
V, do CPC)”. (REsp 777.566/MG, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA,
julgado em 24/04/2010, DJe 13/15/2010)
 “Na ausência de ação de inventário ou de inventariante compromissado, o
espólio será representado judicialmente pelo administrador provisório,
responsável legal pela administração da herança até a assunção do encargo
pelo inventariante” (REsp 1559791/PB, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 28/08/2018, DJe 31/08/2018)
O espólio não nasce do processo de inventario e partilha, mas sim da mera
abertura da sucessão. Há uma fase procedimental de administração da herança que vais
sedar com o compromisso do inventariante escolhido pelo juiz que irá representar o
espólio.
CPC
Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo
com o outro ao tempo da morte deste;
II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não
houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser
nomeados;
III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na
administração do espólio;
IV - o herdeiro menor, por seu representante legal;
V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou
se toda a herança estiver distribuída em legados;
VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VII - o inventariante judicial, se houver;
VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial.
Parágrafo único. O inventariante, intimado da nomeação, prestará, dentro
de 5 (cinco) dias, o compromisso de bem e fielmente desempenhar a função.
Caráter não obrigatório da ordem de indicação do inventariante:
 “A ordem de nomeação de inventariante, prevista no artigo 990 do Código de
Processo Civil de 1973, não apresenta caráter absoluto, podendo ser alterada
em situação excepcional, quando tiver o juiz fundadas razões para tanto, sendo
possível a flexibilização e alteração da ordem de legitimados, para se atender
às peculiaridades do caso concreto” (AgInt no AREsp 1625810/SP, Rel.
Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 10/08/2020, DJe
26/08/2020)
A listagem colocada nos incisos do artigo do Código de Processo Civil pode ser
flexibilizada, fundamentadamente, pelo juiz para melhor atender interesse público
processual ou para um desenrolar menos conflituoso da partilha evitando a degradação
dos bens.
CPC
Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo
com o outro ao tempo da morte deste;
Cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo
como o outro ao tempo da morte deste. A preferência pelo cônjuge independe do
regime de bens. O juiz também poderá escolher o companheiro, desde que mantenha
relação com o de cuiús ao tempo da morte.
CPC
Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
[...]
II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não
houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser
nomeados;
Herdeiro que se achar na posse e na administração dos bens do espólio. Será
a segunda opção à falta do primeiro grupo ou se o juiz considerar inidôneo um de seus
integrantes.
Caráter preferencial do cônjuge supérstite:
 “Na espécie, por tudo o que se expôs, revela-se absolutamente correta a
promoção da ação de cobrança em face do espólio, representado pela cônjuge
supérstite, que, nessa qualidade, detém, preferencialmente, a administração, de
fato, dos bens do de cujus, conforme dispõe o artigo 1797 do Código Civil”
(STJ. REsp 1125510/RS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 06/10/2011, DJe 19/10/2011)
CPC
Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
[...]
III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na
administração do espólio;
Qualquer herdeiro. A lei não distingue entre herdeiro legítimo e herdeiro
testamentário (RT 503/103). O juiz escolherá dentre eles por critério de idoneidade e
aptidão. Se todos estiverem nessa condição, prevalecerá o herdeiro mais velho (Art.
1797, II) - critério semítico ou de Esaú e Jacó.
Obs: “Esaú e Jacó” é uma história do livro de Gênesis, parte integrante da Bíblia. Trata
da relação entre os filhos gêmeos de Isaque e Rebeca. Segundo a tradição, o filho
primogênito tinha direitos exclusivos. Dentre os gêmeos, o que nascera primeiro fora
Esaú. A mãe tinha preferência pelo mais novo, Jacó, chegando a planejar junto com ele,
para enganar o pai que estava velho e já não enxergava bem. Rebeca ajudou Jacó a
passar-se por Esaú, para comprar o direito deste. O fato cria uma inimizade grande entre
os gêmeos. No entanto, nos capítulos 32 e 33 de Gênesis nós encontramos a
reconciliação destes dois irmãos. Esta história faz parte dos acontecimentos bíblicos
mais conhecidos. A história dos irmãos inspirou o livro de Machado de Assis, que
também relata a rivalidade entre irmãos gêmeos, tendo a mãe no centro da disputa. Em
2004, foi lançado o livro O Gosto da Glosa: Esaú e Jacó na Tradição Judaica, de autoria
da psicanalista Daisy Wajnberg, que discute este que é um dos trechos mais debatidos
da Bíblia Hebraica.
CPC
Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
[...]
IV - o herdeiro menor, por seu representante legal;
Herdeiro menor, por seu representante legal. Inovação do CPC de 2015, pois
era impedida tal escolha. Em tese, o representante legal já poderia ser herdeiro pelos
incisos anteriores, mas este representante pode não ser filho ou ter renunciado a
herança.
CPC
Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
[...]
V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou
se toda a herança estiver distribuída em legados;
Testamenteiro. Desde que haja testamento e presentes as condições do Art.
1977 (testamenteiro universal):
Art. 1.977. O testador pode conceder ao testamenteiro a posse e a
administração da herança, ou de parte dela, não havendo cônjuge ou
herdeiros necessários.
Parágrafo único. Qualquer herdeiro pode requerer partilha imediata, ou
devolução da herança, habilitando o testamenteiro com os meios
necessários para o cumprimento dos legados, ou dando caução de prestá-
los.
CPC
Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
[...]
VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
Cessionário do herdeiro ou legatário. Hipótese admitida tradicionalmente na
doutrina, mas que se tornou previsão legal com o CPC/2015.
CPC
Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
[...]
VII - o inventariante judicial, se houver;
Inventariante judicial. Figura em desuso.
CPC
Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
[...]
VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial.
Pessoa estranha idônea (inventariante dativo). Neste caso, conforme o Art.
75. §1°, CPC/15, todos os sucessores do falecido serão intimados no processo no qual o
espólio seja parte. Isso significa que todos eles serão autores ou réus nas ações em que o
espólio for parte. Esse inventariante será remunerado pelo juízo. Também não é uma
figura comum.
Natureza jurídica da inventariança. O inventariante tem uma série de poderes
(Art. 618 e Art. 619, CPC/2015), dentre os quais, o mais importante é o de representar o
espólio em juízo ou fora dele. Há controvérsia doutrinária sobre ser o inventariante um
depositário: um mandatário ou um exercente de função pública sujeita à fiscalização
judicial (auxiliar do juízo) - última posição defendida por W. Barros Monteiro e
Arnaldo Rizzardo.
A que prevaleceu foi a de exercício de uma função pública para o inventariante.
Término da administração do inventário:
 “Após a homologação da partilha, há o encerramento do inventário e,
consequentemente, o término da representação conferida ao inventariante pelo
art. 12, V, do CPC/1973 (art. 75, VII, do CPC/2015)” (REsp 1524638/SP, Rel.
Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em
03/12/2019, DJe 10/12/2019)

VOCAÇÃO HEREDITÁRIA
Versa sobre a decisão sobre quem pode ou não suceder.
Vocação hereditária. É a qualidade das pessoas aptas, em princípio, a
sucederem patrimonialmente o de cujus. É a convocação dos herdeiros à sucessão
(Paulo Nader).
Não se trata ainda aqui de uma procedência de grupos de pessoas em detrimento
de outros para a sucessão. Não se trata de uma questão de preferencia, mas de qualidade
de suceder. Porém, essas qualidades vão permitir a convocação dos potenciais herdeiros
à sucessão. Eles são potencialmente convocáveis. Há uma possibilidade de suceder.
Pode ser que ela ocorra ou não. Também pode ocorrer de alguém estra habilitada a
suceder, mas, por sua própria conduta ou por exigências legais, e não puder suceder.
Seja por renúncia ou mesmo de indignidade ou deserdação.
Capacidade Sucessória. É a capacidade para herdar, a qual se define pela
expressão “vocação hereditária”. Sua regra de direito intertemporal já foi dada pelo Art.
1787; ela é definida pela lei vigente a abertura da sucessão. Marcada por um marco
temporal.
Para alguns autores, a capacidade sucessória equivale à legitimidade passiva
sucessória: a regra é que todas as pessoas têm legitimação para suceder, exceto aquelas
afastadas expressamente pela lei (Carlos Roberto Gonçalves). A regra é a legitimação
para suceder preenchidos os requisitos.
É esse o sentido do Art. 1798:
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no
momento da abertura da sucessão.
Limitação da regra do art.1798. É uma norma relativa à sucessão legítima. A
norma aplicável à sucessão testamentária é a do Art. 1799 (Paulo Nader). Mas a regra
do Art. 1798 aplica-se, de forma subsidiária, a sucessão testamentária.
Se a regra da sucessão testamentária se dá com a lei vigente na data da abertura
da sucessão, então este o marco divisório para os aptos a suceder. Estar nascido ou
concebido nesta data. Lembrando que esta norma, embora seja aplicável a sucessão
legitima, e haja uma regra própria para a sucessão testamentária, será uma espécie de
“exercito de reserva” para a sucessão testamentária. Exemplo: na sucessão
testamentária, não herdaram as pessoas mortas ao tempo da abertura da sucessão.
Capacidade sucessória do nascituro. É excepcional. A concepção, quando da
abertura da sucessão, dá o direito condicional à herança, que se poderá ser confirmado
com o nascimento com vida. Se nascer com vida, terá o direito à sucessão, com frutos e
rendimentos, contados da data do falecimento. Se nascer morto, seu direito sucessório
será ineficaz (Maria Helena Diniz). O direito de suceder, casa haja nascimento com
vida, retroagirá á data da abertura da sucessão.
Embrião não implantado. O embrião, desde que identificados os doadores de
gameta, terá capacidade sucessória (Giselda Hironaka e Silmara Chinelato).
“A regra do art. 1.798 do Código Civil deve ser estendida aos embriões
formados mediante o uso de técnicas de reprodução assistida, abrangendo,
assim, a vocação hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos
patrimoniais se submetem às regras previstas para a petição da herança”
(Enunciado 267- Jornada de Direito Civil)
Há aqui, também, um marco temporal que é o tempo do congelamento e a
implantação viável dos embriões.
Obs: o embrião implantado faz surgir a figura do nascituro. É equiparado a ele.
Em contrário: Paulo Nader e Caio Mário da Silva Pereira, sob fundamento das
dificuldades de se efetivarem as partilhas em razão do surgimento extemporâneo de
novos herdeiros. Haveria dificuldades processuais para a efetivação partilha que ficaria,
eternamente, em um aspecto de expectativa extemporânea de novos herdeiros. O
professor não concorda que esta argumentação seja forte o suficiente para excluir esses
embriões, visto que se é de conhecimento a existência desses embriões, então o
inventariante pode reservar parte dos bens para eventual urgi mento desses herdeiros.
Animais? Não podem ser herdeiros legítimos. É possível, na sucessão
testamentária, instituir um encargo ao herdeiro para que cuide de um animal.
Obs: Pose ser criada uma Pessoa Jurídica cujo objeto seja cuidar do animal.
Entidades místicas? Não são herdeiros necessários. Podem ser destinados bens
a organizações religiosas via testamento.
Obs: Pode ser criada uma Fundação, via testamento, com a finalidade receber bens e
com finalidades filantrópicas.
Mortos? Morto não pode herdar. Só os vivos podem herdar. Se testamentária a
deixa, o indicado tem de estar vivo quando da abertura do testamento. Seus herdeiros só
herdarão se ele vier a falecer após a abertura da sucessão.
 “Ação de cobrança da indenização do seguro obrigatório DPVAT ajuizada pelo
filho da vítima, falecida em 18 de outubro de 2005, em acidente de trânsito, que,
embora já concebido, ainda não era nascido na data do óbito de seu pai.
Cobrança da integralidade da indenização. Seguradora ré que, em contestação,
afirmou ter pago administrativamente a indenização aos avós paternos do
autor, únicos herdeiros conhecidos do segurado, na data de seu óbito. Sentença
de parcial procedência. Recurso do autor. Autor que nasceu pouco menos de
um mês depois da morte de seu pai em acidente de trânsito. Autor, nascituro
na época do falecimento do pai, que, nascido, é sucessor do pai, excluindo
seus avós paternos. Ausência, todavia, de má-fé ou desídia da seguradora, no
pagamento administrativo da indenização aos avós paternos do autor. Menção,
no atestado de óbito, exame necroscópico e no boletim de ocorrência, de que o
segurado faleceu no estado civil de solteiro. Ausência de notícia sobre filhos e
sobre a concepção do autor. Pais da vítima, avós paternos do autor, que, por
isso, eram seus únicos herdeiros conhecidos na ocasião de seu óbito. Autor que,
como único filho do segurado, tem legitimidade para cobrar, de seus avós
paternos, o valor por eles recebidos a título da indenização do seguro
obrigatório DPVAT pelo passamento de seu pai. Indenização do seguro
obrigatório DPVAT devida no valor de 40 salários mínimos, considerando-se o
valor do salário mínimo vigente na época do sinistro, 18 de outubro de 2005,
dada a proibição constitucional de adoção desse salário como fator de correção
monetária (CF, art. 7º, inc. IV, "in fine"). Herdeiro do segurado, vítima de
acidente de trânsito, que fazia jus ao recebimento de indenização no valor de R$
12.000,00. Seguradora ré que, em contestação, reconheceu ter pago aos
ascendentes do segurado, seus únicos herdeiros conhecidos na ocasião, apenas
R$ 10.300,00. Autor, único filho do segurado, que, por isso, faz jus ao
recebimento da diferença indenização do seguro obrigatório DPVAT
diretamente da seguradora, corrigido monetariamente e com acréscimo de juros
moratórios, estes desde a citação” (TJSP - Ap 0002455-70-2010.8.26.0653 -35ª
Câmara de Direito Privado - Julgado por Morais Pucci. DJe. 03/11/2014)

CAPACIDADE SUCESSÓRIA TESTAMENTÁRIA


Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a
suceder:
I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador,
desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão;
Inciso I - Prole eventual (“ainda não concebidos”). É possível, em testamento,
fazer deixa testamentária para a prole eventual de pessoas indicadas a herdar pelo
testamento. Ela só alcançará os filhos que estiverem vivos ao tempo da sucessão. Não é
possível fazer distinção sobre primogenitura ou não (Armando Rizzardo). E os netos?
A lei fala em “filhos, ainda não concebidos”. Uma opção mais restrita. Não se admite
mais “netos, ainda não conhecidos”. Nem qualquer outro descendente que não os filhos
(Paulo Nader e Eduardo de Oliveira Leite). E os filhos adotivos? Tanto filhos
biológicos quanto adotivos são alcançados pela regra (Zeno Veloso).
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a
suceder:
[...]
II - as pessoas jurídicas;
Inciso II - Pessoas jurídicas: Qualquer pessoa jurídica (de direito privado ou de
direito público) pode ser contemplada como herdeira testamentária.
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a
suceder:
[..]
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador
sob a forma de fundação.
Inciso III - Fundações ainda não constituídas: Esta hipótese compreende o
desejo do testador instituir uma fundação com os bens por ele deixados. Normalmente,
esta fundação levará o seu nome.
Sociedade de fato? Não estão compreendidas nas regras anteriores. Há duas
posições na doutrina:
(a) A deixa testamentária é ineficaz enquanto a sociedade de fato não se converter
em pessoa jurídica (Caio Mário da Silva Pereira).
(b) A deixa testamentária considera-se feita nas pessoas dos sócios, que deverão ser
empregados na sociedade de fato (Eduardo de Oliveira).

A SITUAÇÃO DO CURADOR DOS FILHOS AINDA NÃO CONCEBIDOS


Art. 1.800. No caso do inciso I do artigo antecedente, os bens da herança
serão confiados, após a liquidação ou partilha, a curador nomeado pelo
juiz.
§ 1° Salvo disposição testamentária em contrário, a curatela caberá à
pessoa cujo filho o testador esperava ter por herdeiro, e, sucessivamente,
às pessoas indicadas no art. 1.775.
§ 2° Os poderes, deveres e responsabilidades do curador, assim nomeado,
regem-se pelas disposições concernentes à curatela dos incapazes, no que
couber.
§ 3° Nascendo com vida o herdeiro esperado, ser-lhe-á deferida a
sucessão, com os frutos e rendimentos relativos à deixa, a partir da morte
do testador.
§ 4° Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for
concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em
contrário do testador, caberão aos herdeiros legítimos.
Curador. A curatela será exercida pelo pai ou pela mãe do herdeiro indicado no
testamento. Apenas se não for possível indica-los, é que voltará para o rol do Art. 1775,
no que couber:
a) O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de fato, é, de direito,
curador do outro, quando interdito.
b) Pai ou a mãe;
c) O descendente que se demonstrar mais apto;
d) Entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais remotos;
e) Na falta das pessoas mencionadas neste artigo, compete ao juiz a escolha do
curador;
Nascendo o herdeiro com vida. Assumirá sua tutela ou curatela, a pessoas com
legitimidade legal, que administrará os bens que o nascido recebeu por efeito da
herança.
Prazo máximo de espera pela concepção. De acordo com o parágrafo quarto,
passados 2 anos da morte do de cujus, salvo disposição em contrário do testador, se
não houver concepção (devidamente provada), os bens, então reservados, serão
destinados aos herdeiros legítimos (Paulo Nader).
Exceções implícitas ao Art. 1800, parágrafo quarto:
(a) Se os responsáveis pela concepção forem pessoas em idade não núbil;
(b) Se ficar comprovada a existência de dificuldades para conceber e que a pessoa
está em tratamento (Paulo Nader).

PESSOAS QUE NÃO PODEM SER DESIGNADAS COMO HERDEIRAS NEM LEGATÁRIAS
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou
companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver
separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem
se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento.
Rol de nomeação de herdeiros e para haja isto, é preciso estra diante de uma
hipótese de sucessão testamentário. Não tratamos aqui da sucessão legítima.
Pessoas que não podem ser designadas como herdeiras nem legatárias. São
as pessoas indicadas no Art. 1801, em razão de sua proximidade com o testador. É
norma que limita a liberdade de testar. A regra diz com a incapacidade testamentária
passiva.
Efeitos da não observância do Art. 1801. Nulidade da disposição testamentária
conforme o Art. 1802, mas não de todo o testamento (Paulo Nader). Somente desta
parte específica.
Interpretação restritiva. Deve ser interpretada restritivamente (Gavião de
Almeida). E se uma das pessoas mencionadas no Art. 1802 for herdeira legítima?
Não fica prejudicada em seus direitos nessa condição (Paulo Nader)
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou
companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
Quem ajuda o testador a elaborar o testamento a seu rogo, bem como seu
cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes ou irmãos, são legítimos para figurar
como sucessores. Quem “escreve a rogo (a seu pedido)”, é o indivíduo que escreve o
testamento a pedido, de próprio punho ou digitando o testamento. É hipótese do
testamento cerrado (que pode ter sido escrito a pedido do testador), mas não ao
particular, que poderá ser escrito pelo testador pessoalmente, sob pena de nulidade
(1.876). Não se aplica a regra aqui para o testamento particular (feito pelo próprio
testador) ou para o testamento público (feito por um tabelião).
O código de 2002 eliminou do rol do inciso I os descendentes de quem redigiu o
testamento. Essa opção deve-se que o parágrafo único do Art. 1802 declarou:
“Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o
cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder”.
 “Impedimento de disposição favorável em testamento se estende ao cônjuge ou
companheiro daquele que a rogo escreveu o testamento, e não, como sustenta a
apelante, ao cônjuge ou companheiro do próprio de cujus (artigos 1.900, V, c.c.
1.801, I, CC). Não lograram os autores apelantes comprovar a alegação de que
o bem contemplado no testamento teria sido sub-rogado em lugar dos imóveis
que possuía o de cujus antes do casamento. Não se vislumbra no ato de
disposição de última vontade qualquer prejuízo à legitima dos herdeiros” (TJSP
- ApCiv 1002023-08.2014.8.26.0681-9ª Câmara de Direito Privado - j.
18/08/2020 - Des. Piva Rodrigues. DJe. 19/08/2020)
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
[...]
II - as testemunhas do testamento;
Embora se volte o inciso II para as testemunhas, por aplicação analógica ao
parágrafo único do Art. 1802, é possível entender que também são ilegítimos “os
ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado
a suceder”.
 “APELAÇÃO CÍVEL. REGISTRO DE TESTAMENTO. TESTAMENTO
PARTICULAR QUE BENEFÍCIA AS TESTEMUNHAS DO ATO.
IRREGULARIDADE NÃO SUPERÁVEL PELA ALEGAÇÃO DE SITUAÇÃO
EXCEPCIONAL. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. Não se
verifica o propalado cerceamento de defesa, pois a prova testemunhal
pretendida não teria o condão de conferir validade ao testamento, que
beneficia as próprias testemunhas do ato, o que invalida a disposição de
vontade, já que, nos termos do art. 1.801, II do Código Civil, não podem ser
nomeados herdeiros nem legatários as testemunhas do testamento. Além do fato
de que o documento apresentado traz nulidades que o fulminariam como
testamento particular, pois beneficia as próprias testemunhas do ato, não há
como mitigar a forma legal e aplicar o art. 1879 do Código Civil, primeiro
porque a alegada circunstância excepcional não foi declarada no documento.
Estando o testador num leito hospitalar, qualquer enfermeiro, médico ou
outro funcionário poderia servir como testemunha do ato, nada justificando
servirem como testemunhas as filhas beneficiárias da disposição
testamentária. Não bastasse isso, o documento foi lavrado em 22 de janeiro de
2009 (fl. 04v) e o testador somente veio a óbito em 8 de junho de 2010, tempo
bastante para lavrar um novo testamento sem as irregularidades que maculam o
documento apresentado pela apelante, se assim fosse a vontade do testador.
Por esta razão não verifico o propalado cerceamento de defesa, pois a prova
testemunhal pretendida não teria o condão de conferir validade ao testamento,
que beneficia as próprias testemunhas do ato, o que invalida a disposição de
vontade, já que nos termos do art. 1.801, II do Código Civil, não podem ser
nomeados herdeiros nem legatários as testemunhas do testamento” (TJRS -
ApCiv 70050870765, 8ª Câmara Cível - J. 29/11/2012, julgado por Des: Luiz
Felipe Brasil Santos)
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
[...]
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver
separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
O concubinato é o relacionamento não eventual entre homem e mulher
impedidos de casar (Art. 1727). A restrição não alcança as relações esporádicas
(namorado ou namorada), muito menos o companheiro (Paulo Nader). Aplica-se,
portanto, apenas ao concubinato adulterino. Uma relação paralela que pré-exclui o
benefício testamentário. É de se observar a incoerência dessa norma com o fato de que,
nos termos do art. 1830, o cônjuge do falecido perde a condição de herdeiro se estiver
separado de fato há mais de dois anos. Obs: Esta norma será efetiva somente enquanto a
situação da relação poliafetiva não for legalizada, quando ocorrerá uma derrogação
desta norma.
União Estável. A vedação do Art. 1801, III, não se aplica á união estável,
independentemente do tempo de separação de fato (Art. 1723, parágrafo primeiro).
A questão da culpa. A doutrina tem entendido que a discussão sobre a culpa
está superada (Caio Mario da Silva Pereira)
 “APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO DAS SUCESSÕES - AÇÃO DE ANULAÇÃO
DE TESTAMENTO - BENS DISPOSTOS EM TESTAMENTO EM FAVOR DA
CONCUBINA POR PESSOA CASADA - SEPARAÇÃO DE FATO NÃO
COMPROVADA - NULIDADE DA DISPOSIÇÃO TESTAMENTÁRIA -
RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Demanda em que se pretende a anulação de
testamento por suposto vício do ato da disposição de vontade. 2. Testador
casado, que deixa bens para a concubina. Ausência de comprovação de que o
de cujus se encontrava separado de fato da esposa, ao tempo da disposição
testamentária” (TJMG - Processo 1.0153.11.000211-7/001, 5ª Câmara Cível - J.
12/11/2015, julgado por Des: Áurea Brasil - Dje 2/11/2015)
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
[...]
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem
se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento.
Oficial do ato. O fundamento da exclusão é idêntico ao aplicável à testemunha.
Ela se aplica aos titulares e aos substitutos das serventias. Fundamentado pelo abuso de
confiança gerado por um conflito de interesses. Neste inciso se compreendem o
tabelião, o comandante do navio ou da aeronave perante quem se fez ou aprovou o
testamento e evitar suspeitas sobre a autenticidade das declarações do testador.
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não
legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato
oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os
descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a
suceder.
Simulação. A regra do Art. 1802 deve ser interpretada como espécie de
simulação (Art. 167), o que implica a nulidade dos negócios realizados por interposta
pessoa. Quem se presume interposta pessoa? Os ascendentes, os descendentes, os
irmãos e o cônjuge ou o companheiro do não legitimado a suceder. Natureza do rol do
parágrafo único. É meramente exemplificativo (Alberto Trabucchi). Dispensa de
prova em caso de interposta pessoa. É absoluta (Barros Monteiro; Carvalho Santos).
 “EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE TESTAMENTO.
CONCUBINA NOMEADA LEGATÁRIA. TESTADOR CASADO. SEPARAÇÃO
DE FATO HÁ MENOS DE 5 ANOS. IMPEDIMENTO LEGAL. Configurado o
concubinato impuro, deve ser decretado nulo o testamento que nomeava a
concubina legatária da parte disponível dos bens do testador, nos termos dos
arts. 1.801, III c/c 1.802 do CC/2002. Recursos conhecidos. Provido o recurso
de apelação. Prejudicado o adesivo”. (TJMG - ApCiv 1.0342.13.010093-2/002,
3ª Câm. Cív. - julgado por Des: Albergaria Costa - Dje 15/12/2017)
Deixa ao filho do concubino
Art. 1.803. É lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do
testador.
Legitimidade do filho do testador e do concubino. Não é considerada pessoa
interposta. A intenção do legislador parece ter sido impedir que o testador casado
beneficiasse seu concubino por efeito da interposta pessoa de seu filho.
“É válida a disposição testamentária em favor de filho adulterino do
testador com sua concubina” (Súmula STF 447)
No Art.1803, o Código Civil adaptou a legislação ao entendimento da
jurisprudência. Importante: A proibição ressurge, porém, quando o filho beneficiário é
exclusivamente do concubino. Mas as pessoas que se supõem interpostas podem ser
beneficiadas se o concubino (ou concubina) já estiver morto (ou morta) na data da
abertura da sucessão. Também se for reconhecido, judicialmente ou extrajudicialmente,
a paternidade afetiva.
 “Filho adulterino. Reconhecimento pelo pai na constância do casamento em
testemunho publico. e valido o ato, uma vez dissolvida a sociedade conjugal
com a morte do testador. Precedente do STJ aplicável a espécie: resp-6.821. 2.
Direito superveniente: cf/88, art. 227, paragrafo 6., lei n. 7.841/89 e lei n.
8.069/90, art. 26. Hipótese onde, em reforço, tomou-se em consideração as leis
editadas apos a propositura da ação. Cód. de pr. civil, art. 462. 3. Recurso
especial conhecido e provido para restabelecer a sentença, que julgou
improcedente a ação ordinária de nulidade de testamentos” (STJ - REsp 16827-
j. 3/11/1992 - julgado por Nilson Naves - DJ 30/11/192)
ACEITAÇÃO DA HERANÇA
Sabemos que a morte transmite a posse e a propriedade dos bens aos Herdeiros.
No Direito Brasileiro, apesar de termo uma figura atípica como o espólio, que não tem
personalidade jurídica, mas possui capacidade de postular em juízo desde que
representada pelo inventariante. O Brasil não seguiu a tradição romana, onde existi uma
ficção de supervivências do falecido até que seus bens fossem liquidados e partilhados.
O Brasil, contudo, trabalha com uma ficção que é a impossibilidade de adespotia dos
bens, significando que nem por uma fração de tempo, na passagem da morte, haverá
uma ausência da titularidade dos bens e passivos.
No entanto, há um surgimento de um problema que existe no nosso ordenamento
jurídico advinda de uma necessidade ou não da aceitação da herança. Para outros
ordenamentos só há a questão da renúncia da herança.
Aceitação ou adição da herança. “É o ato pelo qual o herdeiro concorda com a
transmissão dos bens” do falecido, ocorrida por efeito da lei com a abertura da
sucessão, “confirmando-a” (C. R. Gonçalves). Uma confirmação com efeitos retroativos
ao ato previsto em lei e independe da vontade do herdeiro de se tornar, em tese,
proprietária da parte que lhe cabe no quinhão hereditário.
O ato, em si, apenas confirma o que já ocorreu por efeito da morte do de cuiús.
A aquisição dos direitos já se deu com a abertura da sucessão. Ela reafirma um princípio
do direito sucessório: só é herdeiro (ou legatário) quem o deseja ser. Apenas conforma-
se que se quer ser herdeiro. Não se impõe o estado de herdeiro.
Como consequência, há uma necessidade de manifestação da condição de
herdeiro. A manifestação é volitiva ocorrendo por várias formas, inclusive pelo silêncio
que é juridicamente valorado na sucessão.
“A aceitação ou adição da herança dá-se quando o herdeiro anui à
delação, manifestando sua vontade de receber anui à delação,
manifestando-se sua vontade de receber a herança oferecida por força de
lei ou de testamento” (Paulo Nader).
Ela é a causa de ratificação da transmissão de bens operada com a morte. Sua
sede material é o Art. 1804, caput.
Declaração e aceitação. Com a delação, o herdeiro é chamado a suceder; com a
aceitação, ele emite sua resposta e imite-se na condição de sucessor (Paulo Nader). Para
o professor, na verdade, o herdeiro irá confirmar a sua condição como tal para ser apto a
receber o seu quinhão.
Fases do processo de transmissão do patrimônio mortis causa:
1º) Abertura da Sucessão: Como não há direito sem titularidade, a transmissão
patrimonial dá-se de modo imediato;
2º) Delação: É o momento no qual os herdeiros são chamados a se manifestar sobre
o propósito de aceitar ou não a herança;
3º) Deliberação: É a fase na qual os herdeiros procedem à aceitação ou à renúncia à
herança;
4º) Partilha dos bens: Quando a herança perde seu caráter indivisível e cada
herdeiro recebe os bens a que de direito. Cada herdeiro deixa de ser condômino
para tomar posse da parte que tem direito;

QUESTÕES LATERAIS
Aceitação da herança e outorga uxória ou marital. Independentemente do
regime de bens, é dispensada.
Pressupostos à aceitação da herança. A aceitação ocorre na fase 3
(Deliberação). É necessário que ocorram a fase 1 (Abertura da sucessão) e a fase
2 (Delação). Chegando-se à fase 3 (Deliberação), o herdeiro deverá ser capaz
civilmente (e possuir legitimação passiva sucessória) para aceitar a herança. Se o
herdeiro for incapaz, este deverá ser devidamente representado e este poderá
emitir uma declaração de vontade em seu nome.
Transmissão condicional. (Para o professor, como uma melhora da expressão,
uma transmissão mediante confirmação superveniente). A doutrina tem
considerado que a transmissão imediata dos bens por efeito da morte pode ser
desconstituída, em caráter retroativo, pela não aceitação da herança. A aceitação
“possui a função confirmatória da qualidade adquirida com a abertura da
sucessão” (José Castãn Tobeñas).
A aceitação é um dever? NÃO. No Brasil, não há “herança coativa”.
Aceitação como ato imotivado. A aceitação ou a renúncia à herança podem-se
dar sem motivação. Exceção: Se a renúncia operar-se em nome de incapaz,
hipótese na qual o representante deverá apresentar suas razões ao juiz.
Obs: Como existe a possibilidade de aceitação da herança por credores, eventualmente,
pode-se discutir o ato de renuncio, justificando uma preocupação por não prejudicar o
interesse dos credores. Uma discussão a contrário sensu, se ato teve ou não o intuito de
fraudar credores.
Características da aceitação da herança:
(a) Negócio Jurídico Unilateral: aperfeiçoamento pela mera concordância do
beneficiário;
(b) Ato inter vivos: A aceitação sempre ocorrerá inter vivos. O aceitante não realiza
um negócio com de cujus. Não existe uma aceitação de herança de natureza
causa mortis.
(c) Natureza não receptícia: Dado que produzirá efeitos independentemente de
qualquer notificação;
(d) Indivisível: Não há aceitação por parte. Aceitar parcialmente é ato nulo (Art.
1808). Exceção à indivisibilidade: Não se ofende a indivisibilidade, quando o
herdeiro assim o é a título legítimo e a título testamentário. Ele pode aceitar a
herança legítima e rejeitar a testamentária;
(e) Ato Puro e Simples: Não há aceitação condicional ou a termo e também encargo
(Art. 1808);
(f) Ato irretratável: uma vez aceita a herança, o herdeiro não se pode retratar (Art.
1812) e, se renunciar herança, “quando o herdeiro prejudicar os seus credores,
renunciando à herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceita-la em
nome do renunciante” (Art. 1813);
(g) Forma Livre (tese): Diferentemente da renúncia, a aceitação pode assumir
diferentes modalidades ou espécie. Em algumas delas, é livre a forma de sua
manifestação, desde que inequívoca. A renúncia vai exigir escritura pública ou
termo judicial.
 “1. A qualidade de herdeiro legítimo ou testamentário não pode ser
compulsoriamente imposta, garantindo-se ao titular da vocação hereditária o
direito de abdicar ou declinar da herança por meio da renúncia expressa,
preferindo conservar-se completamente estranho à sucessão. 2. Ao contrário da
informalidade do ato de aceitação da herança, a renúncia exige forma
expressa, cuja solenidade deve constar de instrumento público ou por termos
nos autos (art. 1807), ocorrendo a sucessão como se o renunciante nunca
tivesse existido, acrescendo-se sua porção hereditária à dos outros herdeiros da
mesma classe. 3. A renúncia e a aceitação à herança são atos jurídicos puros
não sujeitos a elementos acidentais. Essa a regra estabelecida no caput do art.
1808 do Código Civil, segundo o qual não se pode aceitar ou renunciar a
herança em partes, sob condição (evento futuro incerto) ou termo (evento futuro
e certo). 4. No caso dos autos, a renúncia operada pelos recorrentes realizou-se
nos termos da legislação de regência, produzindo todos os seus efeitos: a)
ocorreu após a abertura da sucessão, antes que os herdeiros aceitassem a
herança, mesmo que presumidamente, nos termos do art. 1807, do CC/2002; b)
observou-se a forma por escritura pública, c) por agentes capazes, havendo de
se considerar que os efeitos advindos do ato se verificaram” (REsp
1433650/GO, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 19/11/2019, DJe 04/02/2020)

ESPÉCIE DE ACEITAÇÃO DA HERANÇA


1) DIRETA
(a). Expressa. Exige forma escrita, por escritura pública ou particular (Art. 1806).
Não se admite a forma oral.
Aceitação por mandato? É possível, desde que por mandato escrito
(Paulo Nader). Contra: Cristiano Chaves, que admite o mandato verbal.
Para o professor, não poderia pelas características formais do ato.
(b). Tácita (pro herede gestio). Admitida pelo caput do Art. 1805. Dá-se com a
prática de determinado ato pelo herdeiro, que deixa inequívoca sua vontade de
anuir à herança, ao exemplo de assinar um contrato de cessão de direitos
hereditários.
Exemplos:
Exercício do direito de preferência em relação a herdeiro que pretenda ceder
seus direitos hereditários;
Contratar advogado para atuar no inventário;
Cessão de direitos hereditários;
Apossamento de bens do espólio.
Importante: O simples pedido de abertura do inventário não é ato de aceitação
tácita porque o herdeiro é obrigado a assim proceder (Revistas dos Tribunais 375/ p.
174). É um cumprimento de um dever legal.
Atos oficiosos (Art. 1805, §1°). “São os que se praticam desinteressadamente,
no intuito de prestar um favor, de ser agradável, de satisfazer sentimentos piedosos ou
humanitários” (C. Beviláqua). Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos,
como o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e
guarda provisória. Cuida-se de atos piedosos, como o pagamento das despesas de saúde
ou os funerais. Pode ser um ato de Gestão de Negócios, mas não de aceitação de
herança.
(i) Atos meramente conservatórios ou (ii) de administração e guarda
provisória (Art. 1805, §1°). (i) São os atos necessários e urgentes para se impedir a
perda ou deterioração dos bens da herança. (ii) São os praticados pelo herdeiro para
resolver uma necessidade urgente, sem a intenção de posse em nome próprio, mas com
o intuito de entrega-los a quem deva guarda-los ou conservá-los. Ambos não induzem
aceitação da herança. São exemplos: a interrupção da prescrição ou o registro da
hipoteca.
Cessão gratuita e pura e simples do quinhão aos demais herdeiros (Art.
1805, §2°). Essa cessão produz efeitos idênticos a uma renúncia à herança. No entanto,
a aceitação condicional ou onerosa, induz ao reconhecimento da aceitação tácita.
Efeitos práticos. Evita a duplicidade de tributos.
 “- Se todos os filhos do autor da herança renunciam a seus respectivos
quinhões, beneficiando a viúva, que era a herdeira subsequente, é incorreto
dizer que a renúncia foi antecedida por aceitação tácita da herança.
- Não incidência do imposto de transmissão” (REsp 20183/RJ, Rel. Ministro
HUMBERTO GOMES DE BARROS, PRIMEIRA TURMA, julgado em
01/12/1993, DJ 07/02/1994, p. 1131)
(c). Aceitação presumida ou ficta (Art. 1807) Caso clássico advindo do Direito
Romano sobre o valor jurídico do silêncio. Dá-se pelo silêncio ou pela omissão
do herdeiro que, intimado judicialmente para dizer se aceita ou não a herança,
deixa fluir em branco o prazo sem manifestação (após 20 dias da abertura da
sucessão; prazo não menor do que 30 dias para manifestação). O silêncio como
manifestação da vontade. Há autores que incluem a aceitação presumida dentre
as espécies da aceitação tácita (Eduardo de Oliveira Leite; Euclides de Oliveira
e Sebastião Amorim).
2) ACEITAÇÃO INDIRETA
A aceitação dá-se por terceiros.
(a) Por morte do herdeiro antes de declarar sua intenção. Seus herdeiros deverão
se manifestar sobre a aceitação (Art. 1809). As regras de aceitação aqui se
aplicam aos novos herdeiros;
(b) Pelos credores do herdeiro renunciante (Art. 1813). Para Nelson Nery Júnior,
trata-se de verdadeiro pedido de inoponibilidade ou ineficácia relativa da
denúncia.
(c) Pelo Gestor de Negócios. Em tese, admissível (Paulo Nader). Para proteção de
herdeiros que não pode expressar a sua vontade.
(d) Pelo tutor ou curador de heranças, legados ou doações (Art. 1748): para o
professor, há dúvidas acerca desta hipótese, pois seria o herdeiro a aceitar, mas
por outra voz.
 “1. A aceitação da herança, expressa ou tácita, torna definitiva a qualidade de
herdeiro, constituindo ato irrevogável e irretratável. 2. Não há falar em
renúncia à herança pelos herdeiros quando o falecido, titular do direito, a
aceita em vida, especialmente quando se tratar de ato praticado depois da
morte do autor da herança. 3. O pedido de abertura de inventário e o
arrolamento de bens, com a regularização processual por meio de nomeação
de advogado, implicam a aceitação tácita da herança” (REsp 1622331/SP, Rel.
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado
em 08/11/2016, DJe 14/11/2016)
O aceitante agiu com se herdeiro fosse.
 “O pedido de aceitação da herança realizado pelo credor do
executado/renunciante, nos autos do arrolamento de bens do falecido pai
deste, somente pode ser formulado até o momento imediatamente anterior ao
da sentença de homologação da partilha. Após a divisão do patrimônio do de
cujus, acolhida a renúncia por parte do executado, os bens passaram a integrar
o patrimônio dos demais herdeiros” (REsp 754468/PR, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 27/10/2019, DJe
16/11/2009)
Arrolamento é uma forma simplificada de inventário e partilha, seja pelo valor
ou não há herdeiros incapazes. Um herdeiro renuncia à herança para prejudicar o credor.
Neste caso o credor poderia aceitar a herança no lugar do herdeiro primário, mas há um
limite temporal até a homologação da partilha para que os demais herdeiros não sejam
prejudicados.
Anulação da aceitação da herança. É possível que se declare a anulação da
aceitação, quando e descobre que o aceitante não seja herdeiro. Neste caso, devolve-se o
quinhão ao monte-mor e faz-se nova divisão entre os herdeiros. Se o inventário já se
houver encerrado e homologada a partilha, porém, só por ação de petição de herança é
que o interessado poderá reivindicar sua parte. É algo diferente de recálculo de quinhão.

RENÚNCIA DA HERANÇA
Art. 1.806. A renúncia da herança deve constar expressamente de
instrumento público ou termo judicial.
Forma de renúncia. A renúncia deve ser expressa e formalizada por
instrumento público ou termo judicial.
Renuncia à herança. É a recusa do herdeiro legítimo ou testamentário de vir a
suceder o falecido na titularidade de seus direitos. É a perda voluntária do direito de
herdar.
Capacidade para renunciar. A renúncia pressupõe a capacidade de fato.
Incapaz não pode renunciar. Se representado, dependerá de autorização judicial,
devidamente fundada. Para o professor, a motivação será difícil pelo motivo da possível
lesão ao interesse dos incapazes. Um exemplo dado pelo professor da justificativa da
renúncia ocorreria do fato de que o incapaz ser muito rico por direito próprio, por ter
recebido já uma herança de seu avô, por exemplo, e com a renúncia irá ajudar a seus
irmãos.
Necessidade de outorga conjugal. É necessária, sob pena de invalidade (Silvio
Rodrigues, Eduardo de Oliveira Leite, Caio Mário da Silva Pereira). Ao contrário da
aceitação, pois nesta presume-se que o interesse do cônjuge foi atendido.
Renúncia à herança de pessoa viva? Não é possível.
 “Não há falar em renúncia à herança pelos herdeiros quando o falecido, titular
do direito, a aceita em vida, especialmente quando se tratar de ato praticado
depois da morte do autor da herança” (REsp 1622331/SP, Rel. Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
08/11/2016, DJe 14/11/2016)
Renúncia à herança de pessoa viva, pois equivaleria, indiretamente, a um pacto
corvina.
Caracteres da renúncia à herança. Negócio jurídico unilateral, não receptício,
gratuito, irretratável e formal.
“A renúncia é negócio jurídico lateral. Se alguém, titular de um direito, ou
de direitos, quer renunciar, basta que lance a sua declaração unilateral de
vontade” (Pontes de Miranda)
É indivisível? Tanto quanto a aceitação, a renúncia é indivisível (Art. 1808). No
entanto, se houver sucessão legítima e testamentária, é possível renunciar a uma delas.
É pura simples? Sim, com base no Art. 1808.
 “A renúncia e a aceitação à herança são atos jurídicos puros não sujeitos a
elementos acidentais. Essa a regra estabelecida no caput do art. 1808 do
Código Civil, segundo o qual não se pode aceitar ou renunciar a herança em
partes, sob condição (evento futuro incerto) ou termo (evento futuro e certo). No
caso dos autos, a renúncia operada pelos recorrentes realizou-se nos termos da
legislação de regência, produzindo todos os seus efeitos: a) ocorreu após a
abertura da sucessão, antes que os herdeiros aceitassem a herança, mesmo
que presumidamente, nos termos do art. 1807, do CC/2002; b) observou-se a
forma por escritura pública, c) por agentes capazes, havendo de se considerar
que os efeitos advindos do ato se verificaram” (REsp 1433650/PR, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
19/11/2019, DJe 04/02/2020)
Distinção entre renúncia da herança e doação da meação
 “Embora o art. 1.806 do Código Civil admita que a renúncia à herança possa
ser efetivada por instrumento público ou termo judicial, a meação não se
confunde com a herança. A renúncia da herança pressupõe a abertura da
sucessão e só pode ser realizada por aqueles que ostentam a condição de
herdeiro. O ato de disposição patrimonial representado pela cessão gratuita da
meação em favor dos herdeiros configura uma verdadeira doação, a qual, nos
termos do art. 541 do Código Civil, far-se-á por Escritura Pública ou
instrumento particular, sendo que, na hipótese, deve ser adotado o instrumento
público, por conta do disposto no art. 108 do Código Civil” (REsp 1196992/MS,
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
06/08/2013, DJe 22/08/2013)
Renúncia tácita ou presumida? Não é possível. Deve ser expressa.
Requisitos formais do mandato para renúncia de herança. A renúncia do
mandatário só pode ocorrer se o mandato for constituído por instrumento público. O
mandato deve conter poderes específicos para tal.
 “O ato de renúncia à herança deve constar expressamente de instrumento
público ou de termo nos autos, sob pena de invalidade. Daí se segue que a
constituição de mandatário para a renuncia à herança deve obedecer à mesma
forma, não tendo a validade a outorga por instrumento particular” (REsp
1236671/SP, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, Rel. p/ Acórdão Ministro
SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/10/2012, DJe
04/03/2013)
 “A renúncia da herança é ato solene, exigindo o art. 1.806 do Código Civil,
para o seu reconhecimento, que conste ‘expressamente de instrumento público
ou termo judicial’, sob pena de nulidade (art. 166, IV) e de não produzir
qualquer efeito, sendo que ‘a constituição de mandatário para a renúncia à
herança deve obedecer à mesma forma, não tendo validade a outorga por
instrumento particular’” (AgInt no AREsp 1585676/PR, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 20/02/2020, DJe
03/03/2020)
Efeitos da renúncia e distribuição do quinhão do renunciante. O quinhão
correspondente, do herdeiro renunciante, será distribuído aos demais herdeiros da
mesma classe. É vedada a sucessão por representação em caso de renúncia. Se ele for o
único da classe, será devolvia a herança aos da classe seguinte.
Espécie de renúncia. Em sede de inventário, é possível identificar dois tipos de
renúncia, a denominada renúncia translativa, pela qual o herdeiro transfere bem a
determinada pessoa, a quem normalmente indica, e a renúncia abdicativa propriamente
dita, pela qual renuncia à herança em benefício de todos os coerdeiros da mesma classe
ou, na falta destes, da classe subsequente, sendo somente essa última espécie
considerada a verdadeira renúncia, como esclarece Dolor Barreira.

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